"Nesta hora definitiva para a vida de todos nós em que a
tristeza é, certamente, um dos sentimentos mais profundos a unir-nos neste adeus
final ao Jornalista Aguiar dos Santos, em nome de todos os membros da classe
que o SJA representa e de todos os confrades que connosco se identificam,
associamo-nos a esta cerimónia para a derradeira homenagem de alguém que soube
merecer e honrar a profissão que abraçou.
Juntamo-nos a este acto para homenagear um dos fundadores do
nosso Sindicato constituído em Luanda há mais de 20 anos num gesto histórico,
libertador e democrático, porque o SJA foi de facto a primeira organização do género
a romper com a prática do sindicalismo politicamente controlado, herdado do
regime monopartidário, que ensaiava na época os primeiros e titubeantes passos
da abertura ao multipartidarismo.
Aguiar dos Santos foi, sem dúvida, o mais activo animador do
projecto sindical, tendo estado desde o início dos trabalhos preparatórios, na
Liga Nacional Africana, ligado ao grupo restrito de jornalistas que se contava pelos
dedos das nossas duas mãos e que soube desafiar com coragem e determinação
todas as ameaçadoras leis da gravidade política que ainda pesavam na época.
Esta sua entrega ao projecto iniciada na obscuridade de uma
das salas da Liga, prolongou-se até à organização da Assembleia que no anfiteatro
da Faculdade de Arquitectura a 28 de Março de 1992 viria a proclamar o SJA e a
eleger os seus primeiros corpos gerentes, tendo AS ocupado a pasta da
organização.
AS foi particularmente activo na organização desta
Assembleia, onde se incluem as questões logísticas e a procura de patrocínios,
tendo saído do seu punho o “draft” que viria a ser aprovado como Declaração de
Constituição do SJA.
Para além de outras razões, Aguiar dos Santos ganhou assim o
direito de permanecer na história do nosso jornalismo e da galeria dos notáveis
do SJA, também como um activo defensor dos direitos laborais dos trabalhadores.
Foi nessa mesma altura que Aguiar dos Santos acompanhado
pelo Mário Paiva participou na capital nambiana num outro encontro histórico,
que foi o seminário organizado pela UNESCO tendo em vista a promoção de uma
imprensa africana independente e pluralista e do qual viria a resultar a criação
do MISA e a adopção do 3 de Maio como sendo actualmente a jornada mundial
consagrada pelas Nações Unidas à liberdade de imprensa.
Em abono da verdade e como jornalistas a nossa tristeza pode
ser hoje e aqui bem maior, porque aos 57 anos de idade e mais de trinta pelas
estradas sempre esburacadas e desafiantes da comunicação social angolana, Aguiar
dos Santos deixa-nos um espaço vazio que ele ainda não tinha acabado de
preencher.
De facto estamos diante de uma partida a todos os títulos
prematura ditada pelas curvas apertadas dos últimos anos da sua vida em que a
saúde não foi certamente a sua mais fiel e solidária companheira, numa
progressiva e inexorável separação que se veio a revelar fatal para o homem e
para o Agora, que mais do que um jornal foi de facto a sua grande e última
paixão profissional, a culminar uma riquíssima trajectória pelos caminhos do
labor jornalístico, iniciada na revista Novembro e com passagens pela ANGOP,
Jornal de Angola, Correio da Semana e Imparcial Fax do saudoso Ricardo de Mello,
para citarmos apenas algumas das suas etapas.
O AGORA foi uma paixão que ele soube defender e manter viva
até aos últimos momentos da sua vida, numa maré de grandes e pequenas
dificuldades em que a sobrevivência do projecto passou a ser uma questão de
resistência contra o tempo e de todas as horas, para fazer face as despesas
imprescindíveis, num mercado em que a publicidade vital passou a ser uma moeda
de troca negociada em conhecidos e poderosos bastidores da nossa sociedade onde
agora tudo se decide.
AS parte numa altura em que o seu exemplo inspirador e o seu
desempenho frontal nunca foram tão necessários como referência estimulante
tanto para os mais novos como para os mais velhos, diante dos desafios que se
mantêm, sendo, certamente, o mais sensível aquele que tem a ver com
sobrevivência do jornalismo independente e com uma agenda própria ao serviço
exclusivo do interesse público, que ele soube como poucos não confundir nunca
com outros interesses que cada vez são mais poderosos, expansivos e asfixiantes
no relacionamento que mantêm com o espaço mediático.
O SJA está convencido que a maior homenagem que podemos
prestar ao AS é tudo fazermos para não deixarmos o Agora morrer, como um
projecto realmente independente e ao serviço exclusivo da democratização e do
desenvolvimento de Angola.
Aguiar dos Santos vamos continuar juntos!
Sindicato dos Jornalistas Angolanos em Luanda aos 10 de
Setembro de 2012"