A título póstumo foi esta quarta-feira lançado em Luanda o segundo livro do embaixador Adriano Sebastião, com o título "Missombo", nome de uma antiga colónia penal localizada na província do Kuando-Kubango, onde o autor ao lado de dezenas de nacionalistas angolanos esteve preso durante vários anos, por determinação da policia fascista portuguesa, a PIDE, na sequência da sua actividade clandestina em prol da independência nacional.
"Missombo"(Mayamba Editora-2010) é depois de "Dos Campos De Algodão Aos Dias De Hoje" (Setembro 93), o segundo livro de memórias do Dikota Adriano, que nos deixou em Março último aos 87 anos que completaria ontem.
Coube à sua viúva, a Dona Hemengarda, contar-nos uma parte da história que levou o autor em 1962 até ao longínquo Missombo, com uma escala na Colónia do Bié-Capolo, depois de ter sido preso em 1960 na então cidade de Carmona, hoje Uíge.
Luís Neto Kiambata, seu afilhado de baptismo, fez-nos a primeira leitura deste derradeiro testemunho de Adriano Sebastião, que já se havia referido a Missombo no primeiro livro, que é um manancial de informações muito interessantes que nos ajuda a perceber parte da história mais recente de Angola, com destaque para as décadas de 60/70.
Missombo tem a particularidade de ter sido escrito já nos últimos dias da sua vida em condições de saúde bastante adversas para este exercício de memória.
Mesmo assim e com o que lhe restava de energias, Adriano Sebastião foi para a frente com o seu Missombo dando-nos assim, a todos nós, para além da memória, uma lição de coragem, que convém reter e passar, sobretudo para aqueles, os mais kotas, que têm coisas para contar e ainda não se decidiram a fazê-lo, nem têm a certeza se valerá mesmo a pena.
E por vezes não têm esta certeza, porque a memória neste país é um exercício (quando é feito com frontalidade) que ainda não é bem visto, particularmente quando ele põe em causa o estatuto de algumas "vacas sagradas" ou questiona a veracidade/consistência de algumas versões oficiais.
Este não foi o caso de Adriano Sebastião.
Valeu Dikota!