quarta-feira, 30 de março de 2011

Revolta na Casa dos Ídolos*

O grupo parlamentar do MPLA não acatou parte das alterações sugeridas pelo Executivo que deveriam ser introduzidas no novo diploma sobre o investimento privado que vai ser discutido pela Assembleia Nacional. Mais concretamente, soube-se que a maka levantada pelos parlamentares do M tem a ver com o limite mínimo do montante que deve ser considerado para efeitos de investimento privado. A nova proposta considera que um milhão de dólares deve ser o tecto mínimo, enquanto que na lei em vigôr este limite está fixado nos 250 mil dólares. Ao que julgamos saber, a subida desta fasquia desagradou profundamente muitos dos deputados que acharam que esta alteração não favorece os interesses dos pequenos investidores nacionais, que deste modo ficarão afastados dos incentivos/benefícios que a lei do investimento privado prevê para estimular e atrair novos capitais. O tom dos debates foi bastante acalorado e chegou mesmo a verificar-se um choque aberto com a orientação superior, com um dos deputados mais jovens do grupo a destacar-se entre os contestários, pela qualidade dos seus argumentos particularmente acutilantes. Até que ponto esta "revolta" será reflectida na proposta que vai ser submetida à plenária é o que ficaremos a saber nas próximas horas, caso o diploma não seja retirado para novas consultas, de modos a configurar as pretensões manifestadas esta semana pelo GP do MPLA. * Título de uma peça de teatro escrita por Pepetela em 78 e publicada em 1979. A Revolta da Casa dos Ídolos conta um episódio de uma Revolta no Reino do Congo. Num breve resumo, podemos dizer que Pepetela encena um episódio relativo à História de Angola do tempo da primeira colonização (séc. XVI), para aludir subrepticiamente à época em que vive. Assim, a peça trata de uma revolta popular contra os padres portugueses e os seus aliados Manicongos (chefes do Reino do Congo) que resolveram proibir o culto animista dos fetiches (os «ídolos»), guardando-os numa casa, afinal um pretexto para a contestação do poder dos dirigentes do Reino. Um jovem ex-Mani, agora ao lado do povo, dirige a revolta, que falha, sendo morto. Era tudo quanto o autor sabia sobre essa revolta. Mas Pepetela queria escrever sobre este tema, e diz-nos porquê:"Eu achava a história importante, pelo conflito ideológico, pela imposição da religião, pelas consequências no sistema de poder no Congo onde a partir dessa influência religiosa os filhos passam a suceder aos pais, ao invés dos sobrinhos como era prática tradicional no Reino do Congo. (Internet)