sexta-feira, 29 de abril de 2011

Marcolino Moco, a voz da diferença (ainda) no seio dos camaradas

Marcolino Moco (MM) que já foi Secretário-Geral do MPLA e Primeiro-Ministro disse ter recebido um convite formal para estar presente a sessão de abertura e encerramento do Congresso Extraordinário do maioritário que tem inicio esta sexta-feira em Luanda.
MM que falava à Ecclésia considerou positivo o gesto, tendo a propósito feito questão de recordar que no Congresso anterior foi intimado a estar presente com uma clara ameaça, caso não acatasse a ordem.
MM considerou o convite que lhe foi formulado como um gesto de reconhecimento tendo em conta a sua relação com o MPLA, mas adiantou que não lhe será possível estar presente por fortes razões de ordem familiar.
MM não alimenta grandes expectativas em relação aos debates e conclusões do conclave, pois acha que o partido ainda não está preparado para acolher moções de estratégia diferentes das do seu líder.
No que toca à democracia interna o MPLA, segundo o ex-SG, continua muito fechado ao debate de ideias, ao mesmo tempo que ao nível da sociedade observa uma postura de dono do país, na sequência dos resultados eleitorais de 2008.
Marcolino Moco tem-se destacado entre os militantes do MPLA que assumem as suas divergências com a orientação de JES, sendo nesta altura a única voz que faz ouvir em público as suas opiniões e críticas.
É prova recente destas divergências a sua abordagem feita no passado dia 14 de Abril em Benguela no debate promovido pela OMUNGA, curiosamente no mesmo dia ou um dia antes em que José Eduardo dos Santos falava em Luanda na abertura de uma reunião do Comité Central.
Em Benguela, MM que dissertava sobre "Os conflitos actuais no norte de África: Que lições para Angola" disse que "com as novas tecnologias de informação e com o aconchego cada vez mais estreito do Mundo, é ilusório pensar que a atrasada África e, concretamente, o povo obediente de Angola, ou os povos obedientes de Angola, vão manter-se no estádio actual por muito tempo, cheios de medo por causa dos acontecimentos do passado. A manifestação virtual do dia 7 de Março e a real do dia 2 de Abril em Luanda, são pequenas amostras de como jovens, quase imberbes, podem derrotar políticos veteranos acomodados em seus pensamentos dos anos 50 e 60, mesmo que já passados em testemunho a mais novos um tanto quanto incautos, porque rendilhados com novas roupagens."
Em Luanda JES atacava esses mesmos jovens adiantando que  "hoje há uma certa confusão em África e alguns querem trazer essa confusão para Angola.
Devemos estar atentos e desmascarar os oportunistas, os intriguistas e os demagogos que querem enganar aqueles que não têm o conhecimento da verdade. Temos que ser mais activos do que eles para vencermos a batalha da comunicação da verdade.
Nas chamadas redes sociais, que são organizadas via Internet, e nalguns outros meios de comunicação social fala-se de revolução, mas não se fala de alternância democrática".
Marcolino Moco concluiu a sua intervenção no debate da OMUNGA sustentando que "o Estado moderno não se constrói sem uma comunicação livre, embora, naturalmente responsável. O regime angolano actual está a incorrer numa prática grave de cerceamento ao direito à liberdade de imprensa, de forma discriminatória e acintosa".
MM rematou afirmando que "se o problema é impedir que se toque em assuntos delicados, então que resolvamos estes assuntos delicados, pedindo a compreensão de todos e iniciar uma nova era da construção de uma sociedade aberta. Há exemplos disso".