domingo, 13 de julho de 2008

Os partidos, as eleições e os analistas (1)


1-A propósito das makas eleitorais com base na analise divergente de um determinado artigo da Lei Eleitoral, o polémico 62º, nos últimos dias e com as vestes do RS, foi notória e pública a minha discordância com todos aqueles que acham que os partidos políticos são os vilões deste processo.

Todos ou apenas alguns?
Parece que se trata apenas de alguns que são, entretanto, a esmagadora maioria deles.
As vezes e tendo como referência alguns pronunciamentos mais ostensivamente antipáticos e rancorosos que se ouvem aqui e acolá, fico mesmo com a impressão que se pretende atribuir aos (novos) partidos políticos a culpa por todos os males que têm atormentado a vida dos angolanos, desde que este país entrou para o concerto das nações livres em Novembro de 1975.
Como é evidente, os autores destes pronunciamentos só podem estar “esquecidos” dos 15 anos de monopartidarismo, repressão totalitária e guerra civil aos quais se seguiram a partir de 1992 mais 10 anos de um devastador conflito pós-eleitoral.
Em nenhuma destas duas etapas da recente história do nosso país, os novos partidos políticos tiveram qualquer responsabilidade, tiveram qualquer protagonismo.
Em nome do conhecimento que possuo da realidade dos factos relacionados, nomeadamente, com processo preparatório das eleições, que já se arrasta há mais de dois anos desde o início das operações de registo, reafirmo aqui a minha discordância com todas as vozes que actualmente se dirigem aos novos partidos políticos como sendo os maus da fita, os preguiçosos, os oportunistas, os arrivistas, os incapazes, os incompetentes.
Não é nada disso.

2-Em causa está o mínimo de justiça e respeito que os partidos políticos me merecem ao mesmo tempo que me recuso, enquanto cidadão consciente e observador atento da realidade nacional, a substituir-me as urnas do próximo dia 5 de Setembro.
Não é este o papel que quero desempenhar, não me parece que esta seja a melhor via de contribuir para o sucesso de um processo que a todos nós interessa e diz respeito, antes de mais, porque em perspectiva está a conclusão do processo de pacificação e reconciliação nacional, com o regresso do país à sua normalidade politico-constitucional.
As próximas eleições têm de facto um significado muito especial para todos os angolanos, após de cerca de três décadas de conflito militar.
Em abono da verdade e do respeito que, naturalmente, nos merece a lei fundamental deste país, só as urnas têm a soberania necessária e suficiente para nos dizer quem é quem na política angolana, onde há mais de 15 anos não se realizam eleições.
A culpa não é, certamente, dos novos partidos políticos.
É nas urnas que será feito o ajuste de todas as contas e é de lá que sairão os “sobreviventes” da grande batalha democrática com direito a continuarem a caminhada como nossos representantes no parlamento, caso não sucumbam, pois a lei diz que quem não conseguir 0,5% dos votos desaparece do mapa.
É assim que será feita a selecção natural das nossas espécies politico-partidárias.

Caso tudo tivesse corrido bem desde as primeiras eleições de 1992, hoje, certamente, já não estaríamos aqui a discutir se há ou não partidos a mais.
Como as eleições previstas não aconteceram, estão nesta altura, quer se goste deles, quer não, todos os partidos legalizados junto do Tribunal Supremo, sejam eles do norte, do centro ou do sul, em igualdade de circunstâncias, com os mesmos direitos e com as mesmas expectativas, merecendo o mesmo tratamento por parte de todas as entidades que exercem o poder público, assim como da imprensa.
É isto que a lei defende e recomenda.
Tudo o resto que se possa dizer do seu desempenho são opiniões, são pontos de vista, são percepções que temos de saber cruzar de forma equilibrada no espaço de um debate público realmente contraditório em pé de igualdade e com a participação de todos, começando por ouvirmos o que nos têm a dizer os legítimos representantes dos partidos políticos.
Lamentavelmente, é isto o que ainda não está a ser feito por razões que não são fáceis de entender, num país que vai realizar eleições dentro de pouco menos de dois meses
Afinal de contas são os partidos políticos e não os analistas, quem tem a grande responsabilidade de representar, na corrida para o poder, as opções dos cidadãos eleitores.
Os partidos políticos são as únicas entidades que têm essa capacidade que lhes é conferida pela constituição.
Como pode a comunicação social promover eleições, mobilizar o eleitorado, esclarecer os cidadãos, combater o absentismo, sem falar com os partidos políticos?
É o verdadeiro reino do absurdo mediático que, esperemos, venha a ser ultrapassado o mais rapidamente possível em nome da urgência que é a rápida aproximação do dia D.