terça-feira, 21 de junho de 2011

O regresso ao Kuando-Kubango e o memorial da paz definitiva

No debate de domingo último em que tive pela frente Belarmino Van-duném, valorizei a deslocação do Chefe do Executivo acompanhado por todos os "sus muchachos" à cidade do Menongue, capital do Kuando-Kubango, local que já não visitava há cerca de 20 anos, a comprovar que tais terras ficam mesmo no fim-do-mundo.
De facto e para além de qualquer outra motivação mais relacionada com a estratégia eleitoral do partido no poder, tudo que for intervenção do Governo ao mais alto nível fora das fronteiras do "país Luanda" é bem-vindo e recomenda-se.
Tem de ser efectivamente ao mais alto nível para quebrar algumas bem conhecidas e poderosas barreiras ao nível do imobilismo e da burocracia.
Governar Angola exclusivamente partir de Luanda tem o resultado que todos conhecemos e depois lamentamos com as consequências da sobrelotação da capital que, de facto, como alertou recentemente em Lisboa a Vice-Presidente do Banco Mundial, é a tal bomba-relógio que, mais tarde ou mais cedo, nos vai rebentar nas mãos, caso as tendências actuais não sejam rapidamente invertidas.
Aliás, é bom reconhecer, que está bomba já começou a rebentar aos poucos, o que quanto a mim é particularamente visível  nos índices da criminalidade violenta que estão a transformar Luanda numa cidade cada vez mais insegura.
Esperemos pois que a presença de JES no KK nos últimos dias tenha contribuido, de algum modo, para a resolução dos inúmeros e gravíssimos problemas sócio-económicos com que aquela imensa região do país se confronta.
Importa recordar que KK começou a ser valorizado a partir do 20º aniversário da batalha do Kuito Kuanvale, após vinte anos do mais completo silêncio em relação aquele acontecimento que continua a ser objecto de versões contraditórias ou nem sempre muito convergentes, mesmo quando nos situamos no lado da barricada governamental, com a questão do papel dos cubanos no desfecho daquela refrega.
Do lado dos generais sul-africanos brancos do tempo do apartheid que tomaram parte no confronto, há alguma literatura ainda não traduzida em português, que fala bem deste tipo de diferenças na abordagem em concreto do que foi a referida batalha.
Do lado da UNITA há igualmente uma outra visão do que foi a batalha do Kuito Kuanavale e do seu impacto na conjuntura politico-militar que se vivia no país há mais de duas décadas.
O quartel-general do Galo Negro localizado na Jamba que era o grande objectivo da progressão das FAPLA no KK, acabou por não ser minimamente afectado, tendo a "pax angolana" acontecido apenas  mais de 4 anos depois de ter terminado a famosa batalha.
No debate deste fim-de-semana manifestei algumas reservas em relação à consistência de certos memoriais como é aquele que está a ser edificado no Kuito Kuanavale para celebrar uma vitória discutível, tendo em conta até o número de jovens angolanos das FAPLA (que se contam aos milhares) que foram mortos na tal batalha.

Memorial da Paz em Caen (França)
 Quanto a mim o país continua até ao momento a espera que se edifique um memorial que celebre a paz definitiva e a reconciliação entre todos os angolanos, dez anos depois das armas se terem calado no Lwena.
Este sim, é um memorial que vale pena construir, antes de mais no centro do coração de todos nós, com uma localização geográfica a discutir posteriormente, com base no consenso.
Pelo que julgo a saber a paz é a única vitória alcançada ao fim de mais de 35 anos de independência que vale a pena celebrar, porque nenhum acontecimento militar resolveu os problemas dos angolanos, enquanto a guerra se manteve na agenda nacional.
Por tudo isto e por muito mais não percebemos as razões que explicam esta "recusa" em priorizar a edificação do memorial sobre a paz definitiva em Angola.
A caminho do décimo aniversário do 4 de Abril, aqui fica a nossa prece a favor da construção do referido memorial.
Ainda vamos a tempo, se houver vontade política...