terça-feira, 2 de junho de 2009

27 de Maio, 32 anos depois, com uma petição

E lá estivemos pela quinta vez consecutiva desde que em 2004 no Restaurante São João, decidimos desafiar o silêncio, enfrentar o medo e contrariar com um simples almoço de confraternização a versão oficial dos factos que enlutaram o país há mais de 30 anos com um terrível banho de sangue, na sequência da crise criada com o que aconteceu a 27 de Maio de 1977. O encontro da memória e da amizade cumpriu assim o seu propósito, num ano em que se renovaram as esperanças quanto a possibilidade do “dossier” poder vir a ser agendado por quem de direito. Há de facto alguma luz no fundo do túnel, embora no planeta rubro-negro a decisão de agendar a discussão do “dossier” possa não passar disso mesmo e pouco mais. São muitos anos de estágio com o mesmo treinador. A renovação das esperanças também já faz parte de uma outra rotina muito mais antiga, que tem a idade da própria humanidade e que tem a ver com a história da tal de esperança ser a última a morrer enquanto continuarmos vivos. Do nosso lado e por ocasião deste 27 de 2009 aqui fica pois mais uma petição assinada com o carimbo da esperança e com a força da água mole em pedra dura. Assim sendo, gostaríamos antes de mais de recordar ao MPLA o conteúdo da Declaração do seu Bureau Político datada de 26 de Maio de 2002. Nessa Declaração o MPLA afirmou que estavam “reunidas as condições para que os angolanos saibam assumir os seus erros e as suas virtudes, devendo estas prevalecer e ser devidamente reconhecidas”. Na mesma Declaração o MPLA recomendou que “as instituições do estado, com o apoio da sociedade, continuem a trabalhar para que as consequências produzidas por estes acontecimentos não criem entraves ou dificuldades de qualquer natureza ao exercício pleno dos direitos constitucionais e legais por qualquer cidadão”. Passados que são já mais 7 anos desde que a referida Declaração foi tornada pública, constatamos que pouco ou nada foi feito pelo Estado angolano no sentido de dar solução aos problemas criados com os acontecimentos de Maio de 1977. O subscritor desta petição defende a necessidade urgente deste dossier triste da nossa história merecer o melhor e mais adequado tratamento por parte das autoridades, de acordo com o espírito da mencionada Declaração do BP do MPLA. Este espírito só pode ser o da nova Angola reconciliada que todos estamos interessados em edificar desde que seja para além dos discursos, o que, lamentavelmente, ainda não é um dado adquirido. Nesta conformidade o signatário propõe que uma Comissão, com os necessários poderes seja, criada pelo Presidente da República para que o tratamento recomendado possa vir a ser implementado. O signatário sugere, à semelhança do que já havia proposto há uns anos, que a primeira tarefa desta Comissão seria fazer o levantamento de todos quantos por este país afora tenham problemas a resolver como consequência dos acontecimentos do 27 de Maio de 1977, criando-se para o efeito uma espécie de “guichet único”. Depois logo se verá…