quarta-feira, 21 de janeiro de 2009
Holden Oyé!
Honrar e prestigiar as nossas referências históricas, mesmo por parte dos seus companheiros de percurso já não deve significar venerar ou passar ao lado das suas “partes mais gagas” que qualquer político em África (mas não só) acaba por ter sempre no seu CV.
Em política a veneração, não confundir com respeito, transforma-se rapidamente em culto da personalidade, o que não é desejável nem recomendável e tem os custos que todos conhecemos, sobretudo quando os venerados ainda estão em vida.
Quando passam à história, a veneração transforma-se em lenda ou em mito e não ajuda em nada na homenagem que pretendemos fazer pois acabamos por separar o homem de carne e osso do contexto real em que ele operou no passado que já é muito distante.
Com frontalidade e coragem, o que é preciso é fazer compreender as novas gerações que os valores de hoje têm pouco a ver com os valores do passado, quando a ideologia é que comandava os destinos das organizações e das causas.
É preciso saber contextualizar, mas é necessário evitar a tentação estalinista de apagar os adversários ou as vítimas da fotografia.
É preferível sairmos todos tremidos na mesma fotografia.
Sou um crítico assumido dos pais da nossa independência por razões objectivas que têm a ver com seu legado, mas não deixo de valorizar a sua saga e de destacar a sua importância.
Acho que não seria possível no contexto da época fazer as coisas de outra maneira, mas também estou convencido que na altura já havia muitas pessoas que não concordavam com determinados procedimentos e estratégias e por isso foram ostracizadas, quando não lhes aconteceu o pior em matéria de saúde mais física.
O movimento de libertação e o pós-independência estão recheados de casos muito complicados (negativos) relacionados com o respeito pela diferença e a salvaguarda dos direitos humanos que falam bem da musculada intervenção das diferentes lideranças angolanas.
É chegada a altura de reabilitarmos e homenagearmos todos aqueles que colocaram pedras nos alicerces desta Angola, independentemente do bom ou do mau relacionamento que, a certa altura dos seus percursos, tiveram com os "timoneiros".
Para tal teremos necessariamente que estar de acordo com algumas evidências, sendo uma delas, por sinal a principal e a mais dramática, aquela que tem a ver com a ausência do espirito e da pratica democrática no seio das três grandes formações políticas angolanas que estiveram na origem da independência e que depois mergulharam o país num banho de sangue fratricida.
Holden Roberto teve o mérito de ter sido o primeiro a desistir e a depôr as armas.
PS- Esta reflexão foi feita na sequência da nossa participação (como moderador de um dos temas) no recentemente terminado Simpósio sobre a figura de Holden Roberto promovido pela FNLA.