terça-feira, 11 de setembro de 2012

Mensagem do Sindicato dos Jornalistas Angolanos (SJA) por ocasião da morte do seu fundador, o jornalista Aguiar dos Santos


"Nesta hora definitiva para a vida de todos nós em que a tristeza é, certamente, um dos sentimentos mais profundos a unir-nos neste adeus final ao Jornalista Aguiar dos Santos, em nome de todos os membros da classe que o SJA representa e de todos os confrades que connosco se identificam, associamo-nos a esta cerimónia para a derradeira homenagem de alguém que soube merecer e honrar a profissão que abraçou.
Juntamo-nos a este acto para homenagear um dos fundadores do nosso Sindicato constituído em Luanda há mais de 20 anos num gesto histórico, libertador e democrático, porque o SJA foi de facto a primeira organização do género a romper com a prática do sindicalismo politicamente controlado, herdado do regime monopartidário, que ensaiava na época os primeiros e titubeantes passos da abertura ao multipartidarismo.
Aguiar dos Santos foi, sem dúvida, o mais activo animador do projecto sindical, tendo estado desde o início dos trabalhos preparatórios, na Liga Nacional Africana, ligado ao grupo restrito de jornalistas que se contava pelos dedos das nossas duas mãos e que soube desafiar com coragem e determinação todas as ameaçadoras leis da gravidade política que ainda pesavam na época.
Esta sua entrega ao projecto iniciada na obscuridade de uma das salas da Liga, prolongou-se até à organização da Assembleia que no anfiteatro da Faculdade de Arquitectura a 28 de Março de 1992 viria a proclamar o SJA e a eleger os seus primeiros corpos gerentes, tendo AS ocupado a pasta da organização.
AS foi particularmente activo na organização desta Assembleia, onde se incluem as questões logísticas e a procura de patrocínios, tendo saído do seu punho o “draft” que viria a ser aprovado como Declaração de Constituição do SJA.
Para além de outras razões, Aguiar dos Santos ganhou assim o direito de permanecer na história do nosso jornalismo e da galeria dos notáveis do SJA, também como um activo defensor dos direitos laborais dos trabalhadores.
Foi nessa mesma altura que Aguiar dos Santos acompanhado pelo Mário Paiva participou na capital nambiana num outro encontro histórico, que foi o seminário organizado pela UNESCO tendo em vista a promoção de uma imprensa africana independente e pluralista e do qual viria a resultar a criação do MISA e a adopção do 3 de Maio como sendo actualmente a jornada mundial consagrada pelas Nações Unidas à liberdade de imprensa.
Em abono da verdade e como jornalistas a nossa tristeza pode ser hoje e aqui bem maior, porque aos 57 anos de idade e mais de trinta pelas estradas sempre esburacadas e desafiantes da comunicação social angolana, Aguiar dos Santos deixa-nos um espaço vazio que ele ainda não tinha acabado de preencher.
De facto estamos diante de uma partida a todos os títulos prematura ditada pelas curvas apertadas dos últimos anos da sua vida em que a saúde não foi certamente a sua mais fiel e solidária companheira, numa progressiva e inexorável separação que se veio a revelar fatal para o homem e para o Agora, que mais do que um jornal foi de facto a sua grande e última paixão profissional, a culminar uma riquíssima trajectória pelos caminhos do labor jornalístico, iniciada na revista Novembro e com passagens pela ANGOP, Jornal de Angola, Correio da Semana e Imparcial Fax do saudoso Ricardo de Mello, para citarmos apenas algumas das suas etapas.
O AGORA foi uma paixão que ele soube defender e manter viva até aos últimos momentos da sua vida, numa maré de grandes e pequenas dificuldades em que a sobrevivência do projecto passou a ser uma questão de resistência contra o tempo e de todas as horas, para fazer face as despesas imprescindíveis, num mercado em que a publicidade vital passou a ser uma moeda de troca negociada em conhecidos e poderosos bastidores da nossa sociedade onde agora tudo se decide.
AS parte numa altura em que o seu exemplo inspirador e o seu desempenho frontal nunca foram tão necessários como referência estimulante tanto para os mais novos como para os mais velhos, diante dos desafios que se mantêm, sendo, certamente, o mais sensível aquele que tem a ver com sobrevivência do jornalismo independente e com uma agenda própria ao serviço exclusivo do interesse público, que ele soube como poucos não confundir nunca com outros interesses que cada vez são mais poderosos, expansivos e asfixiantes no relacionamento que mantêm com o espaço mediático.
O SJA está convencido que a maior homenagem que podemos prestar ao AS é tudo fazermos para não deixarmos o Agora morrer, como um projecto realmente independente e ao serviço exclusivo da democratização e do desenvolvimento de Angola.

Aguiar dos Santos vamos continuar juntos!

Sindicato dos Jornalistas Angolanos em Luanda aos 10 de Setembro de 2012"