quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Um ano depois...

Se quiséssemos ser rigorosos nesta avaliação do primeiro ano do Governo do MPLA saído das eleições de Setembro de 2008 teríamos que ir ao seu programa eleitoral e proceder às necessárias e pontuais confrontações entre o que foi prometido e o que está a ser executado. Como o programa em causa define objectivos gerais para o mandato governamental que é de quatro anos, esta comparação não nos ajudaria muito a tirar conclusões para o que se pretende neste exercício relacionado apenas com o desempenho do novo Executivo neste primeiro ano da sua vida. Assim sendo, limitar-nos-emos aqui a debitar algumas impressões com que ficamos desta primeira etapa da caminhada de um Governo que se comprometeu com os angolanos a fazer tudo (objectivos sócio-económicos) na casa dos milhões, começando pelo seu ambicioso programa habitacional. Desde logo, está mais ou menos claro, com base no que foi feito neste primeiro ano, que muito dificilmente os milhões prometidos pelo MPLA durante a campanha eleitoral serão alcançados no final deste mandato. De pouco adiantará apresentar-se a inesperada crise internacional como factor condicionante para justificar os incumprimentos que se anunciam, pois mesmo a manter-se o anterior tempo das vacas gordas, poucos acreditam, onde nos incluímos, que seria possível darem-se os milhões prometidos. O programa habitacional por ser o mais mediatizado é aquele que mais tem merecido a atenção de todos os angolanos, estando a sua actual execução a alimentar mais dúvidas do que certezas quanto ao alcance do objectivo final. Foi notória a passagem da bola, numa espécie de passe de mágica, para a chamada auto-construção dirigida com a entrega aos particulares da edificação de mais de 600 mil casas, quando era suposto, com base em toda a propaganda preliminar, que fosse o próprio estado a assumir directamente este esforço principal ao nível da construção da habitação social. Ao nível mais político, este primeiro ano do novo Governo foi verdadeiramente decepcionante sobretudo no que toca a consolidação do regime democrático e a ampliação das liberdades e direitos fundamentais dos cidadãos. O desempenho da comunicação social do estado espelha bem este clima, quando tudo levava a crer, com base na folgada vitória eleitoral, que fossemos assistir a um filme bem diferente, muito mais arejado, muito mais limpo, muito mais abrangente, muito mais inclusivo do ponto de vista do debate das grandes questões nacionais. De uma forma geral assistiu-se na prática a um reforço das tendências mais autoritárias existentes no seio do partido governamental o que foi bem visível na forma como o jogo democrático está a ser conduzido. Tal como no futebol, a democracia também tem regras, que não podem em circunstância alguma impedir que os jogadores marquem golos na baliza do adversário. O que se assistiu neste primeiro ano, foi a utilização desnecessária do anti-jogo, o que não abona em nada a imagem do Governo, que em Luanda mas não só, acabou por ter como principal adversário, a sua política de demolições e expulsões. De facto não é possível ignorar o impacto negativo que neste ano a musculada gestão dos terrenos urbanos teve para a imagem do governo a condicionar certamente futuros apoios políticos e eleitorais por parte dos angolanos atingidos pelo camartelo que já são mais do que muitos.