terça-feira, 15 de março de 2011

Cabinda: Give peace a chance

[Tudo o que estamos dizendo é dê uma chance a paz- John Lennon] O processo de pacificação de Cabinda pode conhecer uma nova etapa nos próximos tempos, depois das conversações secretas com a FLEC/FAC, que vinham decorrendo desde 2009, terem fracassado. Este fracasso custou a "luz" ao Comandante Pirilampo em circunstâncias ainda não oficialmente esclarecidas, mas que se adivinham muito pouco recomendáveis mesmo à luz de uma situação de guerra, pois ao que consta, o homem já estaria sob custódia governamental, depois de ter sido raptado em Ponta-Negra. Não havendo pena de morte no país, é muito difícil a um Governo justificar a execução de um prisioneiro de guerra, o que a confirmar-se em nada abona a imagem das FAA, particularmente na óptica das Convenções de Genebra. Quanto às novas perspectivas que se abrem para o enclave, convém destacar desde logo a "inutilidade" em que se transformou o acordo com Bento-Bembe/FCD, que parece ter os dias contados, numa altura em que este parceiro já é claramente mais um produto descartável à espera da melhor oportunidade para conhecer o destino que habitualmente conhecem os políticos nesta volátil condição. Para esta nova fase que se adivinha e que se deseja naturalmente mais abrangente e inclusiva, um dos sinais que o Governo deveria dar de imediato seria o levantamento do "estado de sítio" prevalecente em Cabinda. A ilegalizada Mpalabanda (sociedade civil) deveria ser autorizada a exercer novamente as suas actividades cívico-políticas, o que do ponto de vista jurídico até não constitui um grande problema, pois até agora, pelo que julgamos saber, o Tribunal Supremo ainda não se pronunciou sobre o recurso interposto relativamente à decisão da sua proscrição tomada por um "tribunal marcial" de Cabinda. Há de facto novos ventos a soprarem sobre o enclave. Give peace a chance! PS- Não é a primeira vez que o Governo negoceia directamente com Nzita Tiago. Para além desta última tentativa, durante o consulado de F.G. Miala houve igualmente uma ronda que viria igualmente a ser mal sucedida, depois das coisas já estarem bastante avançadas e de algumas verbas já terem começado a ser libertadas. De toda esta movimentação, os jornalistas devem retirar uma importante lição, que apesar de já não constituir qualquer novidade, vale aqui recordar para não fazermos o papel de parvos. Lidar com fontes oficiais em Angola é um verdadeiro jogo do gato e do rato, devendo para tal os jornalistas utilizarem um instrumento parecido com a dúvida metódica de Descartes. Este método de apuramento da verdade dos factos consiste na filtragem de todos os elementos de um determinada situação, eliminando aqueles que não se afigurem como verdadeiros ou sejam dúbios, e apenas retendo os que que não suscitem qualquer tipo de dúvida. Diante dos vários barretes que temos enfiado, é preciso pois começar por duvidar se nós próprios já somos mesmo jornalistas ou se ainda continuamos a ser apenas trabalhadores da informação.