terça-feira, 2 de março de 2010

(Flashback/Março-2007) Nada está tão mal que não possa piorar ainda mais

A capital angolana é neste momento o espaço onde melhor se aplica um dos mais famosos princípios de Murphy. Este princípio diz-nos que nada está tão mal assim que não possa piorar ainda mais. Muito mais, acrescentamos nós. É exactamente isto o que se está a passar por estas bandas conferindo toda a solidez às descobertas algo parolas feitas pelo engenheiro norte-americano Edward Murphy nos idos de 40. De facto Luanda está transformada numa verdadeira feira de maldades onde os seus habitantes são as principais vítimas, cada vez mais vítimas de uma conjuntura terrível, onde tudo se conjuga com o mesmo propósito: o de fazer mal aos luandenses, de castigá-los duramente por tudo, por nada e por mais alguma coisa. Quando já se pensava que com os engarrafamentos monstruosos que obrigam a malta da periferia a gastar mais de quatro horas diárias só no caminho entre a casa e o trabalho e vice-versa, não haveria mais nada que pudesse tramá-los, enganamo-nos todos redondamente. Nós e eles. Nós que temos a sorte de viver no famoso casco urbano e eles que arranjaram o azar de ir procurar novas vidas fora desse mesmo casco. O pior afinal ainda estava para acontecer, de acordo com a visão clarividente do estafermo do Eduard Murphy. E o pior agora para quem anda, melhor dizendo, para quem vive nos engarrafamentos, são os assaltos à mão armada. É o risco de serem mortos à facada ou a tiro se resistirem ao peditório dos cada vez mais violentos e sanguinários amigos do alheio, que acabam por ir recuperar ao local errado aquilo que lhes é negado na divisão de mais de um milhão e meio de barris de petróleo por dia que o país começou a explorar esta semana com a entrada em produção do campo Dália. Granda barco! (...) E se mesmo assim ainda não acreditam no princípio de Murphy, isto é, que depois de tudo isto, ainda está para acontecer o pior, dir-vos-emos que o pior é não haver qualquer capacidade operativa das autoridades para fazerem face a esta nova ofensiva da criminalidade. Nós pelo menos não acreditamos que haja uma tal capacidade que tem como principal obstáculo o próprio engarrafamento. Os bandidos conhecem bem o estado das nossas estradas. Os automobilistas estão assim completamente entregues à bicharada, a si próprios e às consequências do princípio de Murphy. Falamos dos automobilistas apenas para exemplificar como é que o sofrimento dos luandenses não tem parado de aumentar neste verão chuvoso que já nos garantiu via Inamet, a sua total obediência aos ditames de Murphy. Vem aí o Abril das chuvas mil com cargas de água muito superiores as que têm sido habituais. Já viram? Luanda está claramente à beira do colapso. Job Capapinha saiu finalmente da sua inércia para anunciar intervenções paliativas em algumas artérias e eixos mais conflituosos. Falou da Shoprite e da Machado Saldanha. É isto mesmo que tem de ser feito todos os dias, todas as noites. Esperar pela estação seca é que não faz qualquer sentido para quem governa uma cidade com tantos problemas e tantos buracos. Nas cidades onde neva a sério todos os dias os carros da municipalidade vão à luta para limpar, para impedir a asfixia, para permitir que a vida decorra dentro da normalidade possível. O governo central aprovou um bilião de dólares só para projectos rodoviários para servirem Luanda e arredores. As outras cidades vão ter de esperar. Entre mortos e feridos, alguém vai ter de se safar!