Modéstia à parte, mas reconheço-me facilmente entre os
poucos jornalistas angolanos que mais e melhor atenção tem prestado ao
desenvolvimento desta instituição ao longo desta sua primeira década.
Mesmo assim, acho que fiz muito pouco a favor da
disseminação do conhecimento que tem vindo a ser produzido e acumulado naquele
“laboratório”, cujo produto mais emblemático é, sem dúvida, o seu Relatório
Económico Anual que vai igualmente assinalar a sua décima edição este ano.
O CEIC apresenta-se hoje como uma presença independente
quase solitária no panorama do debate científico em Angola capaz de apresentar
estudos e análises consistentes que podem servir de referência a todos quantos,
jornalistas ou não, estejam realmente interessados em conhecer o país para além
da informação oficial que é elaborada pelas distintas agências governamentais.
Num país extremamente politizado e partidarizado, onde tudo
está subordinado à estratégia governamental, esta necessidade de procurar
fontes alternativas em matéria de conhecimento torna-se ainda mais necessária e
premente.
Enquanto jornalista o trabalho deste Centro sobretudo na
área da análise económica da realidade angolana tem sido uma das poucas fontes
com que tenho contado para confrontar a informação oficial e estabelecer o
necessário contraditório, sempre que possível.
Pelo espírito de grande abertura e independência que tem
norteado a acção do CEIC, a instituição é das poucas vozes ao nível da
sociedade civil que tem contribuído para o mínimo de debate académico
contraditório que ainda vai existindo em Angola.
Lamentavelmente, o boom das universidades privadas que
se está a verificar ainda não conseguiu transformar a quantidade em qualidade
científica e técnica e acaba por ser muitas vezes absolutamente inócuo no que
toca ao impacto social dos seus resultados.
Em abono da verdade sou das pessoas que acho que as
políticas públicas que têm vindo a ser ensaiadas em Angola poderiam ser muito
melhor pensadas, delineadas e executadas, antes de mais se o próprio Executivo
aceitasse dialogar de boa-fé com instituições do nível do CEIC, o que de facto
não tem acontecido para além das intenções e das promessas.
Esta ausência de diálogo, que acaba por traduzir mais uma
recusa do Executivo em partilhar saberes e experiências com os seus parceiros
sociais, também ajuda a explicar os resultados decepcionantes de muitas
estratégias já traçadas ao nível do desenvolvimento sócio-económico.
O CEIC já é uma
referência inteligente da nossa sociedade civil por mérito próprio, mas muito
dificilmente conseguirá um dia destes que lhe seja outorgado o tão cobiçado
estatuto de associação ou instituição de utilidade pública.
Haverá certamente
alguns privilégios que este estatuto oferece aos seus beneficiários, que só são
aceitáveis se de facto a sua actividade tiver alguma relevância na solução dos
grandes problemas sociais que este país enfrenta.
O CEIC é daquelas
instituições que pelo seu trabalho, que é do maior interesse público, já
deveria beneficiar deste estatuto que o Governo volta e meia tem atribuído a
organizações que, de uma forma geral, são convergentes em relação às suas
origens político-partidárias.
Sabemos que a vida
do CEIC em termos de recursos necessários à sua sobrevivência não tem sido nada
fácil. O Centro vive de algumas doações anuais que podem a qualquer altura
deixar de existir. Pelas provas já fornecidas é altura das diferentes entidades
públicas, que passam a vida a encomendar estudos a consultores e instituições
estrangeiros de muito duvidosa competência e idoneidade, olharem para o Centro
com outros olhos. Com olhos de ver.
Díriamos mesmo, com
olhos mais patrióticos, pois eles os investigadores do CEIC são nossos, já são
o orgulho da nata universitária angolana pelo trabalho que têm vindo a
desenvolver.
Eles já merecem
estes outros olhares. Eles podem, entretanto, fazer muito mais se lhes for dado
trabalho. O Centro pode assim crescer e afirmar-se ainda mais como uma
referência do saber em Angola.
De facto, já o disse
noutras ocasiões, é altura de se gastar cá dentro, muito do dinheiro público
que hoje se desperdiça lá fora com estudos económicos que acabam por não ter
qualquer utilidade.
Já é altura dos
próprios investigadores e consultores angolanos começarem a pressionar quem de
direito a produzir a competente legislação para apoiar e estimular o crescimento
deste segmento do mercado do saber.