quarta-feira, 1 de junho de 2011

A oposição da rua é a nova estrela da companhia

Definitivamente as manifestações de protesto entraram para o quotidiano da nossa vida sócio-política, porque as outras, as manifestações de apoio incondicional, (estou-me a lembrar, nomeadamente, dos carnavais da vitória e dos desfiles do 1º de Maio) sempre fizeram parte dele. Isto desde que o país se tornou independente e sempre foram muito utilizadas pelo poder estabelecido.
O mesmo poder que agora está a ter dificuldades em lidar com o novo fenómeno, que em abono da verdade já não é tão novo quanto isso, embora nunca  tivesse assumido o vigôr e a abrangência dos dias que correm, daí a sua "revalorização".
É novo a começar pela juventude dos seus protagonistas, embora pessoas mais velhas como é o caso dos antigos militares, também tenham optado pela manifestação como forma de pressionarem quem de direito a resolver com maior celeridade, eficácia e sustentabilidade os problemas existentes.
É claramente um fenómeno que tem muito mais a ver com a "sociedade civil desorganizada" do que com a oposição partidária propriamente dita cuja intervenção pública se tem limitado a realização de conferências e divulgação de comunicados.
As dificuldades em lidar com o novo fenómeno são visíveis no comportamento musculado das autoridades policiais e na intervenção diabolizadora dos serviços de inteligência/comunicação social pública através de manipulações e de campanhas negativas, que muito dificilmente produzirão resultados satisfatórios.
A aposta numa solução mais repressiva com a prisão temporária das lideranças também está na mesa das opções que estão a ser utilizadas neste momento.
Esperemos é que a eliminação física das lideranças não volte a constar dos "manuais" que estão a ser utilizados pelos "operadores" diante desta nova onda que, em principio se vai intensificar, pois a barreira do medo, que até então era o melhor fusível que o sistema possuía, parece ter sido quebrada, o que também era de prever, mais tarde ou mais cedo.
O prognóstico do "paciente manifestações" é de facto muito reservado diante das dificuldades sociais que se avolumam e se multiplicam numa cidade que está a rebentar pelas costuras e que cada vez mais vai tendo menos capacidade para responder à crescente demanda.
Esta procura de equipamentos sociais que é o resultado da desertificação do interior, que corresponde a uma luandização das soluções existentes a nível nacional para problemas como a saúde, habitação, educação.
É  tal armadilha em que já se transformou a cidade de Luanda.
Por força da estratégia eleitoralista do MPLA quanto mais o governo investir em Luanda mais gente das outras partes do país se deslocará para a capital e menos possibilidades haverá de satisfazer as necessidades dos seus não sei quantos mais milhões de habitantes.
Isto, note-se, apesar de todo o investimento público que está a ser feito na capital angolana, pelo que se aconselha as autoridades a adoptarem uma outra postura, mais consentânea com a conjuntura, isto é, menos repressiva, mais inteligente e, sobretudo, mais de acordo com o espirito e a letra da nossa Constituição.
Foi o que tentamos fazer na última edição do Semana em Actualidade da TPA, cientes de que à semelhança do que acontece noutros países, a governação em Angola também vai ter de coabitar com o direito das pessoas a manifestarem-se contra determinadas políticas públicas ou contra a sua ausência noutros casos ou ainda contra tudo e contra nada.
Lembro-me sempre que em  Portugal foi durante o mandato com maioria absoluta, que o PM José Sócrates mais manifestações de protesto teve de enfrentar.
Parece já não adiantar muito acusar os jovens manifestantes disto ou daquilo, sendo a partir de agora mais importante adaptar todo o sistema a este novo desafio, começando pela "reconversão" da polícia/inteligência, com a certeza de que não será uma inflexão fácil.
Tendo em conta o "controlo político" que o partido da situação diz possuir sobre a caótica capital angolana, as coisas, aparentemente, estão muito mais facilitadas para o Governo que de facto vai ter de aprender a gerir o país sob uma pressão social crescente, tendo pela frente várias oposições.
A oposição da rua é a nova estrela da companhia.