sexta-feira, 11 de março de 2011

E se Cavaco Silva fosse angolano?

Se fosse angolano, Cavaco Silva (CS) teria, pela lógica do seu mais recente discurso, apoiado a "não-manifestação" do 7 de Março, na vertente que tem a ver com as preocupações/descontentamentos sociais dos jovens angolanos, como já declarou o seu apoio implícito à manifestação dos jovens portugueses que este sábado vão "assaltar" as ruas de Lisboa (mas não só), numa demonstração de força e coesão da chamada "geração à rasca", como estamos todos nós aqui pela banda. Bastante à rasca por sinal. No discurso que pronunciou esta semana na tomada de posse do seu segundo mandato como Presidente da República, Cavaco Silva fez "um apelo vibrante aos jovens: Ajudem o vosso país. Façam ouvir a vossa voz. Este é o vosso tempo. Mostrem a todos que é possível viver num país mais justo e mais desenvolvido, com uma cultura cívica mais sadia, mais limpa, mais digna. Mostrem às outras gerações que não se acomodam nem se resignam". O rejuvenescido Cavaco Silva estava absolutamente "fora de si", no melhor sentido é claro, ao que tudo indica também muito inspirado/impulsionado pelos ventos que lhe estão a chegar do sul que para nós é o norte. "Os jovens não podem ver o seu futuro adiado devido a opções erradas tomadas no presente. É nosso dever impedir que aos jovens seja deixada uma pesada herança, feita de dívidas, de encargos futuros, de desemprego ou de investimento improdutivo. Se nada fizermos, os nossos melhores jovens irão fixar-se no estrangeiro, processo que, aliás, já começa a tornar-se visível". O "Pai Grande" do portugueses disse que é hora de os seus parentes "despertarem da letargia" para depois defender a necessidade de "um sobressalto cívico que faça despertar os portugueses para a necessidade de uma sociedade civil forte, dinâmica e, sobretudo, mais autónoma perante os poderes públicos». Portugal, rematou forte, "terá muito a ganhar se os Portugueses, associados das mais diversas formas, participarem mais activamente na vida colectiva, afirmando os seus direitos e deveres de cidadania e fazendo chegar a sua voz aos decisores políticos". PS- Para além de tudo quanto já é conhecido em relação ao papel que Cavaco Silva desempenhou no apoio ao processo de paz angolano, que culminou com o acordo de Bicesse, o estadista luso terá sido a pessoa que conseguiu, in extremis, convencer JES a aceitar o principio da democracia multipartidária e da realização de eleições livres em Angola com a consequente alteração da Constituição, sem o qual as negociações secretas então em curso em Évora teriam conhecido um impasse absoluto. Para tal CS manteve um encontro secreto com JES em São Tomé que foi crucial para a histórica viragem que Angola conheceu do "mono para o stéreo" e que até hoje ainda estamos com ela, apesar dos intensos e ameaçadores ruídos saudosistas que se voltaram a ouvir nas últimas semanas.