quinta-feira, 31 de maio de 2012

Aumentos virtuais...

[De acordo com o comunicado de imprensa distribuído à comunicação social, nestes termos, a partir de 9 de Junho, serão objecto de um aumento de l0% os salários de todos os funcionários e agentes administrativos e o salário mínimo nacional.]
Enquanto os salários em Angola não estiverem de acordo com as necessidades das famílias este tipo de aumento não faz qualquer sentido.
Estou a falar, naturalmente, dos salários de pobreza/miséria, que podem ser observados facilmente na função pública onde ainda há muita gente a ganhar menos de 500 dólares.
Mesmo aceitando (a contra-gosto) que a variação dos preços (inflação) esteja na ordem dos 10%, o problema mais importante é definir um cabaz mensal mínimo de produtos/serviços e estabelecer a sua comparação com a média dos salários que se pagam na função pública.
O resultado deste exercício é que deve ser determinante para se definirem os aumentos salariais (que devem ser estratificados) e se avaliarem os seus reais impactos.
A estratificação tem a ver com a necessidade dos aumentos serem feitos em proporção inversa. Por outras palavras, quanto mais baixo for o salário, maior deverá ser o incremento.
Há pois primeiro que tornar o salário da maior parte dos angolanos compatível com o actual custo de vida o que é para mim um dos desafios mais complexos das economias de uma forma geral.
O descontentamento dos assalariados mantém-se a principal referência dos nossos dias a alimentar todas as crises sociais que andam por aí.
Dir-me-ão que aumentos salariais muito expressivos provocam uma subida ainda maior dos preços, com todas as consequências daí resultantes.
A teoria diz que sim, mas na prática não estou a ver como é que é possível resolver esta disfunção do salário.
A única forma que muitos dos funcionários encontraram para resolver este problema é pela via do cabritismo/gasosa, onde a polícia é campeã, acompanhada de perto por vários outros sectores da administração pública.
A pequena/média corrupção passou pois a ser endémica e tolerada pelo próprio poder político, que vai mantendo a muito custo o discurso da moralização, até ao dia que tiver a coragem de assumir o "mobutismo" como política oficial.