quarta-feira, 25 de agosto de 2010

MPLA entre os valores e os interesses (2)

"O diapasão é um instrumento que serve para dar o tom musical"
Há muito que estou convencido que neste MPLA nem todos afinam pelo mesmo diapasão.
Mas haverá mesmo um diapasão dominante?
Qual será a sua forma e o seu conteúdo?
Caso exista este diapasão, quais serão então os outros menos dominantes? Como é que eles se manifestam?
Estou também convencido que todos aqueles que no MPLA não alinham pelo mesmo diapasão (o dominante), por sinal são a sua esmagadora maioria.
Trata-se, contudo, de uma maioria silenciosa e por vezes mesmo medrosa das consequências de algum "barulho" mais dissonante da "melodia" do Maestro.
Marcolino Moco protagonizou o mais recente caso com a utilização deste tipo de "barulho", por isso foi enconstado às boxes, enquanto aguarda que lhe façam a folha.
Os membros desta maioria raramente assumem em público a sua discordância com o diapasão dominante, embora os estatutos do MPLA permitam a existência do chamado "pluralismo de opinião", que consagra o direito dos militantes assumirem "posições diferentes sobre objectivos comuns do Partido, admitindo a possibilidade de harmonização entre os militantes".
Internamente as coisas já começam a ser diferentes, mas ainda sem outras consequências mais fracturantes, o que também seria normal num partido que preze pela sua democraticidade.
Dificilmente o "MPLA silencioso e bem comportado" dos dias de hoje se vai aguentar na sua actual versão, caracterizada por uma elevada dose de cinismo.
Também é por aqui que passa a "maka" dos valores vs interesses.
Para sermos mais claros nesta equação algo temerária, pois ainda podemos ser acusados de estar a meter a foice em seara alheia, embora os partidos sejam instituições tão públicas como as demais ( com todas as suas especificidades), diremos que a maioria dissonante do MPLA está com os valores mais estruturantes, enquanto que os que alinham pelo diapasão dominante parecem funcionar mais com a óptica dos interesses conjunturais.
Neste "fogo cruzado" está, quanto a nós, a principal referencia para se procurar entender melhor a dinâmica interna do EME, para além dos megafones.
Se quiserem um conselho da parte de alguém que acreditou piamente nas boas intenções revolucionárias do MPLA, já lá vão cerca de 36 anos, diria que este partido tem de começar a pensar e a discutir de forma mais aberta os problemas da altamente desequilibrada e injusta sociedade angolana.
Como país e depois das armas se terem calado, temos agora tudo (potencialmente) para dar certo, mas podemos deixar novamente tudo a perder.
As tendências actuais são preocupantes e ameçam a médio prazo a estabilidade da sociedade angolana, tendo como principal referência a forma como o rendimento nacional está a ser gerido e distribuído.
A concorrida "mesa redonda" do passado sábado foi apenas um tímido ponta pé de saída que precisa de muito mais para marcar a viragem que se pretende.
Resgatar valores tem de ser um exercício consistente com a dura realidade deste país e de pouco adiantará seguirmos o conselho estratégico da avestruz.
Por exemplo, o MPLA não pode ficar indiferente ao devastador impacto socio-político que representa a destruição do Roque Santeiro para a vida de centenas de milhares de famílias luandenses que sobrevivem graças a actividade daquela "grande superfície".
A solução Panguila é uma quimera, é uma miragem, é uma fuga para frente.
Não se trata aqui de estar contra ou a favor. Não é este o ponto.
Um partido que tem as responsabilidades do MPLA não pode ignorar este impacto e tem em consequência que produzir uma reflexão pública muito profunda sobre as suas consequências.
De outra forma...
(cont)