sexta-feira, 8 de outubro de 2010

A rádio vista pela lente omissa/míope de um editorialista

O Jornal de Angola, também conhecido nestas bandas pela carinhosa e muito íntima designação de "nosso Pravda", que irrita solenemente o Manribas, dedicou o seu editorial da passada quinta-feira (7/10/10) ao dia da Rádio Nacional que é o 5 de Outubro, com o título de "Percurso glorioso". Para além dos nomes que durante o tempo colonial marcaram o percurso da rádio em Angola desde que ela surgiu na década de 30 em Benguela, o editorialista de serviço apenas citou mais três outros profissionais que fizeram época já depois da independência, a saber, Rui de Carvalho, Manuel Berenguel e Francisco Simmons, por sinal todos já "embarcados". Curiosamente também todos eles provenientes da rádio ainda feita durante o tempo colonial. Exclusivamente do pós-independência o editorialista do "nosso Pravda" não se referiu a um único nome, tendo feito apenas uma vaga, despersonalizada e algo paternalista alusão a "jovens talentosos [que se] mantêm nas várias estações de rádio espalhadas por todo o país". "Jovens", alguns dos quais hoje já têm mais de cinquenta anos no lombo. Esta omissão (ou miopia?) que é grave, não agrada a todos nós que fizémos rádio (e continuamos a fazer) neste país durante os últimos 35 anos. A mim pelo menos não. O editorialista de serviço, tudo leva a crer, não esteve em Angola durante estes longos anos que já levamos no pêlo, como jovem nação africana independente. O muito nosso JA não pode, por seu lado, encomendar um editorial deste género a quem não conhece o país ou a quem o conheceu apenas durante o colonialismo. E mesmo durante esse periodo, o seu conhecimento não nos convenceu muito, devido ao facto de não ter feito qualquer referência, nomeadamente, aos profissionais que trabalhavam no Angola Combatente (AC), um célebre programa de rádio feito por militantes angolanos do MPLA e que era transmitido pela Rádio Brazaville. Foi através do AC que muitos angolanos aderiram aos ideais da libertação nacional que as rádios citadas pelo editorialista de serviço pura e simplesmente ignoravam ou hostilizavam. Ou será que no seu entendimento aquilo não era rádio? O "Percurso glorioso" da rádio foi feito com muitos outros nomes que o editorial do JA não quis citar, porque o seu escriba de serviço não ouviu a rádio em Angola durante os últimos 35 anos. Foi muito tempo sem ouvir a nossa telefonia, para depois se ter a pretensão de escrever sobre ela no seu conjunto, o que perfaz um percurso de cerca de 70 anos, que nos conduziu até aos dias de hoje.