domingo, 19 de dezembro de 2010

Oposição na RNA reorganiza-se e contra-ataca

A carta anónima dirigida a Carlos Feijó, o ministro que tutela a tutela da comunicação social, publicada nos últimos dias pelo Club-K é um dos sinais mais fortes que aponta nessa direcção. Afinal de contas, estamos em democracia e a oposição é fundamental em qualquer regime que pretenda ser democrático, mesmo que seja só para inglês ver, como às vezes parece ser o nosso. Muitas vezes, por sinal, para os nossos gostos. Na RNA, os "saudosistas" estão novamente na estrada e prometem não deixar os seus créditos em mãos alheias. Também, note-se, ter saudades não faz mal à ninguém, desde que não sejam saudades de periodos muito maus da nossa história, como parece ter sido o consulado da anterior tutela da Comunicação Social, por razões demasiado óbvias. Depois dos primeiros (longos) momentos de alguma indefinição que precederam a nomeação do Conselho de Administração da RNA, os "saudosistas" já sabem agora contra quem exactamente e como é que devem apontar a suas baterias. As hostilidades foram, pois, reabertas! Quer na Rádio, quer na Televisão, a composição dos novos CAs deixou alguns destes "saudosistas" quase à beira de um ataque de apoplexia. Calmex! Devo confessar, como já tive a oportunidade de manifestar aqui a minha posição, que também tenho muitas dúvidas em relação à consistência de algumas das escolhas feitas para a composição dos primeiros conselhos de administração das empresas estatais da comunicação social. Não serão, certamente, as mesmas dos desconhecidos signatários da Carta Aberta, porque acho que devia ter havido um corte mais radical com o passado, evitando deste modo, e na medida do possível, isto é, dentro dos limites apertados da ortodoxia prevalecente, que os anteriores responsáveis das referidas empresas voltassem a ser integrados no topo. Já não acredito muito em mudanças na continuidade. O caso do Jornal de Angola é paradigmático dessa minha descrença. Por principio, as cartas abertas não são ou não devem ser apócrifas, o que, como é evidente, lhes retira parte do seu impacto junto da opinião pública, em direcção a quem elas, fundamentalmente, se dirigem. Só espero é que os seus signatários, que se apresentam como sendo "trabalhadores e militantes do MPLA na RNA", tenham tido a cortesia de se darem a conhecer pessoalmente ao Dr. Carlos Feijó a quem é dirigida em primeira instância a sua "Carta Aberta". **************************************************************************** O meu passado de oposicionista na RNA (actualizado) **************************************************************************** Lembro-me que na RNA, e ainda no período do partido único (segunda metade da década de 80), terei sido o primeiro trabalhador daquela "casa de rádio" a assumir a minha condição de oposicionista, depois de ter pedido a demissão do cargo que então ocupava. Na altura o Director-Geral era o Guilherme Mogas (GM) e eu era o Chefe de Departamento de Informação, depois do falecido Francisco Simons ter ido para a TPA. E demiti-me do posto, comportamento raríssimo na época, porque na minha ausência, o DG tinha alterado uma determinação que em conjunto tínhamos tomado relacionada com o afastamento de uma conhecida "vaca sagrada" do DINF, que deste modo acabou por ser reconduzida nas minhas costas. De regresso ao país e após ter constatado esta desautorização, falei com o GM e ainda tentei demover-lhe, dando-lhe, contudo, o prazo de uma semana para tudo voltar à primeira forma. Findo o prazo e como ele manteve a sua decisão apresentei-lhe de imediato o meu pedido de demissão, tendo-lhe comunicado que passava a fazer parte da oposição activa ao seu consulado. Foi assim que dei por terminou o meu "carreirismo"na RNA, pois foi na sequência desse pedido que decidi igualmente ser apenas jornalista e valorizado como tal. Depois da minha demissão e já não me lembro bem quando, fui dos mais destacados críticos da gestão de GM no decorrer de uma concorrida assembleia geral de trabalhadores conduzida pelo Ministro da Informação, Boaventura Cardoso, que culminou com o afastamento da RNA de GM e da sua equipa, da qual fazia parte Luzia Façony, que algum tempo depois viria a liderar o projecto LAC. Com Guilherme Mogas, actualmente um empreendedor empresário bem sucedido da nossa indústria, tenho hoje uma relação muito cordial, pois tudo já pertence mesmo ao passado, um passado que, por sinal, nos traz bastantes saudades, diante do descalabro que foi a gestão da RNA dos últimos anos, herança que os signatários da Carta Aberta ignoraram completamente, por razões que também se entendem perfeitamente. É bom que se reconheça que foi durante o reinado de GM, que a RNA mais cresceu e se desenvolveu do ponto de vista da suas estruturas técnicas e de apoio social, que alguns anos depois, sobretudo as segundas, viriam a ser canibalizadas por interesses particulares no âmbito de uma "auto-privatização" selvagem e sem qualquer respaldo legal, que penalizou ( e continua a penalizar) gravemente os trabalhadores da emissora oficial. A escandalosa cedência de mão beijada do auditório Rui de Carvalho à "nova" TPA2, foi o último dos episódios desta série de terror contra o património da empresa. Nas poucas vezes que me tenho encontrado com o Guilherme Mogas, aproveitamos a oportunidade para nos recordarmos desses velhos tempos, exercício de memória que partilhamos no meio de alguma bem disposta e saudável galhofa e sempre com mais umas revelações interessantes relativas ao meu próprio desempenho naquele tempo.