domingo, 17 de junho de 2012

Watergate: A vitória da ética sobre o gangsterismo na política

O escândalo de Watergate assinala neste domingo 40 anos, desde que os norte-americanos e o mundo ficaram a saber que o presidente da nação mais poderosa do mundo, Richard Nixon, agia como um gangster e não olhava a meios para atingir os seus fins.
["O Watergate sobre o qual escrevemos no 'Washington Post' entre 1972 e 1974 não é o mesmo que conhecemos hoje. Só era uma espreita de algo muito pior. Quando o forçaram a renunciar, Nixon tinha transformado sua Casa Branca, em grande medida, numa empresa criminosa', escreveram Woodward e Bernstein nesta semana no jornal em que fizeram história.
O Watergate, argumentaram os jornalistas, era na realidade o resultado das 'cinco guerras de Nixon': contra o movimento pacifista, a imprensa, os democratas, os tribunais e a história.No entanto, a rede de espionagem e subornos que buscava assegurar a reeleição do líder republicano segue presente em toda sua dimensão no imaginário dos Estados Unidos, que se esforçam em acrescentar a cada escândalo o sufixo '-gate', por menores que sejam.
Muitos dos que viveram o escândalo não baixaram a guarda e advertem que o país ainda sofre os ingredientes para um novo Watergate, por exemplo nas novas leis de financiamento de campanhas eleitorais, que eliminam os limites para as contribuições e aumentam o risco do uso ilegal de fundos"- Efe]

Angola e os angolanos têm muito a aprender com as lições de Watergate.
Alguém me disse esta tarde que ao lado do que se passa em Angola, o Watergate original, é um menino de coro.Isto quer dizer que Angola aprendeu e muito bem as lições de Watergate...
Acredito, entretanto, que a maioria dos angolanos não faz parte desta Angola que absorveu e aplica diariamente as piores lições de Watergate.
Neste âmbito Watergate significa o vale tudo em política, sobretudo quando se trata de tudo fazer sem olhar a meios e ignorando os escrúpulos, tendo em vista a manutenção e conservação do poder, com recurso ou não às eleições.
Aí a consulta popular depois vale o que vale, mesmo que ela seja transparente no que toca ao apuramento técnico dos resultados, uma garantia que ainda não existe em muitas democracias emergentes de África, mas não só, onde as acusações de fraude são recorrentes.
Curiosamente para nós, angolanos, o 40º aniversário de Watergate acontece numa altura em que está em curso um processo eleitoral e que muito se discute a volta do papel do Estado e das suas instituições, embora a Constituição seja clara em reafirmar o principio da equidade no tratamento que as entidades públicas são obrigadas a dispensar a todos os concorrentes.
["Assim como em 1974, o sistema político americano está hoje a transbordar de dinheiro. De segredos e de dinheiro', advertiu na segunda-feira o ex-congressista William Cohen, que trabalhou no processo de impugnação de Nixon, num simpósio por ocasião do aniversário da data.
Keith Olson, autor do livro 'Watergate: The Presidential Scandal That Shook America', mostra-se pessimista sobre a capacidade de evitar a repetição da história devido, segundo ele, 'à quantidade de dinheiro que há na política"-Efe]

Todos sabemos que em Angola, um país que não brilha pela transparência, também existe muito dinheiro para financiar a actividade político-partidária.
Todos sabemos que este "kumbú" está muito mal distribuído, sendo evidente que, por força desta ostensiva assimetria, a capacidade dos diferentes concorrentes seja desde logo marcada por uma desigualdade impressionante, que faz lembrar de  facto a luta entre um ou dois Golias, contra vários pequenos Davids.
['Quando o presidente tem tanto poder em relação à política externa e às Forças Armadas, existe por força o potencial de um escândalo maiúsculo', disse Olson, professor da Universidade de Maryland, em declarações à Agência Efe.
Já o advogado Jerome Barron, que trabalhou no comitê do Senado que investigava o Watergate, indicou à Efe que o perigo não é o mesmo, porque esse caso, em sua opinião, estabeleceu o precedente de que 'o presidente dos EUA devia acatar ordens do poder legislativo e, portanto, que ninguém no país está acima da lei'-Efe].
Definitivamente estamos do lado daqueles que continuam convencidos que uma sociedade mais equilibrada do ponto de vista da distribuição do poder político é a melhor garantia contra todos os "Watergates" de ontem, hoje e amanha.