segunda-feira, 31 de agosto de 2009
domingo, 30 de agosto de 2009
Um dia sombrio que tem muito a ver com Angola
Dia Internacional dos Desaparecidos 2009 –
quinta-feira, 27 de agosto de 2009
(Flashback-Agosto/2007) Os kotas da dipanda não souberam cuidar do futuro dos seus kandengues
Com a morte de Holden Roberto completou-se um ciclo da nossa história que foi protagonizado por lideranças autocráticas que tinham como denominador comum a valorização excessiva do papel do Chefe no conjunto do aparelho partidário/governamental e da sociedade.
Uma sobrevalorização que teve no culto da personalidade a sua manifestação mais preocupante e perversa com consequências que permanecem até aos dias de hoje e que podem ser observadas facilmente no quotidiano deste país e muito particularmente da sua governação.
O sucessor de Agostinho Neto, apesar de ser de uma outra geração (logo a seguir), mantém mais ou menos intacta esta herança, não obstante os vernizes e batons que se vão usando aqui e acolá em maquilhagens mal conseguidas.
Uma herança que começa por ser fortemente ideológica (concepção unipessoal do poder) no caso dos regimes de esquerda com toda aquela cantilena à volta da vanguarda e da lucidez do líder, que já contou com o nosso coro nos idos de 70.
(Estávamos no início da nossa “carreira política”. Bem cedo nos apercebemos, entretanto, que esta história da vanguarda e da clarividência do líder era tudo uma grande treta pelo que não tardou muito que tivéssemos tomado a “histórica” decisão de não voltar a integrar mais nenhuma formação, nem obedecer a qualquer disciplina partidária, voto de castidade que conseguimos preservar até aos dias de hoje.)
A referida herança é um património que não tem a ver apenas com Angola, sendo antes de mais o resultado da evolução do próprio processo histórico da humanidade, onde os longos séculos de poder monárquico ainda mantêm refém a jovem república, no que diz respeito ao funcionamento mais intimo do poder e do relacionamento dos seus diferentes protagonistas.
Claramente os pais da nossa independência, com todo o mérito que tiveram pela sua entrega aos grandes ideais da liberdade e da libertação, não eram pessoas preparadas para um outro jogo político que não fosse aquele onde eles tinham o controlo completo da situação. Onde eram os mestres. Onde tudo girava e gravitava à sua volta. Onde os seus desejos eram ordens. Onde a contestação, a crítica e o espírito do contraditório eram os grandes ausentes de uma gestão feita a uma só voz e de uma só vez. Ou vai ou racha!
A trajectória dos dois primeiros fala bem deste relacionamento com o poder, enquanto que o terceiro, que foi esta semana a enterrar, teve os últimos anos do seu consulado marcado por um atribulado relacionamento com a contestação interna que acabou por afectar gravemente a saúde política da terceira maior força partidária do país, que continua a ser a FNLA com base nos resultados eleitorais de 92.
(Apesar do PRS ter mais representantes no Parlamento, a FNLA foi o partido que no conjunto do país mais votos obteve, daí a sua permanência no terceiro lugar do nosso ranking partidário)
No caso da FNLA a contestação interna também não foi o melhor e mais genuíno exemplo de coabitação democrática na diferença, já que a mesma foi claramente favorecida por uma determinada e bem conhecida conjuntura, numa altura em que a “renovopatite” era um dos instrumentos políticos utilizados para se isolar o máximo possível o então líder da rebelião armada.
Naquela altura pelos seus reiterados apelos ao diálogo com Jonas Savimbi como sendo a única via para se alcançar a paz, o veterano nacionalista Holden Roberto era claramente um alvo a abater pelos falcões do regime, o que foi parcialmente conseguido com a preciosa ajuda da “sociologia” de Lucas Ngonda e dos seus pares, sem que, com tal constatação, se pretenda aqui retirar qualquer legitimidade à sua ruptura com o “Velho”.
Seja como for, Holden Roberto no intimo das suas concepções politicas e ideológicas, mesmo numa outra conjuntura, dificilmente aceitaria que alguém mais novo que ele se apresentasse com um projecto diferente para liderar a “sua” FNLA. Para ele Lucas Ngonda era apenas o filho mal agradecido de um seu contemporâneo.
Para além de outros episódios de intolerância para com a diferença e o pluralismo, Jonas Savimbi respondeu àqueles que do interior da sua organização o criticavam por já estar ultrapassado, perguntando-lhes onde é que eles andavam quando ele fundou a UNITA e deu inicio a luta de libertação.
Isto para dizer claramente ao seus críticos internos, sendo certamente Abel Chivukuvuku um deles, que o partido era muito dele e que quem se sentisse mal que se mudasse para um outro barco.
Agostinho Neto começou por esmagar a Revolta Activa e a Revolta do Leste e depois deu cabo do resto na sequência dos acontecimentos de 77, que se traduziram na maior purga política realizada no seio de uma família política em Africa.
Os três “papás” da Dipanda figuram numa galeria de notáveis no que diz respeito ao seu contributo para a história de Angola, tendo certamente como referência maior o surgimento de um país independente há mais de trinta anos neste promissor rincão africano.
Para além disso, pouco mais fizeram, tendo sido exactamente a sua intolerância sistémica e a falta de visão futurista que estiveram na origem do adiamento em que o país esteve mergulhado durante estes anos todos.
Imaginem só o que seria hoje deste país, que continua a dar pena, se Holden Roberto, Agostinho Neto e Jonas Savimbi em 75 se tivessem entendido à bem da Nação?
Os três conseguiram a independência à sua maneira ignorando o país que era de todos.
Curiosamente cada um deles proclamou a independência a 11 de Novembro de 1975 no território que controlava militarmente, emitindo assim um claro e premonitório sinal sobre o futuro que já era presente naquele hastear de bandeiras.
O futuro que estava ali a ser hasteado chamava-se guerra sem quartel entre irmãos desavindos.
Venceu a independência de Agostinho Neto, como disse uma vez sorridente o seu sucessor, mas acabamos por perder todos nós, porque os nossos pais não souberam cuidar do futuro dos seus filhos, que hoje andam por aí aos milhões transformados em zungueiros a sobreviver desesperadamente com menos de um dólar por dia nos bolsos.
"Bilo" entre João Melo e Ismael Mateus
sexta-feira, 21 de agosto de 2009
(Flashback-Agosto 2007)- Os angolanos sempre foram bons no basquetebol
quinta-feira, 20 de agosto de 2009
Presidente Dos Santos confirma preferência pelas "indirectas"
Mario Pinto de Andrade, 80 anos depois, esta sexta-feira na Universidade Lusíada em Luanda
Conferência do 80º Aniversário do Nacionalista Angolano
CONFERENCIA DIA 21 DE AGOSTO NO ANFITEATRO DA UNIVERSIDADE LUSÍADA DE ANGOLA - LUANDA
A PRESERVAÇÃO DA MEMORIA DOS NACIONALISTAS AFRICANOS
PROGRAMA
9:30 Chegada dos convidados e participantes
10:00 Abertura da Conferência pelo Reitor da Universidade Lusíada
10:15 Palestra proferida pelo Dr. Vicente P. de Andrade*
11:30 Palestra proferida pelo Dr. Carlos Moore Wedderburn**
12:00 Debate
13:00 Encerramento pelo Ministério da Cultura
*Dr. Vicente Pinto de Andrade é Professor de Economia e Sociologia naUniversidade Católica de Angola
**Dr. Carlos Moore Wedderburn é etnólogo e cientista político. Foi professor titular de relações internacionais no Instituto de Relações Internacionais da University of the West Indies (UWI), à Trinidade-Tobago. Sua carreira como académico e pesquisador, incluíram cargos como Professor Visitante na Universidade Internacional da Flórida (EUA), e na Universidade das Antilhas (Martinica e Guadalupe). Foi Consultor Pessoal para assuntos latino-americanos do Dr. Edwin Carrington, Secretário Geral da Organização da Comunidade do Caribe (CARICOM),de 1966 a 2000, e de 1982 a 1983, do Dr. Edem Kodjo, Secretário Geral da Organizacao da Unidade Africana (OUA), atualmente União Africana (UA). De 1975 a 1980, foi assessor pessoal do cientista senegalês, professor Cheikh Anta Diop, diretor do Instituto Fundamental da África Negra(IFAN), em Dakar, Senegal. E, de 1980 a 1984, foi assessor de pesquisa do Professor Robert Jaulin, diretor da faculdade de SociologialAntropologia/Etnologia, Universidade de Paris-7 (França).
quarta-feira, 19 de agosto de 2009
Imaginem o que será de nós quando chegarem os profissionais...
"Por aquilo que temos visto, nós estamos ainda a lidar com criminosos que eu chamo de amadores. São pessoas que se refugiaram na delinquência para poderem ter uma subsistência de vida. Para procurarem encontrar solução de alguns problemas sociais. Penso que não temos pessoas viradas ou que têm como ofício o crime. Não podemos afirmar taxativamente que exista isso. segunda-feira, 17 de agosto de 2009
sexta-feira, 14 de agosto de 2009
(Flashback-Agosto 2008)Uma campanha recheada com os mais variados tempos de antena
quarta-feira, 12 de agosto de 2009
Com o apoio do GPL, ofensiva do betão armado engole mais um espaço público de Luanda
"Era uma vez um largo, um largo que virou prédio com a varinha mágica do GPL"- assim poderia começar (mais) este conto do vigário.
Na histórica baixa de Luanda entre a velhinha Biker e o novo arranha-céus onde se instalou o nóvel Ministério da Economia, havia um largo ao qual, depois da dipanda, foi dado o nome de Julius Fuckic, cidadão da então Checoslováquia que foi durante a República Popular, o patrono da quase desaparecida (em combate?!) União dos Jornalistas Angolanos (UJA), de quem sou membro fundador.
Havia, digo bem, porque o mesmo esfumou-se por entre as toneladas e toneladas de betão armado que estão a dar forma a um volumoso edificio multiusos, cujo proprietário só o GPL conhece.
terça-feira, 11 de agosto de 2009
O quadro oficial da crise
No novo quadro macroeconómico resultante da revisão do OGE para 2009 foram alterados os seguintes propostos: (i) o volume de produção de petróleo bruto de 2,027 milhões de barris/dia para 1,790 (média diária anual); (ii) o preço médio fiscal de exportação do petróleo bruto angolano de US$55,00/barril para US$37,00; (iii) a taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 11,8% para 6,2%; e (iv) o objectivo da inflação de 10,0% para 12,5%.
segunda-feira, 10 de agosto de 2009
CARTA ABERTA À SENHORA HILLARY CLINTON (Actualizada com uma resposta)
Algumas Observacoes Sobre a “CARTA ABERTA A HILLARY CLINTON” Author: Koluki Filed under: ANGOLA, CLINTON, DEMOCRACY, EUA, POLITICS
Foi com satisfacao que tomei conhecimento de uma “Carta Aberta a Senhora Hillary Clinton” subscrita por seis cidadaos angolanos (aqui). Satisfacao, pelo seu sentido de oportunidade e, sobretudo, por de algum modo sugerir uma reanimacao das vozes criticas organizadas no pais depois dos resultados das eleicoes legislativas de Setembro ultimo.Todavia, uma vez que a carta e’ subscrita por cidadaos exercendo o seu legitimo direito a livre expressao individual, nada me concederia o direito, ou a legitimidade, de tecer estas observacoes criticas, nao fosse o facto de tais cidadaos serem sobejamente conhecidos como personalidades eminentes de sectores da sociedade civil e da oposicao democratica em Angola, o que, alias, e’ atestado pelo facto de alguns deles assinarem a mesma na sua qualidade de dirigentes de organizacoes e/ou membros de franjas de opiniao representativas desses sectores. E’, portanto, apenas esse facto que me tras a estas linhas.Como tive ocasiao de manifestar, no rescaldo das ultimas eleicoes legislativas (aqui e aqui), os resultados – e o processo que a eles conduziu –, daquele pleito eleitoral, deixaram-me duas precupacoes fundamentais: uma, motivada pelas irregularidades verificadas a varios niveis e que suscitaram a acusacao, sobretudo por parte dos subscritores da carta em apreco, de que tais resultados teriam sido fruto de uma “massiva fraude eleitoral” – acusacao que, nao se tendo demonstrado absolutamente irrefutavel ou generalizavel a todo o pocesso, nao deixou de ter, contudo, do meu ponto vista, os seus fundamentos e, portanto, de se constituir em motivo de preocupacao para todos os cidadaos angolanos, qualquer que seja a sua filiacao partidaria ou conviccoes politico-ideologicas; outra, motivada por todos os indicios, dificilmente refutaveis, de uma generalizada fraqueza comparativa, em certa medida auto-infligida, da oposicao politica e de uma ainda pouco expressiva e efectivamente actuante sociedade civil em Angola.Ora, concordaremos todos que nunca sera’ possivel assegurar a construcao de um forte e estavel sistema democratico em qualquer pais sem, por um lado, instituicoes fortes e crediveis e, por outro lado, uma oposicao e uma sociedade civil igualmente fortes e crediveis. E, enquanto cidadaos, tal como devemos criticar todos os actos atentatorios a efectiva construcao do sistema democratico por parte dos detentores do poder politico, devemos tambem criticar, ou pelo menos chamar a atencao, da oposicao partidaria e dos representantes da sociedade civil, para posturas ou praticas que tendam a perpetuar a sua fragilidade politica e social, nao contribuindo assim efectivamente para a construcao da democracia e do estado de direito fortes a que todos, ou pelo menos a maioria dos Angolanos, aspiram. E’, por conseguinte, neste espirito, que pretendo positivo e construtivo, que passo a fazer as seguintes observacoes a carta em apreço:
1. Parece-me bastante redutor afirmar-se, como se faz na primeira linha da carta, que “o nome de Angola tem-se destacado nos corredores diplomáticos internacionais e no mundo dos negócios, por causa de ter aumentado a sua capacidade de exportação de petróleo.” Sendo esse um facto aparente, ele nao corresponde evidentemente a “toda a verdade”: parece-me, antes, uma realidade indesmentivel que, para alem da sua capacidade de exportacao petrolifera – que sempre se projectou crescente desde o inicio dessa actividade economica no pais e da qual os EUA sempre beneficiaram, mesmo durante a guerra –, Angola tem-se destacado nos ultimos anos tambem, e sobretudo, pelo alcance da paz depois de longas 3 decadas de conflito armado, por uma politica economica que propiciou o aumento dos niveis de investimento externo no pais, por taxas de crescimento do PIB entre as mais elevadas do mundo e pela realizacao das primeiras eleicoes legislativas depois de um interregno de 16 anos. Note-se bem: estou a referir-me aqui a factos, nao a fazer a analise critica desses factos, o que tambem tenho feito frequentemente neste e noutros espacos.
2. No entanto, essa primeira frase da carta talvez nao se demonstrasse tao problematica, do meu ponto de vista, se ela nao fosse enunciadora das conviccoes politico-ideologicas dos seus signatarios relativamente as motivacoes dos EUA na sua relacao com Angola e, em particular, quanto aos objectivos desta visita da Secretaria de Estado Norte-Americana ao pais. Tais conviccoes sugerem que aquelas motivacoes e objectivos se reduzem exclusivamente ao interesse da actual Administracao Americana na exploracao petrolifera, o qual, consequentemente, estaria a ditar toda a politica externa dos EUA e a visita de Hillary Clinton ao nosso pais: “Angola e os Estados Unidos da América serão parceiros independentemente de quem estiver a exercer o poder político, desde que existam interesses de ambos os países. Angola continuará a produzir petróleo nas próximas três décadas e certamente que este facto cimentará as relações comerciais entre os nossos países”, escrevem os signatarios, sugerindo algo como, se me permitem a liberdade interpretativa, “uma vez que o vosso interesse e’ apenas o petroleo, nao precisam de se render total e eternamente aos ‘charmes’ deste governo corrupto e anti-democratico, porque o petroleo continuara’ a jorrar e ha’ outras forcas politicas no pais que continuarao a permitir-vos saciar o inesgotavel apetite”...
3. Ora, como notei acima, os signatarios desta carta, enquanto cidadaos individualmente considerados, teem todo o direito de manifestar as suas opinioes sobre esta, ou quaisquer outras questoes que afectem a Nacao Angolana. Mas, a considera-los “representantes” das vozes criticas da oposicao e/ou da sociedade civil onde, obviamente, nem todos os cidadaos comungam das mesmas conviccoes politico-ideologicas, talvez fosse recomendavel que, ao faze-lo, moderassem um pouco as suas motivacoes e correspondente discurso, sendo que tal moderacao nao teria necessariamente que ser ditada por quaisquer imperativos “auto-censorios”. Bastaria, para tanto, apelar-se a um pouco de sentido diplomatico – o qual tambem e’ esperado da oposicao ou de quaisquer vozes individuais, organizadas ou nao, ao manifestarem-se publica e formalmente sobre questoes tao sensiveis do ponto de vista estrategico para todos os Angolanos, como e’ a politica externa do pais. E esse sentido diplomatico aconselharia, em primeiro lugar, a que fosse evitado o tom acusatorio que, comecando na sua primeira linha, permeia toda a carta, quanto mais nao seja por, tratando-se de uma nova Administracao, soar mais perspicaz politicamente manifestar-se-lhe o beneficio da duvida.
4. Tal beneficio da duvida nao teria necessariamente que resultar de uma qualquer “boa vontade forcada” por parte dos signatarios em relacao a visitante e ao pais que representa, mas, objectivamente, de factos concretos tais como: i) a politica energetica defendida por esta nova Administracao, quer durante a campanha que conduziu a sua vitoria eleitoral nos EUA, quer em accoes concretas nessa area por ela enunciadas desde a sua tomada de posse; ii) os pronunciamentos especificos sobre o papel da exploracao petrolifera no processo de desenvolvimento feitos, por exemplo, ainda recentemente por Barack Obama no Ghana; iii) a diversidade dos sectores abrangidos pelos acordos assinados e pelas manifestacoes de intencao expressas durante esta visita de Hillary Clinton a Angola, entre os quais se destacam a Agricultura e a Saude; iv) os diferentes perfis politicos e economicos dos paises incluidos nesta sua digressao por Africa. Assim, mesmo que estes factos concretos possam ser considerados completamente irrelevantes a luz das conviccoes politico-ideologicas dos signatarios, menciona-los, ou pelo menos te-los implicitamente em conta, conferiria a carta nao so’ o peso de uma certa objectividade analitica, como tambem a possibilidade de vincular a destinataria e o governo que representa as suas proprias posturas e afirmacoes publicas, tanto domestica como internacionalmente, o que seria mais util do ponto de vista reivindicativo e da sua responsabilizacao futura, do que apenas as acusacoes implicitas subrepticiamente de que “os EUA nao sao, por natureza ou por vocacao, uma potencia credivel do ponto de vista dos interesses dos povos”…
5. De igual modo, a demonstracao de alguma atencao, implicita ou explicita, para com os pronunciamentos de Barack Obama no Ghana sobre o apoio da sua Administracao a construcao de instituicoes transparentes e processos democraticos crediveis em Africa, bem como para com algumas das declaracoes feitas em Angola pela propria Hillary Clinton nesse sentido, teria o condao de conceder maior forca a todas as acusacoes feitas na carta sobre os varios atropelos registados a esse nivel em Angola - muito embora algumas delas, embora crediveis, sejam assumidamente apenas do dominio da suspeicao e outras possam ser consideradas "risiveis", e.g. o facto de se estimar que "o preço do barril de petróleo se fixe nos 37 dólares, quando na verdade o preço fixar-se-á um pouco mais acima" pode ser legitimamente considerado como uma medida de prudencia fiscal perfeitamente aceitavel, e ate' recomendavel, num ambiente internacional em que os precos do petroleo se manifestam mais volateis do que o habitual num contexto de crise economica global - e, em particular, a afirmacao de que “há factores internos e externos que perpetuam a má governação, não permitindo a maturação de instituições à altura das responsabilidades do Estado, mas sim a impunidade, corrupção e a violação dos direitos humanos em Angola, cujas consequências vêm aprofundando a falta de liberdade dos angolanos e a pobreza absoluta que atinge níveis insustentáveis e inaceitáveis.” Tal atencao teria, ademais, o valor politico-diplomatico de evitar o desnecessario tom de ma’-fe’ explicito nos dois ultimos paragrafos da carta que se seguem a essa afirmacao.
6. Finalmente, mas de modo nenhum menos importante do que os pontos anteriores, tratando-se a destinataria de uma mulher que, nao so’ se evidenciou durante a campanha em que se candidatou a presidente dos EUA como uma defensora dos direitos das mulheres no seu pais, como tem demonstrado um serio engajamento a nivel internacional no combate pela igualdade do genero (note-se, a este proposito, o seu papel de destaque como uma das principais impulsionadoras da Declaracao Internacional de Beijing sobre os Direitos das Mulheres) e tratando-se os signatarios de um grupo emanente da sociedade civil Angolana, seria absolutamente, no minimo, de bom tom que pelo menos houvesse entre as assinaturas da carta a de uma mulher – ha’-as, seguramente, entre as varias organizacoes e sectores de opiniao de que fazem parte os signatarios. Mais uma vez, tratar-se-ia aqui nao apenas de um “gesto simpatico” para com Hillary Clinton mas, sobretudo, da demonstracao de um minimo de preocupacao dos signatarios para com a representatividade das mulheres no quadro geral da defesa dos direitos humanos em Angola – um pais em que elas constituem a maioria dos cidadaos e onde nos ultimos tempos se teem registado varias iniciativas por elas desenvolvidas na defesa dos direitos das muheres, dentre as quais se destacam a campanha levada a cabo ha' algum tempo por mulheres jornalistas e a marcha recentemente realizada em Luanda, com a participacao da sua governadora provincial, contra a violencia domestica.Estas sao, obviamente, apenas as minhas observacoes. Mas expresso-as, democraticamente, tal como julgo que os signatarios da carta o fizeram ao manifestarem as suas opinioes, como cidada Angolana (embora, forcadamente, temporariamente na diaspora) e, por isso, como parte interessada, tanto nas questoes abordadas na carta em apreco, como no fortalecimento da oposicao politica e da sociedade civil no pais que me viu nascer.
sexta-feira, 7 de agosto de 2009
(Flashback/Agosto 2008) Komba pelo Kinaxixi
Estive fora de Luanda por cerca de 15 dias, razão que me forçou a interromper este contacto semanal, não tanto por estar no exterior do país, mas mais porque o meu PC, num estranho acesso de patriotismo, decidiu que não funcionava fora das nossas fronteiras, numa postura marcadamente anti-globalização.
Felizmente que a avaria foi de pouca monta, tendo o meu concessionário que é a Sistec resolvido de imediato o problema sem custos adicionais, o que (uma vez mais) me deixou bastante satisfeito com o desempenho desta empresa por quem tenho a maior consideração devido sobretudo a sua filosofia de trabalho, onde o lucro nem sempre se conta com mais uns tostões amealhados com a venda disto ou daquilo.
A satisfação do cliente a custo zero é por vezes um lucro que vale muito mais em termos de futuro e de sustentabilidade da própria empresa, do que a venda imediata de mais um produto ou um equipamento sem qualquer tipo de garantia ou assistência.
Feita esta “publicidade” gratuita à Sistec, que bem a merece, passemos ao que interessa nesta primeira crónica no meu regresso à pátria querida, mas nem sempre bem amada por todos, como deveria ser, sobretudo por aqueles que têm maiores responsabilidades com ela devido à inerência dos cargos públicos que ocupam.
No meu regresso a Luanda a primeira notícia foi-me dada por uma das minhas filhas mais novas, a Xita, que parece ter herdado de alguém que lhe é muito próximo o faro para as novidades.
Papá, disse-me, vão começar as obras no Kinaxixi, local que ela conhece muito bem, embora seja como eu uma autóctone da Vila-Alice (VA).
Aliás, ela é mais da Vila do que eu, pois eu sou originário da Maianga onde nasci e vivi os primeiros cinco anos da minha infância antes de me transferir para a Rua Alda Lara do glorioso bairro Kuba, uma das trincheiras mais firmes da resistência anti-colonial localizada na parte meridional da VA, tendo como fronteira a Estrada de Catete.
A notícia que a Xita me estava a dar tinha a ver, obviamente, com o inicio da destruição do Mercado do Kinaxixi, seis anos depois do processo ter arrancado como mais uma crónica de uma morte anunciada e de ter provocado um dos maiores dos sururus políticos da segunda República. Na sequência deste desenvolvimento foi criada em 2002 uma das raras Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI) que a nossa Assembleia Nacional produziu ao longo de 16 anos de um prolongadíssimo e super-governamentalizado mandato que vai certamente entrar, como um “case-study”, para a história das democracias parlamentares multipartidárias.
A outra Comissão Parlamentar de Inquérito criada pela Assembleia Nacional eleita em 1992 foi para apurar a violência étnica que se abateu em 1993 sobre os bakongos na cidade de Luanda.
O trágico episódio ficou tristemente conhecido por “Sexta-feira sangrenta”, tendo a CPI criada para averiguar o criminoso ataque, resultado de uma iniciativa que teve muito a ver com o dinamismo do malogrado deputado do PDP-ANA, Mfulumpinga Landu Victor.
Se estivesse vivo, Mfulumpinga seria sem dúvidas um das grandes estrelas da actual campanha eleitoral, que pela sua mornez, de facto está a precisar de alguém com o “fenotipo” do assassinado político.
Convenhamos que num país com as características de Angola, onde a falta de transparência das instituições oficiais é uma das grandes preocupações da sociedade no seu conjunto, o surgimento de apenas duas comissões parlamentares de inquérito para um mandato de 16 anos é de facto muito pouca “fruta”.
Muito pouca “fruta” que traduz bem o fraco desempenho da função fiscalizadora da Assembleia Nacional, que, efectivamente, andou esses anos todos a reboque das encomendas legislativas do Executivo, sem grande espaço de manobra para assumir devidamente as outras vertentes do seu poder.
Pelo que julgamos saber a CPI que se debruçou sobre o dossier Mercado do Kinaxixi apenas terá caucionado a gestão privada daquela instalação, com a sua recuperação e modernização, sem nunca ter dado luz verde à destruição daquele património que acabou por acontecer seis anos depois.
Este assunto merece certamente alguma investigação para se apurar o que realmente a CPI do Kinaxixi recomendou no final do seu atribulado mandato.
O Kinaxixi desapareceu assim da nossa paisagem urbana e histórica por força de um camartelo cego que continua a ter demasiado poder para ser parado por quem quer que seja neste país.
No seu lugar e enquanto não se erguem as torres da ganância, da ostentação e da ignorância típicas do novo-riquismo que anda por aí furioso e à solta, ficou um imenso vazio que nos asfixia a alma e nos deixa profundamente tristes com a perda de mais um emblemático local da nossa memória.
Para quem como eu cresceu passando todos os domingos por aquele mercado em direcção a classe central da Igreja Metodista, não é fácil aceitar um tamanho atentado contra o património da nossa cidade.
Não estamos, obviamente, contra o surgimento dos shoppings nem dos arranha-céus, mas não podemos aceitar que eles nasçam destruindo tudo quanto é história e memória desta cidade, num país, onde o que mais existe é espaço de sobra o desenvolvimento de novas urbanizações, para a edificação de novas cidades.
Como não estamos de acordo com este “assalto” que já é uma tendência sólida em termos de gestão do espaço urbano luandense, a influenciar os decisores do poder político cada vez mais permeáveis a este tipo de “sedução”, tendo em conta as suas contrapartidas, só nos resta fazer aqui o nosso komba pelo Kinaxixi.
Com o passar dos anos, no fundo da minha ingenuidade, ainda cheguei a acreditar que o mercado seria poupado.
Ainda cheguei a acreditar que todos aqueles que se ergueram contra o Projecto Baía, teriam agora razões muito mais sólidas para lavrarem em público o seu protesto.
Com raríssimas excepções, só ouvi o seu silêncio.
Com esta demissão colectiva da sociedade civil angolana, a especulação imobiliária e o camartelo receberam mais uma forte mensagem de encorajamento.








