No debate deste domingo o Dr. Mário Pinto de Andrade (MPA), com quem estive à conversa em mais uma edição do TPA/Semana em Actualidade, sugeriu que o governo deveria proclamar uma década de luta contra a pobreza em Angola.
Seria um sinal muito concreto do engajamento do Executivo nesta frente de combate pela resolução dos graves problemas sociais que o país enfrenta.
Prontamente subscrevi a ideia do meu interlocutor, porque de facto é preciso mobilizar tudo quanto é sinergia nacional para uma batalha que tarda em ser assumida e travada com a prioridade e a abrangência que ela requer, para além dos discursos, dos workshops e das promessas.
No próximo ano vamos assinalar o 1oº aniversário da paz definitiva.
Seria uma boa data para lançarmos a década sugerida por MPA, que deveria durante durante todo este ano de 2011 ser preparada com o necessário cuidado/objectividade de modos a fixarem-se algumas metas realistas em vários domínios.
Como já está criada a Comissão Nacional de Luta contra a Pobreza dirigida pela Secretária do Presidente para os Assuntos Sociais, Rosa Pacavira, esta estrutura seria, obviamente, a mais indicada para assumir a coordenação de todas as actividades relacionadas com a preparação da década sugerida.
Tive muito poucas informações sobre os participantes, o conteúdo e os resultados da reunião mantida a semana passada entre esta Comissão e o conjunto da sociedade civil/igrejas.
No debate de domingo manifestei algumas reservas em comentar o mencionado encontro, porque acho que o Governo ainda tem bastantes dificuldades em dialogar com as sensibilidades da sociedade civil consideradas mais críticas, o que condiciona à partida a selecção dos seus parceiros.
Tantas são as dificuldades a este nível, que nos "laboratórios" mais radicais do sistema ainda se continuam a delinear "estratégias" de eliminação dos adversários "civilistas" pela via da ilegalização e de outros recursos mais esconsos típicos do arsenal dos estados totalitários.
Enquanto esta reserva mental/política se mantiver não será muito fácil a concertação e a procura de consensos a condicionar todo o processo de preparação de uma estratégia sustentável de luta contra a pobreza em Angola.
Não havendo propriamente um deserto de ideias no topo da pirâmide, é ponto assente que a conceptualização desta estratégia conforme ela se apresenta nesta altura é demasiado assistencialista para a dimensão que o combate contra a pobreza exige num país que tem os "miseráveis" indices sociais de Angola.
Este combate tem de começar bem lá de cima onde o bolo orçamental é dividido. Tem de começar pela definição dos critérios na alocação das verbas.
Não faz sentido travar um combate contra a pobreza em Angola, quando o nível de despesismo público/corrupção institucionalizada ultrapassa algumas imaginações mais férteis em multiplicar dígitos.
Não faz sentido este combate num país onde, por exemplo, um único tribunal superior tem para as suas despesas um orçamento anual superior ao de uma província inteira.
As ideias/propostas do Governo têm de passar pelo crivo de uma sociedade civil representativa, que não seja escolhida a dedo em função das simpatias/antipatias que se têm por cada uma das organizações/personalidades que a integram. O governo tem de ultrapassar esta barreira, o que não se afigura muito fácil.
============================================
Comentários...
============================================
Anónimo disse...
Tem soado "descaradamente" a falso a forma como os nossos governantes teem repetido o slogan "luta contra a fome e a pobreza" por da' ca' aquela palha. Indo ao encontro da linha de pensamento do Dr. Mario Pinto de Andrade, que diga-se a bono da verdade ultimamente tem sido muito coerente, e aos argumentos apresentados por Reginaldo Silva, alias WD, acho que e' preciso por-se os pe's no chao e assim pensar-se com realismo o combate a pobreza em Angola. A comissao liderada pela Dra. Rosa Pacavira tem que definir as linhas mestras, os actores e o papel destes. Desta forma evita-se a confusao que se tem assistido em que cada governante, talves para ganhar protagonismo no filme, se poe a propalar a luta contra a pobreza como meta do seu pelouro sem nos dizer claramente como. A luta contra a pobreza nao se limita a plantar e distribuir couves (quem diz couves diz tomates, batatas, etc) a populacao. (Essa e' a ideia com que tem ficado a maior parte da populacao menos avisada gracas a falta de clareza dos nossos governantes). Ela passa por definir metas para a educacao, a saude, a habitacao, o acesso a agua potavel, a electricidade, e para nao variar, ao saneamento basico, etc. Tudo isso tem que ser interligado com accoes melhor estructuradas, que nao se definem em workshops organizadas as pressas como e' de costume. E' neste contexto que apoio a ideia do Dr. Mario Pinto de Andrade ja que tudo isso requer tempo para definir tais metas e po-las em pratica...
28 de Março de 2011 21:26
===========================
Anónimo disse... Sr. W.Dada, o país precisa de uma década ou mais de luta contra a corrupção endémica que é a causa da pobreza e da MORTE dos filhos desta Angola querida. O dinheiro roubado tem de ser entregue ao povo para que um governo de pessoas sérias e com mãos limpas faça a gestão desse dinheiro que é de todos nós para salvar vidas. A Comissão de luta contra a pobreza sofre das mesmas patologias do Tribunal de Contas e da Alta Autoridade contra a corrupção, instituições ou ideias que não servem para nada. Criadas intencionalmente para nada. A Comissão de luta contra a fome e a pobreza trabalha com base no princípio de que há fome em Angola porque os angolanos alimentam-se mal (como disse na TV Zimbo o Dr. Norberto Garcia) e esse problema não tem solução. Não é nem será nunca um problema do governo e, por essa andar não vamos a lado nenhum. A tal senhora Rosa Pacavira vai continuar a pregar no deserto porque o dinheiro para combater a fome é dividido todos os dias entre os mesmos. E sem dinheiro para o combete a fome e a pobreza podem criar todas as comissões e mais algumas e eleger quantas décadas quisermos porque não vamos resolver nada. Precisamos de uma década de combate e eliminação total da corrupção. 29 de Março de 2011 07:04