segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

2009- Novamente um ano de grandes incertezas

1-Entramos em 2009 com mais dúvidas do que certezas, o que já não constitui uma novidade na nossa maneira de estar na vida e de analisar os processos, pessimistas que somos por natureza, por militância e por filosofia. Em mais de trinta de independência, Angola e os angolanos ensinaram-nos a ser pessimistas e nós aprendemos a dura lição de um país que até 2002 andou a destruir o seu próprio futuro. Preparados que estamos sempre para o pior, nunca somos apanhados de surpresa quando as coisas de facto ficam feias ou se tornam ainda mais feias do que já estavam, o que costuma acontecer muito entre nós. Estamos pois protegidos contra todas as surpresas negativas, o que nos dá uma grande estabilidade emocional e uma capacidade de resistência fora do comum em relação aos optimistas. Se as coisas correm bem, também não somos apanhados de surpresa, não respiramos de alívio, nem andamos a fazer manifestações ou passeatas de júbilo. Para nós correr bem é que é o normal, não havendo nada de extraordinário neste facto, neste estado de coisas. Devia ser sempre assim, porque os homens estão por aqui (pelo planeta terra) apenas durante algumas décadas com o propósito de fazerem coisas giras e interessantes e não para andarem por aí a destruírem o que já encontraram feito e a funcionar bem. Sem ignorarmos os factos (bons e maus, positivos e negativos), não devia, pois, ser notícia de primeira página dizer que as coisas estão a correr bem. Não devia ser tema para discursos inflamados e vitoriosos, nem motivo para assolapadas campanhas mediáticas, nem conteúdo de programas especiais. Tudo é feito com base na lógica da propaganda onde os critérios jornalísticos, com destaque para os princípios do contraditório e do distanciamento crítico, acabam por ser os grandes ausentes de uma estratégia editorial ferozmente partidarizada e governamentalizada. 2-Viver sem guerra é normal. Governar bem é normal. Trabalhar muito é que é o recomendável e desejável, sobretudo para um país que esteve 30 anos a marcar passo e que actualmente está apenas a tentar repor as capacidades (infra-estruturas) que já possuía. Construir escolas, hospitais e dar assistência aos menos equipados é normal, é recomendável. É assim que deve ser. Fazer mais estradas, mais pontes, mais barragens hidroeléctricas e mais estações de tratamento de água é absolutamente normal para quem governa. Estabilizar a economia, valorizar a moeda nacional dentro dos limites adequados, promover o crescimento económico e o emprego decente é igualmente normal e decorre de uma necessidade política vital para quem governa com um mandato que resultante de ambiciosas promessas eleitorais. Em política a promessa é igualmente dívida. Caso contrário o eleitorado encarregar-se-á de fazer o que não foi feito durante o mandato em apreciação, colocando o seu voto na alternativa, se ela existir. Caso contrário a solução será a abstenção, uma tendência que se tem vindo a acentuar em algumas democracias mais consolidadas, o que não é o caso de Angola, que para já ainda é um projecto a precisar de muitos mais testes, quer dizer, de muitas mais disputas eleitorais. Afinal de contas, a máquina só agora começou realmente a rolar, aparentemente, sem mais as ameaças e as incertezas que marcaram o seu falhado arranque no já distante ano de 1992, quando os “bravos” nos tentaram oferecer a paz. 3- Como já referimos, voltamos a estar no inicio deste ano diante de mais dúvidas do que certezas quer no plano político, quer no económico, para não falar do mediático, do religioso, do cultural e do desportivo. Em principio e pelo que aconteceu em 2008, não deveria haver mais dúvidas em relação à conclusão do processo de normalização político-constitucional, depois da realização das eleições legislativas. Estava tudo mais ou menos definido. O debate proposto por José Eduardo dos Santos sobre a eleição do Presidente da República veio introduzir no processo uma grande dose de incerteza, pois agora já ninguém sabe quais são os planos da principal força política deste país e muito menos do seu líder, que parece ter uma agenda muito própria no âmbito da estratégia mais geral do maioritário. Por exemplo, os potenciais candidatos às presidenciais estão sem saber o que fazer, enquanto não for aprovada a nova Constituição, onde será definida a modalidade da eleição, que pode ser por via parlamentar ou por sufrágio directo e universal, de acordo com a sugestão implícita na proposta de debate. Tudo agora está dependente das novas ideias que o MPLA vai introduzir no texto fundamental. Ao que parece, já não são as mesmas que defendia durante o anterior processo constituinte. Com este debate, o futuro do próprio Presidente José Eduardo dos Santos voltou a ser tema para as mais diferentes especulações, embora os seus correligionários continuem a matraquear na tecla do candidato natural. 4-No plano económico e na sequência da crise internacional “inventada” pelos patifes de Wall Street, que já nos entrou pela porta adentro, as coisas estão ainda piores em matéria de incertezas, depois de alguns arautos da “invencibilidade angolana” terem andado a apregoar que iríamos sair deste sufoco ainda mais fortes e vitoriosos. Em abono da verdade poucos sabem qual foi o impacto imediato desta crise financeira na economia angolana quer do sector público, quer do privado. A informação está guardada a sete chaves, mas adivinha-se que as perdas financeiras tenham sido significativas. Mais uma incerteza que nos vai acompanhar. Com o preço do petróleo nas ruas da amargura a afectar todos os planos e perspectivas, os gestores da coisa pública habituados às vacas gordas e ao despesismo dos últimos anos estão em pânico, embora ainda consigam disfarçar o mal-estar, com alguma cosmética discursiva. A indústria dos diamantes está com a faca na garganta e tudo pode acontecer de um momento para o outro, com o colapso de um gigante que eu sempre achei que tinha os pés de barro, devido a sua dependência exclusiva de um consumo supérfluo muito específico. Os ricos do ocidente também estão a ir a falência, pelo que estão a pensar em tudo menos em comprar colares de diamantes para as suas esposas, amantes e namoradas. O diamante jóia corre o risco de se transformar em mais uma pedra preciosa, como os rubis e as esmeraldas, num passado não muito longínquo. Será o adeus às Lundas! A nível mediático nada nos garante que este ano venhamos a ter, finalmente, a Lei de Imprensa complementada e regulamentada nos seus aspectos fundamentais, que são mais do que muitos. Vamos continuar a ter o Estado de Direito refém do poder discricionário do Governo do MPLA, particularmente na gestão de bens públicos do sector com destaque para a emissão de licenças para o exercício da actividade de radiodifusão e de radiotelevisão. Os jornalistas vão continuar a desenvolver a sua actividade de forma ilegal por falta de uma carteira profissional que os habilite a desempenhar o seu métier adequadamente, sem se confundirem com o resto do pagode. A confusão entre todos os actores que se movimentam no espaço da comunicação social vai ser ainda maior, deixando de haver qualquer tipo de fronteiras entre o jornalismo, a animação (show), a propaganda, a publicidade e as artes cénicas. Vai ser bonito ver todo o mundo a fazer caretas e a declamar o verbo YES MAN! No plano religioso resta saber o que é que o Papa Bento XVI vem fazer a Angola, outra grande incerteza de 2009. Certeza mesmo é para já a morte de Anália de Victória Pereira e o empobrecimento da política num género em que ela não tinha concorrentes. Foi-se a primeira mulher que tentou ser Presidente de Angola sem nunca ter feito um disparo com arma de fogo.