quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Com o apoio do GPL, ofensiva do betão armado engole mais um espaço público de Luanda

"Era uma vez um largo, um largo que virou prédio com a varinha mágica do GPL"- assim poderia começar (mais) este conto do vigário. Na histórica baixa de Luanda entre a velhinha Biker e o novo arranha-céus onde se instalou o nóvel Ministério da Economia, havia um largo ao qual, depois da dipanda, foi dado o nome de Julius Fuckic, cidadão da então Checoslováquia que foi durante a República Popular, o patrono da quase desaparecida (em combate?!) União dos Jornalistas Angolanos (UJA), de quem sou membro fundador. Havia, digo bem, porque o mesmo esfumou-se por entre as toneladas e toneladas de betão armado que estão a dar forma a um volumoso edificio multiusos, cujo proprietário só o GPL conhece.
Neste extinto largo, que o porta-voz do Governo Provincial de Luanda (GPL) há uns anos nos garantiu que estaria a ser construído um parque de estacionamento subterrâneo, está efectivamente agora a subir mais um prédio ao arrepio de todas as regras essenciais de arrumação equilibrada e racional do espaço urbano.
Salta à vista de qualquer observador a muito pouco recomendável proximidade dos dois edificios, enquanto se aguarda pelo destino que será dado à Biker que de certeza já está na mesa da grande ofensiva do imobiliário e do betão armado, que tem no GPL o seu principal e estratégico aliado.
Para além de todas as questões que se possam colocar a mais esta licença de construção concedida pelo GPL, como cidadão e natural de Luanda, a grande questão que não posso deixar de colocar aqui tem a ver com o direito.
Numa altura em que o Governo da República se arvora ao direito ostensivo de fazer o que bem lhe apetece de todas as terras do país, com a implementação da sua estratégia das "reservas fundiárias", ignorando, quantas vezes de forma violenta, todos os outros direitos dos cidadãos, será que o GPL também tem o direito de autorizar a construção de edificios em largos públicos desta cidade, com a sua consequente eliminaçao da nossa paisagem urbana?
A cidade de Luanda é propriedade do GPL?
Se não tem esse direito, o que é facto é que a sua prática demonstra que tem muito mais que o próprio direito.
Tem força, apoio político do Governo central e faz ouvidos de mercador a todas as reclamações, enquanto vai prometendo para dentro de dois ou três anos a aprovação do Plano Director de Luanda, onde vai gastar mais um balúrdio de massa.
Ao ritmo da ofensiva actual do betão armado, será que este Plano ainda fará algum sentido quando estiver pronto?
Até lá...