segunda-feira, 31 de maio de 2010

A "OPA hostil" pode ter ultrapassado os 6 milhões de dólares

De acordo com o Jornal de Angola que esta segunda-feira cita para o efeito uma anónima "fonte fidedigna", o grupo envolvido na compra dos semanários luandenses, S.Angolense, Capital e Novo Jornal pode ter desembolsado mais de 6 milhões de dólares nesta operação. Apesar de ter contactado uma "fonte fidedigna" o matutino não avança com o nome da nova proprietária dos três semanários. Do que nos foi possível apurar nas últimas horas a referida empresa dá pelo nome de "Medinvest", estando agora a curiosidade jornalística concentrada em saber quem são os seus verdadeiros proprietários.

Parabéns Jovemania!

A edição do Jovemania (JM) deste fim-de-semana (sábado/domingo) salvou in extremis o balanço desastroso que aqui fizemos sobre o seu desempenho no mês de Maio que hoje termina.
De facto são temas, como aquele que foi abordado pela última edição do JM, que fazem parte das preocupações actuais da nossa juventude e que devem merecer a nossa atenção, se quisermos utilizar a televisão de forma mais construtiva.
O alcoolismo e a suas consequências pessoais e sociais no seio da juventude é um tema da maior importância, que deveria até ter estatuto de residente nos nossos espaços mediáticos, pois já é nesta altura mais uma praga que nos assola e que tem contribuído para o aumento dos preocupantes indices de violência doméstica, delinquência/criminalidade e degradação sócio-familiar.
Se tivêssemos a certeza que os "brains" do JM visitam este blogue, quase que díriamos que eles tomaram boa nota da crítica que aqui foi tecida ao seu desempenho e resolveram abandonar o mar de futilidades e inutilidades em que o programa estava mergulhado, num puro desperdício de um espaço tão precioso.
Se assim aconteceu, os parabéns ao JM por ter reagido de forma bastante positiva aos nossos reparos.
É exactamente este o nosso propósito, o de contribuir com a crítica frontal para que este país deixe de ter "manias" a mais e passe a comportar-se a altura das nossas expectativas, como cidadãos que querem ver Angola (sempre) subir na escala de valores civilizacionais mais consistentes com o desenvolvimento humano e com a própria democracia, com destaque para a sua vertente participativa, que é aquela que ainda não faz parte da vida institucional deste país.
As outras "subidas" mais rasteiras que agora andam muito em voga por algumas praças do nosso mercado nacional não são para aqui convocadas.

domingo, 30 de maio de 2010

"Semanário Angolense" e "A Capital" alvo de uma "OPA hostil"

O "Semanário Angolense" e "A Capital" poderão já na próxima semana sair para rua com novas direcções editoriais, na sequência de uma negociação que terá ocorrido nos últimos dias, ao abrigo da qual os dois conhecidos semanários da capital foram comprados pela mesma empresa, cujo nome ainda não nos foi possível confirmar.
Este desenvolvimento, algo espectacular, vai apanhar muito boa gente de supresa, pois as atenções estavam voltadas para o "Novo Jornal", onde, ao que consta, também está em curso uma negociação idêntica, já anunciada várias vezes pela imprensa e nunca desmentida pelo NJ.
O Director de "A Capital", Tandala Francisco (TF), antecipou este sábado a mudança que o semanário vai conhecer ao escrever, num tom visivelmente dramático, o que ele considerou ser o seu último editorial.
"Este é o último editorial que assino, enquanto Tandala Francisco no semanário A Capital. Vou supender, pelo menos nesse veículo, essa assinatura com a qual construí uma carreira de uma década, manchada por alguns fracassos, mas sobretudo coroada de muitos êxitos.
Razões de força superior-que o tempo saberá esclarecer levam-me a abdicar desta prosa semanal que poderá surgir, quem sabe, num outro formato e com outra assinatura, mas nunca como Tandala Francisco. É assim a vida.
Por vezes, por menos que queiramos, temos mesmo que abdicar daquilo que mais amamos."
Tandala não nos diz para onde vai, mas fica claro que "A Capital" não será mais o seu endereço de agora em diante, pelo menos como Director, enquanto aguardamos que o"tempo" nos diga quais foram as "razões de força superior" que levaram que o TF abandonasse o grande amor da sua vida.
Abandonasse ou trocasse?
Por ocasião do oitavo aniversário da publicação assinalado no passado dia 4 Abril e a convite do próprio TF escrevi um texto de opinião sobre o desempenho editorial do seu jornal o que fiz com muito gosto, tendo para o feito tecido os mais distintos encómios à independência editorial e à qualidade do projecto.
Depois desta alteração, cujas consequências editoriais ainda são desconhecidas, receio ter falhado redondamente.
Na altura escrevi o seguinte: Oito anos depois, “A Capital” está aí bem “vivinha da silva” e ao que tudo indica disposta e com forças suficientes (que é o mais importante) para enfrentar a nova etapa da concorrência que, a este nível, devia ser balizada pelo próprio Estado. É ponto assente que até agora o Governo não tem sabido (ou não tem querido?) assumir as suas responsabilidades constitucionais, com o propósito de impedir o monopólio/oligopólio que no horizonte já começa a ameaçar o mercado da liberdade de imprensa com os seus asfixiantes tentáculos. Esta etapa, note-se, está a ser “imposta” ao mercado dos jornais e das revistas, pela entrada em cena e com alguma força, do capital privado, que, ao que parece, nem sempre é tão privado assim, pelo menos na sua origem, o que tem estado a alimentar algumas sérias e legítimas dúvidas quanto às suas reais motivações estratégicas.
Vamos pois ter de aguardar pelos próximos tempos para esclarecer muitas dúvidas, mas já com algumas certezas, quanto à natureza tentacular do nosso "polvo".
Salvaguardadas as devidas distâncias, estamos diante daquilo que nos mercados bolsistas se designa por "OPA hostil".

sábado, 29 de maio de 2010

Venda espectacular!

Um destes oito títulos assinalados prepara-se para mudar de dono, ou já terá mesmo mudado.
A confirmar-se a informação que chegou nas últimas 24 horas à banca deste blogueiro, trata-se de uma transacção verdadeiramente espectacular que vai introduzir uma substancial alteração política na tendência (matriz) editorial do nosso panorama mediático.
Um doce de coco a quem advinhar.
PS-Afinal não é apenas um. São dois os títulos que se preparam para passar para a tutela do "polvo", estando uma negociação já concluída e a outra em vias disso.
Saravá!
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3 comentários: Anónimo disse... jornal de angola 29 de Maio de 2010 12:04 Anónimo disse... Carlos Agostinho
Semanário Angolense.
Começa a era do sistema controlar os independentes. Oh camarada Graça Campos "Quo Vadis" 29 de Maio de 2010 12:23 Muwana a Loje disse... Capital e Angolense...acredito porque o acionista de um esta no outro e no passado ja teve aquele celebre comportamento com o Intercomercial moagens...será que estou assim tao enganado? 29 de Maio de 2010 16:45

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Pauta Jornalística: Tolerância Zero faz disparar o preço da gasosa

O preço da gasosa disparou nos corredores das instituições públicas. Um exemplo muito concreto desta "derrapagem", é o valor que os candidatos aos concursos públicos para admissão no Estado são "convidados" a pagar, pelo pessoal do juri que faz a apreciação dos testes. É a única garantia realmente segura que é dada aos milhares de candidatos para verem o seu nome figurar na lista dos aprovados e admitidos, pois também não seria possível de outra forma, a não ser que se optasse pelo sorteio. Considerando a diferença abismal existente entre o reduzidíssimo número de lugares disponíveis e o dos candidatos que pretendem arranjar um emprego no Estado, as possibilidades são quase nulas de se apurarem os pretendentes pela via da melhor classificação. [Para se resolver este problema, a solução foi a aplicação da lei da nossa imbatível gasosa. Assim está a ser pedido a cada candidato que faça uma "doação voluntária" de, nada mais, nada menos, do que 2mil dólares, no mínimo.] Compreende-se este incremento no preço da gasosa, pois com a Tolerância Zero em marcha os infractores só aceitam arriscar o pescoço por um valor que de facto valha a pena correr o risco. Com a nova Lei da Probidade as coisas ficaram de facto um pouco mais feias para quem pratica a referida "modalidade". O ainda clandestino "Sindicato Nacional da Kazoza (SNK)" está convencido que se trata apenas de mais uma febre, das muitas que já assolaram o país e que, logo logo, a "legalidade" será reposta em nome da "sinuosa distribuição do rendimento nacional". O Sindicato defende que esta via esconsa é a única que, na prática, tem funcionado e em muito tem ajudado os seus membros a melhorarem o seu nível de vida Uma fonte da organização confessou-nos, entretanto, que há filiados que, às vezes, abusam um pouco com a imposição de certas "taxas", que a agremiação considera desnecessárias por agravarem demasiado a já de si insuportável vida do cidadão comum. Enquanto a febre estiver alta, o SNK orientou os seus membros a observarem algumas cautelas para se evitarem problemas desnecessários com a Tolerância Zero, sendo uma delas o aumento da "propina" que se está a verificar. No mercado da gasosa é mais ou menos assim que as coisas funcionam. Em nosso entender, o recurso ao sorteio seria a forma mais justa de se apurarem os candidatos melhor classificados no teste, devendo-se para tal estabelecer uma nota mínima. Aqui fica a sugestão de um especialista em gasosas locais, com o sabor amargo de quem provou e não gostou nada.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Jovemania (JM), no mínimo um programa equivocado

Este mês de Maio tivemos a oportunidade de seguir com alguma atenção as escolhas temáticas feitas pelo Jovemania (JM) do Canal 1 da TPA para chegar até ao seu público alvo que, como o próprio nome do programa indica, são todos os jovens angolanos, com ou sem manias de serem mesmo jovens. Antes de ser uma mania ou um estado de espírito, a juventude é uma fase concreta muito sensível da vida que todos nós, os jovens mais adultos, também já percorremos em devido tempo, com muitas saudades de regressar ao passado e marcarmos um reencontro com alguns dos nossos bons/ maus/ velhos/jovens tempos.
Mas como o tempo prega-nos todas as partidas, menos a de regressar ao passado, só nos resta mesmo olhar para os jovens do tempo presente com alguma (bastante) preocupação, quando vemos por exemplo o precioso tempo de um programa televisivo do serviço público, o JM, ser desperdiçado com tantas e tamanhas banalidades, como foi o caso da sua produção durante o mês de Maio que se prepara para bazar.
O JM iniciou as suas "hostilidades" em Maio com um programa dedicado aos famosos "bifes" que actualmente alimentam muito mal ( com alguma violência fisico-verbal) os meios musicais do kuduro e do rap, já de sí potencialmente vocacionados para cenas menos pacíficas.
Depois de já os ter visto no "Sempre a Subir" do Sebem no Canal 2, que é um tumultuoso e controverso espaço especializado em matérias "bifiticas", voltei a ter de gramar com uns tais de "Gasolina" e "Presidente Gasolina" a trocarem uns já estafados galhardetes em relação a quem é que é o verdadeiro "Gasolina" durante todo um programa dedicado à juventude angolana.
Sinceramente, fiquei com a impressão que estava a ver novamente o programa do Sebem, com este último "disfarçado".
Para além de todos os "gasolinas" que por lá passaram, pouco mais em termos de substância, o paupérrimo programa ofereceu aos jovens naquele fatídico sábado com direito à reposição no dia seguinte, isto é, no domingo.
Trata-se de uma opção (reposição em horário nobre) que já não tem paralelo nas televisões modernas que querem ser competitivas.
A TPA, note-se, já tem concorrência de sobra ( dentro e fora do país) para ignorar a nova conjuntura do mercado dos audio-visuais.
No sábado seguinte, a escolha do JM foi para a "beleza artificial" das mulheres angolanas, em mais uma abordagem carregada de futilidades em torno de um tema que, para além de ser deselegante, acaba por ser evasivo da própria intimidade das nossas "guapíssimas muchachas".
Devo confessar, depois de já ter percorrido centenas de milhares de kilometros por este mundo afora, que não encontrei mulheres mais bonitas que as nossas, por isso gosto cada vez mais delas, não as troco por ninguém e muito menos as hostilizo, como objectivamente acabou por ser feito pelo JM em mais um sábado/domingo para esquecer.
Eram cabelos brasileiros para aqui, unhas de gel para acolá, tissagens mais adiante, silicones a voarem por entre seios e bundas, enfim, um desfile que não acrescentou um único valor estruturante à educação e à auto-estima dos nossos jovens, carentes de tudo menos de futilidades, que já têm de sobra no seu quotidiano que é cada vez mais violento e marcado por diferentes ausências, privações, deturpações, aculturações e intoxicações.
No terceiro sábado as coisas ainda ficaram piores, com o nível a baixar muito mais, pois o tema escolhido foi a imitação das estrelas locais da rádio, da televisão e do music-hall pelos nossos jovens.
Por si só e a este nível, a imitação, seja ela bem ou mal feita, não é, quanto a nós, um valor que deva ser encorajado num programa que pretende contribuir para a formação e o aumento da consciência crítica dos nossos jovens como é suposto ser o JM.
Não estamos a falar da imitação de modelos sociais ou comportamentais que sejam de referência, por terem demonstrado que são efectivamente "bons para consumo".
A imitação que aqui verberamos é a do "macaco imitador" que não serve para nada para além de provocar alguma diversão.
Estes três temas que preencheram a programação do mês de Maio do Jovemania da TPA são um bom exemplo do que o serviço público de televisão não deveria nunca seguir.
Fazer serviço público ao nível da programação dirigida aos jovens num país com as características muito especiais de Angola exige antes de mais uma profunda reflexão sobre os caminhos que a televisão deve trilhar para falar deles, com eles e para eles, com os olhos postos num futuro bem diferente do presente que temos, fruto de um passado que é para esquecer.
Depois desta reflexão, a criatividade/perspicácia na escolha dos temas que se impõem fará o resto, na maior das calmas.
Há tantos e tão importantes assuntos para discutir com os jovens angolanos que de facto não faz qualquer sentido desperdiçar-se um tempo de antena tão precisoso, tão caro e tão estratégico, que é o da televisão pública, com um desfile tão "franciscano" como foi aquele que nos foi dado a observar em Maio.
A "mania" de ser jovem exige um pouco mais de quem quer comunicar com os jovens angolanos nesta etapa do nosso desenvolvimento sócio-político.

Dia de África ao som do Raízes da FM-Stéreo

O jango da Chá de Caxinde acolheu esta terça-feira, por ocasião do Dia de África (25 de Maio) uma verdadeira maratona de música continental promovida pelo programa Raízes que o Ismael Mateus apresenta semanalmente na FM-Stéreo(RNA) há já alguns anos.
Com acesso a comes e bebes no local para todos quantos lá estiveram, que foram mais do que muitos, o programa foi feito ao vivo entre as 9 da manhã e as 1o da noite, a partir do acolhedor Jango, que tem sido testemunha nos últimos tempos das mais interessantes manifestações culturais, com destaque para as musicais, que se estão a produzir na nossa capital.
Ao vivo e a cores, Dodó Miranda e Gabriel Tchiema encerraram as "hostilidades" da maratona com dois shows da sua boa e já incontornável música.
Quando se estiver a falar do assunto entre nós, estamos a falar, naturalmente, de música a sério, não se esqueçam deles porque já não é mais possível.
Dodó Miranda preencheu a parte final da sua apresentação fazendo um dueto com o Manbike, um kota desconhecido do grande público, com quem cantou um tema "gospel", no que foi para nós o melhor momento da maratona africana promovida pelo Raízes.
Manbike mostrou-nos que sabe do assunto ao mais alto nível e que está aí para o que der e vier, dentro e fora das nossas fronteiras.
O consagrado Dodó Miranda (que ao vivo já "assustou" o Pascal Lokua Kanza no primeiro duelo que travaram no Karl Marx) continua a espera de gravar o seu disco, o que ainda não aconteceu por falta de recursos e de patrocinadores.
É verdade, pois foi exactamente isso o que ele nos disse esta terça-feira no Chá de Caxinde.
Nós gostamos de tudo quanto aconteceu e vamos ficar a espera do próximo show do Raízes fora dos estúdios da FM-Stéreo que estão em obras que nunca mais terminam, o que nos deixa preocupados quanto ao futuro das instalações daquela emissora que já foram objecto de alguns "planos" no anterior consulado da tutela, que felizmente não se vieram a concretizar.
Só esperamos agora é que não precisemos de esperar mais um ano para que tal aconteça.
Para além do Dia de África, há sempre um bom motivo para nos reunirmos em torno da música de um continente que começa e termina em Angola, com todas as voltas possíveis e recomendáveis pela rota que vai do Cairo ao Cabo.
Africa Oyé! Oyé! Oyé!

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Um tsunami chamado Roque Santeiro

O 27 de Maio, o Almoço Evocativo e a Reflexão do Michel

Este ano não teremos o que seria a 6ª edição do “Almoço Evocativo do 27 de Maio” por razões que têm a ver apenas com questões de ordem logística relacionadas com o aluguer do espaço e com alguma indisponibilidade de ordem mais pessoal da parte dos dois organizadores do projecto. Lamentavelmente, as duas razões conjugaram-se e produziram este resultado pouco animador para todos nós que já nos estavam a habituar a este encontro anual, como fazendo parte da nossa rotina. Trata-se de uma reunião de confraternização dedicada à memória, à amizade e à solidariedade, como sendo a grande homenagem que nos comprometemos a prestar aos milhares de jovens angolanos que foram forçados a desaparecer do mundo dos vivos no âmbito de uma fria estratégia de eliminação física dos adversários, que há 33 anos foi patrocinada e executada de forma implacável pelo Governo do MPLA. Não se trata, entretanto, de colocar um ponto final na iniciativa, mas apenas de observar uma pausa forçada por uma determinada conjuntura, que deve ser entendida exclusivamente dentro das balizas aqui referidas, porque efectivamente não houve outras. Para além de outras iniciativas do género que podem vir a preencher este ano o vazio do “Almoço Evocativo”, sabemos que haverá na próxima quinta-feira uma oportunidade para estarmos todos juntos e para assinalarmos o 27 de Maio de 1977, no dia 27 de Maio de 2010. Esta oportunidade ser-nos-á dada pelo lançamento nas instalações da Liga Nacional Africana a partir das 15 horas, de um novo livro sobre a trágica efeméride, da autoria do Miguel Francisco (Michel). O autor, um antigo “fapla”, já nos tinha brindado há 3 anos (2007) com a “Nuvem Negra- O drama do 27 de Maio”, um relato inédito na primeira pessoa da sua terrível experiência como prisioneiro do campo de concentração/extermínio da Calunda, no Moxico. Michel entrou para a história por ter sido o primeiro autóctone a lançar em Angola um livro sobre o sangrento Maio da nossa desgraçada trajectória nacional, onde a data tem as “honras” de ter sido o maior massacre político do pós-independência, sem rivais em África. Desta vez o Michel no seu “ANGOLA- O RACISMO COMO CERNE DA TRAGÉDIA DE 27 DE MAIO DE 1977” oferece-nos uma “REFLEXÃO” que tem a pretensão de contribuir para o aprofundamento do debate à volta das reais motivações que conduziram ao conhecido desfecho. Nesta altura em que escrevo este texto e apesar de ainda não ter concluído a leitura da sua “Reflexão”, conhecedor que sou da visão que o Michel tem vindo a defender noutros fóruns, não posso partilhar das suas conclusões, embora esteja de acordo com muitas das observações que povoam o seu pertinente e oportuno texto. Antes de me preocupar com a “estatística racial” dos protagonistas de um lado e do outro, continuo a pensar que do lado da gigantesca repressão estiveram angolanos de todas as cores, raças e feitios que levaram a sua intolerância política e raiva pessoal/afectiva até ao limite, com as consequências catastróficas que se conhecem. Do lado dos reprimidos estiveram igualmente presentes todas as cores, raças e feitios. Curiosamente o conflito nasceu, cresceu e explodiu dentro de uma mesma e ampla organização dividindo-a profundamente em duas ou mais alas. Claramente para mim, a estratégia muito em voga na época, decalcada dos manuais estalinistas, foi a da eliminação física dos adversários políticos no seio do mesmo partido: os reais, os suspeitos, os potenciais e os futuros. No caso angolano admito a pertinência de todas as leituras “raciais” que se possam fazer, que eu entendo, compreendo perfeitamente e até posso aceitar parcialmente, mas não elejo como sendo as fundamentais para perceber o que se passou e muito menos para responsabilizar os tais verdadeiros instigadores. A chamada “eliminação física dos camaradas” no antigo Partido Comunista da União Soviética (PCUS) nos tempos de Joseph Staline ultrapassou largamente a nossa em termos numéricos e não teve qualquer motivação racial evidente. Acho mesmo que esta incursão pelo domínio da “estatística racial” para além de não ter suporte objectivo, acaba por ser desculpabilizadora da maior parte de todos aqueles que instigaram e estiveram do lado da repressão, onde eu só vejo angolanos mais claros ou mais escuros, mais ou menos radicais, mais ou menos violentos, mas todos ferrenhos do mesmo e único CLUBE e com o mesmo e intolerante exterminador propósito. Nunca, como depois do que aconteceu no 27 de Maio de 1977, estive tão de acordo com a máxima segundo a qual o homem é o principal lobo da sua espécie, “Homo hominis lúpus”, o homem é o lobo do homem. Acho mesmo que com tal “estatística”, no limite, se pode estar a querer passar um atestado de menoridade ou de inimputabilidade para os restantes participes do sangrento regabofe, o que é mau para a história e para quem quer deixar registada a sua memória. Com todo o respeito que nos merecem todas as opiniões que se afastam desta, estou hoje, como sempre estive, mais preocupado em homenagear todas as vítimas do monumental banho de sangue e esperar, que um dias destes, elas sejam também homenageadas pelo Estado angolano no panteão da reconciliação, do perdão e da justiça. Apesar de já terem passados mais de trinta anos, sei que este dia ainda está longe e talvez não viva o tempo suficiente para a ver o Estado angolano reparar todas as injustiças e brutalidades cometidas e erguer um monumento em honra de todas as vítimas da intolerância que foram trucidadas na sequência da caça às bruxas que se seguiu ao 27 de Maio de 1977. Mas tenho a certeza, que um dia esta reparação será feita e que este monumento vai fazer parte da nossa paisagem institucional. Até lá vamos ficando por aqui, pelas colunas da imprensa, pelas palavras dos livros e pelos espaços dos almoços e de outras iniciativas convergentes, destacando anualmente a tragédia que foi o 27 de Maio de 1977, com os olhos postos no futuro, mas com os pés bem assentes no presente, para não nos esquecermos do passado, sob pena de repeti-lo. Não é muito, mas é o que se pode fazer.

sábado, 22 de maio de 2010

Vem aí a primeira emenda constitucional

O artigo 47 da LCA reza:
" É garantida a todos os cidadãos a liberdade de reunião e de manifestação pacífica e sem armas, sem necessidade de qualquer autorização e nos termos da lei."
A emenda que vem a caminho acrescenta o seguinte:
" Nos termos da lei e desde logo, fica já aqui muito claro que a liberdade de reunião e de manifestação por ser um bem público demasiado raro e precioso, exclui à partida todos aqueles que, por qualquer motivo, não gostam muito do Insuperável Camarada Presidente da República, do Glorioso Executivo Nacional e do Heróico Partido que o suporta."
NR- Aceitam-se contribuições para se aprofundar
a letra e o espírito democrático desta histórica emenda, que correponde, nos antípodas, ao projecto da famosa primeira emenda da Constituição dos EUA.
Depois do que aconteceu no Lubango, em Benguela e este sábado em Cabinda, o nucleo dinamizador deste projecto acha que chegou a altura de se começar a "marchar" para o Parlamento com o "draft" da esclarecedora emenda.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Guichet Único do Carapau (GUC)

Apesar do Executivo já ter conseguido junto do Parlamento a prometida isenção fiscal (temporária) para a importação do carapau e de ter feito a distribuição das quotas junto dos armadores mas não só, a "novela do carapau" pode ainda estar longe de ter terminado, pois continuamos a receber reclamações no nosso "Guichet Único do Carapau", como poderão conferir mais adiante.
De facto e pelo que salta à vista, a evolução do processo parece estar a suscitar novas dúvidas e mais desconfianças junto daqueles, os genuínos armadores de pesca (barcos de cerco) a quem o Governo tinha prometido em Setembro do ano passado, durante o Conselho Consultivo do Ministério das Pescas a atribuição, em regime de exclusividade, das compensatórias quotas, na sequência do estabelecimento da veda em 2010 sobre a pesca do carapau.
Na altura a quota anual aprovada foi de 26 mil toneladas, que, como se sabe, conheceu agora um substancial incremento, tendo sido elevada para 90 mil.
[Com a isenção fiscal para a importação do carapau, alguém conhecedor do negócio garantiu-nos por alto, que mil toneladas do produto podem proporcionar um lucro de um milhão de dólares.]
Sabe-se já que uma parte muito substancial desta quota foi atribuída a operadores económicos que não estão directamente ligados à faina do carapau, o que contraria o compromisso inicial do Governo e abre as portas para a entrada no negócio do poderoso lobby local do import/export.
Diz-se por aí muito mais (ou especula-se?) em torno desta operação que, em termos políticos (imagem), acabou por reforçar a ideia, segundo a qual os governantes nunca dão ponto sem nó.
Ou seja: Quando há negócio à vista, quem parte e reparte fica sempre com a melhor parte.
Terá sido assim com as quotas isentas do carapau?
Tudo leva a crer que sim.
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Anónimo disse... Correcto!
Quem parte e reparte, ou fica com a melhor parte, ou não tem arte. Como os nossos "chefes" são uns artistas, logo ficaram com a parte de leão, em contrapartida dos carneirinhos "armadores". Sinceramente que não entendo pq ainda se deram ao trabalho de dar umas migalhas ao armadores. Para inglês ver?! Se sabem k não vai ser possível, no actual cenário, eles importarem o "famoso carapau".Pq k não apanham a boleia ñ dão já ao "poderoso lobby local do import/export" isenção para produtos como o açúcar, arroz, leite, óleo alimentar e outros. Afinal estes produtos alimentares são de primeiríssima importância na dieta alimentar dos angolanos. Mais que o "dito cujo". Achava justo!!
[Não concordo com a relação, 1000tons/1.milhaoUSD mas poderá andar pelos 500~700 mil usd. Multiplicado pela quota dada aos não armadores, é só fazer contas. Eu ajudo...Acima dos 50.000.000 de USD que ficam na mão de outros e que, "não fosse a arte de quem baralhou as cartas" poderiam ficar nas mãos de quem ficou proibido de pescar o carapau.Mas como todos os negócios são falíveis....Fica aqui a duvida...Bom apetite...Não comam muito, carapau de mais enjoa!!] 22 de Maio de 2010 15:46
Anónimo disse... MAIS CARAPAU:::!!!!Já saíram as quotas de importação do carapau...!!!
FINALMENTE E COM 5 MESES E PICOS DEPOIS DE TER COMEÇADO A VEDA...!
Afinal as quotas já tinham sido autorizadas há cerca de 15 dias. Acontece q por razões que ainda se desconhecem, os envelopes dirigidos aos armadores beneficiários foram mandados recolher. AS RAZOES CONTINUAM UM MISTÉRIOS.
Dizem k tem k ver com outros interesses!!! Ou, por outras palavras, com novos beneficiários não armadores de pesca.Depois e contrariamente ao prometido (mandar para as associações) foram feitas novas cartas aos armadores com as respectivas quotas de importação. Resultado...a completa frustração (do tipo dividir para reinar)...Deviam ter sido dadas quotas de importação isentas de direitos (assim esta prometido) aos armadores em quantidades iguais às médias aritméticas da suas capturas nos últimos 3 anos.
Acontece que não foram respeitadas essas médias, que deram quotas a pessoas/empresas que não são armadores. Alguns armadores receberam quotas inferiores ás suas médias.
Outros não receberam e por ai fora...Ainda não se tem a certeza quanto á isenção pois esta depende de outro ministério, o das finanças cujas alfandegas não estão a querer dar a isenção com o argumento k já isentam á 5 anos (a quem)?)e não vê resultados. Acontece k essas isenções foram para OUTROS e nada tem a ver com a veda do carapau.
OUTRAS CONTAS E COM OUTRO SENHORES ESTRELADOS...SE O CARAPAU È UM PRODUTO ALIMENTAR; PQ NÂO ISENTAM OS IMPORTADORES DE FUBA; CRISTAL ETC...Ficaram de lado alguns armadores. Nem se quer tiveram a consideração de averiguar pq não contemplaram empresas, das quais uma até é propriedade do presidente da associação de Pescas do Namibe. INCRÍVEL... Onde esta a organização interna do ministério.??
Os armadores reuniram-se em Benguela e no comunicado final avançam para a paralisação no prox dia 31 se não se revolverem e em definitivo estas questões do carapau, que já cheiram a esturro.
QUERO AQUI LEMBRAR AO GOVERNO QUE ESTES QUE ANUNCIARAM FAZER A PARAGEM, SÃO 100% VOTANTES NO MPLA. Eles mesmo!! esquentaram a cabeça e estão cansados de ver e calar.... A pesca mexe com mais de 500.000 pessoas no País. Também ao sector das pescas e nas isenções de direitos aduaneiros é extensível a tolerância ZERO.
Bom apetite!!! 9 de Maio de 2010 16:05 Anónimo disse... FRANCAMENTE,ISTO É INADMÍSSÍVEL,ANGOLA IMPORTAR CARAPAU,MAIS AUSTERIDADES E FOME PARA A POPULAÇÃO Ñ RICA.POR ACASO AS PESSOAS K VÃO IMPORTAR CARAPAU SÃO ARMADORES?QUAIS OS CRITÉRIOS EM K SE BASEIAM? 10 de Maio de 2010 11:43 Anónimo disse... Estamos a 20 Maio, já saíram as quotas mas a isenção continua por sair. Parece definitivo que vão sair as isenções. Foi preciso os armadores fazerem saber que paralisariam para que o processo acelerasse.
Qual o provável cenário: Os armadores não vão importar nem usar das suas quotas de importação, por razões várias sendo a principal que ficaram descapitalizados e os circuitos comerciais para absorver o peixe já estão criados e controlados pelos não armadores.
Os não armadores beneficiários das quotas isentas vão importar o carapau por terem o poder financeiro e o suporte tácito do sistema. Os armadores vão ficar ainda mais descapitalizados. O governo vai dizer que não entende pq os armadores não importam e q por esse facto teve que dar isenção a outros importadores etc etc.
A paragem anunciada pelos armadores (se acontecer) fica desvalorizada pelos novos argumentos do governo. E o sector das pescas mais pobre.A veda acaba a 31 de Dezembro. O primeiro peixe a importar com isenção chega ao País em Julho/Agosto. A quantidade aprovada para importar nestas condições é de 90.000 toneladas. Em 1 de Janeiro já se poderá pescar carapau. Em suma, desastroso para todos. Perspectivam-se novos comportamentos do mercado deste produto, em função desta situação. O nosso governo deu mais uma prova de má governação. 20 de Maio de 2010 19:26 Anónimo disse... SENDO ASSIM TALVEZ SEJA MELHOR OS ARMADORES DEVOLVEREM AS QUOTAS AO MINISTRO DAS PESCAS. SE ELE TRATOU ASSIM OS POBRES HOMENS, ELES DEVIAM DEVOLVER AS QUOTAS NA PRESENÇA DA TPA PORQUE CHEIRA A PRESENTE ENVENENADO.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Policia confessa-se!

Jacques dos Santos e José Ribeiro trocam galhardetes

O escritor e Presidente da Associação Cultural Chá de Caxinde, Jacques dos Santos (JS) e o jornalista e Director-Geral do Jornal de Angola, José Ribeiro (JR), estão, como se costuma dizer, de candeias às avessas.
Tudo aconteceu na sequência de um incidente editorial que culminou com a condenação do segundo pelo Conselho Nacional de Comunicação Social (CNCS), por ter recusado ao primeiro o direito de rectificação, de acordo com o que está definido na lei.
Inconformado com tal negação, JS fez recurso à regulação para fazer valer o seu direito no que foi atendido.
Antes mesmo do processo ter sido avaliado pelo CNCS depois deste ter sido accionado pelo Presidente da Chá de Caxinde, José Ribeiro utilizou as colunas do seu jornal para acusar Jacques dos Santos de ter tentado tomar de assalto a linha editorial do matutino.
"Jacques dos Santos queria que o jornal obedecesse às suas ordens"-pode ler-se num pequeno editorial encapotado que JR publicou no matutino disfarçado de notícia a 4 de Abril último.
Nesta altura o "bilo" entre os dois prossegue bastante animado e com algumas perspectivas de se vir a tornar ainda mais renhido.
Não conformado com a decisão do CNCS e antes mesmo de executar o conteúdo da deliberação do Conselho que o obriga a publicar de forma coerciva a rectificação solicitada, José Ribeiro utilizou as colunas do matutino para voltar atacar Jacques dos Santos com mais um editorial, desta vez com o formato de um artigo de opinião a que o deu o "gorduroso" título de "Um naco difícil de engolir".
Tão "suculento" era o dito naco, que o mesmo acabou por salpicar-nos (sem JR mencionar o nosso nome) alguns pingos da sua nada recomendável "gordura", por serem manifestamente desonestos, numa verdadeira e inadmissível manobra de diversão.
Importa referir que JR já havia utilizado, dias antes, o mesmo procedimento para reagir contra uma anterior deliberação do CNCS que deu provimento a uma reclamação da UNITA que se queixou ao Conselho pelo facto do JA ter deliberadamente descaracterizado o conteúdo de um discurso de Isaías Samakuva.
Certamente com o "saco cheio", o Kota Jacques dos Santos resolveu nas últimas 24 horas vir a público com uma "Carta Aberta ao Director do Jornal de Angola", onde nos dá conta dos factos ocorridos no meio de alguns "mimos" endereçados ao nosso "Manribas".
O destinatário reagiu imediatamente com uma carta de resposta, restando saber agora qual será o tratamento editorial que o "nosso Pravda" irá conferir a uma tão empolgante troca de galhardetes que há muito não se via por estas bandas.
Para já, o "show" está a ter por palco a intenet, via email.

domingo, 16 de maio de 2010

Entrevistas imaginárias: Liberdade de Imprensa ou anti-jornalismo?

Anónimo disse... Normalmente não compro o semanário Agora.
Fí-lo por causa da matéria de capa, suposta entrevista, que não percebi ser produto da imaginação do jornalista.
Devorei o raio da (suposta) entrevista e claro fiquei pensativo e apreensivo respeito a algumas (supostas) respostas do (suposto) entrevistado. Avisei algumas pessoas para comprarem e lerem. E comentei com outras. Só me apercebi tratar-se duma palhaçada aqui através do (nosso) Morro da Maianga. Confesso que não gostei nada. Senti-me até enganada - de outra forma não teria comprado o semanário. O tal jornalista, dono duma tão fértil imaginação, deve pensar seriamente dedicar-se à escrita de estórias, romances, poesias, etc.
Duma coisa tenho a certeza: voltarei - mais do que nunca - a não comprar o semanário Agora. 20 de Maio de 2010 07:13

Definitivamente os gostos não se discutem, lamentam-se...

Depois do editorial contra o CNCS, onde o JA nos comunicou a alteração da sua linha editorial, com a adopção de um canône mais canino, o chamado "jornalismo do cão", o matutino contra-atacou este sábado com a utilização da publicidade encapotada. Neste âmbito, contou com a preciosa e desinteressada ajuda de uma fonte diplomática africana, que aceitou dar a cara nesta operação filantrópica de recuperação da desgastada imagem do "nosso Pravda". Ao "camarada" Matonse e em nome do seu passado jornalístico gostaríamos apenas de desejar um pouco mais de ambição geográfica nos elogios que fez ao JA. Como é evidente, estamos perfeitamente de acordo com ele. No seu género, o matutino é verdadeiramente imbatível. Mas não é apenas na África Austral, é em todo o mundo. É preciso dizê-lo! Aqui fica, pois, este nosso recado dirigido muito especialmente ao nosso antigo companheiro de oficio, com quem temos uma relação pessoal bastante cordial que, esperamos, não venha a ficar beliscada com este episódio, que, estamos certos, não lhe vai beneficiar muito em termos mais pessoais. Claramente, o embaixador saíu demasiado tremido nesta fotografia.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Jornal de Angola adopta o "jornalismo do cão"

O Jornal de Angola dedicou esta sexta-feira o seu editorial ao Conselho Nacional de Comunicação Social (CNCS) na sequência da recente deliberação daquele órgão que deu provimento a uma queixa que a UNITA apresentou contra o "nosso Pravda".
Do extenso arrazoado debitado pelo editorialista de serviço, retivémos esta pérola:
"A UNITA está permanentemente a dizer mal do Governo e das suas iniciativas. Isto é assim desde sempre. O repórter fez aquilo que todos os profissionais competentes sabem. Quando um cão morde um homem, isso não tem importância nenhuma. Mas quando um homem morde um cão já é notícia. O senhor presidente da UNITA reconheceu aspectos positivos na política económica do Governo e o nosso repórter viu nesse facto o homem que morde no cão. É tão simples como isso."
Assim, com este entendimento tão rasteiro do jornalismo, fica dificil descer mais na escala de valores que nos é proposta pelo matutino.
Assim e o que é mais estranho, o próprio JA entrega-nos de bandeja a sua própria razão de existir, como sendo o maior "puxa-saco" do regime.
Já imaginaram o JA a morder os calcanhares do Governo ou do Presidente nos seus editoriais?

Que modelo de gestão para a comunicação social pública?

Ponto prévio:Considerando a importância, a actualidade e a pertinência do debate proposto pelo Ismael Mateus no texto que publica este fim-de-semana no SA, com a devida vênia, retomamos aqui na íntegra o seu "Voto na Matéria". "O debate sobre os modelos de gestão das empresas públicas, sobretudo de rádio e televisão, não é novo nem em Angola nem noutros pontos do país. Aliás no nosso caso nem há debate sequer. Todos parecem sentir por um lado a necessidade de deixar a nova ministra trabalhar e, por outro, de deixar que rapidamente se chegue a decisões para acabar com a agonia – a lenta e desesperante agonia de milhares de trabalhadores que se queixam da falta de salários, da falta da autoridade e do clima de incerteza que se instalou nos órgãos públicos, sobretudo rádio e TV. Há muitos anos que a discussão sobre o modelo de gestão abarca a vertente administrativo-financeira e editorial. As diferentes experiencias mundiais procuram sempre responder a estas duas questões, ou seja conceber uma estrutura que ao mesmo tempo dirija os órgãos como empresas normais orientadas para a rentabilidade e para o lucro e atenda a especificidade jornalística. A BBC britânica assenta a sua credibilidade numa estrutura que começa num órgão chamado BBC Trust (12 conselheiros independentes nomeados pela Rainha sob proposta governamental) que por sua vez dá aval e analisa anualmente o desempenho do Executive Board. É este executive que por sua vez escolhe e avalia o trabalha de um conselho de administração composto por administradores executivos a partir da BBC e seis administradores não executivos do exterior. É presidido por um Director-Geral e do Director-Geral Adjunto. O director-geral é o executivo-chefe e editor-chefe da BBC e é nomeado pela BBC Trust. Os outros membros do Conselho são nomeados pelo Comité de Nomeações e pelo Executive Board, com funções não executivas que exigem aprovação da BBC Trust. Na Alemanha, a ARD e a ZDF integram 16 emissoras públicas de 12 estados e ambas são dirigidas por dois conselhos: o de Radiodifusão e o de Administração. Em Portugal a RTP tem um conselho de administração que indica os directores de programas e de informação e inclui um administrador para a esfera editorial. Antes esse mesmo conselho possuía ao invés de um administrador, um director coordenador nomeado por si. O ajuste decorre do facto do director coordenador passar a administrador. A ERC, Entidade Reguladora da Comunicação Social exerce um papel de vigilância quanto à autonomia editorial. Esta pequena viagem por diferentes modelos de gestão publica pretende apenas lembrar que, na verdade, não se trata apenas de uma gestão. Existe a gestão administrativa e financeira que deve ser exercida realmente por gestores profissionais e a gestão editoria que habitualmente se designa por autonomia editorial. A autonomia editorial é um espaço exclusivo dos jornalistas. A estrutura e o modelo que forem adoptados devem estar devidamente claros para que se evitem conflitos. Aparentemente, o modelo português deve ser seguido mas então convém clarificar desde logo as competências e as áreas de intervenção de cada um dos poderes, tendo em conta sobretudo a nossa angolana tendência para as interferências e demonstrações de poder. Se cabe ao conselho de administração gerir salários, orçamentos e recursos humanos, cabe aos jornalistas gerir os noticiários e programas. Nos exemplos citados existe uma pratica de separação de poderes e ainda assim nalguns países faz-se recurso a órgãos independentes como conselhos de curadores, de opinião ou até com a ERC em Portugal para avaliação do grau de isenção e autonomia editorial dos jornalistas. Com a nova constituição e com o actual discurso político estamos finalmente de acordo, pelo menos publicamente que os órgãos públicos devem funcionar com base na gestão democrática, plural e participativa, promovendo valores como a pluralidade e diversidades política, cultural e social, em especial os aspectos regional, de gênero, étnico-racial e de classe. É necessário também que eles promovam a formação crítica do indivíduo para o exercício da cidadania e da democracia e, ao nível individual, promovendo o talento, a criatividade, o saber e questões afins. Para isso, é preciso assegurar a autonomia editorial, salvaguardar e incentivar ao cumprimento da ética e deontologia jornalísticas. A gestão em si dos órgãos de comunicação social públicos por gente alheia ao sector deve ser elogiada. A questão não é serem ou não jornalistas que está em causa. Infelizmente, é necessário reconhecer que, longe de estabilizarem o sector, alguns dos nomeados nos últimos anos foram focos de instabilidade e desunião. Mesmo do ponto de vista ético e, nalguns casos surpreendentemente pela negativa, não foram exemplos de bom jornalismo nem de bóia administração. As empresas publicas necessitam de um saneamento total e cabe ao executivo incluir nos conselhos de administração gente com coragem e perfil para reduzir o pessoal, reduzir custos e até mesmo reduzir o peso estrutural das empresas. Não se pode no entanto perder de vista a questão da credibilizaçao dos órgãos do ponto de vista editorial. A nova constituição e o discurso político vigente empurra os órgãos para uma prestação mais isenta, mais responsável e mais jornalística. Menos propagandística e menos bajuladora. A reforma na gestão tem de atingir também as estruturas editoriais. Como em muitas áreas de actividade não se cometa o erro de procurar homens perfeitos para os lugares certos. Em cada órgão existem pessoas que podem preencher estas exigências de uma melhor gestão editorial. Não necessidade de recorrer a “paraquedistas”, sendo apenas necessária a criação de estrutura de regulação (provedores por exemplo) e opinião para que os editores, chefes de redacçao e directores de informação não tenham um poder desmesurado nem os conselhos de administração se permitam determinar regras nos programas e noticiários. Em tudo o resto, isso é matéria pacifica e o executivo deve avançar rápido e em força para os conselhos de administração, incluindo nas edições Novembro onde o lugar de director de cada um dos três títulos deve voltar a ter o seu peso meramente jornalístico e editorial e, obviamente, assegurado por jornalistas. O Conselho de administração deve actuar ao nível das Edições Novembro".

"TPA-Cigana" cede lugar a uma televisão mais profissional

"TPA-Cigana", porque nos útimos tempos andava de arraial em arraial, levando a tralha às costas, depois de ter sido "expulsa" dos seus estúdios não se sabe bem porquê.
Consta que era para rentabilizar os carros de exteriores que estavam alugados por uma empresa particular. Como é evidente não acreditei no mujimbú.
Como é que uma TPA não teria esse equipamento próprio?
O que é verdade é que o mujimbú corre por aí...
O que era facto é que TPA estava muito mal em matéria de cenários e espaços próprios para produzir, com a necessária qualidade, programas de televisão ao vivo.
Todos os "becos" lhe serviam para fazer programas em directo.
Não estamos aqui a aplaudir o novo visual dos dois talk-shows do Canal 1, o 10-12 e o Janela Aberta, pois tal renovação é inerente e é uma necessidade do próprio processo de produção televisivo. Não há pois nada de extraordinário nesta evolução.
Queremos, entretanto, destacar esta renovação que é positiva, com destaque para a participação do público no Janela Aberta, através de uma plateia de "figurantes" que podem questionar os convidados.
Os nossos votos vão no sentido da mudança de visual ser acompanha por uma mudança de conteúdos, o que passaria, nomeadamente, pelo alargamento e uma maior diversificação da base sócio-política (perfil) dos convidados e dos comentaristas.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

(Flashback/Dezembro 2008) Poligamia, Direitos Humanos, Igreja Católica e Celibato

A afirmação constante do “fac-simile” foi atribuída pelo “O País” ao Frei João Domingos, uma pessoa por quem temos a maior consideração e respeito. O Frei já é, por mérito próprio, uma das referências mais cintilantes da nossa sociedade civil, num país onde as reservas morais, sobretudo ao nível da sociedade mais politico-partidária, são verdadeiras aves raras. Não podemos, porém, estar de acordo com João Domingos, quando considera a poligamia (ter duas mulheres) como sendo uma violação dos direitos humanos. Negativo. Para além de outras considerações que se possam fazer em relação a esta problemática, diremos para já que cada caso é um caso, não sendo por si só a monogamia uma garantia suficiente de protecção dos direitos humanos da mulher nas uniões conjugais. Um número muito considerável de casos de violência doméstica acontece em uniões monogâmicas. A questão que, em contrapartida, se pode colocar tem a ver com a existência ou não de um outro tipo de violação quando, na vida de alguém, aparentemente, não há espaço para o sexo oposto, seja ele homem ou mulher. É, claramente, um recado que dirigimos à própria Igreja Católica com a melhor das intenções, embora seja uma óbvia crítica à sua doutrina e muito particularmente à uma praxis que a hierarquia tem cada vez mais dificuldades em gerir, sobretudo quando se sabe que os seus resultados menos positivos têm arrasado a própria imagem e a credibilidade da instituição. Estamos convencidos que a maior violação da lei de Deus é a própria prática do celibato, responsável pela maior parte dos escândalos sexuais (pedofilia e outras taras) que têm vindo a marcar, da pior forma, a vida intramuros das diferentes congregações e confrarias católicas. De facto, não ter nenhuma mulher ou nenhum homem, acaba por ser uma grave violação da própria natureza humana que a hierarquia católica vai ter de resolver mais tarde ou mais cedo. O movimento dos padres católicos casados fala bem desta urgência, que a mais alta hierarquia da Igreja continua a ignorar, ao mesmo tempo que fecha os olhos aos continuados e repetidos escândalos sexuais dos seus “funcionários” e das suas “funcionárias”. Já fechou mais.Fecha os olhos, mas depois é forçada a abrir os cordões à bolsa para pagar milionárias indemnizações às vítimas dos abusos sexuais praticados pelos seus "quadros", sendo o que se passa nos EUA, uma ilustração bastante dramática e paradigmática destes comportamentos desviantes. E o mais grave é que tais comportamentos vão manter-se, enquanto se mantiver esta violação da natureza humana, que reprime o desejo de uma forma nada sustentável e muito menos aconslhável. É quase o mesmo que tentar tapar o sol com a peneira.Em nome da mesma fé, recorde-se, a reforma de Martinho Lutero soube ultrapassar esta "crise" já lá vários séculos.Em nome dessa mesma fé, milhões de católicos foram libertados por Lutero de uma "lei da rolha" que um Papá qualquer introduziu na Igreja no século V (?) em nome sabe-se lá do quê.Os que seguiram Lutero são conhecidos hoje pela designação geral de protestantes. Eu faço parte desta "tradição", que chegou a Angola na bagagem dos missionários metodistas norte-americanos. Publicada por Wilson Dadá em 06:43 1 comentários Hiperligações para esta mensagem

terça-feira, 11 de maio de 2010

O grande equívoco do Manaças [2](revisto)

A independência do jornalismo (é preciso que nos entendamos a este respeito) não choca com o facto das empresas jornalísticas serem propriedade do Estado ou do capital privado. Ou seja, o facto de uma empresa ser privada não garante de per si a independência do jornalismo, enquanto "quarto poder", estatuto que decorre de um direito fundamental chamado LIBERDADE DE IMPRENSA, ao abrigo do qual está proibida a censura e consequentemente a auto-censura. Temos entre nós o caso do Novo Jornal que espelha bem a existência de um conflito entre os proprietários da New Média (NM) e a redacção daquele semanário, por razões que têm a ver a com a estratégia editorial que tem vindo a ser seguida. Por outras palavras, os accionistas privados da NM não gostam da forma "demasiado independente" como a dupla VS/GC tem estado a conduzir editorialmente o jornal, por isso resolveram "agir", numa altura em que ainda não se sabe muito bem como é que vai terminar a história. Por outro lado, uma empresa tutelada pelo Estado não é por si só uma ameaça à independência do jornalismo, sendo a BBC um exemplo deste relacionamento com muitos conflitos à mistura entre o poder político e os jornalistas que trabalham naquele conglomerado público. Em qualquer situação, com maior ou menor pressão do proprietário, seja ele público ou privado, é sempre possível e recomendável que os jornalistas demarquem (na medida do possível) o seu território, assumam uma postura independente, enquanto profissionais, mesmo que isso lhes possa custar alguns amargos de boca. É esta luta permanente que tem vindo a contribuir para a independência e o respeito do jornalismo com todos os altos e baixos que se conhecem. Tal como acontece noutros domínios da transição democrática em Angola, também aqui estamos diante de um processo em marcha, com avanços e recuos em função da conjuntura, não havendo ainda uma situação marcada pela chamada velocidade de cruzeiro. As turbulências continuam a ser mais do que muitas, afectando a estabilidade de um voo demasiado estratégico para os interesses politico-partidários de quem nos governa há cerca de 35 anos. A independência não é, pois, um "mito" e muito menos um "fantasma" que nos deve assustar. É um ideal, é um principio, é uma disponibilidade mental, é uma realidade com todas as limitações que as diferentes conjunturas (nacionais/empresariais) lhe possam colocar em termos de desempenho. Não é por conseguinte aceitável que o meu amigo Manaças reduza a problemática da independência no jornalismo a uma simples questão de diferença de linhas editoriais, procurando assim evitar o debate concreto que, no caso do seu diário, aponta, nomeadamente, para a existência de uma postura editorial que não respeita alguns principios estruturantes da produção jornalística. Segundo a académica brasileira Rosa Nívea Pedroso,"o ideal do jornalismo responsável e de qualidade impõe ao jornalista o exercício diário do desafio da separação para suportar o Outro, o diferente". Separação, quanto a nós, das águas que mais gostamos, mas que não nos deviam influenciar na apreciação do Outro, que por vezes até podemos detestar no âmbito das nossas opções mais pessoais. Por já ter sido militante (já lá vão mais de 35 anos), eu sei que não é fácil fazer esta separação, particularmente para aqueles que pertencem aos comités de especialidade e que fazem da agitação e propaganda a sua cartilha. Mais do que as proclamações editoriais de se caminhar por aqui ou por ali ou de se defender este ou aquele modelo comunicacional, são os principios estruturantes que acabam por constituir a essência da própria independência do jornalismo e dos jornalistas que, antes de assumirem qualquer posição, quando tal fôr estritamente necessário, devem procurar, sobretudo, informar com a necessária objectividade e distanciamento crítico dos factos/fontes em apreciação. Tal só será possível se, por exemplo, num conflito, seja ele político ou empresarial, todas as partes envolvidas forem ouvidas e a suas opiniões devidamente valorizadas na matéria final. É o que o "nosso Pravda" por vezes se "esquece" de fazer, para além de outros "esquecimentos" que são mais do que muitos... A independência no jornalismo tem pois mais a ver com com a postutra ético/deontológica do profissional, do que com as tais proclamações editoriais ou com a tutela (propriedade) do órgão para quem ele esteja a trabalhar. Continuo assim a pensar que é de todo aconselhável que o jornalismo e os jornalistas sejam independentes. Como a própria liberdade, também a independência tem os seus limites. Nos dois casos, o problema é saber quem é que (e como) estabelece os tais limites.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Um portal com pouca utilidade

Penso que é chegada a altura do Governo, através do seu portal na Net, começar a disponibilizar em PDF toda a sua produção legislativa.
De facto tem muito pouca utilidade para quem já sabe que o Governo aprovou este ou aquele diploma, consultar o Portal e voltar a ler a mesma informação que já nos tinha sido fornecida no dia anterior pela "fiel" Angop.
Um portal do Governo em tempos de transparência tem de fornecer mais qualquer coisa, para além do simples noticiário.
A publicação das leis na Internet, a par de outra documentação oficial, já começa a ser uma prática corrente dos governos democráticos em todo o mundo, em nome da própria liberdade de informação, do direito ao saber.
Aqui fica pois esta sugestão dirigida ao Executivo angolano.
A concretizar-se, a mesma em muito iria facilitar a vida dos jornalistas e contribuir para o melhoramento da qualidade da nossa informação.
Acreditem que é verdade!

O grande equívoco do meu amigo Manaças

O grande equívoco do Manaças, jornalista que eu conheço há muitos anos e a quem dedico particular estima, reside no facto dele confundir o conceito Estado com o Governo.
Alguém sintetizou e muito bem o conceito Estado como sendo "um Governo, um povo, um território".
De facto o Governo, entendido como Executivo/Administração, faz parte do Estado, mas não o esgota, pois o conceito que é muito mais abrangente e inclusivo, tem a ver com outros elementos em que se subdividem os três pilares.
O povo está representado nos estados democráticos pelo Parlamento, onde reside a soberania máxima do Estado. Os parlamentos são mulitpartidários.
O que nós queremos, nós os que criticamos a actual governamentalização/partidarização da comunicação social "pública" é que ela assuma a dimensão do Estado na sua plenitude e deixe de funcionar apenas como mais uma correia de transmissão do Governo que é dirigido por um partido que tem, naturalmente, um estratégia de conservação do poder.
No domínio da comunicação social, a iniciativa empresarial do Estado, de acordo com a nossa própria constituição (recentemente aprovada) tem como grande objectivo "o asseguramento da existência e o funcionamento independente e qualitativamente competitivo de um serviço público de rádio e televisão".
Aqui chegados, é fácil concluir que a linha editorial de um meio de comunicação social estatal não pode excluir dos seus parâmetros, por exemplo, o pluralismo e o contraditório, duas referências que tardam em ser assumidas como estruturantes do jornalismo que é praticado nos "MDMs".
A diferença das linhas editoriais não pode contrariar o que é fundamental na própria constituição em matéria de direitos, liberdades e garantias, o que é igualmemente extensivo à comunicação social privada.
É a nossa Constituição que defende a independência do jornalismo e dos jornalistas como sendo a única forma da comunicação social assumir integralmente as suas responsabilidades e estar a altura dos desafios que o país coloca a cada um de nós.
A independência não é nenhum "mito", é uma necessidade intrínseca, sem a qual o jornalismo dificilmente conseguirá fazer a diferença com a suas "primas", a propaganda e o marketing, que é o que está a acontecer entre nós.
O grande interesse da comunicação social paga pelos contribuintes (a que devia ser pública) só pode ser um e quanto a nós tem a ver com a consolidação do próprio projecto democrático, que no caso de Angola continua em fase de (difícil) construção.
Continuo a acreditar (até ver) na grande utilidade do Estado investir na comunicação social, desde que ela seja pública e não governamentalizada/partidarizada que (ainda) é o caso da nossa.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

A crítica foi inventada para ser usada

Todos parecemos estar de acordo em relação ao papel positivo e necessário da crítica no desenvolvimento de qualquer sociedade. Entenda-se aqui a crítica como sendo um julgamento sustentado sobre qualquer matéria ou assunto. Por outras palavras, já faz parte dos lugares-comuns do discurso quotidiano ouvir dizer que uma sociedade onde a crítica não está disponível por diferentes razões, tem desde logo o seu desenvolvimento integral comprometido ou seriamente ameaçado. Claramente é uma sociedade que dificilmente poderá competir com uma congénere, onde a crítica funciona normalmente, com todas as suas consequências positivas e negativas. Como se sabe, o chamado criticismo também pode não ser a melhor solução para se resolverem os problemas. O nosso acordo termina, entretanto, imediatamente quando o alvo da crítica passamos a ser nós, se a mesma não nos agradar por algum motivo. Aí a crítica deixa de possuir as grandes virtualidades que teoricamente lhe reconhecemos, para passar a ser um ataque, uma campanha, uma conspiração, um atentado, uma calúnia, uma injuria, uma difamação. Sendo (ainda) normal esta reacção na nossa sociedade, não podemos aplaudir e muito menos encorajar todos aqueles que estão do lado deste tipo de intolerância, reconhecendo-lhes embora o pleno direito de assim ajuízarem determinada crítica, no âmbito da própria liberdade de expressão, se não houver outras consequências, para além do sempre recomendável e estimulante debate de ideias/opiniões, de preferência no espaço público. Por exemplo, a literatura, o cinema e a televisão são actividades que provocam naturalmente a crítica de quem os consome, por razões demasiado óbvias. São "mercadorias" que atingem a nossa sensibilidade, são "produtos" que jogam com os valores mais estruturantes da nossa personalidade. As pessoas ou gostam ou não gostam. Reagem de forma favorável ou negativa. Aclamam ou protestam. Mas também podem ser indiferentes. Umas manifestam-se em público, como é o nosso caso e de muitas outras pessoas que fazem parte da denominada opinião publicada, que é tão livre como a outra que não se publica. Outras ficam-se por conversas mais privadas, mas não deixam de fazer circular a sua opinião. Sendo tais "produtos" consumidos no espaço público, do qual dependem em termos de sobrevivência, não há nada que impeça que esta crítica se processe de forma quase espontânea, a não ser que o referido espaço esteja a ser gerido por algum poder ditatorial. Aí as regras alteram-se profundamente. Felizmente que Angola há muito deixou de viver este pesadelo não havendo da parte dos angolanos, pelo que julgo saber, nenhuma intenção de regressar aos anos de chumbo e das cadeias cheias com delitos de opinião. Quem quer vender, e no seu próprio interesse, tem que saber se o consumidor está a gostar ou não do produto, antes de mais para manter a sua actividade em velocidade de cruzeiro, evitando derrapagens desnecessárias e corrigindo sempre que necessário a trajectória do voo. Quando não for possível esta correcção de imediato, o que daqui se recomenda é o estabelecimento de uma ponte com o público, antecipando os esclarecimentos ou as justificações que se imponham. Ignorar a realidade ou fazer o filme da avestruz é que não nos parece que seja muito aconselhável. Não conseguimos por isso entender que quem esteja a operar no espaço público, por exemplo com um projecto televisivo, não esteja preparado para encaixar uma crítica e veja de imediato nela um ataque com propósitos inconfessos ou menos transparentes. Fica muito difícil perceber esta lógica a caminho dos 35 anos da nossa dipanda, 18 dos quais já passados em regime democrático.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Uma aposta séria na independência editorial

Oito anos depois, “A Capital” está aí bem “vivinha da silva” e ao que tudo indica disposta e com forças suficientes (que é o mais importante) para enfrentar a nova etapa da concorrência que, a este nível, devia ser balizada pelo próprio Estado. É ponto assente que até agora o Governo não tem sabido (ou não tem querido?) assumir as suas responsabilidades constitucionais, com o propósito de impedir o monopólio/oligopólio que no horizonte já começa a ameaçar o mercado da liberdade de imprensa com os seus asfixiantes tentáculos. Esta etapa, note-se, está a ser “imposta” ao mercado dos jornais e das revistas, pela entrada em cena e com alguma força, do capital privado, que, ao que parece, nem sempre é tão privado assim, pelo menos na sua origem, o que tem estado a alimentar algumas sérias e legítimas dúvidas quanto às suas reais motivações estratégicas. Com o risco de estar a incorrer em alguma imprecisão histórica, diria que, tendo como limite o espaço da segunda República (1992-2008), “A Capital” foi o último dos companheiros da primeira etapa da trajectória da imprensa privada (iniciada em 95 com o Folha-8), a surgir nas bancas como um projecto editorial independente tutelado apenas por jornalistas. Foi assim que começou a imprensa privada angolana. Admito que depois de “A Capital” terão surgido mais alguns títulos que poderiam ser incluídos nessa primeira etapa dos semanários luandenses, mas como não conheço muito bem os seus proprietários, fico-me por aqui nesta separação de águas. Etapa sem dúvida decisiva, que teve o grande mérito histórico de desbravar em Angola um caminho inóspito e bastante hostil, rumo à pouca liberdade de imprensa (para além do discurso oficial) que hoje possuímos, mas da qual já não abdicamos. Nem nós, enquanto jornalistas, nem o próprio país no seu conjunto, cuja lenta e contraditória democratização em muito tem estado dependente dessa liberdade fundamental. Já é difícil imaginar Angola sem liberdade de imprensa. Sendo o “caçula” do grupo, “A Capital” desde logo deu mostras que queria fazer alguma diferença temática e mesmo qualitativa com a oferta que já existia, tendo a sua aposta sido concentrada nas questões sociais de Luanda, com destaque para a criminalidade, onde o semanário dirigido pelo “puto” Tandala mantém uma liderança que todos lhe reconhecem. De facto “A Capital” destacou-se pela informação e mesmo por alguma investigação jornalística digna desse nome, que tem vindo a produzir em relação às ocorrências criminais que se verificam na nossa sociedade. Tendo em conta o peso crescente da criminalidade em Angola, com destaque para o chamado crime de colarinho branco, achamos que é aí que “A Capital” deve continuar a concentrar as atenções do seu jornalismo investigativo com a dinâmica e a profundidade que este género mais específico exige de quem o cultiva. Pelos montantes envolvidos e pelas graves e dramáticas consequências sociais de tais desvios, a corrupção de alto nível (esqueçam a do polícia) é neste momento um dos maiores crimes que tem lugar num país onde as cadeias estão apenas cheias com pilha-galinhas. Como seria de esperar, “A Capital” não conseguiu resistir ao apelo da política pura e dura, nem seria aconselhável que o fizesse, considerando a sua importância nos destinos da vida de qualquer país e muito em particular de um país real chamado Angola, onde até o sonho dos músicos já é ser político. “A Capital” conseguiu ser assim uma das tribunas da nossa imprensa mais livres e abertas ao debate político contraditório, quer através dos seus renomados colunistas residentes (mas não só), quer pelo próprio acompanhamento jornalístico que tem feito da vida nacional, nomeadamente, do percurso dos partidos, das instituições oficiais e dos titulares de cargos políticos e públicos. Oito anos depois, “A Capital” mantém-se fiel ao espírito do jornalismo independente e irreverente com que veio ao mundo angolano, que acaba por ser o seu grande capital que é o capital da credibilidade e da frontalidade. No actual universo da imprensa angolana, os concorrentes menos equipados do ponto de vista financeiro, que, grosso modo, são os da primeira hora, só têm para já, como vantagem concorrencial, esse imenso capital editorial. Parece muito pouco para fazerem frente aos novos gigantes, mas é tudo quanto o jornalismo tem para oferecer a uma sociedade que acredita na liberdade de imprensa. Neste 8º aniversário de “A Capital” para além dos parabéns, gostaríamos de desejar ao Tandala e aos seus “muchachos” todas as energias deste mundo para continuarem por aí bem firmes e com a bandeira da liberdade de imprensa bem içada no mastro das vossas ambições. Eu sei que não tem sido fácil, mas vale a pena continuar por este trilho. (Este texto foi-me solicitado e publicado este fim-de-semana pelo semanário "A Capital")