segunda-feira, 20 de julho de 2009

Será que ninguém entende onde é que está o segredo de Angola?

Foi com a interrogação em epígrafe que terminei a última crónica que publiquei nesta coluna a semana passada.Eu há muito que sei qual é o segredo e acredito que a maior parte dos angolanos, incluindo os da nomenklatura, também o saiba. Só não sabia é que o “longínquo” Barack Obama também já estava a par do nosso segredo, que acaba de “desvendar” em Accra, Gana, onde esteve a semana passada a pregar para todos os peixes trungungueiros de África e arredores. Disseram-me que o sermão, afinal de contas, já tinha começado à porta fechada em Aquíla (Itália) durante o G8. Estamos a falar do segredo para fazer Angola acontecer sem mais problemas complicados, para além daqueles normais e aceitáveis que decorrem da própria maturação (que é sempre lenta) dos processos que nos conduzirão ao tão almejado equilíbrio mínimo. A referência é o Índice de Gini que actualmente nos coloca no ranking dos países mais injustos do mundo do ponto de vista da distribuição do rendimento nacional. As consequências desta disparidade estão à vista de todos. Para além da repressão, o alcance do tal equilíbrio é a única solução realmente estruturante que temos para evitar o colapso a médio prazo (cf Nigéria) que se adivinha todos os dias nas aterradoras estatísticas da criminalidade que finalmente a polícia decidiu assumir como sendo realmente preocupantes para a própria segurança nacional. Li no último relatório da UCAN que Robert Bosh, (fundador do império empresarial Bosh, conhecido em todo o mundo), afirmou: “não pago bons salários por ter muito dinheiro; tenho muito dinheiro porque pago bons salários”. Quando Bosh está convencido que foi assim que conseguiu a sua fortuna, que é real, o quê que nós estamos à espera para desvendarmos o segredo deste país? Agora em Accra, Barack Obama ao desvendar o segredo do nosso e dos outros países africanos que ainda não se libertaram da pobreza e da exclusão social disse que os passos numa tal direcção “implicam mais do que simples números de crescimento num balanço financeiro”. Obama estava, certamente, a referir-se a cantiga do crescimento do PIB que já nos cansamos de escutar por estas bandas em todas as frequências do discurso oficial e dos seus megafones de serviço. Para o “nosso” Obama muito mais importante que andar com o PIB às costas em tudo quanto é propaganda, é saber “se um jovem com formação consegue um emprego que lhe permita sustentar a família; se um agricultor pode transportar os seus produtos para o mercado; ou se um empresário que tem uma boa ideia pode formar uma empresa”. Os passos propostos por Obama “têm a ver com a dignidade do trabalho. Têm a ver com a oportunidade que deve existir para os africanos do séc. XXI.” Tudo o resto é demasiado abstracto para quem tem fome ou está desempregado. A maior parte dos angolanos e dos africanos ainda está a procura dos passos que os levem a ter o mínimo. Em Angola e para sermos ainda mais frontais a solução do problema, nesta altura, passa pela capacidade do Estado em distribuir um prato de sopa. A chamada sopa dos pobres, para que ninguém mais neste país passe fome. Em Angola a própria lei de bases da segurança social obriga o Estado a garantir um rendimento mínimo a todas as famílias que, por qualquer motivo, deixem de ter possibilidades de se auto-sustentar. Em Angola não há subsídio de desemprego. Estados com muito menos recursos do que o nosso garantem isso e muito mais aos seus cidadãos pobres. De facto assim estamos muito mal e vamos ficar ainda pior. As diferenças entre o topo e a base da pirâmide social são tão grandes que, a manter-se um tal gap, muito dificilmente o país irá algum dia acontecer como todos desejamos. Será que é para lá que estamos a caminhar? Parece que sim, que é para o lado da impossibilidade, do abismo, que nos estamos a orientar, quando temos tudo para ir pelo outro lado, quando temos tudo para dar certo. Será que ninguém nos ouve?