domingo, 4 de abril de 2010

Entre o Cuito Cuanavale e o 4 de Abril com a Páscoa pelo meio

Em termos de simbologia o Cuito Cuanavale (CC) rima muito mal com o 4 de Abril. Quem faz o discurso do CC dificilmente poderá fazer, com alguma coerência, o do 4 de Abril, porque de facto são dois acontecimentos que se opõem frontalmente. Haverá, certamente, outras leituras mais "poéticas" deste relacionamento. O que é facto é que o primeiro discurso, o do CC, a nível oficial, continua a ser preponderante. É claramente mais importante. O discurso oficial celebra com muito mais autenticidade e entusiasmo as batalhas do passado do que o fim do conflito. Kifangondo e Cuito Cuanavale que já têm memoriais falam bem desta "paixão". O Presidente discursa na homenagem ao CC, mas não se lhe ouve uma palavra por ocasião do 4 de Abril. Enquanto isso, todos parecemos estar de acordo que o 11 de Novembro de 1975 e o 4 de Abril de 2002 já são neste momento as duas datas mais importantes para Angola e o conjunto dos seus habitantes, independentemente de todas as diferenças e divisões que nos separam, mas também nos enriquecem. No meio destas duas datas, que se excluem no seu sentido (sentimento) mais profundo, temos este ano, a coincidir com o 4 de Abril, a celebração da reunificadora Páscoa cristã que tem a ver com o renascimento do símbolo maior do cristianismo: Jesus Cristo, o Príncipe da Paz. No seu significado original Páscoa quer dizer “passagem”. A passagem de Angola rumo ao futuro, só pode apontar numa direcção que tem a ver com o 4 de Abril e nunca com o Cuito Cuanavale. Angola, note-se, não possui um monumento que celebre a sua independência como uma conquista de todos os angolanos. Aonde é que está? Angola ainda não edificou um monumento que homenageie a conquista da paz definitiva como a grande vitória de um país inteiro que andou cerca de três décadas a tentar acabar consigo mesmo. Aonde é que está? No meio do CC e do 4 de Abril, este ano, estamos certos, a maior parte dos angolanos acabou apenas por celebrar a Páscoa cristã com alguma fé no futuro e no milagre da paz. Os cristãos acreditam em milagres... ::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: Comentários Foi realmente uma coincidência muito estranha que o PR tenha priveligiado o elogio dos feitos da guerra, comprovados, ou não, por ocasião das celebrações do 8º aniversário da paz, a 4 de Abril, com um inusitado discurso sobre a batalha do Cuito Canavale, cuja interpretação tem suscitado muita polémica. Infelizmente este episódio da vida política nacional passou a margem da quase totalidade da Imprensa. Na verdade o partido no poder faz - e sempre que pode recorda aos antigos inimigos com arrogância - a celebração da pax romana.A praxis da força e o autoritarismo, ao invés da tolerância, do pluralismo e do diálogo, continua a ser um marca registada do regime, como o demonstraram as recções do governo face as manifestaçõe de protesto contra as demolições abusivas de casas e populares em Benguela e na Huíla. Com este estranho episódio fica difícil explicar a " originalidade de processo de paz angolano" constantmente realçada dentro e fora das fronteiras, como o fez recentmente o ilustre vic-presidente da AN, JL na assembleia inter-parlamentar de Bangkok, Tailândia. Mário PAIVA