terça-feira, 29 de novembro de 2011

Os incidentes do Kikuxi e o "modelo" de distribuição das terras

O extracto que poderão ler a seguir, foi retirado, com a devida vênia, de uma entrevista concedida este fim-de-semana ao NJ por Salomão Cahumba, o responsável pelo Gabinete do Perimetro de Kikuxi, localizado às portas de Luanda. 
Para além de outras razões que possam estar na origem dos violentos incidentes que se estão a  registar na região em causa, uma delas, apontada pelo entrevistado nestas linhas, é aquela que quanto a nós deve merecer uma maior e especial atenção da parte de quem tem responsabilidades políticas neste país.
A generosa distribuição politico-administrativa das terras, da forma como tem sido feita até agora pelo Estado/Governo-MPLA, com base no latifundio, pode já estar a alimentar um pouco por todo o país reacções do tipo que foram identificadas no Kikuxi. É altura de se começar a pensar seriamente nas consequências sociais e políticas deste "modelo". Pensar para repensar...  
"(...)
NJ- O que alguns populares alegam é que, uma vezque muitos terrenos estão abandonados, é justoque possam beneficiar dos mesmos...
SC- Temos levado a cabo um programa de reordenamentode parcelas, em que, primeiro, convocamos os concessionários que não fazem uso dos terrenos para fins agrícolas. Nos casos em que já tenham o terreno por mais de um ano, damos trinta dias para que retome a sua actividade. Caso contrário, o terreno reverte para o Estado, que faz uma nova concessão. Nestes casos, muitas vezes somos incompreendidos, porque pensam que o Estado está a vender terrenos, mas o Estado não vende terrenos, faz concessão de terras.
Realmente, temos terrenos que estão abandonados, o que nos provoca sérios constrangimentos. O gabinete não existe para tomar conta de terreno de concessionários.
Quem não tem capacidade de trabalhar a terra deve devolver o terreno ao Estado, para que seja cedido a outra pessoa, que pode fazer. Temos camponeses, que têm poucos recursos, e que estão a produzir, mas temos concessionários que têm capacidade financeira mas não trabalham a terra".