A ascenção e a queda do Hospital Geral de Luanda- Uma história muito mal contada
Aqui temos de facto (e de jure )uma história muito mal contada, mais uma, aliás, das muitas que nos têm vindo a ser impingidas ao longo de todos estes anos.
É por todas estas patranhas que temos estado a engolir, que sentimos cada vez mais a falta do chamado jornalismo investigativo, outro dos grandes "desparecidos em combate" do nosso teatro de operações.
Antes de mais e contrariarmente ao que ficou dito, não parece ter havido em todo este processo nenhuma falha mais grave ao nível da fiscalização, conforme ela deve ser feita por quem tem esta responsabilidade.
Esta parece-nos ser a questão mais sensível a carecer de algum esclarecimento oficial, que dificilmente algum dia será feito, na melhor tradição do comportamento institucional angolano, onde a doutrina prevalecente é aquela que tem como referência o ditado segundo o qual "os cães ladram e a caravana passa".
Soube agora que é um ditado de origem árabe, mas que, na sua essência, tem muito pouco a ver com a preversa interpretação que algumas vezes lhe é dado, sobretudo por quem não quer ou não gosta de prestar contas a que está obrigado pelas suas funções públicas.
A história do Hospital Central de Luanda, tb conhecido como Hospital da Camama, remonta ao tempo do Governador Simão Paulo (2002-2004), que foi o 14º responsável pelos destinos da capital angolana após a independência.
A estrutura que se viria a transformar em Hospital Central era na sua origem apenas um Centro Materno-Infantil, tendo o seu projecto sido elaborado e edificado em conformidade com a designação.
Também e contrariamente ao que ficou dito, o Governo angolano não gastou um tostão a construir esta infra-estrutura, pois a mesma foi-lhe oferecida pela República Popular da China no âmbito da parceria então estabelecida e que teve como arranque a assinatura do primeiro crédito bilionário ($usd-2bi) concedido pelo Eximbank chinês ao nosso país, tendo como contra-partida o petróleo.
Sendo uma doação, os chineses não viram com bons olhos a intervenção da imprescíndivel fiscalização na obra.
Mesmo assim o GPL contratou um fiscal para obra que acompanhou todo o projecto, mas sem capacidade para exercer legalmente o seu papel activo devido a não concordância/obstrução dos chineses.
A fiscalização funcionou assim mais como um observador que ia reportando pontualmente ao GPL o andamento da obra e os problemas técnicos detectados, que se iam avolumando, pois o empreiteiro não respondia às sugestões que iam sendo feitas, mantendo de pé as suas opções.
Com o afastamento de Simão Paulo do GPL, surgiu a Comissão de Gestão liderada por Higino Carneiro que depois deu lugar à nomeação de Job Capapinha como Governador.
Não parece ter sido por acaso que o primeiro Director do HCL fosse exactamente o irmão
do Governador, tendo ficado a dever-se a ele a elevação do Centro Materno-Infantil a categoria de um Hospital, com todas as insuficiências e debilidades que depois viriam a ser constatadas.
Em conclusão diremos que o GPL sempre esteve a par de todos os problemas técnicos com que o HCL se foi confrontando, não tendo em tempo oportuno feito as intervenções que lhe foram solicitadas para evitar problemas futuros que se anunciavam e que se vieram a concretizar agora com a sua retirada da circulação.
O silêncio do GPL é sintomático de alguma coisa.
Para já a história fica por aqui, mas não quer dizer que tenha terminado.
Pelo que sabemos há muito mais para contar...