quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Estado da Nação: O JA já sabe o que o Presidente vai dizer

(…)O Presidente da República vai seguramente dizer ao país, ante os eleitos pelo povo, que num clima de grave crise internacional, este ano Angola vai registar um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) na ordem dos 4,5 por cento. (…) O Presidente da República vai dizer ao país que o mundo rural começa a caminhar por si, que as pescas continentais começam a ter expressão, que os grandes projectos agro-industriais estão a produzir os resultados esperados. (…) O Presidente da República não vai seguramente dizer ao país que está tudo bem e vamos ficar ainda melhor. Mas vai dizer que o desemprego em Angola desce quando sobe em todos os países desenvolvidos. Que a nossa economia cresce quando está em recessão ou estagnada nos países mais ricos do mundo. (…) O Presidente da República vai dizer aos angolanos que o Estado da Nação é bom, mas podia ser melhor. Para darmos esse salto qualitativo, é preciso o empenho de todos, o trabalho de todos. Desde o início da legislatura, Angola percorreu um caminho longo de sucessos, mesmo num clima universal de crise. O Chefe de Estado, na sexta-feira no Parlamento, vai seguramente dizer que podemos ir muito mais longe. No final da legislatura vamos seguramente ter muito que festejar. (In editorial do JA/13-10-10) PS- O conteúdo taxativo deste autoritário editorial parece ser o resultado de um rigoroso exclusivo que o "nosso Pravda" obteve junto da presidência angolana. A confirmar-se este furo, vamos ter na melhor das hipóteses um "Estado da Nação Autista", que não é exactamente aquilo que prevê a Constituição no seu artigo 118. O referido artigo diz que o Presidente da República dirige uma mensagem ao país na abertura do ano parlamentar "sobre o Estado da Nação e as políticas preconizadas para a resolução dos principais assuntos, promoção do bem-estar dos angolanos e desenvolvimento do País". Ainda há, entretanto, alguma esperança de que tal não venha acontecer, caso o Presidente não me mande comprar hoje o JA, nem leia nas próximas 48 horas este blog. PS1- Tendo em conta o conteúdo bastante auto-crítico das últimas intervenções públicas do próprio PR, não há nada que, para já, nos leve a admitir que JES venha a acatar as "orientações estratégicas" do Jornal de Angola. Com este editorial, o JA acabou por nos remeter à famosa tese sobre o "Significado político da manipulação na grande imprensa(1988)" do conhecido académico brasileiro Perseu Abramo (já falecido) para quem os jornais estão a assumir o papel dos partidos. Tendo como paradigma, obviamente a realidade brasileira, PA escreveu a propósito, o seguinte: "Se os órgãos não são partidos políticos na acepção rigorosa do termo, são, pelo menos, agentes partidários, entidades para-partidárias, únicas, sui generis. Comportam-se e agem como partidos políticos. Deixam de ser instituições da sociedade civil para se tornarem instituições da sociedade política. Procuram representar - mesmo sem mandato real ou delegação explícita e consciente - valores e interesses de segmentos da sociedade. E tentam fazer a intermediação entre a sociedade civil e o Estado, o Poder". Não temos qualquer dúvida em ver neste espelho traçado por PA, reflectida a imagem do "nosso Pravda".