quarta-feira, 26 de maio de 2010

Jovemania (JM), no mínimo um programa equivocado

Este mês de Maio tivemos a oportunidade de seguir com alguma atenção as escolhas temáticas feitas pelo Jovemania (JM) do Canal 1 da TPA para chegar até ao seu público alvo que, como o próprio nome do programa indica, são todos os jovens angolanos, com ou sem manias de serem mesmo jovens. Antes de ser uma mania ou um estado de espírito, a juventude é uma fase concreta muito sensível da vida que todos nós, os jovens mais adultos, também já percorremos em devido tempo, com muitas saudades de regressar ao passado e marcarmos um reencontro com alguns dos nossos bons/ maus/ velhos/jovens tempos.
Mas como o tempo prega-nos todas as partidas, menos a de regressar ao passado, só nos resta mesmo olhar para os jovens do tempo presente com alguma (bastante) preocupação, quando vemos por exemplo o precioso tempo de um programa televisivo do serviço público, o JM, ser desperdiçado com tantas e tamanhas banalidades, como foi o caso da sua produção durante o mês de Maio que se prepara para bazar.
O JM iniciou as suas "hostilidades" em Maio com um programa dedicado aos famosos "bifes" que actualmente alimentam muito mal ( com alguma violência fisico-verbal) os meios musicais do kuduro e do rap, já de sí potencialmente vocacionados para cenas menos pacíficas.
Depois de já os ter visto no "Sempre a Subir" do Sebem no Canal 2, que é um tumultuoso e controverso espaço especializado em matérias "bifiticas", voltei a ter de gramar com uns tais de "Gasolina" e "Presidente Gasolina" a trocarem uns já estafados galhardetes em relação a quem é que é o verdadeiro "Gasolina" durante todo um programa dedicado à juventude angolana.
Sinceramente, fiquei com a impressão que estava a ver novamente o programa do Sebem, com este último "disfarçado".
Para além de todos os "gasolinas" que por lá passaram, pouco mais em termos de substância, o paupérrimo programa ofereceu aos jovens naquele fatídico sábado com direito à reposição no dia seguinte, isto é, no domingo.
Trata-se de uma opção (reposição em horário nobre) que já não tem paralelo nas televisões modernas que querem ser competitivas.
A TPA, note-se, já tem concorrência de sobra ( dentro e fora do país) para ignorar a nova conjuntura do mercado dos audio-visuais.
No sábado seguinte, a escolha do JM foi para a "beleza artificial" das mulheres angolanas, em mais uma abordagem carregada de futilidades em torno de um tema que, para além de ser deselegante, acaba por ser evasivo da própria intimidade das nossas "guapíssimas muchachas".
Devo confessar, depois de já ter percorrido centenas de milhares de kilometros por este mundo afora, que não encontrei mulheres mais bonitas que as nossas, por isso gosto cada vez mais delas, não as troco por ninguém e muito menos as hostilizo, como objectivamente acabou por ser feito pelo JM em mais um sábado/domingo para esquecer.
Eram cabelos brasileiros para aqui, unhas de gel para acolá, tissagens mais adiante, silicones a voarem por entre seios e bundas, enfim, um desfile que não acrescentou um único valor estruturante à educação e à auto-estima dos nossos jovens, carentes de tudo menos de futilidades, que já têm de sobra no seu quotidiano que é cada vez mais violento e marcado por diferentes ausências, privações, deturpações, aculturações e intoxicações.
No terceiro sábado as coisas ainda ficaram piores, com o nível a baixar muito mais, pois o tema escolhido foi a imitação das estrelas locais da rádio, da televisão e do music-hall pelos nossos jovens.
Por si só e a este nível, a imitação, seja ela bem ou mal feita, não é, quanto a nós, um valor que deva ser encorajado num programa que pretende contribuir para a formação e o aumento da consciência crítica dos nossos jovens como é suposto ser o JM.
Não estamos a falar da imitação de modelos sociais ou comportamentais que sejam de referência, por terem demonstrado que são efectivamente "bons para consumo".
A imitação que aqui verberamos é a do "macaco imitador" que não serve para nada para além de provocar alguma diversão.
Estes três temas que preencheram a programação do mês de Maio do Jovemania da TPA são um bom exemplo do que o serviço público de televisão não deveria nunca seguir.
Fazer serviço público ao nível da programação dirigida aos jovens num país com as características muito especiais de Angola exige antes de mais uma profunda reflexão sobre os caminhos que a televisão deve trilhar para falar deles, com eles e para eles, com os olhos postos num futuro bem diferente do presente que temos, fruto de um passado que é para esquecer.
Depois desta reflexão, a criatividade/perspicácia na escolha dos temas que se impõem fará o resto, na maior das calmas.
Há tantos e tão importantes assuntos para discutir com os jovens angolanos que de facto não faz qualquer sentido desperdiçar-se um tempo de antena tão precisoso, tão caro e tão estratégico, que é o da televisão pública, com um desfile tão "franciscano" como foi aquele que nos foi dado a observar em Maio.
A "mania" de ser jovem exige um pouco mais de quem quer comunicar com os jovens angolanos nesta etapa do nosso desenvolvimento sócio-político.