quinta-feira, 3 de março de 2011
Vou rezar por ti, Armando Chicoca!
O jornalista angolano, Armando Chicoca, (AC) acaba de ser condenado no Namibe a um ano de prisão efectiva.
As lágrimas vieram-me aos olhos! Sabia que era muito difícil ele escapar da pesada espada que pesava sobre a sua cabeça, mas ainda cheguei a acreditei que era possível a absolvição.
O juíz que o perseguia ganhou a causa e conseguiu que o seu outro colega mandasse o nosso colega para o degredo, por ter exercido o seu dever profissional.
Acho que deixei de rezar aos 14 anos de idade, quando troquei a escola dominical da Igreja Metodista pelos domingos na Praia do Sol/Chicala, transformando-me no agnóstico que hoje sou.
Acho que nunca mais rezei, nem mesmo quando alguém que já não anda por cá, me mandou para os calabouços da DISA em Maio de 77, onde permaneci cerca de dois anos, sem saber, nos primeiros meses, se sairia de lá com vida.
Tive sorte,saí com vida.
A mesma sorte não tiveram muitos angolanos com que me cruzei naqueles meses de incerteza e angústia.
Esta quinta-feira depois de ter ficado a saber que o Armando Chicoca vai passar os próximos 12 meses da sua vida numa cadeia infecta por ser jornalista, decidi voltar a rezar.
Não sei bem a quem é que vou dirigir as minhas preces, nem sei como é que vou fazê-lo, pois a única oração que aprendi na minha vida e da qual ainda me lembro é o "Pai Nosso".
Será que esta dá?
Não creio, porque agora a oração que está a bater é a do "Pai Grande", e esta eu não conheço, embora já tenha ouvido falar muito dela.
Vou rezar, sobretudo, para que o AC saia de mais esta difícil provação da sua vida com vida, com saúde, pois sei que as cadeias angolanas representam um grande risco para a vida dos seus inquilinos, mesmo agora com os primeiros investimentos públicos que começaram a ser feitos, tendo em vista a humanização do nosso universo carcerário.
Vou rezar para que ele aguente firme, para que a sua família não se desmorone, para que os seus amigos no Namibe não deixem de visitá-lo e de levar-lhe muita fruta e água potável todas as semanas.
Vou rezar para que o AC continue a ser jornalista no Namibe depois de sair da cadeia, embora já seja pedir-lhe muito por razões óbvias.
O problema está mesmo na orientação.
A quem é que vou dirigir as minhas preces, pois como jornalista que sou, tenho a "mania" de ser objectivo?
Mas como não tenho mesmo outra solução para ajudar o AC neste seu novo calvário, completamente desesperado e desmoralizado, decidi voltar a rezar.
Espero que alguém que esteja na estratosfera deste país/regime e que tenha poderes para tal, oiça as minhas orações e devolva o mais rapidamente possível o Armando Chicoca à liberdade, onde ele pertence.
Se um dia já é muito, um ano pode transformar-se numa perigosa eternidade para a sua vida.
O AC não merece apodrecer numa cadeia.
O seu "crime" foi acreditar na liberdade de imprensa!