quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Mentes Famosas

1- Leonardo da Vinci
MENTE EXCEPCIONAL
2- Galileu Galileili
MENTE EXTRAORDINÁRIA
3- Isac Newton
MENTE BRILHANTE
4-Albert Einstein
MENTE GENIAL
5- José Sócrates
MENTE MUITO

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Descoberta "mina" angolana em território português (versão actualizada com debate)

A "mina" chama-se tratar de um visto para entrar em Angola, com base na "lei da gasosa", que ao que parece é o novo produto de exportação da economia angolana.
Na matéria que dedicou ao assunto o "Angolense" refere que o “negócio” em causa é antes mais produto do aumento exponencial do interesse de Angola como destino para um número crescente de portugueses (mas não só) que procuram no mercado angolano uma solução para os seus problemas sociais ou uma resposta aliciante para as suas expectativas mais empresariais.Esta procura parece traduzir, por outro lado, a situação de crise (recessão económica) que se vive em Portugal, nomeadamente, com as falências e o consequente aumento do desemprego, a aconselhar os portugueses a procurarem além-mar perspectivas mais animadoras para o seu futuro.O “negócio” chama-se obtenção de um visto para entrar em Angola, numa altura em que são cada vez mais notórias as bichas que se formam no Consulado de Angola em Lisboa. Ao que garantem as fontes do Angolense na capital portuguesa, a única solução para conseguir entrar no Consulado angolano é pernoitar nas suas imediações de modo a integrar a bicha das primeiras 50 pessoas que é o número máximo de solicitantes que são atendidos por dia.
O "Novo Jornal", o outro semanário luandense que se referiu a este assunto, revelou que o Consulado Geral de Angola em Lisboa vai ser alvo de uma inspecção devido às denuncias de o seu funcionamento estar a macular a imagem do país, nomeadamente com as dificuldades para atribuição de vistos de entrada e outros documentos.
O "Novo Jornal" destaca que entre os cidadãos portugueses que pretendem visitar Angola e têm maiores dificuldades, encontram-se os jornalistas, que muitas vezes vêem os seus pedidos pura e simplesmente recusados sem qualquer razão plausível e depois de mais de um mês de espera.
Debate ELCAlmeida disse... Meu caroEsta matéria foi confirmada ao Diário de Notícias pela Cônsul em Lisboa numa peça que aquele matutino publicou há cerca de 2 semanas.O problema - sê-lo-á? -, de acordo com a Cônsul é que as "vendas" são feitas fora da área do Consulado e sem que este possa fazer nada.O "sê-lo-á" de dúvida, é que se o assunto está fora do "chapéu" do Consulado não estará fora das autoridades portuguesas.AbraçosEugénio Almeida 29 de Janeiro de 2009 7:22
henrique mota disse... Já por três vezes utilizei os serviços consulares para a obtenção de visto para viajar para a república de Angola. Nunca verifiquei as anomalias de que fazem referência. O que notei, da meia duzia de vezes que lá foi, foi o facto de haver alguns indivíduos europeus que habitualmente vão muito cedo para as filas de espera, e que são uma expécie de profissionais do sistema, ou seja, encarregam-se de encaminhar os interessados em obter vistos, a troco certamente de outras compensações. Os funcionários do consulado têm uma postura que nada fica a dever a quem cumpre o seu lugar, com dignidade. Saudações - H.M. 31 de Janeiro de 2009 10:30
ELCAlmeida disse... Talvez que o companheiro (deveria dizer camarada, mas como não sou do PCP...) Henrique Mota, apesar de, penso, ainda ter a sua papelaria, não tenha conseguido ler a entrevista da Cônsul onde é ela própria que se refere aos 500 euros pagos por uma "vaga" no consulado.Meu caro, quando fizeres este tipo de desmentidos, pertinentes quando devidamente temporizados, deves referir a que período te referes sobre o mesmo.Sabes bem que até há pouco isto não acontecia e só começou quando a^Cônsul começou a tirar certas prorrogativas a certas pessoas que vegetavam no Consulado.AbraçosEA 31 de Janeiro de 2009 12:53
proi. dioni - Brasil disse... Se entende bem o que esta ocorrendo é uma seleção de pessoas de Portugal para entrar em Angola.Eu acho isto muito valido pois nós que somos brasileiro sofremos para entrar em Portugal e passamos as vezes por humilhações como se fossemos verdadeiros bandidos.Tenho conhecimento de pessoas que ficam em filas ( bichas) dias para conseguir um visto no consulado ou na embaixada em Brasília e quando chegam em Portugal são mautratadas e mesmo pasmem deportadas do aeroporto.Creio que deveria haver entre Portugal e nós que fomos suas colonias uma maior integração quanto a entrada nós respectivos territórios. Nossos documentos de identidade deveriam pertencer a um unico banco de dados interligados entre os ministérios das Justiças de todos os paises de lingua portuguesa e com isto se evitaria humilhações e decepções de parte a parte. 1 de Fevereiro de 2009 9:56

domingo, 25 de janeiro de 2009

Ultrapassada a fasquia dos 5 mil visitantes

Aconteceu por aqui, por este www.morrodamaianga.blogspot.com, desde Junho de 2008, altura em que abrimos mais esta "frente comunicacional", num suporte (internet) em que, localmente, teremos sido pioneiros, quando ainda não se falava dos blogs, dos bloguistas e do bloguismo, com o nosso www.netangola.com/p/pages/flashback.
Muito obrigado a todos quantos, com maior ou menor regularidade, nos têm honrado com o prazer e a importância da sua visita.

Barack Obama é o novo homem forte do mundo

Terça-feira (20/1) o mundo parou para ver e ouvir Barack Obama. Ver Barack a ser empossado como 44º Presidente do EUA, ouvir Obama a dizer-nos como vai governar a maior potência do planeta, o que desde já o coloca na condição do novo homem mais forte do mundo. “Continuamos a ser o país mais próspero e poderoso à face da Terra”- reiterou Obama. Trata-se de uma condição que actualmente já é mais aparente do que real, sobretudo depois do 11 de Setembro, constatação que o próprio Barack incorporou no seu discurso e transformou numa das pedras de toque da sua nova estratégia internacional. Os Estados Unidos não podem continuar a relacionar-se com o mundo conforme lhes dá na real gana e em função dos azeites de quem se encontra a morar na Casa Branca. A simbólica e corajosa sapatada que marcou a despedida de George Bush fala bem da saturação do mundo em relação às movimentações globais dos EUA, particularmente nos últimos oito anos. “Só o nosso poder não basta para proteger-nos, nem nos dá o direito de fazermos o que nos apetece”- reconheceu Obama numa das mais profundas auto-críticas assumidas por um estadista que já tivemos a oportunidade de registar nos anais da história contemporânea. E aqui não estamos a falar de um estadista qualquer… Sem ter feito propriamente um discurso pacifista, Barack Obama não ameaçou ninguém, embora tenha deixado alguns avisos à navegação dos principais inimigos/adversários do seu país. Também não poderia ser de outra forma no actual contexto. Os poucos avisos feitos acabaram, entretanto, por ser “afogados” pela maré de apelos ao diálogo e à cooperação lançados por Obama em todas as direcções, incluindo na dos inimigos mais declarados pela anterior administração com o seu famigerado “eixo do mal”. De facto há muito que não ouvíamos de um inclino da Casa Branca palavras tão reconciliadoras, tão amáveis e tão simpáticas como foram aquelas que Barack Obama pronunciou esta semana a alimentar efectivamente muitas e positivas expectativas em relação ao que será a “realpolitik” externa do 44º Presidente dos EUA. Sabemos todos que Obama, mesmo que quisesse, não poderia fazer nenhuma revolução nos EUA. E ao que sabemos Obama não quer (para já) fazer nenhuma ruptura mais acentuada com os valores mais enraizados no topo da sociedade norte-americana, porque sabe que muito dificilmente sobreviveria a ela. Os seus inimigos internos estão a espera da primeira oportunidade para lhe saltarem em cima. Terá sido para os acalmar e para se proteger politicamente que Obama fez o aviso mais duro do seu discurso quando afirmou: “Não pediremos desculpas pela nossa forma de viver, nem recuaremos na sua defesa e para aqueles que procuram avançar os seus objectivos provocando terror e matando inocentes, dizemos que agora a nossa coragem é mais forte e não pode ser quebrada, não podem sobreviver-nos e nós derrotá-los-emos”. Obama, antes de mais, quer “provar” que é tão ou mais americano como todos aqueles que não acreditam na sua autenticidade, na sua genuinidade, na sua americanidade e que acham que eles é que são os verdadeiros americanos, sendo todos os outros, pessoas a abater, a perseguir ou a expulsar. Os “genuínos” de lá são iguais aos de cá e de acolá, preocupados apenas em ver na cor da pele e no tamanho da nariz (raça) as únicas impressões digitais válidas para definir e condicionar, visando no fundo apenas a exclusão da diferença. Obama quer “provar”, se é que ainda precisa de provar alguma coisa que a América já não é mais propriedade exclusiva dos descendentes directos de Bufallo Bill e dos conquistadores do “wild west”. Aliás, os grandes responsáveis pelo quase extermínio dos únicos americanos que poderiam ser considerados realmente genuínos e autóctones, porque todos os outros com a excepção dos negros, foram de facto e de jure invasores da América e violadores dos direitos dos ameríndios. Como se sabe, os negros foram os únicos americanos (não genuínos) que nunca o desejaram ser, pois foram retirados de África à força para serem metidos em infames navios negreiros rumo às plantações de algodão do sul da América. Obama também não é descendente destes africanos. Obama não tem o estigma das grilhetas, nem o peso da humilhação e muito menos o complexo da escravidão, por isso também nem sempre é bem visto por alguns sectores mais radicais da chamada comunidade afro-americana. O seu pai (já falecido) chegou a América há pouco mais de meio século, como um cidadão negro, africano, livre e culto. Casou com uma branca e fez um mestiço que hoje é o Presidente dos EUA. É, claramente, uma história que só é possível acontecer na América. Foi certamente a pensar no seu progenitor, que ele mal conheceu, que Obama se recordou de África na única referência indirecta que fez ao nosso continente no “discurso da inauguração”. “A todos os outros povos e governos que nos estão a ver hoje, das maiores capitais à pequena aldeia em que o meu pai nasceu, fiquem a saber que a América é amiga de cada país, cada homem, mulher e criança que procura um futuro de paz e dignidade e estamos prontos a liderar mais uma vez.” Foi muito pouco, foi mesmo decepcionante para quem esperava que ele dedicasse um pouco mais de atenção às suas origens, falando de um continente que continua muito ausente das agendas mundiais, onde só aparece na sequência de mais um sangrento conflito pós-eleitoral ou de um golpe de estado. Seja como for, foi uma referência bastante positiva e cheia de esperança no âmbito da mudança de um discurso, de uma orientação e de uma praxis (a ver vamos) que quer fazer com que a América não mais se afaste do mundo para caminhar com ele, solidária com as causas mais nobres da Humanidade. “O mundo mudou e nós devemos mudar também”- apontou Obama. A forma respeitosa e inclusiva (olhos nos olhos, de igual para igual) como ele se dirigiu a esse mesmo mundo na sua diversidade étnica, religiosa, política e social, um mundo que afinal de contas começa dentro da sua grande América, foi para nós o grande momento da sua retórica, o grande momento do reencontro que a América de Obama quer celebrar com todos os não-americanos de nacionalidade, que afinal somos todos nós. Nós que continuamos a ter na América uma grande referência para o bem e para o mal. Nós que gostaríamos de acreditar que Barack Obama vai fazer a diferença pela positiva. “Sabemos que a nossa herança de retalhos é uma força e não uma fraqueza. Somos uma nação de cristãos e muçulmanos, judeus e hindus e descrentes. Somos moldados por todas as línguas e culturas de todos os cantos da Terra e, porque provámos o gosto amargo da guerra civil e da segregação e emergimos desse capítulo negro mais fortes e mais unidos, temos que acreditar que os ódios antigos um dia acabam, que as linhas da tribo em breve desaparecem, que à medida que o mundo fica mais pequeno a nossa bondade comum se revela e que a América deve desempenhar o seu papel anunciando uma nova era de paz”.

Michelle ao lado de Obama-Para o ajudar a ser um grande homem

A Primeira-Dama dos Estados Unidos da América com o seu metro e oitenta é para já, fisicamente, uma mulher grande, pelo menos em Angola. No seu país também não é, de certeza, uma mulher pequena. Sem ser uma mulher que se destaca pela sua beleza, Michelle tem boa pinta, faz um bom conjunto, fica bem na fotografia. É o que é mais importante para não destoar do marido, que é, claramente, um “rapaz” muito bem-parecido no seu género. Não a conhecemos, mas desde logo não temos muitas dúvidas em admitir que ela também poderá vir a ser uma grande mulher ao lado e não atrás do grande homem que Barack Obama está condenado a ser, se for para diante (ou se lhe deixarem ir) com todas as suas promessas de mudança da degradada face interna e externa da América. De Michelle e depois da sua primeira prestação protocolar oficial, como Primeira-Dama dos EUA, já ouvimos cobras e lagartos, com os autores das diatribes, dos reparos e dos assobios preocupados apenas com a cor e o feitio dos dois ou três vestidos que ela usou no “dia da inauguração” do esposo. Pouco mais foi dito desta advogada brilhante que já foi tutora do estágio do marido quando o licenciado Barack começou a trabalhar em Chicago como causídico. Michelle Obama tem todas as condições pessoais (formação e cultura) para vir a ser uma Primeira-Dama modelo que inspire as suas homólogas por este mundo afora, sobretudo em África. Sinceramente, o que desejamos é que Michelle Obama não perca muito do seu tempo útil com as coisas mais mundanas da vida de qualquer sociedade, como as passagens de modelos, os concursos de misses, as festas, os shows, os lançamentos de produtos de beleza e as corridas de automóveis. O que desejamos é que Michelle seja útil (na medida do possível) aos norte-americanos que ainda necessitam de ajuda e protecção do estado, por razões várias, que ainda são mais do que muitas. O que desejamos é que Michelle abrace a causa da própria mulher negra norte-americana confrontada com constrangimentos vários numa sociedade demasiado estratificada onde a violência, a pobreza, o alcoolismo e a droga casam muito mais vezes no seio dos afro-americanos do que noutras comunidades. O que desejamos é que Michelle, ajude Obama a ser um grande homem da nossa época, sem ela deixar de ser uma grande mulher, uma mãe atenciosa e carinhosa e uma boa filha. Com o nome de uma das mais famosas e bonitas músicas dos lendários Beatles, Michelle parece estar com tudo para dar certo nas suas novas funções, se seguir os nossos conselhos.

Hillary pode vir a ser a primeira enxaqueca de Barack

Receio bem que a primeira crise do Gabinete de Obama venha a ser protagonizado por Hillary Clinton. Aliás, sempre achei que Obama tinha ido demasiado longe mais, em matéria de risco político, ao convidar Hillary para o seu governo, mesmo reconhecendo a nobreza e abrangência do seu gesto reconciliador. Nos Estados Unidos ser do mesmo partido já não significa ser cúmplice ou seguidor. No sistema bi-partidário norte-americano, onde não há qualquer disciplina de voto, a camisola política cada vez significa menos em matéria de solidariedades internas. Os adversários encontram-se em todo o lado. Dentro e fora do mesmo partido. Os amigos também. Hillary aceitou ser membro do Governo de Obama, mas de certeza que não aceitou deixar de se chamar Hillary Rohdman Clinton, uma kota que já conta com mais de 60 anos e que já foi duas vezes Primeira-Dama dos EUA e ao que parece ainda não desistiu de se voltar a candidatar. Não sei qual foi o acordo estabelecido entre os dois antigos e ferozes adversários, partindo do princípio que este acordo exista. Sei, contudo, que Hillary não vai ser uma subordinada normal, num governo normal. Não sei mesmo se ela aceitou ser subordinada conforme mandam as normas de qualquer hierarquia. O seu discurso feito no Senado, aquando da confirmação da sua nomeação, não aponta exactamente nessa direcção. “Eu e o Presidente Obama pensamos assim. Eu e o Presidente Obama achamos que não deve ser assim”. Foram mais ou menos estes os termos que ela utilizou diante da Comissão que fez a avaliação da sua estratégia, deixando claramente entender que vai manter uma postura vertical no relacionamento com Obama. De igual para igual. Por tudo isto e por muito mais, acho que a primeira “maka” interna da administração Obama se vai chamar Hillary. Gostaria de estar redondamente enganado. Se assim acontecer só tenho que me felicitar por ter feito uma previsão errada. Gostaria de prever efectivamente uma gestão interna mais tranquila para Barack Obama, pois já lhe bastam os grandes problemas que vai ter de resolver dentro e fora da América.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Premonições:Obama igual a Gorbatchev?

Os norte-americanos poderão não achar muita graça a esta comparação, considerando que Mikahil Gorbatchev é acusado (com alguma justiça) de ter sido o grande responsável pelo fim do comunismo e do império soviético. Alguns comunistas, como o já falecido Álvaro Cunhal, até hoje estão convencidos que ele estava mancomunado com a CIA. Se a comparação fizer algum sentido, o que salvaguardadas as devidas distâncias até faz bastante, teremos agora Barack Obama a iniciar o mesmo processo nos EUA, numa altura em que a KGB há muito que já desapareceu do mapa da geopolítica mundial. O que é facto, é que todos (menos os interessados) parecem concordar com a necessidade de colocar uma mão de ferro nos patifes de Wall Street. Não será este assalto (controlo) o fim do próprio capitalismo liberal conforme ele foi concebido e tem vindo a ser gerido nas últimas décadas? O que é facto também, é que Obama questionou esta semana, frontalmente, a consistência do actual modelo capitalista. “A questão que nos é colocada não é se o mercado é uma força para o bem ou para o mal. O seu poder de gerar riqueza e aumentar a liberdade é ímpar, mas esta crise veio lembrar-nos que, sem um olhar atento, o mercado pode descontrolar-se, que um país não pode prosperar durante muito tempo quando só favorece os ricos. O sucesso da nossa economia nunca dependeu apenas da dimensão do nosso Produto Interno Bruto, mas do alcance da nossa prosperidade, da habilidade de estendermos a oportunidade a todos os que a desejarem, não por caridade mas porque é a via mais segura para o nosso bem comum”. Oh Barack, isto não te cheira a socialismo?

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Começou uma nova "guerra" em Angola?

Holden Oyé!

Honrar e prestigiar as nossas referências históricas, mesmo por parte dos seus companheiros de percurso já não deve significar venerar ou passar ao lado das suas “partes mais gagas” que qualquer político em África (mas não só) acaba por ter sempre no seu CV. Em política a veneração, não confundir com respeito, transforma-se rapidamente em culto da personalidade, o que não é desejável nem recomendável e tem os custos que todos conhecemos, sobretudo quando os venerados ainda estão em vida. Quando passam à história, a veneração transforma-se em lenda ou em mito e não ajuda em nada na homenagem que pretendemos fazer pois acabamos por separar o homem de carne e osso do contexto real em que ele operou no passado que já é muito distante. Com frontalidade e coragem, o que é preciso é fazer compreender as novas gerações que os valores de hoje têm pouco a ver com os valores do passado, quando a ideologia é que comandava os destinos das organizações e das causas. É preciso saber contextualizar, mas é necessário evitar a tentação estalinista de apagar os adversários ou as vítimas da fotografia. É preferível sairmos todos tremidos na mesma fotografia. Sou um crítico assumido dos pais da nossa independência por razões objectivas que têm a ver com seu legado, mas não deixo de valorizar a sua saga e de destacar a sua importância. Acho que não seria possível no contexto da época fazer as coisas de outra maneira, mas também estou convencido que na altura já havia muitas pessoas que não concordavam com determinados procedimentos e estratégias e por isso foram ostracizadas, quando não lhes aconteceu o pior em matéria de saúde mais física. O movimento de libertação e o pós-independência estão recheados de casos muito complicados (negativos) relacionados com o respeito pela diferença e a salvaguarda dos direitos humanos que falam bem da musculada intervenção das diferentes lideranças angolanas. É chegada a altura de reabilitarmos e homenagearmos todos aqueles que colocaram pedras nos alicerces desta Angola, independentemente do bom ou do mau relacionamento que, a certa altura dos seus percursos, tiveram com os "timoneiros". Para tal teremos necessariamente que estar de acordo com algumas evidências, sendo uma delas, por sinal a principal e a mais dramática, aquela que tem a ver com a ausência do espirito e da pratica democrática no seio das três grandes formações políticas angolanas que estiveram na origem da independência e que depois mergulharam o país num banho de sangue fratricida. Holden Roberto teve o mérito de ter sido o primeiro a desistir e a depôr as armas. PS- Esta reflexão foi feita na sequência da nossa participação (como moderador de um dos temas) no recentemente terminado Simpósio sobre a figura de Holden Roberto promovido pela FNLA.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Onde é que é mais lucrativo?

Que oposição teremos em 2009?

1-Reduzida quase à sua mais ínfima expressão, na sequência do desastre eleitoral de Setembro de 2008, a oposição parlamentar não terá em 2009 grandes possibilidades de influenciar o rumo dos acontecimentos previstos, sendo a aprovação de uma nova constituição o mais importante deles. O resultado do “debate” constituinte que se avizinha, criada que já foi a correspondente comissão parlamentar, vai condicionar tudo e todos, incluindo a definição da modalidade da eleição do Presidente da República. Conforme já referimos na edição anterior, esta escolha é agora a grande incerteza (incógnita) da vida política angolana em 2009, quando nada fazia supor que fosse assim, tendo em conta o carácter bloqueado da lei fundamental angolana que impede a revisão constitucional para além de determinados limites materiais. Como curiosidade histórica importa aqui recordar que este bloqueio foi adoptado pelo MPLA e aprovado pela sua monopartidária Assembleia do Povo em 1992, antes da realização das primeiras eleições democráticas no país. As sérias e pertinentes dúvidas levantadas pelos observadores da União Europeia em relação à transparência do processo eleitoral são para já única grande consolação que a oposição tem como trunfo político para esgrimir em próximas batalhas, considerando a grande importância politico-diplomática que a UE representa no contexto mundial. As próximas eleições presidenciais, se elas se realizarem de acordo com o princípio do sufrágio universal (votação directa) que é aquele que em obediência ao Estado de Direito deverá prevalecer, vai ser uma verdadeira prova dos noves. Uma prova necessária para se tirarem a limpo as mais variadas situações nebulosas que continuam a alimentar muitas dúvidas em relação ao espectacular desfecho e, sobretudo, para se avaliar melhor o país politico-partidário que realmente somos. A oposição em Angola ainda não perdeu tudo e pode em 2009 fazer das eleições presidenciais uma nova oportunidade para reequilibrar o xadrez político, caso os seus protagonistas tenham a necessária “sagesse” no sentido de adoptarem a estratégia mais adequada para enfrentarem o fortíssimo “candidato natural”. Adivinha-se que não será nada fácil a concertação a este nível, o que desde já compromete as possibilidades (potencialidades) da oposição nas eleições presidenciais. É evidente que tal só será possível, se não for para frente a ideia da eleição do Presidente passar pelo Parlamento, um objectivo que pode agora ser sustentado com a necessidade de se pouparem recursos num ano de profunda crise. Será o sensível argumento económico, a carta escondida na manga? Afastada que está para já a possibilidade da oposição poder sonhar com uma eventual vitória, já não seria nada mau que o seu candidato ou candidatos ultrapassassem o raquítico resultado alcançado pelo conjunto dos partidos da oposição nas legislativas. Um tal desempenho seria a prova que a oposição precisa para dar uma outra sustentação a contestação dos resultados das legislativas, que só foram aceites para se evitar o cenário de 1992, de acordo com o que afirmaram os seus principais representantes. 2-Em abono da verdade as questões, as considerações e as recomendações reunidas no Relatório Final da Missão de Observação Eleitoral da UE permitem uma leitura bastante negativa que aponta claramente para o coração de todo o processo que foram os esmagadores e surpreendentes resultados que o MPLA conseguiu obter nas legislativas. “Houve falta de transparência no apuramento dos resultados eleitorais. Não foi autorizada a presença de representantes dos partidos políticos nem de observadores para testemunhar a introdução dos resultados no sistema informático nacional e não foi realizado um apuramento manual em separado. Não foram publicados os resultados desagregados por mesa de voto e como tal não foi possível a verificação dos resultados. Também não foram utilizados os cadernos eleitorais para a verificação dos eleitores no dia das eleições e como tal não houve mais salvaguarda contra os votos múltiplos do que a tinta indelével, e nenhum meio para confirmar as inesperadamente elevadas taxas de participação eleitoral. Uma província apresentou uma participação eleitoral de 108% [Nr- Kuanza-Norte] . É de extrema importância que os cadernos eleitorais sejam utilizados em futuras eleições, que os delegados dos partidos políticos e observadores tenham a autorização para monitorizar a introdução dos resultados e que a lei eleitoral seja emendada para assegurar que os resultados sejam publicados desagregados por mesa de voto”. Neste quadro preocupante e nada simpático apresentado pelos observadores europeus parecem estar os próprios fundamentos da actuação da oposição angolana em futuros desafios eleitorais, considerando que os mesmos vêm ao encontro de todas as duras críticas já emitidas pelos seus porta-vozes, com destaque para as constantes da auditoria ao processo eleitoral elaborada e apresentada pela UNITA. O “pacote” da União Europeia tem a vantagem política de ser assumida por uma organização internacional prestigiada e equidistante em relação ao processo angolano, sendo por isso insuspeito e muito difícil de contrariar até porque, ele tem os seus pilares bem assentes no muito que a legislação angolana prescrevia e que não foi aplicado, num somatório de omissões e equívocos que de facto e de jure acabaram por manchar as eleições legislativas de Setembro último. Sem pensar para já numa vitória, a grande desafio político da oposição em 2009 será assim melhorar substancialmente os resultados das legislativas de 2008. Se a oposição conseguir este desiderato, melhorando a sua força representativa, acredita-se que o país poderá conhecer outras perspectivas políticas mais abertas em termos de debate das grandes questões nacionais. Trata-se de uma evolução que será contudo mais simbólica do que prática pois não irá alterar muito o status quo, resultante das legislativas de Setembro de 2008. Seja como for, uma tal melhoria na performance da oposição, vai certamente introduzir uma outra dinâmica na vida política nacional, muito diferente daquela que se vive actualmente. Em relação aos partidos que se preparam para “desaparecer do mapa” por força da disposição dos 0,5%, a outra “maka” da oposição em 2009, pouco se sabe das “estratégias de refundação” dos condenados, tendo para já a FpD sido a única formação que emitiu alguns sinais mais claros sobre a sua determinação de continuar no activo, após a sua extinção judicial. Concordando-se ou não com esta disposição “liquidacionista”, somos daqueles que estão convencidos que Angola não tem espaço político consolidado para muito mais de dez partidos.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Nova vida para o Jornal de Angola em 2009 (actualizado em 19/1)

Se os livros produzissem milagres, aqui está um em que gostaríamos, muito sinceramente, de acreditar, antes de mais por que está perfeitamente ao alcance de todos nós, enquanto profissionais do jornalismo. O milagre em causa seria o de termos o único diário angolano a acertar, finalmente, o passo com a realidade complexa e contraditória de um país em transformação, que já proclamou no seu solo todas as liberdades fundamentais, começando pela própria liberdade de imprensa, que é aquela que mais nos preocupa. Não queremos dizer com isso, que o Jornal de Angola (JA) esteja totalmente alheio a esta realidade que diariamente nos é apresentada nas suas colunas sem qualquer termo de comparação mais próximo. Como se sabe o matutino continua a liderar este importantíssimo segmento do mercado jornalístico sem qualquer concorrente à vista, pelo simples facto deles não existirem. Dizer que o Jornal não é de Angola, seria, manifestamente, uma injustiça que não queremos, nem devemos cometer, reconhecendo desde logo os altos e baixos (mais baixos do que altos) de um projecto que tem como grande limitação editorial alguns limites mais sensíveis que, aparentemente, lhe são impostos pelo seu próprio proprietário ou pelos seus representantes. Dizemos aparentemente, para descontar o fenómeno conhecido por excesso de zelo tão cultivado pelos quadros intermédios da “nossa nomenklatura”, o que também se entende, conhecendo nós, razoavelmente bem, o país real que estamos com ele todos os dias. De facto não há outra forma de se fazer carreira, particularmente ao nível do chamado aparelho ideológico. De outra forma, a porta da rua é mesmo a serventia da casa. Todos nós sabemos que é assim. Não adianta disfarçar. Um destes limites está claramente reflectido na ausência de qualquer reparo mais crítico (ou mesmo satírico) à figura de Sua Excelência, com algumas raríssimas excepções pelo meio, sendo a mais (re) conhecida a do colunista João Melo, que tem sabido fazer a diferença pela positiva (opinião publicada) no seio da sua “grande família”. Agora, não temos qualquer dúvida em afirmar que o JA pode fazer muito mais jus ao nome do seu grande título (com mais de um milhão de km2) do que actualmente o faz. O défice que é particularmente notório na atenção que devia dedicar a outra Angola. Ao país que não é oficial, ao país que não está ligado ao poder, ao país que não ouve nem comenta discursos, ao país do cidadão-comum, ao país da exclusão social e da pobreza generalizada, ao país que renasce todos os dias mas que ainda não acredita no futuro, ao país do cidadão revoltado com as demolições de todos os camartelos, ao país que ainda está muito longe de ser reflectido convenientemente nas colunas do matutino. Não queremos dizer que o JA não publica notícias ou reportagens deste outro país, que acaba, entretanto, por ser residual na distribuição do espaço total que o jornal dedica ao país no seu conjunto. Se este "Livro de Estilo" permitir que o Jornal de Angola se aproxime mais deste país que é tão nosso quanto o outro, ajudando, como se propõe, os profissionais do JA "a produzirem mensagens informativas com elevada qualidade", então teremos consumado o milagre em que gostaríamos, sinceramente, de acreditar. Até lá, vamos continuando a ler o JA com saudades do nosso extinto "Diário de Luanda"… Na altura, há mais de 30 anos, pelo menos tínhamos uma alternativa ao nível da imprensa diária, que tarda em ressurgir, outro milagre em que gostaríamos de acreditar em 2009.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Sem comentários

1-MESU MA JIKUKA deixou um novo comentário na sua mensagem "Sem comentários":
"Sem comentários? discordo com o título. No mínimo devia ser "PARA COMENTAR".Então andam por aí "juristas" a dizer que há jornalistas medíocres e nós nos calamos e afinal de contas também os há (a nduta) juristas do Katambor por aí?Ainda bem que o chefe da Ordem viu que a ordem está desordenada.Há sim senhor, e muitos juristas medíocres... tal como há jornalistas, escritores e muito mais. Vamos dar-lhes formação(?)."
2- Gil Gonçalves deixou um novo comentário na sua mensagem "Sem comentários":
"E economistas também. É muito simples de explicar: para se formar em advocacia não é necessário estudar. Basta decorar leis e mais leis. Também não é necessário ser-se inteligente, mas ter alguma capacidade de memória. Treiná-la por exemplo em: saber quantas comissões de trabalho se criaram até agora e quais os seus componentes.Economistas… é mais ou menos a mesma coisa. A única diferença é terem de decorar inúmeras fórmulas matemáticas que raramente utilizam. Pronunciar de vez em quando as palavras: Ciclo de Kondratieff, a jusante e a montante do sistema.Um bom exercício de economia: Angola para sobreviver necessita do barril de petróleo, pelo menos a setenta Usd. O líquido das nossas tormentas está a Usd 38. Diamantes nem vale a pena… pergunta-se: quantos petrofamintos sobreviverão?Conclusão: é por isso que temos oceanos de advogados e economistas… são disciplinas que não requerem nada de inteligência. Basta ver como anda a recessão mundial, que pelos vistos, como os nossos doutíssimos clamam, nos chegará a montante.Assim primamos pelo excesso de advogados e economistas. Não surpreende que só a advocacia administrativa funcione e a justiça não exista. E que a nossa economia de palitos sobreviva.
Have a nice day!
Gil Gonçalves
N.B. Não quero ofender os advogados e economistas de mérito que ainda conseguem trabalhar honestamente.guem trab que consegnosrestam."

2009- Novamente um ano de grandes incertezas

1-Entramos em 2009 com mais dúvidas do que certezas, o que já não constitui uma novidade na nossa maneira de estar na vida e de analisar os processos, pessimistas que somos por natureza, por militância e por filosofia. Em mais de trinta de independência, Angola e os angolanos ensinaram-nos a ser pessimistas e nós aprendemos a dura lição de um país que até 2002 andou a destruir o seu próprio futuro. Preparados que estamos sempre para o pior, nunca somos apanhados de surpresa quando as coisas de facto ficam feias ou se tornam ainda mais feias do que já estavam, o que costuma acontecer muito entre nós. Estamos pois protegidos contra todas as surpresas negativas, o que nos dá uma grande estabilidade emocional e uma capacidade de resistência fora do comum em relação aos optimistas. Se as coisas correm bem, também não somos apanhados de surpresa, não respiramos de alívio, nem andamos a fazer manifestações ou passeatas de júbilo. Para nós correr bem é que é o normal, não havendo nada de extraordinário neste facto, neste estado de coisas. Devia ser sempre assim, porque os homens estão por aqui (pelo planeta terra) apenas durante algumas décadas com o propósito de fazerem coisas giras e interessantes e não para andarem por aí a destruírem o que já encontraram feito e a funcionar bem. Sem ignorarmos os factos (bons e maus, positivos e negativos), não devia, pois, ser notícia de primeira página dizer que as coisas estão a correr bem. Não devia ser tema para discursos inflamados e vitoriosos, nem motivo para assolapadas campanhas mediáticas, nem conteúdo de programas especiais. Tudo é feito com base na lógica da propaganda onde os critérios jornalísticos, com destaque para os princípios do contraditório e do distanciamento crítico, acabam por ser os grandes ausentes de uma estratégia editorial ferozmente partidarizada e governamentalizada. 2-Viver sem guerra é normal. Governar bem é normal. Trabalhar muito é que é o recomendável e desejável, sobretudo para um país que esteve 30 anos a marcar passo e que actualmente está apenas a tentar repor as capacidades (infra-estruturas) que já possuía. Construir escolas, hospitais e dar assistência aos menos equipados é normal, é recomendável. É assim que deve ser. Fazer mais estradas, mais pontes, mais barragens hidroeléctricas e mais estações de tratamento de água é absolutamente normal para quem governa. Estabilizar a economia, valorizar a moeda nacional dentro dos limites adequados, promover o crescimento económico e o emprego decente é igualmente normal e decorre de uma necessidade política vital para quem governa com um mandato que resultante de ambiciosas promessas eleitorais. Em política a promessa é igualmente dívida. Caso contrário o eleitorado encarregar-se-á de fazer o que não foi feito durante o mandato em apreciação, colocando o seu voto na alternativa, se ela existir. Caso contrário a solução será a abstenção, uma tendência que se tem vindo a acentuar em algumas democracias mais consolidadas, o que não é o caso de Angola, que para já ainda é um projecto a precisar de muitos mais testes, quer dizer, de muitas mais disputas eleitorais. Afinal de contas, a máquina só agora começou realmente a rolar, aparentemente, sem mais as ameaças e as incertezas que marcaram o seu falhado arranque no já distante ano de 1992, quando os “bravos” nos tentaram oferecer a paz. 3- Como já referimos, voltamos a estar no inicio deste ano diante de mais dúvidas do que certezas quer no plano político, quer no económico, para não falar do mediático, do religioso, do cultural e do desportivo. Em principio e pelo que aconteceu em 2008, não deveria haver mais dúvidas em relação à conclusão do processo de normalização político-constitucional, depois da realização das eleições legislativas. Estava tudo mais ou menos definido. O debate proposto por José Eduardo dos Santos sobre a eleição do Presidente da República veio introduzir no processo uma grande dose de incerteza, pois agora já ninguém sabe quais são os planos da principal força política deste país e muito menos do seu líder, que parece ter uma agenda muito própria no âmbito da estratégia mais geral do maioritário. Por exemplo, os potenciais candidatos às presidenciais estão sem saber o que fazer, enquanto não for aprovada a nova Constituição, onde será definida a modalidade da eleição, que pode ser por via parlamentar ou por sufrágio directo e universal, de acordo com a sugestão implícita na proposta de debate. Tudo agora está dependente das novas ideias que o MPLA vai introduzir no texto fundamental. Ao que parece, já não são as mesmas que defendia durante o anterior processo constituinte. Com este debate, o futuro do próprio Presidente José Eduardo dos Santos voltou a ser tema para as mais diferentes especulações, embora os seus correligionários continuem a matraquear na tecla do candidato natural. 4-No plano económico e na sequência da crise internacional “inventada” pelos patifes de Wall Street, que já nos entrou pela porta adentro, as coisas estão ainda piores em matéria de incertezas, depois de alguns arautos da “invencibilidade angolana” terem andado a apregoar que iríamos sair deste sufoco ainda mais fortes e vitoriosos. Em abono da verdade poucos sabem qual foi o impacto imediato desta crise financeira na economia angolana quer do sector público, quer do privado. A informação está guardada a sete chaves, mas adivinha-se que as perdas financeiras tenham sido significativas. Mais uma incerteza que nos vai acompanhar. Com o preço do petróleo nas ruas da amargura a afectar todos os planos e perspectivas, os gestores da coisa pública habituados às vacas gordas e ao despesismo dos últimos anos estão em pânico, embora ainda consigam disfarçar o mal-estar, com alguma cosmética discursiva. A indústria dos diamantes está com a faca na garganta e tudo pode acontecer de um momento para o outro, com o colapso de um gigante que eu sempre achei que tinha os pés de barro, devido a sua dependência exclusiva de um consumo supérfluo muito específico. Os ricos do ocidente também estão a ir a falência, pelo que estão a pensar em tudo menos em comprar colares de diamantes para as suas esposas, amantes e namoradas. O diamante jóia corre o risco de se transformar em mais uma pedra preciosa, como os rubis e as esmeraldas, num passado não muito longínquo. Será o adeus às Lundas! A nível mediático nada nos garante que este ano venhamos a ter, finalmente, a Lei de Imprensa complementada e regulamentada nos seus aspectos fundamentais, que são mais do que muitos. Vamos continuar a ter o Estado de Direito refém do poder discricionário do Governo do MPLA, particularmente na gestão de bens públicos do sector com destaque para a emissão de licenças para o exercício da actividade de radiodifusão e de radiotelevisão. Os jornalistas vão continuar a desenvolver a sua actividade de forma ilegal por falta de uma carteira profissional que os habilite a desempenhar o seu métier adequadamente, sem se confundirem com o resto do pagode. A confusão entre todos os actores que se movimentam no espaço da comunicação social vai ser ainda maior, deixando de haver qualquer tipo de fronteiras entre o jornalismo, a animação (show), a propaganda, a publicidade e as artes cénicas. Vai ser bonito ver todo o mundo a fazer caretas e a declamar o verbo YES MAN! No plano religioso resta saber o que é que o Papa Bento XVI vem fazer a Angola, outra grande incerteza de 2009. Certeza mesmo é para já a morte de Anália de Victória Pereira e o empobrecimento da política num género em que ela não tinha concorrentes. Foi-se a primeira mulher que tentou ser Presidente de Angola sem nunca ter feito um disparo com arma de fogo.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Morreu a primeira mulher que quis ser presidente de Angola

Anália de Victória Pereira vai certamente figurar na história da democracia angolana iniciada com as eleições de 1992.
Não tem como não fazer parte desta saga, a não ser, que aconteça mais algum "milagre", quando esta parte da nossa história for escrita.
Foi a primeira angolana a enfrentar José Eduardo dos Santos e Jonas Savimbi na corrida ao cadeirão presidencial para o qual, diga-se de passagem, ainda ninguém foi democraticamente eleito.
Talvez seja esta a sua derradeira consolação e dos 11.475 angolanos (0,29%) que votaram nela em 1992.
Por si só este facto é mais do que suficiente para lhe prestarmos aqui a nossa homenagem na hora do adeus aos 68 anos de idade, 18 dos quais dedicados à politica activa em Angola, após o seu regresso ao país no inicio da década de 90, com os ventos de Bicesse.
Mas há muito mais na sua trajectória que merece atenção e destaque para quem observa a vida política angolana com olhos de ver para além do cardápio que nos é servido pelo banquete oficial.
Anália de Victória Pereira foi de facto uma mulher corajosa (no sempre volátil contexto político angolano) que se destacou como líder de um partido da oposição, pelas suas contundentes críticas à governação do MPLA, particularmente na vertente da (falta) transparência do Executivo e da manipulação da comunicação social.
Anália nunca gostou de engolir sapos e sempre que pôde, nomeadamente na Assembleia Nacional, soube chamar as coisas pelos seus próprios nomes, o que fez dela uma das referências da oposição parlamentar mais detestadas pela bancada do maioritário.
Um lamentável incidente com a sua pessoa, no âmbito de uma acesa troca de galhardetes com um colega da situação ficou famoso pela negativa depois da sua reputação mais intima ter sido posta em causa.
Um conhecido semanário da capital "nomeou-a", com Vicente Pinto de Andrade, para a categoria dos "dois não negros mais atrevidos" que, entretanto, na avaliação do seu editor, só teriam alguma chance de chegarem à Presidência da República "se houvesse um terramoto de uns fortes graus na escala de richter e de mercalli".
O mesmo semanário tentou traçar-lhe o destino e refrear-lhe as ambições ao sentenciar que seria mais fácil um camelo passar pelo buraco da agulha do que Angola vir a ter um Presidente mulato.
De facto Analia não conseguiu chegar à Presidência.
O terramoto da vida pregou-lhe a última partida numa escala que não poupa ninguém, incluíndo certos profetas que continuam a fazer leituras da realidade africana que são cada vez mais desfocadas, que têm cada vez menos a ver com o que os africanos realmente pensam, quando têm a oportunidade de escolher livremente os seus dirigentes.
Desta vez não se trata de um lugar comum.
Como mulher, Anália deixa efectivamente um grande vazio na política angolana que vai ser muito dificil preencher.