segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Sem energia não se vai a lado algum - Morro da Maianga

Sem energia não se vai a lado algum


Em pouco mais de 24 horas e pela primeira vez na minha trajectória profissional, tive no último fim-de-semana (sexta e sábado) a oportunidade de visitar, a convite do Ministério da Energia e Águas, os gigantescos aproveitamentos hidroeléctricos de Capanda e Cambambe situados no Médio Kwanza, que distam da capital entre 200 a 300 quilómetros.
Além-fronteiras haverá, certamente, estruturas muito mais imponentes do que estas nossas duas, mas a partir de agora muito dificilmente ficarei a olhar para qualquer uma delas como boi para palácio ou a fazer perguntas básicas sobre o que é isto ou o que é aquilo.
A visita começou, entretanto, em Laúca onde, entre Capanda e Cambambe, está a nascer, igualmente no Médio Kwanza, o que será o maior empreendimento do sector, com uma previsão de conclusão da obra que aponta para 2017, com todos os “ses” que se conhecem e que a realidade angola é fértil em alimentar e potenciar até ao limite.
A nova barragem foi projectada para produzir mais de 2000 MW, o que perfaz e ultrapassa largamente a capacidade das barragens de Capanda (550 MW) e Cambambe (970MW), já com esta última completamente “remodelada”, na sequência das intervenções/investimentos que estão actualmente em curso, conforme pudemos constatar.
Estamos a falar de uma zona cujos estudos de aproveitamento hidroeléctrico foram feitos ainda durante o tempo colonial, mais exactamente na década de 50 por uma entidade chamada Hydrotechnic, de acordo com o que reza a história, que não pode ser apagada por ninguém.
Na época foi apresentado pela referida entidade um planeamento hidroeléctrico do Médio Kwanza que previa a construção de sete aproveitamentos, sendo cinco deles a fio de água, com uma produção a rondar os 1.200 MW.
Um segundo plano elaborado na mesma altura, mas por uma outra entidade, defendia a construção de apenas cinco barragens, entre Capanda e Cambambe, mas com uma produção superior a 2.200 MW.
Ao que julgamos saber, é este segundo plano que está agora a ser implementado pelo Governo angolano.
Este “recuerdo” serve para dizer que em termos de projecção e concepção técnica, o aproveitamento do Médio Kwanza, que deu o nome ao actual GAMEK, é um “dossier” que já estava nos gabinetes há mais de 50 anos.
O próprio alteamento da barragem de Cambambe e a construção de uma segunda casa de máquinas era igualmente um projecto que já estava perfeitamente definido e que quando se decidiu construir Capanda no início da década de 80, foi apresentado como sendo a melhor alternativa tendo em vista o aumento da capacidade energética disponível.
Depois de tudo quanto se passou com Capanda que ficou 20 anos parada com todos os grandes prejuízos financeiros que se conhecem, resultantes da devastadora conjuntura de guerra que então caracterizava o país, pelos vistos teria sido muito mais acertado e avisado fazer o investimento em Cambambe.
Pelo que consta, este debate foi tido na época num ambiente que também não era o melhor conselheiro para se tomarem as mais ponderadas e esclarecidas decisões estratégicas.
Seja como for, Capanda hoje já é uma realidade e o investimento em Cambambe está em marcha.
A contabilização do impacto negativo de todos os atrasos que os projectos públicos normalmente conhecem em Angola, é algo que ainda não faz parte da “nossa cultura” e pelos vistos não vai fazer tão cedo, pelo menos enquanto o país tiver os generosos recursos financeiros disponibilizados pela alta do preço do petróleo no mercado internacional.
Para quem como nós, para além das imagens televisivas/fotográficas, não tinha uma ideia da real dimensão e complexidade do que é uma barragem e muito menos de como é que uma tal infraestrutura funciona, esta visita a Laúca/Capanda/Cambambe apenas pecou por ter sido tão tardia.
Sendo eu um jornalista que sempre esteve muito ligado às questões económicas, acabei por me interrogar com alguma perplexidade sobre como foi possível só agora ter tido esta oportunidade de ver com os meus próprios olhos o que é uma barragem.
Valeu efectivamente desta vez ter sido mais tarde do que nunca, pois estou convencido que ainda vamos a tempo de tirar todo o proveito das informações recolhidas, que nos irão ajudar em muito a fazer avaliações mais objectivas deste estratégico sector da vida nacional.
A oportunidade surgiu numa altura em que nunca se falou tanto dos problemas da energia eléctrica no país na sequência de mais uma aguda crise no fornecimento à cidade de Luanda e que teve a particularidade “política” de ter sido despoletada logo a seguir à realização das eleições de 31 de Agosto.
Como primeira nota que serve para dar satisfação a algumas das questões mais sensíveis que nos têm sido colocadas, sobretudo no Facebook, sobre os propósitos desta deslocação no âmbito de uma visita ministerial, diremos que nos foram dadas todas as condições de trabalho para no terreno nos inteirarmos da realidade dos factos.
Não sentimos a existência nem de perto, nem de longe, de qualquer tipo de limitações no que toca o acesso a todas as fontes de informação disponíveis, incluindo o próprio Ministro, que esteve sempre pronto a falar em “off” com os jornalistas durante a deslocação.
Esta nota serve igualmente para esclarecer que não fomos convidados para ir a Capanda “ajudar” o Governo a resolver nenhum problema de imagem relacionado com o impacto político obviamente negativo que resultou dos permanentes apagões que voltaram a fustigar a capital.
Foi efectivamente uma missão informativa a todos os títulos, estando na dependência de cada um dos jornalistas que lá esteve, tirar as conclusões que melhor entender, com base naturalmente na realidade constatada, sem a mão invisível de algum “spin doctor” de serviço.
A comitiva dos jornalistas de que fiz parte que acompanhou a deslocação do Ministro da Energia e Águas, João Baptista Borges teve efectivamente a possibilidade de fazer todos os retratos da realidade que nos foi dada a ver. Como é evidente também não era possível esconder nada, mesmo que houvesse uma tal intenção em nome de outros interesses mais propagandísticos, que hoje, lamentavelmente, condicionam o desempenho particularmente da comunicação social pública.
Reservo para uma próxima oportunidade aqui no SA um outro encontro com os seus leitores, onde falarei um pouco mais em detalhe das minhas impressões, na perspectiva da satisfação das crescentes necessidades energéticas do país, tendo como principal centro consumidor a cada vez mais pantagruélica capital Luanda, que sozinha e sem consumo industrial, já terá nesta altura um pico de consumo na ordem dos 900 MW.
Tendo em conta as recorrentes estiagens, desta visita ficou muito claro para mim que o País não pode ficar dependente da energia hidroeléctrica e muito menos esperar que em 2017 entrem em actividade as novas capacidades que estão na forja.
O risco de asfixia já é uma ameaça bem real.
 NA- Texto publicado no Semanário Angolense (14-12-12)
 Sem energia não se vai a lado algum - Morro da Maianga

A Declaração, 64 anos depois… - Morro da Maianga


"(...)Só podemos estar a falar da Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), cujas referências mais elogiosas nos tempos que já lá vão, já valeram a alguns de nós aqui na banda, epítetos como “agente da CIA” ou “agente do imperialismo”, entre os mais simpáticos e cordatos.
Dos outros nem sequer vale a pena a recordação, por causa das obscenidades que normalmente os acompanhavam na hora da descarga assumida por muitos que hoje andam por aí nas universidades (mas não só) a dar lições de liberdade e democracia.
Imaginem só naquela altura, nos nossos anos de chumbo (também os tivemos cá), o que seria defender em público o respeito de direitos como os constantes nos artigos 19, 20 e 21 da DUDH, que são aqueles que este ano foram escolhidos pelas Nações Unidas para celebrar mais um 10 de Dezembro, que por sinal também é o dia do MPLA." 
A Declaração, 64 anos depois… - Morro da Maianga

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Windeck, a homossexualidade e o lixo cultural - Morro da Maianga

"(...)Importa referir que, de uma forma geral, a homossexualidade em Angola ainda é vista como um comportamento aberrante e condenável, pelo que qualquer debate à sua volta está à partida condenado a ser um exercício muito sensível.
Quem gere um canal público de televisão não pode ignorar esta realidade, sob pena de se expor aos ataques cerrados da opinião pública e publicada, como é o que está a acontecer.
Sendo a homossexualidade em Angola um tema absolutamente fracturante, com características que chegam mesmo a ser explosivas, introduzir o assunto num programa tão popular como é uma novela, implica uma séria reflexão, antes de se tomar a melhor e mais ponderada decisão.
Até que ponto esta reflexão foi tida pelos autores da novela é algo que não nos é possível saber, mas acreditamos que tenha sido sua intenção provocar no melhor sentido a sociedade angolana. As provocações não são necessariamente negativas."
Windeck, a homossexualidade e o lixo cultural - Morro da Maianga

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Os médicos e a cobertura nacional - Morro da Maianga

"(...)Dizer que o país está novamente a importar médicos estrangeiros e em força para colmatar este défice e passar ao lado das razões que levam os médicos angolanos a recusarem ir trabalhar para o interior, preferindo ficar desempregados em Luanda, também não ajuda a perceber melhor o que se está a passar com o estado de saúde do país.
O estado de saúde do país passa por muito mais questões que têm de ser vistas ao microscópio de uma avaliação mais isenta e mais participada por todos os actores que intervêm neste domínio.
De outra forma vamos continuar a ouvir falar de dois países, embora desta vez o Vice-Presidente da República tenha tido o mérito de assumir uma parte importante do país real, que é aquela que não conhece a presença de um médico, sabe-se lá há quanto tempo".
 Os médicos e a cobertura nacional - Morro da Maianga

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Na hora do adeus ao Nelo do Paralelo - Morro da Maianga


"(...)Morto o homem e já sem nada de concreto se poder fazer diante da irreversibilidade desta súbita e aparatosa derrapagem, sobra-nos a lembrança de um kamba que vai ficar para nós na galeria das pessoas boas que conhecemos nesta vida e nesta cidade.
Nas conversas que partilhamos vai ficar, certamente, registada a grande admiração que ele fazia questão de me manifestar em relação ao jornalismo independente e a alguns jornalistas que, para ele, faziam a diferença pela positiva na nossa confusa e por vezes absurda paisagem mediática.
Sobra-nos por outro lado a imagem da figura pública que uma parte de Luanda bem conheceu a partir de meados dos anos 80, quando ele deu início num quintal da Vila-Alice a uma aventura nocturna chamada Paralelo 2000 e que se viria a prolongar mais ou menos até à viragem do século, num percurso de mais de 15 anos, salvo erro". 

Na hora do adeus ao Nelo do Paralelo - Morro da Maianga

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Os meus heróis da Dipanda - Morro da Maianga

"(...) Conheci pessoalmente alguns destes angolanos todos eles na casa dos mais ou menos 20 anos e que de facto estavam profundamente envolvidos na luta pela independência de Angola.
Alguns deles já morreram ou, paradoxalmente, foram mortos pelos ideais da própria independência poucos anos depois, mas há ainda outros tantos que andam por aí já bem kotas, mas ainda bem rijos e sempre com um sorriso nos lábios, apesar dos pesares.
São estes jovens daquele passado que remonta aos anos 60, que todos os anos recordo por ocasião do 11 de Novembro, porque eles são efectivamente os meus heróis da Dipanda.
Não tenho outros.
Estes meus heróis têm uma particularidade que para mim faz toda a diferença. Eles também me conhecem e lembram-se perfeitamente bem de mim. Chamam-me pelo meu nome de miúdo que conservo até aos dias de hoje.
É bom conservar na memória heróis assim tão próximos de nós, tão conhecidos, tão amigos, depois de todos estes anos (...)".
Os meus heróis da Dipanda - Morro da Maianga

domingo, 18 de novembro de 2012

À beira de um ataque de nervos - Morro da Maianga

"(...)Relacionar de imediato qualquer acção/intervenção do poder judicial sempre que ela não nos agrade ou ponha em causa os nossos interesses particulares ou de grupo, com a existência de uma conspiração política já faz parte da cartilha de algumas sensibilidades políticas/mediáticas angolanas.

E percebo que assim seja, tendo em conta a própria história do aparelho judicial angolano, que só na última década começou a emitir alguns tímidos sinais que apontam para a sua efectiva existência enquanto poder independente e consequentemente como um dos três pilares fundamentais do Estado Democrático de Direito.

Este Estado só existe como tal quando de facto a separação dos três poderes é uma realidade em que todos acreditam sem grandes dificuldades, o que ainda não é o caso de Angola, onde o omnipresente e omnipotente poder político continua a ser é que mais ordena e tudo controla.

Para as tais sensibilidades não é muito fácil admitir que o poder judicial tenha uma lógica e uma agenda próprias que é muitas vezes conflituante com os interesses do poder político, que efectivamente nas democracias mais consolidadas já não pode meter a foice em seara alheia".
À beira de um ataque de nervos - Morro da Maianga

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Eu tive um sonho com Barack Obama - Morro da Maianga


"Na entrevista uma das perguntas que coloquei ao meu interlocutor teve por objectivo saber a sua opinião sobre o nosso país e o relacionamento bilateral, depois de todos os “abanões” que o “semi-eixo” Luanda/Washington tem conhecido nos últimos tempos.
Perguntei-lhe igualmente se neste segundo mandato vai prestar mais atenção ao continente e se vai visitar a sua avó naquela aldeia do Quénia, onde ele tirou a fotografia que anda por aí a circular na Net.
Perguntei-lhe a concluir o que é que ele vai fazer depois de terminar o novo mandato e o que é que ele aconselha aos seus homólogos africanos que não sabem o que fazer quando deixarem o poder, por isso preferem permanecer eternamente no cadeirão presidencial. Como não quero especular com as respostas de Barack Obama, prefiro esperar para ouvir do próprio o que ele tem para nos dizer, enquanto com mais tempo vou trabalhar numa entrevista fictícia que penso apresentá-la aqui ou num outro espaço similar em homenagem ao Aguiar dos Santos, que foi um dos grandes cultores deste “género desinformativo” na imprensa angolana."
Eu tive um sonho com Barack Obama - Morro da Maianga

sábado, 3 de novembro de 2012

Fundo Soberano de Angola entre a continuidade e a ruptura… - Morro da Maianga

"(...)Sou das pessoas que normalmente franze o sobrolho quando ouve falar da criação de mais um fundo que vai trabalhar com dinheiros públicos, pois a sua história não tem sido a mais edificante no que toca a melhor utilização dos montantes postos à disposição dos seus gestores, tendo em vista a concretização dos objectivos superiormente definidos.
Em termos mais concretos e depois da sua criação, os vários fundos públicos de apoio ao desenvolvimento nacional que já foram operacionalizados, depois de alguma actividade, têm desaparecido de forma quase misteriosa.
Deixamos de ouvir falar deles e fica-se sem saber se ainda existem ou se já foram extintos.
Mais grave do que isso e como a prestação de contas ainda não deixou o discurso das boas intenções, fica-se igualmente sem saber quais foram os benefícios que resultaram para o desenvolvimento do país, se é que resultaram mesmo alguns, para além daqueles que normalmente são visíveis no “visual” dos seus gestores.
Como o forte do jornalismo angolano não é certamente a sua vertente mais investigativa, a opinião pública raramente é confrontada com histórias sobre estes “desaparecimentos”.
Fundo Soberano de Angola entre a continuidade e a ruptura… - Morro da Maianga

Um conto bem real num país que está a ser reinventado/requalificado - Morro da Maianga

   "(...) que é facto é que o jardim público desapareceu misteriosamente do largo, como acontece nos contos, tendo em seu lugar sido construído um complexo de festas/farras/almoçaradas para todas as idades, gostos e feitios, que está disponível para aluguer a partir de quinta-feira, sem hora limite.
Dito isto, está explicada a fonte da brutal poluição sonora com que os vizinhos do precioso complexo têm sido “parabenizados” todas as semanas com intensidades que variam, mas que normalmente não lhes permitem pregar o olho como recomendam as leis da natureza.
Como devem estar a imaginar os vizinhos do Largo, passando por um abaixo-assinado elaborado em Fevereiro deste ano, já fizeram tudo o que lhes era possível fazer junto de quem de direito (?!?) para conseguirem dormir em paz".
Um conto bem real num país que está a ser reinventado/requalificado - Morro da Maianga

Liberdade de expressão a conta-gotas… - Morro da Maianga

"(...)Samakuva defendeu segunda-feira (22/10/12) a necessidade de se “manter as contas nacionais transparentes, tapar os buracos no OGE, acabar com os sacos azuis e os privilégios no sistema de contratação pública e aperfeiçoar o controlo da gestão das finanças públicas, incluindo as linhas de crédito”.
Para o líder da UNITA “não se pode distribuir melhor sem transparência nos instrumentos e mecanismos de utilização dos fundos públicos. Há muito dinheiro que se desvia dos circuitos oficiais. Há muitos bens comprados pelo Estado que não são utilizados pelo Estado”.
Para se distribuir melhor, rematou, “é necessário que o Presidente da República esteja disponível para combater a corrupção com a sua já adormecida tolerância zero!
Leia o texto na integra em : Liberdade de expressão a conta-gotas… - Morro da Maianga

O “estado da nação” dos nossos comboios - Morro da Maianga

"(...) Sou das pessoas que desde o princípio sempre questionei, primeiro apenas com os meus botões, a alta prioridade dada pelo Executivo à reabilitação de toda a infraestrutura ferroviária existente à data da independência.
Continuo a não ver razões suficientes que justificassem uma tal opção estratégica e agora com a agravante de se ter gasto a pipa de massa alocada ao projecto, com todas as falhas que já se começaram a registar.
Definitivamente, a nova história que está a ser escrita sobre os caminhos de ferro angolanos ainda está longe de ser sobre o seu sucesso.
O meu grande receio é que está história não venha a ter um fim feliz para os interesses do desenvolvimento nacional".
Leia todo o texto em: O “estado da nação” dos nossos comboios - Morro da Maianga

domingo, 7 de outubro de 2012

Quem são os “asponas”? - Morro da Maianga

"(...)Estes novos profissionais já são conhecidos pela sigla “aspona”, ou seja, são os “assessores de porra nenhuma”, o que efectivamente e apesar de todo o humor subjacente a esta adjectivação, corresponde à verdade verdadeira dos factos e da sua nova condição sócio-laboral.
Aliás, como se sabe, é a brincar a brincar, que os angolanos hoje melhor falam de coisas sérias, diante de alguns absurdos/paradoxos que povoam a vida das instituições e que tiram qualquer pessoa do sério."
Quem são os “asponas”? - Morro da Maianga

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Em apreciação a qualidade do processo eleitoral - Morro da Maianga


"(...)O positivo é fácil de destacar, mas nas condições concretas de Angola, ainda não se pode dizer o mesmo, quando chega a hora de dizer que o rei vai nú ou de apontar o dedo mais crítico ou mais acusador, sobretudo se nessa direcção se encontram acomodados os interesses do poder instalado." Em apreciação a qualidade do processo eleitoral - Morro da Maianga

O discurso e a política - Morro da Maianga

"(...)Depois das incontáveis palavras que já foram gastas com este exercício, o grande problema agora do discurso é que ele pode acabar com a política, enquanto serviço público em que as pessoas (ainda) acreditam, apesar de todo o descrédito que a vem acompanhando, a ter em conta as elevadas taxas de abstenção, mas não só.
(...)
Movimentos como os “Indignados” e “Ocupem Wall Street” falam bem deste cansaço, desta saturação, desta revolta, com o discurso dos políticos ou com a própria política mais convencional.
Esta deslocação das atenções da opinião pública e publicada para a pessoa que faz o discurso é cada vez mais evidente, a traduzir as novas exigências que estão a estruturar a abordagem do fenómeno político.
Uma abordagem que está a ser assumida por parte de todos aqueles que já não querem ser o mais o objecto do discurso, pois também exigem ser protagonistas, um protagonismo que lhes continua a ser negado pelos sistemas representativos."
O discurso e a política - Morro da Maianga

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Bilos, mamas e truculências… - Morro da Maianga


"(...)Os meus bilos bilaterais nem sempre são conclusivos como lamentavelmente aconteceu esta semana por inesperada desistência do conhecido oponente que, curiosamente, tinha começado a confusão, com um impressionante e inexplicável ataque de artilharia pesada.
Os meus bilos normalmente resultam de ataques gratuitos que me são dirigidos e em relação aos quais, por razões de força maior, sou obrigado a defender-me, contra-atacando por vezes com alguma virulência, sem nunca perder a compostura.
Não confundir, contudo, virulência com violência, que tem em mim, confesso pacifista que nunca deu um tiro na sua vida, um destacado e permanente opositor." 

Bilos, mamas e truculências… - Morro da Maianga

Eduardo dos Santos vai tomar posse pela primeira vez - Morro da Maianga

"(...)O mês de Setembro vai ficar assim duplamente inscrito na trajectória de um jovem que assumiu o poder aos 37 anos, sendo hoje um septuagenário que ainda não sabe se este será ou não o seu último mandato.
E se sabe é quase a mesma coisa, pois o país que é o principal interessado em conhecer o seu futuro, continua sem ter uma ideia exacta dos seus planos, embora ainda se especule em relação a possibilidade dele nem sequer vir a terminar o novo mandato.
(...)
Como já referimos, esta ausência da Oposição, caso ela se venha a concretizar, acabará por ser uma das notas mais salientes do acto, a manter na agenda mediática mas não só, a qualidade do processo eleitoral, com todas as dúvidas e suspeições que se continuam a alimentar em relação à sua transparência.
Para JES e depois de tantos anos a espera deste momento, é caso para dizer que não há bela sem senão, pois uma vez mais o país perderá uma soberana oportunidade de poder reencontrar-se em torno da mesma bandeira, apesar de todas as suas divergências políticas, que ficaram agora bem patentes nestes resultado eleitorais.
Um reencontro que seria feito agora com toda a legitimidade e pela primeira vez em torno da sua pessoa sem mais as contestações e as fortes razões do passado."
Eduardo dos Santos vai tomar posse pela primeira vez - Morro da Maianga

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

A última etapa da batalha eleitoral e o “amigo americano” - Morro da Maianga


"(...)A ter em conta estas últimas movimentações, a Oposição vai tentar ao máximo retirar o brilho aos 71% da vitória de JES/MPLA, mesmo que saiba que terá muito poucas possibilidades de fazer passar os seus argumentos junto da CNE e posteriormente no Tribunal Constitucional, antes de mais como resultado da correlação de forças prevalecente nas duas instituições.
Efectivamente e por mais que queiramos acreditar na bondade e na justeza dos comissários e dos juízes que integram as duas mencionadas instâncias, sabemos que em Angola a lógica politico-partidária continua a ser a mais forte alavanca da vida nacional a condicionar o desempenho de todas as instituições." 

A última etapa da batalha eleitoral e o “amigo americano” - Morro da Maianga

A entrada em cena da versão mwangolê dos “spin doctors” - Morro da Maianga

"(...)Entre comunicólogos e politólogos o desfile dos novos fazedores de opinião pela TPA, mas não só, chamou a atenção de todos, incluindo os mais distraídos, prateleira onde às vezes nos encontramos a fazer algumas elucubrações, que nem sempre agradam a todos e pelos vistos também não agradaram alguns dos “painelistas" que comentaram para a média pública estas eleições".
A entrada em cena da versão mwangolê dos “spin doctors” - Morro da Maianga

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

O estranho rumo dado a uma opinião...


Em Julho último fui contactado por alguém da Revista Rumo solicitando-me que escrevesse um texto pequeno sobre as minhas expectativas em relação ao que seria desejável em matéria de resultados eleitorais.
Acedi ao pedido, depois de ter manifestado alguma relutância pois sei que estes novos projectos têm bastantes dificuldades em gerir a sua própria liberdade editorial, com os receios políticos do costume.
Estes receios são em parte explicados pelas relações dos seus proprietários (investidores) com o poder político local.
Efectivamente são projectos que às vezes me parecem ser mais de natureza promocional do que propriamente jornalísticos.
O interesse da pessoa que me contactou, por sinal um jovem jornalista com quem simpatizo, era tão grande que até mandou um fotógrafo à minha casa para me tirar uma pic com a qualidade necessária para ilustrar a minha opinião.
Tudo até agora correu muito bem, menos uma coisa, pois o tal texto que eu escrevi acabou por não ser publicado e o jornalista que me andou a chatear este tempo todo não sabe o que me dizer.
Para que o texto não fique apenas no caixote de lixo do censor da Revista Rumo, decidi publicá-lo aqui, apesar de já ter perdido em grande parte a sua oportunidade.
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"Sou das pessoas que acreditam que Angola precisa de um xadrez politico-partidário mais equilibrado do ponto de vista da sua geografia eleitoral como condição imprescindível para o país resolver melhor, isto é, de forma mais sustentável os seus grandes desafios políticos e sócio-económicos.
Tal como 1992 e 2008, a minha expectativa mantém-se a mesma, pois até agora as duas maiorias absolutas alcançadas não foram as melhores conselheiras em termos de desenvolvimento.
Do ponto de vista político acho que o país continua a ter um défice democrático muito considerável que só uma distribuição mais equilibrada dos votos entre vencidos e vencedores poderá ajudar a cobrir com evidentes benefícios para o interesse nacional.
Acredito que o país saberá distribuir muito melhor o seu crescimento, graças ao “Santo Ouro Negro”, se quem for escolhido para nos governar a 31 de Agosto, seja quem for, tiver que negociar, for obrigado a fazer compromissos, o que até agora não tem acontecido."

Julho 2012
Texto solicitado (mas não publicado) pela Revista Rumo
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terça-feira, 11 de setembro de 2012

Uma vitória partilhada

“(...)Pensava que a vitória do MPLA tinha sido assombrosa, mas pelos vistos a abstenção é que é assombrosa”- escreveu-me um amigo de longa data num e-mail que me fez chegar ao principio desta semana com as estimativas relativas aos angolanos que em todo o país, província por província, não quiseram ou não puderam votar.

A competência, nomeadamente, da CNE está a ser beliscada porque parte da informação que circula, relaciona em grande medida este nível de abstenção com as inúmeras dificuldades que muitos eleitores, por falta de informação, mas não só, um pouco por todo o país, encontraram para descobrir as suas respectivas Assembleias de Voto.
Haverá muito mais para dizer e para especular em torno do “pacote abstencionista”, pelo que os próximos dias vão trazer-nos outras novidades em torno deste dossier.

Uma vitória partilhada - Morro da Maianga

Mensagem do Sindicato dos Jornalistas Angolanos (SJA) por ocasião da morte do seu fundador, o jornalista Aguiar dos Santos


"Nesta hora definitiva para a vida de todos nós em que a tristeza é, certamente, um dos sentimentos mais profundos a unir-nos neste adeus final ao Jornalista Aguiar dos Santos, em nome de todos os membros da classe que o SJA representa e de todos os confrades que connosco se identificam, associamo-nos a esta cerimónia para a derradeira homenagem de alguém que soube merecer e honrar a profissão que abraçou.
Juntamo-nos a este acto para homenagear um dos fundadores do nosso Sindicato constituído em Luanda há mais de 20 anos num gesto histórico, libertador e democrático, porque o SJA foi de facto a primeira organização do género a romper com a prática do sindicalismo politicamente controlado, herdado do regime monopartidário, que ensaiava na época os primeiros e titubeantes passos da abertura ao multipartidarismo.
Aguiar dos Santos foi, sem dúvida, o mais activo animador do projecto sindical, tendo estado desde o início dos trabalhos preparatórios, na Liga Nacional Africana, ligado ao grupo restrito de jornalistas que se contava pelos dedos das nossas duas mãos e que soube desafiar com coragem e determinação todas as ameaçadoras leis da gravidade política que ainda pesavam na época.
Esta sua entrega ao projecto iniciada na obscuridade de uma das salas da Liga, prolongou-se até à organização da Assembleia que no anfiteatro da Faculdade de Arquitectura a 28 de Março de 1992 viria a proclamar o SJA e a eleger os seus primeiros corpos gerentes, tendo AS ocupado a pasta da organização.
AS foi particularmente activo na organização desta Assembleia, onde se incluem as questões logísticas e a procura de patrocínios, tendo saído do seu punho o “draft” que viria a ser aprovado como Declaração de Constituição do SJA.
Para além de outras razões, Aguiar dos Santos ganhou assim o direito de permanecer na história do nosso jornalismo e da galeria dos notáveis do SJA, também como um activo defensor dos direitos laborais dos trabalhadores.
Foi nessa mesma altura que Aguiar dos Santos acompanhado pelo Mário Paiva participou na capital nambiana num outro encontro histórico, que foi o seminário organizado pela UNESCO tendo em vista a promoção de uma imprensa africana independente e pluralista e do qual viria a resultar a criação do MISA e a adopção do 3 de Maio como sendo actualmente a jornada mundial consagrada pelas Nações Unidas à liberdade de imprensa.
Em abono da verdade e como jornalistas a nossa tristeza pode ser hoje e aqui bem maior, porque aos 57 anos de idade e mais de trinta pelas estradas sempre esburacadas e desafiantes da comunicação social angolana, Aguiar dos Santos deixa-nos um espaço vazio que ele ainda não tinha acabado de preencher.
De facto estamos diante de uma partida a todos os títulos prematura ditada pelas curvas apertadas dos últimos anos da sua vida em que a saúde não foi certamente a sua mais fiel e solidária companheira, numa progressiva e inexorável separação que se veio a revelar fatal para o homem e para o Agora, que mais do que um jornal foi de facto a sua grande e última paixão profissional, a culminar uma riquíssima trajectória pelos caminhos do labor jornalístico, iniciada na revista Novembro e com passagens pela ANGOP, Jornal de Angola, Correio da Semana e Imparcial Fax do saudoso Ricardo de Mello, para citarmos apenas algumas das suas etapas.
O AGORA foi uma paixão que ele soube defender e manter viva até aos últimos momentos da sua vida, numa maré de grandes e pequenas dificuldades em que a sobrevivência do projecto passou a ser uma questão de resistência contra o tempo e de todas as horas, para fazer face as despesas imprescindíveis, num mercado em que a publicidade vital passou a ser uma moeda de troca negociada em conhecidos e poderosos bastidores da nossa sociedade onde agora tudo se decide.
AS parte numa altura em que o seu exemplo inspirador e o seu desempenho frontal nunca foram tão necessários como referência estimulante tanto para os mais novos como para os mais velhos, diante dos desafios que se mantêm, sendo, certamente, o mais sensível aquele que tem a ver com sobrevivência do jornalismo independente e com uma agenda própria ao serviço exclusivo do interesse público, que ele soube como poucos não confundir nunca com outros interesses que cada vez são mais poderosos, expansivos e asfixiantes no relacionamento que mantêm com o espaço mediático.
O SJA está convencido que a maior homenagem que podemos prestar ao AS é tudo fazermos para não deixarmos o Agora morrer, como um projecto realmente independente e ao serviço exclusivo da democratização e do desenvolvimento de Angola.

Aguiar dos Santos vamos continuar juntos!

Sindicato dos Jornalistas Angolanos em Luanda aos 10 de Setembro de 2012"

sábado, 8 de setembro de 2012

A vitória de uma volumosa e expressiva derrota - Morro da Maianga



"(...)Ser da Oposição já deixou de ser apenas do “Contra”, como os odiados opositores eram vistos no tempo das outras duas senhoras do nosso passado, entenda-se, regime colonial (Salazar/Caetano) e do partido único (PT), que em substância acabaram por ter poucas diferenças em matéria de filosofia política, sobretudo na vertente da intolerância e da repressão. 
Em democracia o compromisso de todos, estando na situação ou na oposição, tem de ser sempre a favor do país e de todos os seus habitantes, como aliás está bem definido na Constituição".

A vitória de uma volumosa e expressiva derrota - Morro da Maianga

domingo, 2 de setembro de 2012

Ainda não somos uma República de Eleitores - Morro da Maianga

"(...)Como nota de roda-pé diria que o que menos gostei nestas eleições (e foram vários os motivos que alimentaram os meus desgostos para não variar), foi a CNE ter escolhido o ameaçador lema “Vota pela Paz!”, num alinhamento total com a estratégia política de um dos concorrentes.
Com a paz fechada a cadeado no abraço trocado entre os generais Cruz Neto e Kamorteiro, para mim o desafio que ainda existe é o da reconciliação nacional.
Este desafio tarda em ser vencido, porque é contrário à uma certa lógica da confrontação politico-partidária, que mantém o país na “idade média da democracia”.
É esta a narrativa que prevalece transformando os cidadãos em reféns das camisolas partidárias e impedindo que Angola evolua rapidamente para uma República de Eleitores, de acordo com o que reza o artigo 3º da sua LCA. A República dos Partidos vem a seguir".Ainda não somos uma República de Eleitores* - Morro da Maianga

Angolanos tentam acertar hoje as suas diferenças - Morro da Maianga


"(...)Uma vez mais e enquanto o país e o mundo aguardam pela conclusão deste processo eleitoral, volto a colocar-me do lado de todos quantos acham que Angola precisa de um novo folego político-partidário para resolver de forma mais rápida, harmoniosa e sustentável os seus gravíssimos problemas sociais que permanecem, apesar do crescimento do PIB.
Depois do próprio MPLA ter prometido que neste novo mandato, caso venha a ganhar a disputa, vai prestar uma melhor atenção à distribuição mais equilibrada do rendimento nacional, sou dos angolanos que não acredita que tal democratização seja possível mantendo-se o actual e asfixiante xadrez politico-partidário.
Já o dissemos noutras ocasiões que nas condições concretas de Angola, governar é uma coisa, democratizar é outra, pelo que as duas tarefas terão de marchar em paralelo e em sintonia, tendo em conta o passado do país."
Angolanos tentam acertar hoje as suas diferenças* - Morro da Maianga

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

O país em paz que "foge" da reconciliação nacional


Os comentários que poderão escutar visitando o link que se segue http://www.radioecclesia.org/index.php?option=com_rokdownloads&view=file&task=play&Itemid=469&id=19430:resenha-politica-da-semana-comentarios-reginaldo-silva, foram feitos sexta-feira última e reportam-se aos acontecimentos que tiveram lugar até quinta-feira, no âmbito da avaliação regular que temos vindo a fazer na Emissora Católica de Angola (ECA) sobre o andamento da campanha eleitoral.
Gostaria de destacar aqui uma questão que consta destes comentários.
Estou convencido, e ainda bem para todos nós, que contrariamente ao que defendem certas vozes, a paz já não constitui uma incógnita e muito menos um desafio para o país sendo uma realidade palpável construída ao longo dos últimos dez anos, depois de Jonas Savimbi ter desaparecido de cena e o Governo e a UNITA terem assinado o Memorando do Lwena, fechado em Luanda com o abraço/cadeado entre os generais Cruz Neto e Kamorteiro.
Não faz por isso, para mim, muito sentido este recurso permanente ao "fantasma da paz", como se alguém estivesse a preparar o regresso à guerra.
Entendo-o com algumas dificuldades que o mesmo seja apenas uma arma de arremesso política no âmbito da Campanha Eleitoral, usado sobretudo pelo MPLA contra a UNITA, mas já não consigo perceber que a própria CNE ande a reboque desta "estratégia".
Até percebo, mas enfim...
Para mim o desafio que existe é o da reconciliação nacional.
Este desafio tarda em ser vencido, porque é contrário à lógica mais selvagem/irracional da confrontação politico-partidária, que mantém o país na "idade média da democracia".
É esta a narrativa que prevalece transformando os cidadãos em reféns das camisolas partidárias de modos a evitar que eles percebam que mil vezes mais importante que o partido/líder que trazem no coração ou noutro local qualquer do seu corpo, é o país que é de todos e em relação ao qual todos, sem excepção, têm o dever de opinar e de fazer qualquer coisa para que os angolanos passem a viver bem melhor, de acordo com os recursos disponíveis, mas sem mais as injustiças e as discriminações do passado e do presente, que continuam a fazer de Angola um país ainda impróprio para o consumo da maior parte dos seus habitantes.

Um "serviço público" muito especial

O Director do JA, José Ribeiro (JR),acaba de fazer um balanço preliminar, obviamente positivo para não variar, do desempenho do único diário nacional na cobertura da Campanha Eleitoral.
Este diário tem uma particularidade.                        

É um jornal que vive do dinheiro que é de todos nós, por isso enquadra-se na chamada comunicação social pública. 
O JA tem assim responsabilidades acrescidas no tratamento da vida nacional em obediência à própria Constituição que no seu artigo 17 diz expressamente que os partidos políticos têm direito "a um tratamento imparcial da imprensa pública".
"Serviço público cumprido" foi o pomposo título que JR deu à "Palavra do Director" publicada na edição deste domingo do "nosso Pravda", como muito carinhosamente gostamos de nos referir a este jornal, de onde fomos forçados a sair a 28 de Maio de 1977 rumo a uma cadeia da DISA, por delito de opinião.
Não podia estar mais em desacordo com este "cumprimento", a não ser que JR confunda "serviço público" com uma outra empreitada ou campanha qualquer.
Para não maçar muito quem me dá alguma atenção lendo o que vou escrevendo por estas e outras bandas, não vou aqui fazer qualquer tipo de contabilidade para tirar conclusões que me parecem demasiado evidentes, para quem tem dois dedos de testa, sem ter necessidade de ser um grande especialista nestas águas turvas da desinformação e da manipulação.
É inacreditável ter de ler coisas como "este jornal está a fazer uma cobertura da campanha eleitoral que deve merecer o respeito de todos os actores do processo eleitoral".
Utilizando a filosofia da "cenoura e do bastão", o JA cumpriu até ao momento de forma milimétrica e até à exaustão uma estratégia de destruição sistemática da mensagem da Oposição, através dos seus grandes e pequenos editoriais (textos de opinião), mas não só.
Para além das sucessivas manchetes dedicadas ao candidato JES/MPLA,até na escolha dos títulos para as notícias relacionadas com a actividade da Oposição sentiu-se a mão desta demolidora estratégia, que só pode estar a favorecer a campanha do maioritário.
No texto que assinou JR falou apenas da "cenoura", com um exagero a todos os títulos preocupante e visível (mas já recorrente) nas referências à publicação de "milhares de notícias e reportagens" e dos "dias em que tivemos 100 jornalistas no terreno".
Do "bastão" que assumiu por inteiro pouco ou quase nada disse, tendo-se limitado a questionar a "imparcialidade e o rigor", com uma estranha alusão ao facto dos dois princípios não serem "valores que matem a personalidade dos profissionais do jornalismo" (sic).
De facto até agora temos de concluir que tivémos muito pouca "cenoura" para tanto "bastão", para tanta manipulação, para tanta agressividade contra algumas campanhas eleitorais da Oposição.
Uma "cenoura" que, note-se, apresentou-se várias vezes imprópria para consumo, tendo como referência o conteúdo de algumas das notícias que o JA fez sobre a Oposição, onde a desinformação era tão evidente que até as pessoas mais distraídas deram conta.

Do muito que há para dizer, é para já o que nos ocorre avançar em relação ao desempenho do JA que devia estar apenas ao serviço do jornalismo, mas não está, nem tem estado, como o próprio JR reconheceu, ao proclamar do alto da sua militância que "não há jornalismo neutro" ou que "o papel dos jornalistas não é passivo e muito menos neutro" ou ainda "que cada jornalista é uma mulher ou um homem com escolhas e sentimentos".
Sinceramente e diante deste atentado à nossa inteligência, apetece-me perguntar ao JR o que é que uma coisa tem a ver com a outra.
JR "esqueceu-se" uma vez mais que a lei em Angola diz-nos que em tempo de campanha eleitoral "é proibido a qualquer órgão de comunicação social posicionar-se a favor de qualquer partido político, coligação de partidos ou candidatos concorrentes nas matérias que publicar".
O JA violou de forma sistemática o Código de Conduta Eleitoral, tendo neste âmbito sido particularmente visível a forma como mobilizou o eleitorado contra a Oposição, através da divulgação de um número incontável de mensagens incitando ao ódio contra todos aqueles que não estão com o MPLA/JES.
O Jornal de Angola assumiu todo o protagonismo que deveria competir a um partido, tendo efectivamente vestido por inteiro o papel de patrocinador oficial da campanha MPLA/JES .

Rachas com autocarros, a responsabilidade civil e a nova literatura - Morro da Maianga


"(...)Os relatos dos sobreviventes transmitidos já pela rádio e a televisão são de factos dignos de um filme de terror, que bem se poderia chamar “A racha sangrenta”, a confirmar a minha teoria sobre a existência em Angola de uma realidade que ultrapassa e desafia permanentemente a imaginação de qualquer escritor de romances mais inspirado.
Angola de acordo com a minha nova “teoria literária” já pode dispensar a ficção, por razões objectivas, pois diante de tanta e tão explosiva “matéria-prima” não há mesmo necessidade dos escritores estarem a inventar rigorosamente mais nada. Está tudo aí. É puro desperdício de tempo e de energias…"

Rachas com autocarros, a responsabilidade civil e a nova literatura - Morro da Maianga

Campanha eleitoral “substituída” por manifestações e contramanifestações - Morro da Maianga


"(...)O cenário mais complicado da actual conjuntura é termos a UNITA, como resultado do actual braço de ferro com a CNE, a abandonar a última da hora as eleições, possibilidade que já foi admitida publicamente pelo segundo maior partido angolano.
A UNITA tem emitido até agora suficientes sinais que caso não tenha as necessárias garantias, prefere saltar do barco do que voltar a ser massacrada como aconteceu com o humilhante resultado alcançado nas últimas eleições." 

Campanha eleitoral “substituída” por manifestações e contramanifestações - Morro da Maianga

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Os casamentos de ontem e hoje - Morro da Maianga


"Em poucas linhas e espero não chocar ninguém, sobretudo os adversários mais católicos do divórcio, diria que o casamento monogâmico/família é mais uma forma de organização social do que um modelo ideal para dois seres completamente diferentes (quantas vezes contraditórios) conseguirem coabitar sem problemas, preservando a necessária chama/afectividade, que os mais românticos designam por amor." 
Os casamentos de ontem e hoje - Morro da Maianga

domingo, 19 de agosto de 2012

A Oposição que temos, ou que nos deixam ter…* - Morro da Maianga

A Oposição que temos, ou que nos deixam ter…* - Morro da Maianga
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Debate
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  • Aristófanes Tavares ·  · Londres
    Quando alguém escreve o que lhe vem na alma,e com liberdade sem nenhum constrangimento,esta Pessoa sente-se um homem livre.Reginaldo obrigado por esta analise,que serviu para ilucidar todos aqueles que nao sabem ser democráticos,você é um dos poucos jornalistas que o povo pode angolano pode contar para uma informação livre e justa
    • Aristófanes Tavares ·  · Londres
      Quando alguém escreve o que lhe vem na alguma,e com liberdade
      • António Francisco Venâncio ·  ·  Comentador principal · Kharkov State Technical University of Construction and Architecture
        Depois das minhas estafantes horas de trabalho adoro dar uma olhada pelos melhores artigos e comentarios de opinião aqui no FB. Hoje cabe-me elogiar o Reginaldo não pelo conteúdo do artigo mas pela nobreza da intenção pedagógica jornalística, que a todos nos deve servir. Gostei. Nota 10!
        Os 3 períodos eleitorais que até agora vivi já me criaram um vício: querer ler tudo, ouvir tudo, ver tudo. Gosto saber e ver quem acerta mais! 31 de agosto, voltarei a dar notas se Deus quiser.
        • Andreia Kiloki ·  ·  Comentador principal · Benfica, Luanda, Angola
          Esta analise é muito realistica. de facto muitos se perguntam. onde anda esta oposiçao? o que anda a fazer? nós nao vemos nada! De facto como vamos fazer o que fazem se sao simplesmente denegridos pela comunicaçao social? e o pior agora a radio ecclesia tabem alinhou.
          A expressao esta bem empregue: temos a posoçao que nos deixam ter! Pelos vistos a intençao é acabadr com os Partidos tradicionais da oposiçao. A FNLA com Ngonda ja era e a UNITA sem Abel ja esta sendo paulatinamente eliminado. Estas eleiçoes se forem iguais as de 08, UNITA nem 16 deputados terá. terá muito menos.
          • Mabiala Kienda ·  Comentador principal · Luanda
            Para mim oposição para as eleições só existem 3, com maior ênfase UNITA e CASA, se enfraquecerem todos perderemos porque não haverá oposição, porque só a oposição quando nao há disparidade de poder. Ideias da oposição enfraquecer o adversário para ganhar ou chegar proximo para que tenhamos oposição. Ideias do regime enfraquecer a oposição para que nao tenhamos que nos defenda ou possivelmente quem nos defenda. Se nao haver oposição cada um a sua sorte como sempre foi, se haver oposição, a oposição defendera os seus interesses a favor do povo. Ideias do regime incentivar a desunião, criar instabilidade entre as pessoas criando a ideia de que quem entrar roubara mais. Se quisermos derrubar o regime simplesmente nos unamos.
        • willywalker441 (com sessão iniciada através de yahoo)
          A verdade é que o MPLA näo quer a paz em Angola. Pronto !
          • Pedro Mó Pidy Zyphen · Universidade Mandume Ya Ndemufayo
            Subscrevo, de alguma forma, que é dificil ser opositor politico de um governo como nosso neste pais de contrastes que se chama Angola, porque nao se construiu uma base sustentavel, em termos de valores, para implantação de um sistema democratico, propriamente dito. Social, economica e culturalmente, o nosso pais evolui rastejando-se porque maior parte de nós, sobretudo politicos no poder, vê a diferença de opinioes como uma ameaça e não como uma mais valia como defendia Nelson Mandela que, vai mais longe quando afirma: Só um lider fraco se rodeia de bajuladores porque teme o pensamento divergente. Por isso, respeito todo politico angolano da oposição que apesar das dificuldades nao se vergou a maquina demolidora do partido no poder como: Chivukuvuku, William Tonet, Makuta Nkondo e tantos outros que nao seguiram os exemplos de Zau puna, Jorge Valentim e do ex governador do KK que são como moscas que so seguem o cheiro da carne podre, mesmo com comida suculenta e saudavel ao lado.
            • Renato De Assunção Assunção ·  Comentador principal · NENHUMA NO MOMENTO
              Esta é a dura pura e cruel realidade, que infelizmente muita gente teima em não aceitar, para mim já é altura de propormos um referendo se de facto desejamos ser um pais democrático, digo isso a julgar pela forma que eu vejo não só os menos esclarecidos, mais sim a elite intelectual deste pais como subverte os conceitos fundamentais da democracia em defesa de não sei o que, é bastante preocupante. Muito obrigado mais uma vez, Reginaldo pela frontalidade realismo sobre tudo coragem na forma como argumentaste esta abordagem.
              • Pedro Costa ·  Comentador principal · Mechanic na empresa Pride International
                O sr.reginaldo,e um jornalista com competência,tenho uma admiração pelo mesmo,dos tempos idos da RNA,no programa azimute,que retratava assuntos económicos,e mais bem recentemente em programa retirado na TPA,resenha das notícias em destaques ou a semana em sete dias,se a memória nao me atraicoua,um jornalista digno de realce despido de bajulações
                • Jesus Kassanga · Lubango
                  É como tenho dito, e volto a dizê-lo que o Reginaldo Silva e João Paulo Ganga, são dos raros analistas políticos angolanos.( Não conheço outros, porque só tenho visto comentaristas políticos(Amadores parciais cujas abordagens são pré-concebidas). Coragem Reginaldo, investiguei um pouco sobre a tua carreira jornalística e informei-me sobre o modo como tens ultrapassado as imensas dificuldades na afirmação do jornalismo isento, num país aonde a liberdade no sentido lato continua a ser controlada.
                  • Mario Capessa Ekundi ·  Comentador principal · Faculdade Medina Veterinaria
                    respeito a analise muito suscinta do Reginaldo, que tanto admiro,pois, ele mostra que nao é arvor que obedece a todo vento. os seus comentarios sao de um angolano comprometido com angola e com os angolanos, e, ao faze-los, os faz na imparcialidade sem medo de levar um puxao de orelha. pois que vejo nestes dias eleitorais alguns analistas que dizem politicos a crucificarem seus compatriotas como, se do outro lado do oceano viessem....
                    • Oswaldo Cassanga · Independente
                      Até que enfim. Uma opinião, de um analista, diferente. É preciso ser homem, pra emitir uma opinião contrária, cá no território. Os Analistas falam aquilo que, de antemão eles próprios, sabem não ser o correcto. Mas a febre do medo e da bajulação, os leva a emitirem opinião que, eles mesmos, sabem ser incorrecta, demonstrando assim, a intolerância da convivência no e com o diferente. Kota, Valeu a coragem!
                      • Leoraffa Depaula ·  Comentador principal · Universidade Lusíada de Lisboa
                        Gostei do Artigo de opinião, Reginaldo silva sempre ao seu estilo sem ferir sensibilidades trás algo de novo, só para acrescentar a nossa realidade politica é uma luta entre David e Golias, o MPLA/JES com tudo e mas alguma coisa e os partidos da posição quase sem nada simplesmente só com a esperança que aconteça a queda do gigante EME/JES.
                        • Osvaldo Mukenguexe ·  Comentador principal · Universidade Jean piaget Angola
                          A historia de Angola terá mas duas datas histórica 15 e 31 de Agosto de 2012, este será o ano de mudança ou de desgraça, UNITA-CASA-CE e MPLA respectivamente.
                          • JRock Feller ·  Comentador principal
                            Assino em baixo...
                            • Bartolomeu Milton ·  · Universidade Lusíada de Angola
                              Não será do amanhecer ao anoitecer que teremos o país (Angola) à moda das Democracias ocidentais... A democracia é em si mesma um processo complexo e quem está na mó de cima quer lá sempre estar... Não se dá nada de bandeja à quem quer que seja... Os opositores se quiserem amealhar um pedaço do poder terão de despir-se do formalismo, abandonar os gabinetes requintados, juntarem-se ao povo, terão de abdicar a ostentação e sentirem o escárnio que cada angolano "esquecido" sente quando procura ascender na vida... a dificuldade que a oposição tem em se afirmar como tal é da sua inteira responsabilidade, se quiserem ser ouvidos e tidos, terão de esbater-se até à última gota e sem violência de qualquer tipo...
                              • Ernesto Rosa ·  Comentador principal
                                Bem entao ja esta na altura de se fazer passar a lei que, durante o periodo de campanha eleitoral proiba o governo de fazer inauguracoes e que proiba tambem a passagem nos media publicos/estatais qualquer spot publicitario ou programa que fale dos projectos que o governo tem realizado....pensem nisso!