segunda-feira, 18 de abril de 2011

"O Discurso do (nosso) Rei"*

Já o disse no Facebook e volto a dizê-lo aqui.
Na trajectória discursiva de JES, que já leva cerca de 32 anos, o que se passou quinta-feira (14/04) última foi (é) um dos seus piores momentos que já testemunhei e de que tenho memória.
Muito dificilmente ele conseguirá recuperar esta nota tão má, tão baixa, tão cinzenta.
O que é difícil não é, contudo, impossível, pelo que tudo vai depender agora do recurso já interposto, considerando que, mais tarde ou mais cedo, JES voltará a discursar.
Aí o grande júri nacional voltará a apreciar o seu desempenho, pois de agora em diante JES vai ter concentradas sobre si, com muito maior interesse, as atenções críticas de todos os jurados que integram o espaço do país real/virtual, que são em número crescente e cada vez mais "chatos".
Nessa altura, em princípio, ser-lhe-á mesmo impossível ignorar as reacções/ondas de choque que a sua controversa intervenção está a produzir, embora seja de admitir o cenário do impossível, pois como sempre dissémos, em Angola nada está tão mal que não possa piorar ainda mais.
Só esperamos é que alguém ali do Comité Provincial/BB preocupado com a iminência de algum golpe de estado virual, não se lembre de convocar mais uma forçada "marcha patriótica" para apoiar o conteúdo do Discurso; ou ainda, que algum especialista dos famosos comités não o transforme em documentação de referência, recomendável para a elaboração de uma "tese de mestrado" sobre relações entre o poder político e as redes sociais.
Como sabemos que nesta matéria JES jamais dará o dito pelo não dito, aguardamos com alguma expectativa pela forma como ele vai tentar dar a volta por cima de um discurso que o colocou demasiado em baixo na consideração de muito boa gente, onde se incluem correligionários, adversários, pessoas comuns, indiferentes, e por aí adiante...
Como é evidente, também acreditamos piamente que as suas palavras tenham recolhido elogios e encómios da parte de outras tantas boas gentes, começando pelo "nosso Pravda", estando contudo convencidos que o balanço não lhe está a ser nada favorável.
À falta dos institutos de sondagem, resta-nos os resultados das conversas que cada um vai mantendo com os seus próximos e distantes, conhecidos e desconhecidos, para além da NET (redes sociais), o novo "inimigo de estimação" de JES, conforme se pode comprovar pelo conteúdo da lei das TICs já aprovada e que já merceu a atenção da própria CNN.
No "meu instituto" os resultados apurados até agora são francamente negativos(em toda a linha) para a imagem de JES.
Muito maus mesmo.
Senti, contudo, que, a ter em conta a multiplicidade das reacções imediatas e espontâneas, que nunca como desta vez, JES foi tão eficaz na comunicação com o país e com cada um dos seus habitantes.
Utilizando a estratégia do politicamente incorrecto/chocante, JES conseguiu desta vez quebrar com o factor de grande previsibilidade que era até então o denominador comum/imagem de marca do seu discurso oficial.
O sucesso foi total!
A fórmula está descoberta...
Só espero agora, que o "paciente" não venha a ser afectado pela própria cura.
* " O Discurso do Rei" foi o filme mais premiado pela Academia dos Óscares em 2010.
No filme o Rei da Inglaterra, George VI (pai da actual Rainha), que é extremamente gago, ultrapassa com sucesso o seu problema nervoso diante dos microfones graças a um terapeuta da fala que, em abono da verdade, nem sequer tinha qualificações académicas para se apresentar como tal, com consultório aberto e tudo mais em Londres.
Era apenas um aldrabão e um curioso, que soube pôr o monarca a discursar sem as prolongadas paragens/derrapagens típicas das pessoas que têm um tal "defeito de fabrico".
Qualquer semelhança deste filme com a nossa realidade só pode ser pura coincidência, até porque, como todos sabemos, os adversários de JES já o acusaram de todos os defeitos, menos de ser gago ou de gaguejar, sobretudo quando pretende alcançar os seus propósitos.
Há mesmo um grande distanciamento, porque no filme o Rei George VI, a muito custo, acaba por aceitar os conselhos do seu terapeuta, resolvendo desta forma o seu grave problema de comunicação com o público.