domingo, 6 de julho de 2008

O triste regresso da adormecida OUA



A África que esteve recentemente reunida em Sharm El Sheik (Egipto) ao mais alto nível (!?) não conseguiu condenar o ditador Robert Mugabe como deveria ter acontecido por razões óbvias, diante de toda a “orgia de violência” que ele desencadeou no Zimbabwe.
Por razões igualmente óbvias, Tsvangirai foi forçado a desistir da segunda volta das eleições presidenciais, a não ser que a União Africana defenda a violência política como condição necessária para a realização de eleições.
A União Africana provou que, afinal de contas, não passa mesmo de um prolongamento da Organização de Unidade Africana (OUA).
Como se sabe, a OUA ficou na história do continente como sendo um dos mais sólidos, fechados e solidários clubes de chefes de estado do mundo.
Num clube, os sócios, desde que paguem as suas quotas, não podem, nem devem perder os seus direitos.
As declarações no Egipto de um dos mais antigos sócios desta associação de estadistas, o "decano" Omar Bongo do Gabão, de apoio a Mugabe, contra os “brancos”, são o melhor cartão de visitas deste clube do passado.
O único membro do clube que poderia ter apontado o dedo a Mugabe, o zambiano Mwanawasa, adoeceu subitamente e foi evacuado para Paris. Quinta-feira chegou a falar-se da sua morte.
Foi Mwanawasa quem disse que o Zimbabwé lhe fazia lembrar o naufrágio do Titanic. Foi igualmente o moribundo estadista quem afirmou que a SADC tinha falhado na hora de negociar com Harare.
"A diplomacia não funcionou na hora de ajudar a solucionar os problemas e o caos que o Zimbabué vive", apontou Mwanawasa.Se acreditássemos em forças ocultas e outros poderes obscuros, não teríamos qualquer dúvida em responsabilizar Mugabe pela desgraça que se abateu sobre o Presidente zambiano.
A União Africana perdeu assim mais uma oportunidade para marcar a diferença com o seu passado de cumplicidades e silêncios quando envergava as vestes folclóricas da histórica e inoperante OUA.
Lamentavelmente Angola, com os seus “paninhos quentes”, esteve uma vez mais do lado do seu velho aliado, o "Comrade Mugabe", com todos os “progressos” que se reconhecem na abordagem que a nossa diplomacia tem vindo a fazer do dossier, sobretudo depois de Tsvangirai ter estado em Luanda e de ter sido recebido pelo Presidente José Eduardo dos Santos.