sexta-feira, 13 de abril de 2012

Em Angola no esbanjamento é que está o ganho...

A pré-campanha eleitoral do Eme e do seu candidato está ao rubro. 
Mais de 130 milhões de dólares do dinheiro que é de todos nós, vão ser "enterrados" em Luanda no apoio a "projectos empresariais", no âmbito de um envelope de 220 milhões de dólares. O resto é para o outro do país, que existe para além da capital. Até agora a minha impressão tem sido a pior em relação a todos os fundos públicos já criados. Só tenho mesmo uma impressão, porque não tenho conhecimento da necessária informação que deveria resultar da prestação de contas (devidamente auditadas) por parte dos responsáveis que geriram os fundos criados até agora. Em abono da verdade e enquanto não me convencerem do contrário, estamos diante de uma longa história sem fundo...
Muito dinheiro e muitas energias se gastam com estas "iniciativas", para nada. É pura burocracia e pouco mais.
O que a economia angolana precisa com urgência é de água, energia eléctrica e das comunicações/acessos (vias secundárias e terciárias) a funcionarem em pleno.
Enquanto o Estado não conseguir garantir estes bens essenciais, de nada adianta criar fundos e dar/emprestar dinheiro barato.
Mais do que dinheiro barato, a economia produtiva precisa de água e energia baratas e de redução dos impostos. É só isso.
Todo este dinheiro que anda por aí nas promessas eleitoralistas vai uma vez mais cair em saco roto, porque muito dificilmente ele será rentabilizado nos tais "projectos empresariais".
Já vimos como é que o Projecto Aldeia Nova foi a falência por causa dos elevados custos da energia/geradores.
Mas pelos vistos, queremos ver mais fracassos e mais falências, pois em Angola e contrariamente ao que acontece noutros países, o ganho não está na poupança, está no esbanjamento.
O ganho de uma minoria que tão tem parado de enriquecer.
A propósito desta  e de outras makas conexas, convido-vos a ler seguidamente um extracto do texto que o Engenheiro Fernando Pacheco publicou recentemente no Novo Jornal.
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"Apesar de não o conhecer em detalhe, o que foi divulgado sobre o novo empreendimento de Cacanda, onde serão investidos 29 milhões de dólares para produzir vegetais, ovos e carne de vaca, indicia um novo insucesso.
Desde logo, uma vez mais foram ignoradas a realidade local, as lições da história e estudos e experiências anteriores. Depois, a abordagem é idêntica à do Projecto Aldeia Nova (PAN) e de outros que entraram em
colapso, pois o acento é novamente colocado em infra-estruturas caras e exigentes em logística. Se uma das justificações para o que aconteceu ao PAN foi o problema do combustível, como será em Cacanda, a cerca de 1.500 quilómetros de Luanda, quase um terço dos quais em estrada muito degradada?
Como justificar o matadouro inaugurado com capacidade de abater 10 animais por hora, o que significa que, para produzir as 80 toneladas de carne anuais previstas bastaria trabalhar 40 (!) horas, ou seja, oito
dias a uma média moderada de cinco horas por dia, pois um bovino dá, no mínimo, 200 quilos de carne?
Argumentar-se-á que agora será diferente.
Tenho fortes dúvidas e motivos para isso. Quando se anunciou que haveria apoio às micro e pequenas empresas da província, omitiu-se que a Lunda Norte foi a única (sublinho este aspecto) que não conseguiu
implementar o crédito de campanha para a agricultura. Será que alguém perguntou porquê? Porque a comunicação social omite esse facto, ou, o que é igualmente grave, não o conhece?
Claro que assim não se vai lá. E ainda menos se for verdadeira a ideia absurda veiculada pelo Governo da Província de recuperar a produção de borracha na região, um século depois do seu colapso (imagino o que pensarão os historiadores que estudaram a Lunda ao saberem disso). 
Não será mais simples e útil, para não dizer outra coisa, recuperaras produções de arroz e mandioca com mais dignidade?"
Fernando Pacheco In Novo Jornal (16/Março/ 2012)