segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Debate sobre a maka da UNITA (novo)

A publicação deste cartoon suscitou uma acalorada troca de galhardetes entre a nossa "conhecida" Niura e um dos nossos anómimos visitantes, que pelos vistos não vai com a cara do "Mano Abel".
Tendo em conta o interesse da disputa aqui ficam em destaque as posições assumidas pelos dois "gladiadores"
"Seria bom que a Núria perguntasse um dia ao Chivukuvuku quais foram as bases do acordo que teve com Samakuva, porque até agora nunca provou que exista, incluindo aos membros da direcção do partido que diz pertencer quando confrontado sobre isso. Tomara que o faça agora que vai apresentar uma surpresa ao país! lembraste do que ele disse ao embaixador americano, transmitido pelo wikilikeaks? Achas certo um cidadão conspirar os seus confrades, coisas que não consegue fazê-lo internamente? Diz que vai assumir o seu desiderato nem que parta a UNITA? Esse o presidente que pretendes para Angola, que estando a situação no país tão tensa assemelha-se a uma avestruz. Um dia também pensei como você, que Abel era, emfim, um bom candidato para a UNITA e posteriormente o país. Pergunta-lhe um dia porque foi afastado do cargo de secretário para os Assuntos Políticos e Eleitorais? Sabias que pouco tempo depois da vitória de Samakuva ele já andava a fazer um levantamento no interior para ver se tinha Mais... ou não aceitação para concorrer no congresso seguinte. Isso chama-se traição, por isso perdeu de forma copiosa, por não ter concluido o mandato que lhe permitiria questionar o reinado de Samakuva. Se ele é parte do problema, porque esteve a sabotar, como pode ser o salvador um dia. Quanto à CAP, se ele também embarcou na mesma aventura que os dirigentes do MPLA, então não é mesmo flor que se cheire. É só ter a chave do cofre que vai se lambuzar com os dólares. Penso que devemos encontrar outras pessoas no seio da própria UNITA ou do MPLA que possam liderar uma verdadeira corrente para sacudirmos a escumalha que nos empobrece a cada dia que passa. De qualquer modo, respeito os seus pontos de vista. Abraço, Anónimo, por questões evidentes.
Por Anónimo em (Mensagem sem título) às 15:24
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NIURA
Caro WD, Esta réplica vem a propósito da defesa feita pelo caríssimo "Anónimo" à tese segundo a qual Abel é o principal da situação vivida pela UNITA... Não estou a fazer a defesa "da minha dama", primeiro porque a dama aqui sou eu, segundo porque jamais escondi a minha simpatia pelo partido da situação (enfatizo, do partido e não dos seus actuais responsáveis)... A minha opinião sobre o carisma de Abel justifica-se mesmo por isso, porque um líder emerge, não é imposto. E me parece que algumas pessoas têm memória curta ou então tendem a fazer uma campanha de desgaste da imagem de Abel... Na 1ª eleição pra presidente da UNITA logo após à morte de JS, Samakuva e Abel uniram-se contra o Gato e venceram. Ficou acertado que Samakuva cumpriria apenas um mandato e de seguida deixaria o caminho aberto pra que Abel concorresse ao cargo, mas Samakuva ignorou o compromisso e a partir daí começou o "kizango"... Abel sentiu-se no direito de disputar com o antigo companheiro e só não Mais... venceu por artifícios que, penso, alguns conhecem. E esses artifícios são os mesmos que, a todo custo, usam pra impedí-lo e só não vê quem não quer... O + estranho é que o JES e, por arrasto, o M acabam por ser os grandes beneficiados e apesar da minha simpatia pelo M, o amor que sinto pela democracia é maior que a simpatia que nutro por este partido, por isso não tenho receio em apresentar a minha opinião sobre Abel, porque acima de tudo, sou amante da democracia... E ainda ninguém parou pra pensar que tanto JES/M quanto Samakuva/UNITA, colocam no mercado político pessoas que se unidas podem fazer muita "mossa": Já imaginaram um partido integrado por Abel, Miala, Gato e Moco, só pra citar estes!?!
PS: Caro "Anónimo", prefiro não comentar aspectos que têm a ver com a vida pessoal e/ou familiar de Abel, pra esse tipo de ataques temos que ter nome e rosto pra dar lugar ao direito de resposta por parte do atacado. Quanto ao empréstimo que Abel conseguiu e não pagou à CAP até hoje, digo-lhe que a própria CAP foi criado pra este fim, isto é, enriquecer alguns deputados (do M e não só) porque eles perdiam e perdem em relação aos membros do Executivo e esse expediente foi criado pelo M, naltura com França Van-dúnen como PM. Lembra-se!?
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"Rio-me sempre daqueles que acham que Chivukuvuku é um bom partido para a UNITA ou mesmo para o país. Acham que alguém que não consegue tomar conta da própria família conseguira tomar conta dos angolanos? Não acham que se fosse uma verdadeira flor teria vencido Isaías Samakuva na liderança da UNITA ou esqueceram-se que o próprio Savimbi dissera que não sabia se que o homem era peixe ou carne. Deveu dinheiro ao CAP e como outros não pagou, tem prédios em Luanda. Como conseguiu estes imóveis. Vamos ser mais claros, o erro dele foi ter-se candidatado contra Samakuva, que não iria a um terceiro mandato se ele não cometesse essa asneira quando já era o delfim. O Aguiar dos Santos tem razão, porque o Abel é o principal culpado da situação que se vive hoje na UNITA. Tinha tudo na mão, mas a pressa fez com ele começe cru.
Por Anónimo em (Mensagem sem título) em 02-11-2011
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NIURA
Caro WD, Samakuva finge propositadamente o combinado (mau cavalheiro, nem parece diplomata) e insiste em fazer o jogo do adversário directo, até parece estar de "conluio". Não concordo com aqueles, como Aguiar dos Santos, que acham que Chivukuvuku" tem de esperar pela sua vez". A vez do mesmo é esta e será uma total ingenuidade se adiá-la, porquanto o mercado político carece de líderes carismáticos e ele tem de sobra e ainda que não vença dessa, certamente abrirá caminho pra 2017. Espero que Abel não defraude aqueles que acreditam no seu discurso e nas suas intenções de resolver Angola (e não são poucos)...

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Registo Eleitoral: O esclarecimento do MAT e o que diz a lei

O MAT, Bornito de Sousa, prestou no Facebook o seguinte esclarecimento sobre o actual processo de actualização do registo eleitoral:
"O que pode acontecer a quem nao for actualizar o seu Registo e escolher o local em que vai votar em 2012 é o seguinte: a Base de dados vai atribuir-lhe automaticamente um local para votar.
Se o local em que votou em 2008 nao esta incluído para 2012, vai automaticamente atribuir-lhe um local o mais próximo de sua residência.
Pode acontecer entretanto que mudou de residência.
No dia das ELEICOES em 2012 enquanto quem actualizou e escolheu o local para votar vai "nas calmas" quem nao fez a actualização andará de um lado para outro a procura onde esta o seu nome num Caderno Eleitoral.
Se nao encontrar e pelo que temos acompanhado nos tempos mais recentes, chegará a uma conclusão: o culpado é MMMMMMM ou então foi tudo um complot "de Moscovo" para lhe impedir de votar!!!!!!!! NAO DEIXE QUE ISSO SUCEDA CONSIGO".
Pelo que é de Lei, os Cadernos Eleitorais têm de ser publicados com a devida antecedência, isto é, logo a seguir as operações de actualização do registo, para efeitos de consulta e reclamação dos interessados. Há deste modo tempo mais do que suficiente para todos os eleitores se informarem onde é que vão votar.
Não me parece pois que se justifiquem os receios de Bornito de Sousa, se de facto o que está na lei for observado pelas entidades registadoras.
Os Cadernos Eleitorais são a base efectiva de segurança de todo o processo eleitoral e foram os grandes ausentes das eleições de 2008, que deste modo ficaram marcadas por um manto de suspeições muito grande. Os partidos da oposição até hoje mantêm a denúncia sobre a ocorrência de fraude em 2008, tendo exactamente como referência incapacidade de se verificarem os resultados com base nos Cadernos Eleitorais.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Estado da Nação: a qualidade e os custos (os grandes ausentes)

Uma das notas mais ausentes no último Estado que JES traçou para a Nação foi a qualidade. A outra foi (ou foram?) os custos.
JES avançou números/estatísticas/percentagens, enumerou obras e projectos, anunciou estratégias de médio e longo prazo.
Tudo bem, salvo seja, pois são conhecidas as reservas que muitos de nós continuam alimentar em relação à análise da nossa realidade do ponto de vista quantitativo, tendo em conta a grande debilidade que possuímos na área das estatísticas, num país que não realiza um censo da população há mais de 40 anos.
Uma das mais contundentes críticas que o líder da UNITA Isaías Samakuva (IS) faz discurso de JES está relacionada com a falta de qualidade do ensino de uma forma geral.
Faz pouco sentido, segundo IS, “dizer que o número de 4,273,006 alunos no ensino primário é dez vezes mais que no último ano do período colonial, se a qualidade do que se lhes ensina é muitas vezes mais inferior a do período colonial”.
O mesmo, segundo IS, “sucede com o ensino superior onde os alunos pagam a gasosa para serem admitidos e pagam a gasosa para terem diploma, quer nas instituições públicas como nas privadas”.
De facto, aponta IS, “faz pouco sentido o número de 150,000 estudantes universitários se estes entram sem terem qualificações e saem sem estarem qualificados”.
Faz pouco sentido, concluiu IS, “o número de 1,200 licenciados por ano, se esses jovens não conseguirem competir no mercado de trabalho, porque os engenheiros não sabem trigonometria, os juristas não sabem escrever português e os gestores não sabem contabilidade de acordo com os padrões internacionais”.
“Vamos nos orgulhar desses números?”, rematou IS.
Samakuva colocou o dedo com alguma profundidade na grande ferida do nosso ensino, chamada qualidade/eficácia.
Concordando ou não com IS, temos que reconhecer que um licenciado nosso numa área mais técnica muito dificilmente poderá disputar um posto de trabalho num país desenvolvido.
De facto o último Estado da Nação de JES é omisso em relação ao factor qualidade, pois em nenhum momento do seu levantamento o Presidente tenta sequer aflorar esta vertente.
Quase que diríamos que JES foge dela, o que não permite fazer uma avaliação mais profunda e abrangente em relação à consistência do “retrato” esboçado.
De facto adianta muito pouco investirmos num ensino com as características enunciadas por IS. É prejuízo na certa.
A questão dos custos foi a outra nota saliente (e preocupante) que não esteve presente o que também não permite fazer a melhor avaliação do trabalho que o Executivo tem estado a desenvolver. Sem uma noção de custos, quando se fala em dinheiro público, nada feito.
É "bandário", diria o Jójó...
De que adianta construirmos uma ponte muito gira, se com o mesmo dinheiro poderíamos fazer a ponte, a escola, o hospital e o cemitério.
O que eu mais receio é que com o dinheiro(mal) gasto já poderiamos ter resolvido em definitivo alguns dos problemas mais aflitivos que nos atormentam.
(cont)

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Barbárie em Luanda!

Depois da barbarie que foram (continuam a ser) as imagens do linchamento de Kadahfi que circulam por tudo quanto é média internacional, em Luanda, de acordo com fonte policial, esta segunda-feira pelo menos três pessoas foram encontradas mortas, depois de terem sido queimadas vivas.
Ainda não há imagens disponíveis desta barbárie, o que não quer dizer que elas não existam.
A chocante imagem que aqui colocamos (devidamente editada) é de arquivo e tem a ver com um linchamento ocorrido há uns anos no Roque Santeiro com recurso a um pneu em chamas que é colocado à volta do pescoço da vítima (necklace).
Ao que parece o mesmo recurso voltou a ser usado para matar as pessoas referidas na  mais recente estatística policial.
Depois do show do Ministro do Interior, esta é a dura realidade de uma cidade que todos os dias "resolve" como pode os seus problemas.
A criminalidade galopante é um deles, possivelmente o mais preocupante para as comunidades cansadas de tanto sofrimento.
Ao que tudo leva a crer a "justiça" está a ser feita pela população com pneus em chamas.
Este também é o estado lamentável de uma nação que não aparece reflectido nas estatísticas de nenhum IBEP.
Não pode haver bem estar da população com a criminalidade a disparar todos os dias o que só pode ser sintoma de crescentes dificuldades sócio-económicas a afectar sobretudo as camadas mais jovens da população.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Onde pára a Ministra da Energia e Águas?

Pela segunda vez consecutiva a Ministra da Energia e Águas, Emanuela Vieira Lopes, não se fez presente no Espaço Público da TPA, para abordagem dos problemas do seu pelouro.
Depois das águas, este domingo foi a vez da energia não contar com a sua prestação de contas.
Um dos jornalistas presentes no programa, o Maima Salazar da Ecclésia ganhou "coragem" e colocou a pergunta necessária.
Dá para acreditar na resposta, depois de todas as informações que andam por aí a circular a respeito do esvaziamento da "Manela"?

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Estado da Nação: Quem foi que disse que o PR não falou da corrupção?

Discordo de todos aqueles que acham que JES voltou a ignorar (ou a passar ao lado), neste seu segundo Estado da Nação, a problemática da corrupção.
Sem ser prolixo e evitando a repetição dos chavões ocos do discurso oficial,
JES falou e bem (mal) da corrupção.
JES colocou o dedo bem alto, no topo da pirâmide, lá onde ele efectivamente ele deve ser colocado, para não andarmos a perder tempo com as gasosas da sobrevivência dos polícias, dos funcionários das repartições públicas, dos professores e dos enfermeiros, que no fundo acabam por ser apenas processos sinuosos que visam melhorar a distribuição do rendimento nacional.
Antes de mais sentiu-se da parte de JES uma necessidade de corrigir o famoso tiro anterior quando se referiu à pobreza de forma tão displicente ao tentar passar para o colonialismo as culpas pela actual situação de pobreza que o país vive, numa altura em que o PIB per capita já atribui a cada angolano uma receita de cerca de 4 mil dólares.
Vão surgir e estão a surgir pessoas ricas. O Estado não está contra os ricos, mas é bom que se diga que a preocupação maior do Executivo é combater cada vez com mais energia a fome e a pobreza, de modo a reduzi-las progressivamente até à sua completa anulação.”
Assim está bem, assim já nos começamos a entender melhor, pois o que ficou da anterior abordagem foi uma quase condenação dos angolanos à pobreza eterna por força exclusiva da herança colonial, ignorando-se olimpicamente os decepcionantes resultados de políticas públicas eleitoralistas e pouco consensuais a par da escandalosa e recorrente má distribuição do rendimento nacional.
As violentas e abissais discrepâncias salariais no sector público são apenas uma das pontas mais visíveis do enorme iceberg de injustiças e “trungungus” que vai por aí.
O dedo na grande corrupção foi colocado quando JES disse que “o país precisa de leis e regulamentos com regras mais claras sobre a participação em negócios de governantes, deputados e outros titulares de cargos públicos e as eventuais incompatibilidades”.
Depois de tanta legislação já aprovada, afinal ainda é preciso mais?
JES falou depois dos “conflitos de interesse” numa alusão, quanto a nós, ao progressivo desaparecimento do Estado como pessoa de bem, que é de facto o que está a acontecer aos olhos do cidadão que já não acredita que prevaleça lá em cima a salvaguarda e a defesa do interesse público, como inspirador fundamental da acção dos governantes. Este é o terreno mais fértil para a corrupção se instalar e se desenvolver. É este o pano de fundo da história de grande sucesso que tem sido a evolução da corrupção em Angola ao mais alto nível.
Tudo lá em cima funciona com base nos interesses particulares de quem nos governa. A ganância e o receio em relação ao futuro fazem o resto.
É exactamente nesta “faixa de Gaza” (os palestinos que me desculpem a ironia) que o dinheiro público desaparece aos milhões e vai parar aos bolsos de meia dúzia, com a agravante destes novos-ricos serem pouco empreendedores por não gostarem nada de trabalhar.
Era suposto que depois de tantos e tantos milhões de dinheiro do OGE já drenados por via da alta corrupção e do despesismo para as contas particulares dos titulares de cargos políticos e públicos, hoje o país tivesse uma classe empresarial a altura dos desafios de uma economia de mercado.
O que país “ganhou” foi apenas uma burguesia perdulária, arrogante e autoritária, porque umbilicalmente ligada ao poder político, aliás, ela continua a ser a cabeça do próprio poder político, para sermos “geograficamente” mais claros.
As pessoas mais ricas deste país, os grandes latifundiários, têm uma proveniência politico-partidária sobejamente conhecida, aliás, não podia ser outra, por razões objectivas, depois de a UNITA ter sido afastada da “farra”, na sequência da sua estrondosa derrota militar.
Daí que, achamos ter tido bastante substância o patético apelo de JES no sentido do sector privado poder e dever contribuir no esforço de combate a pobreza e a miséria, “fazendo mais investimentos para criar mais empregos bem pagos, pagar impostos e aumentar a riqueza nacional”.
Em síntese JES disse tudo para bom entendedor, tendo em conta o conhecimento profundo que tem desta realidade.
Patético, porque os adversários de JES atribuem-lhe a grande responsabilidade pelo surgimento e desenvolvimento deste sistema clientelar que em termos de desenvolvimento sócio-económico do país não tem representado a mais-valia que todo o seu potencial de recursos financeiros acumulados deveria proporcionar.
O que vemos são apenas condomínios, hotéis, fazendas de luxo, carros topo de gama, festas sumptuosas e pouco mais
Além fronteiras a farra continua…
Assim de facto o tal sector privado não pode criar riqueza para ser distribuída por todos.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Juventude: JES falou "diferente"...

Depois de todas as bordoadas que temos ouvido sobre o actual momento político na sequência da introdução das manifestações anti-governamentais no nosso panorama, foi de algum modo reconfortante ouvir JES no Estado da Nação dirigir-se aos jovens de forma diferente.
Efectivamente JES, dirigindo-se particularmente aos jovens, adoptou uma postura aparentemente construtiva que convém aqui destacar, porque marca uma certa diferença com o anterior discurso dos sectores mais musculados da sua própria família política.
Só não conferimos uma maior importância a esta diferença, porque não há para já qualquer possibilidade de valorizarmos as suas palavras com o critério fundamental da verdade nestes casos, que é a prática do discurso político em Angola.
Seja como for e tendo até em conta o facto de JES ser o principal alvo dos “mimos” dos manifestantes de rua (32 é muito!) e de uma forma geral de toda a contestação que anda por aí, é de destacar o seu “fair-play” político neste relacionamento.
É consabido que o Presidente angolano tem algumas (bastantes) dificuldades em lidar com as críticas à sua pessoa e ao seu consulado, sendo por isso de valorizar positivamente esta abordagem que terá surpreendido alguns dos mais conhecidos e aguerridos cabos eleitorais do seu partido.
De facto estava-se a espera de uma nova bordoada que felizmente não aconteceu e que acabou por “salvar” este Estado da Nação, tendo sido, quanto a nós, a parte dedicada à juventude o momento mais alto e positivo do discurso de JES.
O tom “paternal” com que começou a abordagem, ao referir que “a nossa juventude nunca agiu à margem do povo, é do povo e trabalhou sempre para o povo”, deu lugar, seguidamente, a um tom mais “professoral” ao apontar que “há hoje algumas incompreensões e mesmo equívocos que é preciso esclarecer”.
Depois e em nome do país real, da igualdade e do respeito que todos merecem, JES afinou a mira e disparou certeiro: “Penso que isso ainda acontece porque o diálogo não é suficiente. O sector competente do Executivo deve aprimorar as vias do diálogo social e ouvir, auscultar e discutir mais para que os assuntos sejam tratados em momentos e lugares certos e sejam encontradas e aplicadas soluções consensuais”.
Ficamos a saber que o Executivo tinha um programa sobre “a resolução dos assuntos da Juventude, cuja implementação foi suspensa”, numa “revelação” que só pode ser auto-crítica, mas que poderá ter consequências políticas ao nível do citado pelouro, onde o eleitoralismo, o despesismo e a falta de transparência são algumas das notas mais salientes que integram a pauta da sua gestão.
Esperanças agora depositadas no relançamento recomendado do dito programa que para JES “deverá ser retraçado pelo Governo e a sua execução poderá ser avaliada periodicamente pelo Ministério da Juventude e Desportos com os representantes do Conselho Nacional da Juventude, como já era feito antes”.
CNJ é que continua muito partidarizado, parecendo ser mais um apêndice da JMPLA do que outra coisa…
“O país precisa da contribuição de todos”- apontou JES.
Mas mais do que isso como também indicou JES, o país precisa de entendimento para resolver os problemas do povo angolano na reconciliação.
Entendimento que, acrescentamos nós, não pode ser imposto com marchas forçadas, mas tem que resultar do diálogo que JES reconheceu ter deixado de existir.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

“Coisas da Vida”- A obra-prima do André Mingas e da música angolana

A primeira vez que ouvi falar do André Mingas (AM) foi no inicio da década de 70, por intermédio de um primo seu também já falecido, o Pino (Luís Felipe de Nery), filho do lendário Liceu Vieira Dias, que foi um dos meus grandes amigos, embora tivéssemos partilhado muito poucos anos de vida em comum, quase nenhuns.
Eu e o Pino fazíamos parte de um pequeno mas sólido grupo de amigos de peito do Bairro Económico/Vila-Alice que integrava o Mário Barber, o Gustavo da Conceição, o Rui Bastos e o Tó Santana, felizmente todos em vida com a excepção dele.
O bom do Pino morreu muito jovem num trágico acidente de viação em 78, numa viagem a caminho do sul ao serviço do cinema angolano para o qual tinha começado a trabalhar como câmara, acho eu.
Foi do Pino que ouvi o primeiro grande e convincente elogio sobre as potencialidades musicais do André Mingas, numa altura em que ele ainda dava os seus primeiros passos, com uma modesta participação ao nível dos coros no primeiro LP, o “Temas Angolanos”, que o Rui Mingas, seu irmão mais velho, gravou em Lisboa.
No seu estilo entusiasmado de sempre o Pino, que também já tinha abraçado a música por intermédio do violão que dedilhava com alguma facilidade, disse-nos qualquer coisa como isto, cito de memória, “está aí alguém da família a cantar muito, é o Andrezinho”.
Ele queria dizer claramente que o AM já não devia nada ao Rui e que muito cedo se afirmaria a solo como uma das grandes referências da nossa música urbana contemporânea. Para além da enorme beleza da sua voz, o André já cantava de forma diferente. Já tinha começado a inovar para o meio e para o tempo.
O Rui era na altura a nossa referência maior, com os seus “Temas Angolanos” e toda a sua história.
Foi de facto o que aconteceu, depois da “profecia” do Pino naquele ano já distante para as pesquisas da nossa memória que muito dificilmente conseguem reencontrar com precisão e pormenor o conteúdo do prognóstico feito pelo já apurado faro musical que o Pino possuía.
Entusiasmados e militantes em inicio da carreira nacionalista, com Liceu Vieira Dias já regressado do Tarrafal, discutíamos na época em sua casa com o Pino, o presente e o futuro da música e do país, de uma Angola que ainda era colónia, mas que já respirava os ares da liberdade e da independência.
Como interprete e compositor, André Mingas, que esta semana vimos partir para sempre aos 61 anos de idade, entrou pela porta grande para a galeria dos artistas angolanos que realmente souberam acrescentar valor e criatividade ao nosso património.
As consequências desta passagem de André Mingas pelas nossas vidas e os nossos palcos são visíveis um pouco por todo lado pois ele soube, como poucos, influenciar e alterar positivamente o curso normal dos acontecimentos.
Não é fácil traçar aqui de forma exaustiva a trajectória musical de André Mingas e o seu contributo, nomeadamente, para a renovação estética do semba, conferindo-lhe estatuto de cidadão do mundo, o que precisaria da necessária pesquisa que o tempo limitado para responder a este convite do “País” não permitiu.
Seja como for, não temos muitas dificuldades em concluir que André Mingas foi um dos grandes obreiros da internacionalização da música angolana de raiz, particularmente com o cruzamento/fusão do semba com outras linguagens extra-continentais, na linha do chamado afro-jazz, sem grandes, diria mesmo, sem nenhuns sacrifícios para a nossa angolanidade e para a identidade do próprio género nascido e criado em Luanda.
Neste diálogo de culturas, o semba esteve sempre em cima, a comandar a banda, sem recusar misturas com os molhos de fora, mas sem nunca perder o rumo e o sabor do nosso molho à kadimba.
Exemplo perfeito desta simbiose está no seu “Coisas da Vida” editado em 1991 pela Valentim de Carvalho, um trabalho que resultou de uma profícua colaboração com experimentados e virtuosos músicos brasileiros.
Já o escrevi com o AM em vida e volto aqui a reiterá-lo hoje depois da sua morte física: O “Coisas da Vida” é para mim o melhor e mais inovador trabalho de música angolana já editado entre nós, sem qualquer dúvida, para mim e para muito boa gente que comigo partilha deste “exagero” elevado à categoria da excelência e da paixão, pelo que é “nacional, é bom e nós gostamos”.
Para mim a música angolana também já se pode dividir entre o que aconteceu e o que se fez antes e depois deste trabalho emblemático.
Nestas “Coisas” todas que o André nos deixou está a verdadeira diferença entre o que veio para ficar transformando-se em património e referência e tudo aquilo que parece música mas não é nada, por isso hoje continuo a ouvir o disco do AM com o mesmo prazer dos primeiros dias quando ele surgiu nas nossas rádios.
Para além dos seus fabulosos arranjos musicais, o “Coisas da Vida” é também muita e requintada poesia do nosso quotidiano, escrita com imaginação, profundidade, sofisticação e beleza pura.
Com o “Coisas da Vida” aprendemos a detestar a mediocridade das “letras” que continuam a povoar a maior parte das músicas angolanas, verdadeiros festivais de banalidades e de disparates, quando não nos transmitem apenas uma sensação de vazio, de decepção e de irritação, tendo em conta o seu basismo e o apelo ao primário.
Definitivamente a música não é para isso, foi o que aprendemos com a arte do AM e muito particularmente com as “Coisas da Vida” que ele nos legou.
Sabendo que o AM já tinha finalizado o seu segundo trabalho que não tarda, estará aí à venda para o nosso reencontro com o homem e com a sua música, estamos certos que é quase impossível esta segunda aposta do André atingir a perfeição do “Coisas da Vida” que é de facto o seu testamento para todos nós e para a nossa satisfação de continuarmos a gostar de música angolana.
Nós os que apenas gostamos de ouvir boa música, mas também nós/eles que têm a responsabilidade de continuar a compor e a editar.
Para estes segundos que o AM vai continuar a ter uma grande utilidade prática.
(Este texto foi publicado no semanário o País)

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Foi-se o Edgar Pacheco! (actualizado)

Morreu esta madrugada em Lisboa o Edgar Pacheco a caminho dos 61 anos de idade que completaria na próxima terça-feira, dia 18 de Outubro.
A terrível doença que o devastou não lhe permitiu continuar por mais tempo em nossa companhia, como era seu desejo.
Era angolano de Moçamedes, era engenheiro electrotécnico de formação (formado em Angola/68), era meu grande amigo.
Pelos vistos vai continuar a sê-lo para sempre na memória que me acompanha de todos os momentos que partilhamos juntos, o mais dificil dos quais foi sem dúvidas o último encontro mantido em sua casa em Lisboa no inicio deste Setembro, quando já se encontrava moribundo e a agonizar, mas sempre com disponibilidade para dizer uma piada e para me chamar de feiticeiro. Foste tu o culpado disto, disse-me quando me viu pela última vez em sua casa.
Era um homem de verdade e com a verdade na boca, particularmente na frontalidade com que dizia e brincava com as coisas mais sérias, como já existem poucos no nosso país e além fronteiras, numa altura em que o significado das palavras está a perder o valor de uso, começando pela famosa palavra de honra.
O Edgar Pacheco tem o seu nome indelevelmente ligado aos primeiros passos que se deram no pós-independência ao nível reorganização do sector da energia electrica do país, tendo coordenado a estrutura que então foi montada para o efeito.
Preso no 27 de Maio de 1977, acusado não se sabe bem de quê, o Edgar Pacheco foi apenas mais um, entre os milhares de angolanos, que a "competente" DISA conseguiu prender. Esteve mais de um ano no São Paulo a purgar.
Devolvido à liberdade em 78, no dia em que fazia anos, o Edgar foi desterrado depois para Benguela, com residência fixa na cidade do Lobito, onde trabalhou por algum tempo para as as barragens hidroeléctricas localizadas naquela região.
A sua trajectória profissional continuou depois em Portugal para onde foi viver com uma passagem pela EDP e por Sines onde chegou a ser o responsável máximo pelo terminal petrolífero de Sines.
O último jantar em Lisboa (2007). Todos ex-presos da DISA
O Edgar trabalhou ainda como consultor das Nações Unidas tendo estado alguns anos em Timor-Leste.

PS-Edifox Rui Lopes (Macau)
O Edgar foi a seguir à independencia o Director Nacional da Reestruturação do sector de Eletricidade. Era portanto um alto funcionário do então Ministério da Industria na altura titulado pelo Eng. Tutu. Foi um dos muitos quadros objecto da purga que decapitou o referido Ministério depois do 27 de Maio.Lembro-me entre outros que juntamente com ele foram presos o Edgar Vales, O Luis Ribeiro, todos os responsáveis da Industria açucareira incluindo o Emilio Mateus, Eng. Caetano e o Batista. De uma maneira geral todos se foram para Portugal onde acabaram por exibir a sua competencia. e capacidade. Agora é hora de partida. Foi uma honra ser amigo do Edgar.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

A TPA, a nova imagem e o MPLA

A TPA anunciou para breve uma nova programação e uma nova imagem.

Um dos grandes problemas de imagem que a TPA tem de ultrapassar urgentemente é a sua colagem excessiva/obsessiva ao MPLA, no domínio da propaganda partidária.
Por outras palavras, diríamos que a TPA tem o MPLA como o seu patrocinador exclusivo, pois só transmite publicidade (spots) desse partido, o que viola de forma grosseira a Constituição e muito particularmente o seu artigo 17 no seu ponto 4.
Isto assim só pode ser República das Bananas.
O Semana em Actualidade, que já é o decano dos programas da TPA, sobreviveu e vai continuar na grelha com o concurso de outros espaços de debate, que o canal público está desesperadamente a precisar, para além da necessidade de introduzir o contraditório como um principio estruturante da sua informação, sobretudo ao nível da cobertura da vida político-partidária. Mas não só, como é evidente, pois o contraditório faz parte da vida, de uma vida que a TPA se recusa muitas vezes a retratar como recomendam as boas práticas do jornalismo independente.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

As emoções do André...

Este domingo no passeio que fiz à Muxima lembrei-me da música " O que eu quero" do André Mingas, o que me acontece sempre que viajo por este "nosso país, tão lindo, tão lindo, tão lindo, inspirando emoções..."


“Gente buscando em vão uma esperança
Um sorriso, uma flor, uma palavra amiga
Procurando agarrar hoje o tempo
Falar de amor, de carinho e de paz
Colher jasmim…
Fazer poesia com todas as letras
Contar as estrelas, saudar a vida
E ver os deuses iguais a mim.
Sou um jovem como tu,
Quero a vida ver sorrir
Viajar, ter amigos, ver Luanda a florir
Ver o por do sol do nosso país
Tão lindo, tão lindo, tão lindo
Inspirando emoções…”
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Comentário para a Ecclésia sobre André Mingas
PS-http://soundcloud.com/regisilva/coment-rio-sobre-a
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terça-feira, 11 de outubro de 2011

Comentário (audio) sobre o julgamento de William Tonet (Ecclésia)

http://soundcloud.com/regisilva

A Muxima do nosso turismo...

Como turista (e não como peregrino) este domingo estive na Muxima (comuna do Bengo), pela primeira vez.
Também sou peregrino, mas da vida, aliás, somos todos, pois todos andamos por aqui até um dia destes...
São pouco mais de cem quilómetros, para quem sai de Luanda, via Catete/Cabala, onde foi construída a mais recente ponte sobre o majestoso kwanza.
O tapete asfáltico esta quase todo "bala", com algumas arreliadoras falhas pelo meio.
O empreiteiro continua lá. O passeio vale a pena. Como canta o André Mingas o nosso país é mesmo tão lindo, tão lindo, tão lindo...
O problema são mesmo alguns homens feios, tão feios e tão gananciososos que temos e que ainda acham que o país é só deles ou para eles...Felizmente este domingo não encontrei nenhum desses homens feios (que conheço bem) pelo caminho...
Acho que eles gostam mais do Mussulo (rsrsrs)...

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Angolense muda de visual!

O Angolense surge esta semana no mercado com um novo visual e um novo formato, restando apurar se a mesma lufada de ar fresco vai igualmente fazer-se sentir ao nível dos conteúdos, do miolo, do jornalismo propriamente dito.
Isto é o que veremos lá mais para frente…
Cresceu em tamanho, alargou o espaço disponível, ficou mais arejado.
O “Angolense” estava de facto a precisar de uma “mexedela” no seu aspecto até para acompanhar a dinâmica do mercado e da concorrência cada vez mais feroz e desleal.
É esta a impressão com que fiquei do primeiro contacto (via email) com o novo “layout” do jornal. Na altura em que redigia este apontamento ainda não tinha visto todo o produto, pelo que reservo para uma próxima oportunidade uma avaliação mais sustentada desta nova etapa estética que o jornal se prepara para viver a partir desta semana.
Vivemos uma altura em que poderosos ventos sopram sobre o sector, ficando por saber se é mesmo de investimento privado que se trata ou se serão outras as intenções (mais políticas) que fazem movimentar os milhões que actualmente circulam ao nível da comunicação social não governamental.
A segunda hipótese já é um facto comprovado pelo comportamento de alguns dos investidores, o que não invalida a existência da primeira.
Recebi a notícia do surgimento de um novo Angolense com bastante satisfação pois tal renovação é um sinal de esperança para um projecto resistente aos novos ventos da “dupla privatização” e que se mantém à superfície com todas as grandes dificuldades que se adivinham em matéria de sobrevivência.
Desligado do Angolense desde 2007, acedi o convite para escrever esta nota porque continuo a estar com o projecto com o qual colaboro, com vários intervalos pelo meio, desde o primeiro número do renascimento do histórico jornal, em 1997, pelas mãos da Mídia Service, noventa anos depois do título ter surgido pela primeira vez em Luanda em 1907, com o envolvimento de figuras como Francisco Castelbranco, Augusto Silvério Ferreira e Pedro da Paixão Franco.
A vida do Angolense que já deu origem nos tempos que correm a um “xará” que também já foi vendido, não tem sido fácil e pelos vistos assim vai manter-se enquanto os seus jornalistas e a sua administração conseguirem realizar o difícil milagre da vida no meio de todas as ameaças que espreitam a genuína liberdade de imprensa.
O fac-simile que fomos buscar aos nossos empoeirados arquivos traz-nos de volta ao presente o número zero do Angolense, deste Angolense que se mantém até aos dias de hoje e que aposta agora em mais uma mudança de visual, que esperamos venha a ser acompanhada por outras mudanças ao nível do conteúdo.
O valor de um jornal não se mede pelas cores que tem, nem pela qualidade das fotografias, pelo que a grande aposta dos “angolenses” que não querem deixar morrer o projecto, tem de ser na renovação dos conteúdos, tornando o projecto mais competitivo e atractivo, o que só será possível com um grande investimento na qualidade da informação disponibilizada.
Ao novo/velho “Angolense” quero desejar os melhores sucessos e recordar que no seu primeiro número, quando fui convidado a integrar o projecto escrevi o seguinte:
“Dizem-nos que é mais uma aventura de um grupo de jornalistas que quer sobreviver com dignidade, fazendo o que sabem e o que realmente gostam de fazer: JORNALISMO”
A aventura pelos vistos vai continuar, 14 anos depois e com as mesmas incertezas.
Da redacção inicial apenas fiquei eu para contar esta história no mesmo jornal que quer continuar a ser apenas um jornal.
É o que nos continuam a dizer…

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

PGR recebe primeira denúncia sobre violação da liberdade de imprensa em Angola

Comunicado do Sindicato dos Jornalistas Angolanos (SJA) sobre a existência de censura no semanário “A Capital”

O SJA vem pelo presente comunicado denunciar publicamente a existência de censura formal no semanário “A Capital” propriedade da empresa MEDIVISION, SA., atribuindo à sua administração a inteira responsabilidade por um tal estado de coisas, numa aberta violação à letra e ao espírito da Constituição de Angola, nomeadamente do seu artigo 44º.
Nesta conformidade o SJA gostaria de destacar o dramático SOS, lançado pelo colectivo dos jornalistas de “A Capital”, na sequência da mais recente intromissão da administração na gestão editorial do semanário dirigido pelo jornalista Francisco Tandala e que culminou com a retirada, em cima da hora, de uma extensa entrevista do político e académico Vicente Pinto de Andrade que já se encontrava devidamente paginada.
Como resultado deste violento ataque contra a liberdade de imprensa que na mesma edição afectou outras matérias, o SJA manifesta antes de mais a sua total solidariedade com o colectivo da “Capital” corroborando inteiramente da sua denuncia já tornada pública, segundo a qual estas decisões constituem “uma dolorosa agressão à dignidade dos jornalistas, um desrespeito ao seu trabalho mas, acima de tudo, conformam uma violação aos direitos que lhes cabem enquanto profissionais e, mesmo, enquanto cidadãos”.
Não sendo a primeira vez que a MEDIVISION assume comportamentos censórios idênticos que são absolutamente condenáveis, desde que há um ano adquiriu a propriedade do semanário, o SJA para além da denúncia pública do sucedido na última edição de “A Capital”, achou por bem apresentar junto da PGR a competente denúncia ao abrigo do artigo 73º da Constituição.
Considerando que a PGR é a principal instância defensora e fiscalizadora da legalidade na República de Angola, o SJA solicitou a abertura urgente de uma investigação judicial no sentido de se apurarem os factos, responsabilizarem-se as pessoas envolvidas e repor-se a legalidade naquela publicação.

Idêntica acção o SJA irá desenvolver junto do Tribunal Constitucional e da instância reguladora, o Conselho Nacional de Comunicação Social, solicitando que o CNCS use de todos os seus poderes e competências com o propósito de obrigar a administração do semanário “A Capital”a pautar a sua acção nos estritos marcos da lei.
O SJA apela os donos da MEDIVISION a terem em devida conta as preocupações dos jornalistas do semanário “A Capital” com destaque para a manutenção dos postos de trabalho dos mais de 30 cidadãos empregues neste projecto fundado em 2002, que soube afirmar-se como uma referência no panorama mediático nacional graças ao esforço abnegado de uma equipa de jovens.

Luanda, 6 de Outubro de 2011

A Secretária Geral

Luísa Rogério

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Paulo Catarro: O jornalista que virou notícia (pelas piores razões)

Nos últimos dias duas publicações, o Novo Jornal (NJ) e o África Monitor (AM) de Xavier de Figueiredo, referiram-se à pessoa e ao trabalho desenvolvido pelo correspondente da RTP em Luanda, o jornalista Paulo Catarro (PC), em termos nada elogiosos.
Não é a primeira vez que Catarro chama a atenção dos observadores, tendo como referência a cobertura que vem efectuando das manifestações realizadas em Luanda.
De facto é o pior que pode acontecer a um jornalista, quando ele vira notícia por razões que chocam com a ética/deontologia profissional, que é o que parece estar a acontecer com o correspondente português.
Na edição da passada sexta-feira o NJ conta-nos uma história rocambolesca e nada simpática para a sua imagem ao ponto de o "misturar" com Gonçalves Inhajika (GI), o conhecido reporter presidencial da TPA.
A presença de GI na cobertura da manifestação do passado dia 25 de Setembro, onde PC foi alvo de uma estranha agressão por um dos manifestantes, também chamou a atenção, particularmente pela anormalmente extensa matéria que depois dedicou ao assunto com o claro propósito de dar a conhecer que os manifestantes eram violentos e numericamente pouco expressivos.
De acordo com o NJ, o tal "manifestante" que agrediu PC era um provocador infiltrado pela Polícia que nada fez para o deter. Antes pelo contrário, pois segundo reza a história do NJ, "um dos agentes chegou mesmo a dar as chaves de uma viatura para que os agressores fugissem". Alguns manifestantes, ainda segundo o NJ, "disseram que os agentes da polícia conheciam os inflitrados e tinham estado momentos antes a conversar".
Na matéria que despachou para Lisboa Paulo Catarro ignorou os acontecimentos mais sensíveis por ele vividos naquele dia, de acordo com jornalistas citados pelo NJ que acharam a reportagem de PC pouco informativa.
Por seu lado o Africa Monitor descreve PC como sendo um "antigo jornalista de desporto da RTP, aparentemente pouco conhecedor das realidades de Angola e sem a sensibilidade indispensável para as interpretar."
O AM refere-se depois ao desempenho "cinzento" de PC no programa Espaço Público da TPA do último domingo que contou com a presença do Ministro do Interior, Sebastião Martins, a nova estrela do Executivo angolano.
 Segundo o AM, o correspondente da RTP foi convidado a participar no programa "a pretexto de ter sido um dos jornalistas presentes na manifestação de 25.Set. A sua prestação deve ter contribuído para piorar a sua reputação – ainda que a sua condição de estrangeiro o obrigue a deveres de contenção em actos e palavras. Os jornalistas angolanos convidados para o programa bateram em ousadia e pertinência as perguntas que o correspondente da RTP fez ao ministro do Interior."

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Rui Falcão versus João Melo

Os deputados Rui Falcão Pinto de Andrade e João Melo são duplamente da mesma família, isto é, têm sangue comum a correr-lhes nas veias (são primos) e comungam do mesmo ideal partidário, por força da sua activa militância no MPLA.

Tal convergência, pelos vistos, não tem contribuído muito para os aproximar em termos de visão política, o que não deixa de ser salutar e interessante para quem se preocupa com alguns “pormenores” que sempre fazem bastante diferença no seio de uma família político-partidária que vive muito de uma certa imagem que tem sabido exportar para a opinião pública nacional e internacional.
“Imagem” não é exactamente o que somos. É mais aquilo que queremos que os outros acreditem que devemos ser. Por isso hoje a “imagem” já é trabalho de especialistas de alto nível.
Curiosamente na última edição do “Novo Jornal”, os dois camaradas em peças distintas (o primeiro numa entrevista e o segundo num texto de opinião) manifestaram posições radicalmente diferentes em relação aos mesmos assuntos, por sinal bastante sensíveis na actual conjuntura.
Enquanto o permanentemente crispado R. Falcão está convencido que existe “uma cabala internacional para retirar o MPLA do poder”, J. Melo, mais calmo, acredita “que neste momento, a chamada comunidade internacional não tem o menor interesse em criar um clima de turbulência em Angola”.
Em defesa da sua tese R.F. não acrescenta um único elemento, aliás, recusa-se a dizer mais qualquer coisa sobre a tal “cabala internacional”.
Por seu lado J. Melo não tem muitas dificuldades em sustentar que, a atestar a sua visão, estão “os vários elogios recebidos pelo governo angolano, por causa dos esforços de reconstrução e reconciliação feitos desde que cessou a guerra em 2002”.
Definitivamente não é assim que pensa R. Falcão, pois ele acha que está a acontecer exactamente o contrário no que toca à reacção da comunidade internacional, tendo a este respeito manifestado a convicção de que “o facto de termos conquistado a paz com os nossos próprios meios; e o facto de estarmos muito próximos de conseguir, finalmente, a independência económica está a trazer-nos sérios problemas. Há muita gente que não está interessada em ver isso acontecer”.
Atento à mudança dos tempos e das vontades, J.Melo sustenta que o actual período de graça que o Governo vive junto da comunidade internacional pode mudar, num claro aviso à navegação dos sectores mais musculados do regime.
Para J.Melo e para que o actual clima internacional favorável a Luanda se mantenha, “as autoridades têm um dever de casa a fazer: respeitar os direitos e liberdades fundamentais, o estado de direito e a boa governação”.
No tocante às manifestações dos últimos tempos achei curioso o facto de nenhum dos dois camaradas ter feito qualquer referência a manifestação da UNITA na cidade do Huambo.
Uma vez mais senti na apreciação feita por J.Melo uma clara diferença em relação ao empolamento feito no discurso oficial do MPLA.
Para J.Melo, “um partido com a capacidade de mobilização demonstrada, com os quadros de que dispõe e com a experiência que acumulou, não precisa de temer a presença nas ruas de duas ou três centenas de manifestantes, sem foco aparente ou então com o foco distorcido”.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Jornalistas de "A Capital" exigem o fim da censura!

NOTA DE PROTESTO

Foi assim que ficou transformada a entrevista de VPA
Uma ordem da administração da empresa que, actualmente, tutela o Jornal A Capital acabou por ter impacto perverso na credibilidade, prestígio e aceitação pública que o periódico em questão vem acumulando desde que foi criado, no dia 03 de Maio de 2002.
 Na sequência de uma intervenção da administração da MEDIVISION S.A, presentemente a dona do projecto, não foi publicada uma entrevista do conceituado economista, político e docente universitário, Vicente Pinto de Andrade que deveria, na edição com o número 472, ocupar o espaço de quatro páginas.
Sobre as razões da não publicação da entrevista, nada foi dito aos profissionais do jornal manifestamente contrários a essa decisão superior, alheia, inclusive, à própria direcção do periódico.
Trata-se de uma atitude que fere múltiplos princípios, fundamentalmente os que norteiam a actividade jornalística, bem como violam, de forma grosseira, as normas estabelecidas na Constituição da República de Angola no concernente às liberdades de Imprensa e de Expressão.
O colectivo de jornalistas do A Capital manifesta, também, a sua preocupação pelo facto dessa intromissão da administração nos assuntos da redacção ser recorrente, acontecendo, amiudadas vezes, no final de uma penosa semana de trabalho, numa altura em que os jornalistas estão exaustos depois de passarem horas a fio na redacção, permanência que pode chegar às 24 horas.
Os cortes efectuados, seja na entrevista de Vicente Pinto de Andrade, seja em outras matérias que, embora não se tenha tornado público, não foram publicadas por conta de uma decisão igual constituem uma dolorosa agressão à dignidade dos jornalistas, um desrespeito ao seu trabalho mas, acima de tudo, conformam uma violação aos direitos que lhes cabem enquanto profissionais e, mesmo, enquanto cidadãos.
O colectivo de jornalistas do A Capital entende que têm razão todos quanto manifestam desagrado face a este flagrante episódio de censura bastante incompatível com o actual nível de desenvolvimento da sociedade angolana e que se posiciona em autêntica falta de sintonia com os princípios que o Estado angolano diz defender.
Os jornalistas salientam, ainda, o impacto nocivo de tal medida na sua actividade quotidiana, já que a mesma favorece a implantação da auto-censura, além de levar a que os bons profissionais, já escassos, optem por abandonar o projecto em busca de redacções onde questões como a independência e a liberdade de consciência não sejam apenas clichés para agradar a opinião pública.
Desde a passagem do jornal para os novos proprietários, os profissionais têm feito de tudo para cumprir com as metas estabelecidas, efectuando mudanças em vários domínios, editorial e gráfico, mesmo esbarrando, frequentemente, numa deficiente disponibilização de meios de trabalho fundamentais para o desenvolvimento da actividade jornalística, como sejam os transportes e, ainda, num quadro de recursos humanos manifestamente inferior ao necessário.
Por entenderem que não há razões para a permanência deste quadro, que não tem par, inclusive, noutras redacções cujos processos de titularidades foram similares ao do Jornal A Capital, o colectivo de jornalistas recomenda, aos proprietários da MEDIVISION, a suspensão imediata dos actos de censura, o respeito pela independência e liberdade de consciência dos jornalistas.
Recomenda, ainda, que se evite a adopção de práticas susceptíveis de minar a credibilidade, a sobrevivência do jornal o bom ambiente de trabalho, bem como apela ao Sindicato dos Jornalistas, ao Conselho Nacional de Comunicação Social, ao Ministério da Comunicação Social para que intervenham no sentido de evitar os ataques mencionais à Lei de Imprensa e, por conseguinte, à Constituição da República de Angola, além de chamarem a atenção para a necessidade de manutenção dos postos de trabalho dos mais de 30 cidadãos empregues neste projecto jornalístico que, com bastante sacrifício, de jovens, sobretudo, conquistou o seu espaço no universo jornalístico angolano.

Luanda, 03 de Outubro de 2011

O COLECTIVO DE JORNALISTAS DO SEMANÁRIO A CAPITAL
(Repórteres, Editores e Correspondentes)