domingo, 29 de março de 2009

Tentar entender o “anti-preservativismo” do “fundamentalista” Bento XVI

Sou das pessoas que apesar de não ter nada contra o uso do preservativo (antes pelo contrário), compreendo perfeitamente as preocupações de Bento XVI que nesta sua primeira deslocação ao continente africano limitou-se a reiterar a orientação católica segundo a qual a utilização da camisinha só agrava o problema da propagação da pandemia. Estamos, obviamente, a falar do SIDA e de todas as suas consequências trágicas que já se contabilizam na ordem dos milhões de mortos. O paradoxo desta concordância é aparente. Compreendo Bento XVI numa perspectiva de marketing, tendo por referência o caso de Angola, quando se começou a utilizar em força os médias como o principal instrumento da campanha preventiva que entre nós arrancou há já uns anos com o famoso e estrondoso “Curte Legal!”. De facto e durante bastante tempo, a campanha teve como único suporte a utilização do preservativo a qualquer hora do dia ou a qualquer momento da noite, o que quanto a nós não terá ajudado grandemente na inversão das preocupantes tendências de propagação da doença. Claramente a mensagem da campanha na mente dos jovens destacava (e continua a destacar) em primeiro lugar a banalização da apetecível actividade sexual que deixava de ter qualquer risco desde que fosse feita com a utilização da camisinha (marca Legal). Curtir não é exactamente namorar na base do beijinho e do farfalho por mais ousadas e profundas que as carícias possam ser. Curtir é um apelo directo. É ir para a cama com a parceira ou com o parceiro, se houver um leito por perto, porque também se pode curtir de pé, sentado, em cima da mota, dentro do carro ou na areia da praia. Num continente em que a prioridade continua a ser o controlo do avanço exponencial da epidemia, pior conselho aos jovens não poderia ser dado do que através deste afrodisíaco “Curte Legal!”, provado que está que é, sobretudo, pela via sexual que o vírus ganha todos os dias e todas as noites, novos militantes para a sua causa fatal. É nesta movimentação rumo ao abismo que entendemos todo o pragmatismo contido na condenação de Bento XVI, embora não tenha sido com esta intenção que ele voltou a excomungar a camisa. O Papa disse que o uso da camisa só agrava o problema do SIDA e de facto, temos de concordar que em termos de prevenção a solução (se é que existe alguma) tem de passar antes mais pelo dito sexo responsável o que choca abertamente com o provocante, mobilizador e rebarbativo “Curte Legal!”. Há de facto bastante pragmatismo nas palavras de Bento XVI que deveriam ser aproveitadas para se corrigirem as campanhas de prevenção que ainda insistem na camisinha como sendo o único instrumento de protecção. Felizmente que em Angola os “comunicólogos” já começaram a introduzir o conceito do sexo responsável e mesmo da abstinência nas campanhas, mas ainda sem a avassaladora força mediática da camisinha que continua a dominar a mensagem preventiva que chega até aos jovens e em relação a qual eles observam uma maior receptividade, pelo menos aparentemente. Em termos de orientação o grande desafio estratégico das campanhas de prevenção está agora em tornar a ideia do sexo responsável tão atractiva quanto a que foi a do uso da camisinha. É um desafio difícil (missão impossível III) que deve contudo ser colocado bem em cima da mesa de que tem a responsabilidade de orientar a sociedade nesta luta de vida ou de morte. O seu resultado tem que ser, contudo, bem visível nos out-doors e nos spots de rádio e televisão. As misses têm de deixar de andar por aí a abanar as camisinhas em tudo quanto é canto (a fazer lembrar-nos as kinguílas com o seus maços de notas) para passarem a mexer com outros valores, com outros conceitos. De facto não é muito fácil representar a ideia do sexo responsável, mas os criativos em marketing existem para alguma coisa. Por isso e por muito mais não me junto desta vez aos coros de protesto que se ouviram em todo o mundo em relação à mais recente declaração de Bento XVI sobre o (não) uso da camisinha. A minha “benevolência” não é, obviamente, extensiva à postura assumida pelo Arcebispo do Recife e de Olinda de condenação do aborto que a menina de 13 anos teve de fazer no Brasil para evitar a sua provável morte, após ter ficado grávida de gémeos do seu padrasto que a violentava praticamente desde a nascença. Fiquei sem perceber muito bem qual foi a posição de Bento XVI em relação a este caso específico. A confirmar-se que ele, lá da sua Santa Sé, caucionou a referida excomunhão no longínquo sertão brasileiro, só posso convidá-lo a olhar com mais atenção para as causas das coisas e depois para dentro da própria Igreja Católica onde os escândalos sexuais prosseguem dentro de momentos… -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 2 comentários: Anónimo disse... Caro Wilson Dadá, adorei o seu artigo. Estou de acordo com a sua postura em relação á camisinha embora não tenha sido essa a intenção nem a posição do Papa. Quanto á menina do Brasil aqui vai a rectificação: A menina tem 9 (nove) anos, 13 anos tem a irmã, mais velha que também foi violentada pelo mesmo monstro. Quanto ao Vaticano, sancionou sim a excomunhão da menina e médicos, tendo sido completamente omisso em relação ao monstro (padrasto), que deve continuar na santa paz a ir á missa e a comungar todos os domingos, depois de ter confessado é claro (será que fala das violações?). 29 de Março de 2009 5:07 Assídua disse... O WD fala muito em "campanhas dirigidas aos jovens", penso que elas devem ser derigidas para a sociedade em geral(isto para os "marketistas")visto que hoje o sexo é practicado muito mais cedo, e os nossos "kotas", não ficam atrás no que toca ao não quererem usar o preservativo. Mas são eles os maiores colecionadores de "troféus femeninos", vulgo "Luanda1,2,3...". Entendo que ser jovem é um estado de espírito, mas é necessário incluir na msg cabelos grisalhos, já que abstinência ou um(a)parceiro(a) não teremos nunca mais na actual sociedade angolana...E quanto aos católicos espero que usem o seu próprio "Judment" para isso é que somos seres pensantes(ou deviamos ser). 29 de Março de 2009 8:42