terça-feira, 22 de março de 2011
Angola faz golpe de rins para não perder o comboio
O Ministro das Relações Exteriores, George Chicoty, deu o dito por não dito, mas mesmo assim foi incapaz de dizê-lo bem dito, porque o que a União Africana defende/recomenda é a constituição de um governo de unidade nacional legítimo, ou seja, dirigido pelo Presidente eleito que é Alassana Ouatara.
O que Angola defendia era que o amigo ivoiriense, Laurent Gagbo, permanecesse no poder e conduzisse a Costa do Marfim para a realização de novas eleições, na condição de presidente constitucional.
A diferença entre uma posição e a outra é simplesmente abismal.
Uma coisa não tem nada a ver com a outra.
Angola agora vai ter mesmo de reconhecer Alassana Outara como sendo o novo Presidente da Costa do Marfim.
Este vai ser o próximo sapo que a diplomacia angolana vai ter de engolir.
Claramente e depois de todas as palmas, Angola, agora esteve de facto em ponto grande, mas como tendo sido a grande derrotada desta movimentação diplomática africana.
Eu tinha previsto este desfecho quando escrevi em Janeiro que com esta "intervenção", JES tinha diante de si um teste importante à sua capacidade de influenciar o continente, onde Angola já não é bem um país para esquecer, como foi no passado da guerra.
Este teste seria mesmo decisivo, pois caso não fosse bem ultrapassado poderia comprometer algumas aspirações da diplomacia angolana a ter um maior protagonismo junto da UA e da comunidade internacional.
Seja como for, disse na altura, depois da trapalhada que foi a presença do embaixador angolano na cerimónia de tomada de posse de LB em Abidjan, Angola já tinha corrigido o tiro, devendo agora alinhar pela solução da repetição das eleições.
O problema é que o clima da CI deteriorou-se de tal forma que ninguém acredita que se possam realizar eleições tão cedo.
Assim sendo, também não me parece que a solução do "presidente constitucional" defendida por JES venha a ser aceite pelos seus pares.
E não foi mesmo, por mais que George Chicoty se esforce agora por dourar a pílula que foi este estrondoso fracasso.