terça-feira, 1 de março de 2011

As (eternas) fontes ameaçadoras do nosso jornalismo

Estive esta segunda-feira com os jornalistas da Emissora Católica de Angola a discutir um bocado sobre a eterna "maka" das fontes e do acesso a elas no nosso contexto, cujas referências ainda não são as mais hospitaleiras e amistosas para quem escolheu o jornalismo como profissão.
De facto continua a não ser muito fácil ser jornalista em Angola com todas as transformações/evoluções que o nosso panorma mediático tem vindo a registar nestes mais de 35 anos de independência que já levamos nos ombros.
Como já há algum tempo deixei de andar atrás do que na BBC se chama de "current affairs", isto é, cobertura dos assuntos diários, estava longe de imaginar que o relacionamento dos nossos jovens reporteres com as fontes ou com determinadas fontes fosse assim tão mau e tão pouco animador para quem está a dar os primeiros passos na profissão e quer acreditar que Angola já é mesmo um Estado Democrático de Direito.
Depois de ter ouvido os seus preocupantes relatos de experiências vividas no quotidiano, acabei por ser eu a aprender mais com eles, do que se calhar eles comigo.
Aprendi que em Angola continua haver fontes extremamente ameaçadoras da própria integridade física dos jornalistas. Eu sempre soube da sua existência e da sua localização no nosso espectro sócio-político, mas pensava que as tais fontes já não actuavam de forma tão aberta e tão assertiva.
E não se tratam de fontes anónimas, nem pouco mais ou menos.
São pessoas bem conhecidas e bem posicionadas na mais alta hierarquia deste país. De facto já não imaginava que neste país ainda se mandam os seguranças ameaçar os jornalistas para apagarem uma determinada gravação, depois do "chefe" ter mandado umas bocas políticamente muito pouco correctas e nada recomendáveis para a imagem democrática que o regime quer vender e mesmo exportar. Num destes episódios depois do "chefe" ter mandado umas valentes bocas contra a Emissora e de se ter "arrependido", o reporter foi convocado pelos seguranças para uma conversa muito reservada, no decorrer da qual foi claramente ameaçado de morte caso não "deletasse" o conteúdo das declarações do mal humorado dirigente.
Depois de ter falado de todas as fontes, acabei a minha "aula" a dissertar sobre estas novas/velhas "fontes" do jornalismo angolano, que são as "fontes ameaçadoras" e em relação às quais o único tratamento possível é a denúncia pública, com formalização da respectiva queixa ao abrigo do artigo 76 da Lei de Imprensa.
Parece que é o que a Emissora da Igreja vai fazer de agora em diante, pois os seus jornalistas estão cansados de ser intimidados e mal-tratados pelas "fontes ameaçadoras", que para além de não gostarem de falar para certos órgãos, o que é um direito que lhes assiste, ainda têm o direito/poder de mandar os seus seguranças fazer o resto.
O resto pode ser tudo...