sexta-feira, 29 de outubro de 2010

O morro volta a funcionar a partir do próximo dia 5 de Novembro

Calmex! Portem-se com juízo e, sobretudo, não agridam mais a malta da comunicação social. Assim não dá!

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Actualizações em banho maria...

Por motivos de força maior este morro está a observar um periodo de alguma letargia/hibernação, em virtude do seu gerente ter sido extraditado para o exterior do país com a sua competente autorização, pelo que no seu regresso não se deverá registar nenhuma remodelação ministerial. A única coisa que o gerente ora extraditado promete é ir dando notícias breves sempre que as autoridades locais permitirem o seu acesso a Net, o que não acontece com Li Xiaobo, o novo Nobel da Paz. Se por acaso estão a pensar que o gerente está na China do cda Mao, enganaram-se redondamente. Lá os bloguistas foram todos extraditados...

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Juro-vos neste Estado da Nação dizer-vos a verdade e só a verdade

Por força da sua dignidade constitucional é recomendável que se faça deste exercício chamado "Estado da Nação" um momento único, original, da nossa vida política política nacional, que o diferencie de todos os outros, porque nenhum como este se reveste de tanta solenidade e responsabilidade.
Pela primeira vez o mais alto magistrado do país vai ao parlamento falar da Nação com a obrigação ética, política e jurídica de informar o país sobre o seu Estado real.
É de facto um momento de grande introspecção, frontalidade e abrangência, que deveria dispensar a propaganda, o subterfúgio e as habituais tervergisações do discurso político de ocasião.
Desta vez era bom que não nos preocupassemos muito com a imagem, com o verniz, com o batôn e com o rimel. Era bom que, olhos nos olhos, falassemos apenas de um país real chamado Angola e não de outro qualquer parecido com este.
Será assim a partir de agora, todos os anos, na abertura do ano parlamentar, pelo que o 15 de Outubro já é mais uma data que terá necessariamente de figurar no calendário das grandes obrigações da classe política em relação a todos nós.
A maior obrigação é, sem dúvidas, dizer a verdade, custe o que custar, sabendo nós que a verdade e a política nem sempre andam de mãos dadas, sendo já o desmentido um dos maiores recursos estratégicos de quem está na política.
O "Estado da Nação" traçado pelos políticos que estão no poder é antes de mais dirigido a todos nós, nós que os elegemos e os transformamos em nossos representantes com um mandato muito específico no espaço e no tempo, que é o de, em cinco anos, tentarem resolver parte dos nossos problemas com o dinheiro que é de todos nós, mas nem sempre parece que assim é, tendo em conta a sua actual distribuição do rendimento nacional.
Depois seremos novamente nós, os eleitores, a fazermos nas urnas o outro "Estado da Nação" com o nosso voto favoravel ou desfavoravel à sua continuação.
Para mim o discurso sobre o Estado da Nação deveria, à semelhança do que se passa com as testemunhas nos tribunais, ser precedido de um juramento sobre o compromisso com a verdade e só com ela.
Do género: "Juro-vos neste Estado da Nação dizer-vos a verdade e só a verdade!"

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Os mineiros chilenos e as detidas da DNIC

Ao acordar esta quinta-feira com a notícia sobre o sucesso total da operação de resgate dos 33 mineiros chilenos, veio-me a memória o drama pungente das mulheres angolanas que morreram soterradas nos escombros do colapsado prédio da DNIC.
Elas estavam praticamente à superfície.
Os mineiros chilenos foram salvos após terem permanecido cerca 70 dias a uma profundidade de 700 metros.
A mina que os aprisionou e que por pouco não os matou tinha graves problemas de segurança.
As mulheres angolanas (mais um bébé) que se encontravam detidas nas caves/calabouços da DNIC morreram, após alguns dias, terrivelmente esmagadas pelos destroços de um edificio que tinha anunciado várias vezes que queria "bazar", que estava cansado de suportar um peso (que todos os dias aumentava de intensidade) incompatível com a capacidade da sua estrutura.
Sinceramente, sempre tive muitas dúvidas em relação à forma como foi conduzida a tentativa de salvamento daquelas heroínas já esquecidas e que nunca irão ser homenageadas neste país, pelo menos enquanto o MPLA for governo.
E as indemnizações, será que foram pagas?
Será que o referido processo obedeceu ao que, do ponto de vista mais técnico, é recomendável pelos especialistas diante deste tipo de catástrofe?
Esta dúvida voltou a visitar-me esta quinta-feira depois da notícia sobre a conclusão com êxito do resgate dos 33 mineiros chilenos em condições tão complexas e tão dramáticas.
Nem sequer conheço os nomes das mulheres angolanas trucidadas pelos escombros do prédio da DNIC e muito menos os seus rostos.
A única homenagem que elas acabaram por ser objecto veio do teatro, com uma peça encenada pela companhia do Walter Cristovão(WC) e que eu gostaria de ter visto.
Curiosamente, esta peça, que esteve muito pouco tempo em cena, teve, segundo me disseram, dois tipos diferentes de epílogo, nas duas temporadas em que foi exibida.
Disseram-me que na segunda versão, ouvem-se as vozes das mulheres trucidadas, a falarem já do além, agradecendo ao "Camarada Presidente" pelos esforços feitos em prol da sua salvação.
Sinceramente, não acreditei na minha fonte.
É verdade WC?

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Estado da Nação: O JA já sabe o que o Presidente vai dizer

(…)O Presidente da República vai seguramente dizer ao país, ante os eleitos pelo povo, que num clima de grave crise internacional, este ano Angola vai registar um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) na ordem dos 4,5 por cento. (…) O Presidente da República vai dizer ao país que o mundo rural começa a caminhar por si, que as pescas continentais começam a ter expressão, que os grandes projectos agro-industriais estão a produzir os resultados esperados. (…) O Presidente da República não vai seguramente dizer ao país que está tudo bem e vamos ficar ainda melhor. Mas vai dizer que o desemprego em Angola desce quando sobe em todos os países desenvolvidos. Que a nossa economia cresce quando está em recessão ou estagnada nos países mais ricos do mundo. (…) O Presidente da República vai dizer aos angolanos que o Estado da Nação é bom, mas podia ser melhor. Para darmos esse salto qualitativo, é preciso o empenho de todos, o trabalho de todos. Desde o início da legislatura, Angola percorreu um caminho longo de sucessos, mesmo num clima universal de crise. O Chefe de Estado, na sexta-feira no Parlamento, vai seguramente dizer que podemos ir muito mais longe. No final da legislatura vamos seguramente ter muito que festejar. (In editorial do JA/13-10-10) PS- O conteúdo taxativo deste autoritário editorial parece ser o resultado de um rigoroso exclusivo que o "nosso Pravda" obteve junto da presidência angolana. A confirmar-se este furo, vamos ter na melhor das hipóteses um "Estado da Nação Autista", que não é exactamente aquilo que prevê a Constituição no seu artigo 118. O referido artigo diz que o Presidente da República dirige uma mensagem ao país na abertura do ano parlamentar "sobre o Estado da Nação e as políticas preconizadas para a resolução dos principais assuntos, promoção do bem-estar dos angolanos e desenvolvimento do País". Ainda há, entretanto, alguma esperança de que tal não venha acontecer, caso o Presidente não me mande comprar hoje o JA, nem leia nas próximas 48 horas este blog. PS1- Tendo em conta o conteúdo bastante auto-crítico das últimas intervenções públicas do próprio PR, não há nada que, para já, nos leve a admitir que JES venha a acatar as "orientações estratégicas" do Jornal de Angola. Com este editorial, o JA acabou por nos remeter à famosa tese sobre o "Significado político da manipulação na grande imprensa(1988)" do conhecido académico brasileiro Perseu Abramo (já falecido) para quem os jornais estão a assumir o papel dos partidos. Tendo como paradigma, obviamente a realidade brasileira, PA escreveu a propósito, o seguinte: "Se os órgãos não são partidos políticos na acepção rigorosa do termo, são, pelo menos, agentes partidários, entidades para-partidárias, únicas, sui generis. Comportam-se e agem como partidos políticos. Deixam de ser instituições da sociedade civil para se tornarem instituições da sociedade política. Procuram representar - mesmo sem mandato real ou delegação explícita e consciente - valores e interesses de segmentos da sociedade. E tentam fazer a intermediação entre a sociedade civil e o Estado, o Poder". Não temos qualquer dúvida em ver neste espelho traçado por PA, reflectida a imagem do "nosso Pravda".

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

BNA: Finalmente com o homem certo no lugar certo

Na edição deste domingo do Semana em Actualidade da TPA, o primeiro tema passado em revista foi a recente remodelação do Executivo, que, pelos vistos, vai prosseguir dentro de mais alguns dias com as atenções viradas agora para os governos provinciais Nas nossas previsões, sustentadas pelo “mujimbu press”, está o mais do que provável afastamento de Isaac dos Anjos da Huíla e a sua substituição por Pedro Mutindi que será assim devolvido à "procedência".Isto depois de ter andado pela capital uns meses a tentar dirigir a hotelaria e o turismo, uma área que lhe foi entregue sem grande critério ao nível da especialidade, considerando a sua experiência anterior de mais de vinte anos à frente do governo provincial do Cunene, onde no inicio da década de 80 substituiu o Comissário Ary da Costa. Onde é que andará este antigo capitão das gloriosas? [A confirmar-se esta informação, a cidade do Lubango poderá viver alguns dias de intensa euforia, com manifestações públicas de júbilo por parte da população local que deste modo irá festejar a queda de Isaac dos Anjos na sequência de tudo quanto já é sobejamente conhecido ao nível das consequências dramáticas da sua política de gestão urbana.] Nesta remodelação destaquei duas notas, sendo a primeira negativa e a segunda bastante positiva, que, entretanto, durante a emissão do programa acabou por não ser conhecida dos telespectadores devido a um lamentável erro de edição do debate que é gravado no sábado. A nota negativa foi para a extinção do Ministério da Coordenação Económica na sequência da demissão do seu anterior titular, Manuel Nunes Junior, como se aquela estrutura tivesse sido desenhada apenas para ser “vestida” pelo Professor Doutor. A criação do novo Ministério da Economia para “acomodar” Abraão Gourgel na “segunda divisão”, foi uma emenda pior que o soneto e não nos convenceu. Demasiado experimentalismo para um governo que tem tantos e tão urgentes desafios pela frente. A minha nota positiva foi para a nomeação de José Lima Massano para o cargo de Governador do Banco Nacional de Angola. Primeiro sempre achei que a anterior nomeação de Abraão Gourgel (AG) para o cargo tinha sido resultado de mais um “erro de paralaxe”, que já são recorrentes neste país na indicação dos detentores de cargos públicos. Em Angola os critérios de proximidade e lealdade acabam por ter sempre preponderância em relação aos outros, o que, note-se, acontece mesmo dentro da mesma família político-partidária. De facto e também tendo em conta a sua experiência anterior, AG, apesar da sua formação académica, não reunia as condições mínimas para segurar num leme tão complexo e especializado, como é a direcção de um banco central. Com José Lima Massano arriscamo-nos a dizer, com todas as limitações decorrentes da conjuntura política, que estamos muito próximos do perfil ideal, que estamos quase diante do homem certo, no lugar certo. Estamos diante de um jovem bem formado e já com suficiente experiência ao nível da gestão do sector bancário, conforme atesta o seu CV. Depois de Ricardo de Abreu, este novo recurso ao BAI para preencher os quadros superiores do BNA poderá, entretanto, ter contra si, a nível internacional, a imagem menos positiva que o Banco Africano de Investimentos está a viver. Isto, depois das conclusões tornadas públicas, resultantes de uma recente investigação levada a cabo por uma comissão do Senado dos Estados Unidos relacionada com a presença da corrupção estrangeira no mercado norte-americano. Do novo Governador esperamos agora que ele não se esqueça das posições críticas que assumiu quando, na pele de gestor da banca comercial, sentiu a mão pesada do Banco Central a ameaçar a sobrevivência do negócio. Esperamos que ele seja capaz de fazer do BNA um instrumento de desenvolvimento harmonioso da economia nacional e de apoio ao crescimento do tecido empresarial. O Banco Central não pode olhar apenas para os interesses do Estado. Tem de saber a cada momento da conjuntura fazer a melhor leitura da situação para agir em conformidade com o interesse nacional que nem sempre coincide com a estratégia do Governo (ou de alguns governantes?). A acumulação da dívida pública interna e externa (estratégia do kilapi) está a ser devastadora para a manutenção do nível do emprego, que é uma variável macroeconómica que não pode ser descurada em nome da estabilidade social e muito particularmente num país que tem os alarmantes índices de pobreza como é o caso de Angola. *********************************************************************** BNA precisa de ser revolucionado *********************************************************************** comentários: JCRC disse... Caro WD, Na minha humilde opinião, esta crise está a expôr a incapacidade governativa do nosso executivo e a falta de ideias do PR José Eduardo dos Santos. 1. O PR falhou redondamente quando simulou uma remodelação (a orginal) do governo, quando todos esperavam um emagrecimento inventou uns casamentos forçados e criou novas estruturas. 2. O Ministério da Coordenação Económica nunca fez sentido para mim, assim como não faz o novo Ministério da Economia. O lógico seria um Ministério da Economia que concentrasse uma série de pastas voltadas para o planeamento e desenvolvimento como (1) Ministério do Planeamento; (2) Ministério do Comérico; (3) Ministério da Hotelaria e Turismo e eventualemente o Ministério da Indústria. 3. Penso J.L. Massano ajusta-se melhor ao cargo do que A. Gourgel. Mas no que toca ao Banco Central, regista-se aqui uma das maiores borradas de Nunes Júnior, um académico formado em Inglaterra acabar com a independência do Banco Central é imperdoável, nem Keynes aceitaria isso. O nosso BNA precisa de uma revolução para se tornar num verdadeiro Banco Central com independência e um departamento de estudos/investigação produtivo e de excelência, o Banco Central tem de ter um pendor mais acadêmico do que político/partidário. 4. O nosso PR ainda não percebeu que os governos provinciais só irão funcionar com eleições autárquicas (sem as limitações da actual constituição quanto a necessidade de filiação partidária dos candidatos) e com controlo efectivo de despesas e maior capacidade de angariação de fundos próprios. 5. Meu caro, todos sabemos que o país padece de falta de debate alargado mas se ao menos dentro do maior partido houvesse debate já seria um passo. Enquanto o MPLA não abandonar o princípio "vamos esperar a opinião do camarada presidente" o país vai continuar sem rumo. Nenhuma nação é construída com as ideias de uma única pessoa. 12 de Outubro de 2010 08:18

Por uma rádio parceira!

Este fim-de-semana participei em dois debates informativos. Para além da já habitual presença com o Ismael Mateus no “Semana em Actualidade” da TPA no domingo (19.30-20.00), a minha agenda começou sábado de manhã pelo “Tendências e Debates” da Rádio Nacional, para onde há muito tempo já não era convidado, embora seja neste momento a prata mais antiga daquela casa de rádio no activo, com um percurso feito de várias etapas, desde que em Outubro de 1975 com 19 anos de idade, falei pela primeira vez aos seus microfones. Se estiver errado agradeço que me corrijam. O meu afastamento da grelha dos “fazedores de opinião” da RNA data da campanha eleitoral de Setembro 2008, por me ter recusado a gravar previamente os comentários sobre a política nacional que fazia quinzenalmente, às segundas-feiras, intercalando com o Ismael Mateus, outra prata antiga (um pouco mais nova) da casa que nos é comum. Em meu entender tal exigência da Direcção da RNA tinha como objectivo censurar as opiniões que pudessem beliscar de algum modo a imagem política do MPLA. Ao obrigar os comentaristas a gravarem a sua intervenção, que anteriormente era feita em directo, o DINF da RNA estava, claramente, a enviar-lhes uma mensagem de corte, “convidando-os” a praticarem voluntariamente a auto-censura, se não quisessem depois ser alvo das atenções cirúrgicas do “tesoureiro de serviço”. Com um tal entendimento e em nome da minha dignidade e da noção que tenho da liberdade de expressão, não era possível submeter-me a um tal “martírio”, praticado por jovens samurais que eu vi crescer. De lá para cá nunca mais fui convocado a integrar a grelha oficial dos “fazedores de opinião” da RNA, mantendo, contudo, a minha presença na vizinha TPA, num desenvolvimento aparentemente contraditório para quem conhece e acompanha o desempenho do “Big Brother” na área da média estatal. Sinais dos novos tempos! Este sábado o “Tendências e Debate” foi dedicado ao papel da rádio na reconstrução nacional, por ocasião da passagem do 5 de Outubro. O tema permitiu-nos, uma vez mais, destacar a importância que a independência dos médias representa, tendo em vista a cabal assumpção das suas responsabilidades para com a sociedade no seu conjunto, de acordo com o interesse público. Defendi nesta conformidade a existência de uma “rádio parceira” em oposição a uma “rádio subordinada” ou a uma “rádio bem comportada”, o que também não tem nada a ver com uma “rádio rebelde”. Tal parceria só é possível estabelecer-se entre entidades que prezam a sua independência e demarcam o seu espaço próprio; entre entidades que se respeitam e aceitam colaborar para o bem comum. Só assim a rádio pública em Angola estará em condições de colocar o seu imenso potencial ao serviço da reconstrução nacional, contribuindo com uma informação objectiva, que tem necessariamente de ser crítica, para que o actual esforço ao nível, sobretudo do investimento público, se venha a traduzir em obras sérias, com a qualidade que delas se exige, o que ainda não se verifica em muitos casos. A rádio não pode servir a reconstrução nacional apenas com mensagens propagandísticas e com coberturas protocolares de inaugurações ou ainda com reportagens superficiais e cosméticas sobre o andamento dos projectos. A rádio tem que ser capaz de informar e alertar o seu parceiro Governo, ouvindo outras opiniões abalizadas, sobre os problemas que qualquer projecto na área da construção civil normalmente enfrenta. Em Angola estas dificuldades são a dobrar, por isso o papel crítico da informação radiofónica é ainda mais necessário e urgente. Há muito dinheiro nesses projectos que está a ser mal utilizado, devido a ausência de uma fiscalização competente e acutilante. A rádio pode estimular a fiscalização a desempenhar correctamente o seu papel, dando-lhe o necessário espaço na sua programação. Claramente a reconstrução nacional está-nos a custar os olhos da cara. Neste país ninguém faz contas sérias, quando o “Braga é o tesoureiro”!

domingo, 10 de outubro de 2010

10-10-10

O calendário gregoriano que orienta o nosso tempo coloca-nos neste domingo três vezes diante do número 10. Vamos ver se esta coincidência é mais do que isso...

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

A rádio vista pela lente omissa/míope de um editorialista

O Jornal de Angola, também conhecido nestas bandas pela carinhosa e muito íntima designação de "nosso Pravda", que irrita solenemente o Manribas, dedicou o seu editorial da passada quinta-feira (7/10/10) ao dia da Rádio Nacional que é o 5 de Outubro, com o título de "Percurso glorioso". Para além dos nomes que durante o tempo colonial marcaram o percurso da rádio em Angola desde que ela surgiu na década de 30 em Benguela, o editorialista de serviço apenas citou mais três outros profissionais que fizeram época já depois da independência, a saber, Rui de Carvalho, Manuel Berenguel e Francisco Simmons, por sinal todos já "embarcados". Curiosamente também todos eles provenientes da rádio ainda feita durante o tempo colonial. Exclusivamente do pós-independência o editorialista do "nosso Pravda" não se referiu a um único nome, tendo feito apenas uma vaga, despersonalizada e algo paternalista alusão a "jovens talentosos [que se] mantêm nas várias estações de rádio espalhadas por todo o país". "Jovens", alguns dos quais hoje já têm mais de cinquenta anos no lombo. Esta omissão (ou miopia?) que é grave, não agrada a todos nós que fizémos rádio (e continuamos a fazer) neste país durante os últimos 35 anos. A mim pelo menos não. O editorialista de serviço, tudo leva a crer, não esteve em Angola durante estes longos anos que já levamos no pêlo, como jovem nação africana independente. O muito nosso JA não pode, por seu lado, encomendar um editorial deste género a quem não conhece o país ou a quem o conheceu apenas durante o colonialismo. E mesmo durante esse periodo, o seu conhecimento não nos convenceu muito, devido ao facto de não ter feito qualquer referência, nomeadamente, aos profissionais que trabalhavam no Angola Combatente (AC), um célebre programa de rádio feito por militantes angolanos do MPLA e que era transmitido pela Rádio Brazaville. Foi através do AC que muitos angolanos aderiram aos ideais da libertação nacional que as rádios citadas pelo editorialista de serviço pura e simplesmente ignoravam ou hostilizavam. Ou será que no seu entendimento aquilo não era rádio? O "Percurso glorioso" da rádio foi feito com muitos outros nomes que o editorial do JA não quis citar, porque o seu escriba de serviço não ouviu a rádio em Angola durante os últimos 35 anos. Foi muito tempo sem ouvir a nossa telefonia, para depois se ter a pretensão de escrever sobre ela no seu conjunto, o que perfaz um percurso de cerca de 70 anos, que nos conduziu até aos dias de hoje.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

(Makas na TPA- 2) Em causa o Estado de Direito

Elegi a maka do acordão do Tribunal Constitucional que ditou a anulação do processo SME e a consequente libertação dos réus condenados (Quina e pares), como sendo entre as quatro abordadas domingo último no Semana em Actualidade da TPA, a mais estruturante do ponto de vista da democratização da sociedade angolana, que continua a ser um projecto em vias de (contraditória) implementação.
Como se sabe, pela sua novidade, uma verdadeira lufada de ar fresco, o conteúdo do referido acordão provocou um terramoto ao nível do poder judicial e dos seus operadores, com as ondas de choque a espalharem-se depois por toda a sociedade e a alimentarem um acalorado/apaixonado debate aos mais diferentes níveis que prossegue actualmente.
Até aqui tudo bem, nada a reclamar, pois só assim Angola do presente poderá realmente mudar no futuro e não fingir que está a mudar como tem acontecido.
Destaquei no debate de domingo último, no que fui acompanhado pelo Ismael Mateus, que a mais importante lição a retirar-se desta maka, prende-se com a necessidade de, a partir de agora, o aparelho judicial ter em devida conta o que reza a nova Constituição, o que pressupõe que todos os seus operadores, com destaque para os magistrados judiciais (juízes), passem a observar com o necessário rigôr os seus diferentes principios, direitos e deveres, postulados e exigências.
De facto e até para não se correr o risco de se vir a banalizar, de algum modo, o recurso ao Tribunal Constitucional por dá cá aquela palha, sem minimizar a importância de cada caso, pois cada caso é mesmo um caso, os juízes conselheiros, os juízes de direito e os juízes municipais tem de ser os primeiros e mais intransigentes defensores das normas constitucionais.
É este o seu primeiro dever enquanto defensores da lei.
Os magistrados do Ministério Público têm igualmente o mesmo dever.
Se assim for, o sistema não terá necessidade de ter um "polícia" tão omnipresente.
Mas enquanto tal não acontece, o Tribunal Constitucional tem de facto de assumir as suas responsabilidades nesta etapa inicial da 3ª República ao mesmo tempo que deve tomar a iniciativa de promover o debate intra-muros e com toda a sociedade, com a finalidade de esclarecer o país sobre o novo figurino que está anexo à Constituição.
Em termos institucionais, tal observação (respeito integral) pressupõe muito mais.
Pressupõe uma reforma urgente de todo o sistema de justiça, pois conforme ele está estruturado, já está em rota de colisão com os novos fundamentos do Estado de Direito. Não sou eu que o digo. É o que tenho ouvido da boca de destacados jurisconsultos da nossa praça.
Para enfatizar esta necessidade levei para o debate o livro da Constituição, cuja leitura fiz questão de recomendar a todos os telespectadores e muito em particular aos responsáveis do país, como sendo da maior importância no arranque desta 3ª República.
Polémico ou não, o acordão do TC teve assim o grande mérito de acordar o "país dos tribunais" para lhe comunicar que a Angola de ontem já não serve para os dias de hoje e muito menos para os dias de amanhã.
Todos estamos de acordo que os direitos e as garantias fundamentais dos cidadãos são o ponto forte (mais positivo) da nova Constituição.
Se o texto constitucional mudou tão profundamente, as consequências têm de ser sentidas de alto a baixo em todo o aparelho judicial, começando pela base, pela instrução dos processos, nomeadamente com a reavaliação do papel da "judite"e a inevitável introdução dos juízes de instrução no circuito da justiça, como sendo uma das garantias da sua independência e isenção. Há, claramente, policia a mais no sistema, com todas as consequências negativas resultantes deste excesso, típico dos regimes autoritários de que Angola é tributária, tendo em conta todo o seu passado histórico.
Dizer que o país mudou e continuar tudo na mesma, parece ser a estratégia de muito boa gente neste país, que está enquistada nos vários escalões da sua hierarquia, disposta a resisitir enquanto for possível.
Lamentavelmente, poder judicial não constitui excepção neste entrincheiramento, que só pode ter como consequência um clima de guerrilha institucional que já ficou bem patente por ocasião do Ácordão do TC sobre o processo SME.

Análise de conteúdos

O Novo Jornal (NJ) foi no último fim-de-semana, o semanário que, possívelmente, mais terá tentado aprofundar a investigação à volta da "extradição", o ano passado, do cidadão português
Jorge de Oliveira que se encontrava a residir em São Tomé.
Uma história, recorde-se, prontamente noticiada (e denunciada) na altura pelo Folha-8, com honras de manchete.
Cerca de um ano depois a tentativa de esclarecimento do cabeludo dossier pelo NJ acabou, entretanto, para quem leu a matéria com alguma atenção, por provocar alguma confusão, pois em dois artigos distintos o mesmo jornal apresenta-nos versões c0ntraditórias dos factos, o que começa por ser visível na forma como os textos foram titulados.
No primeiro trabalho, que não está assinado, sente-se claramente que a "intenção" do autor é a de proteger políticamente a figura do exonerado Ministro do Interior.
Na segunda versão assinada por Isabel João, o panorama apresentado é bastante diferente, tendo, como é evidente, um resultado diametralmente oposto para a imagem do General agora caído em desgraça.
Há ainda a particularidade de, nos dois textos, as fontes citadas pelo NJ serem anónimas.
Neste caso e em nome da recomendável coerência jornalística não teria sido melhor que o editor de serviço fizesse a harmonização das duas matérias e desse à estampa apenas um texto?

SOS: Clube K está refém de um hacker!

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Makas na TPA (1)

Este domingo o programa Semana em Actualidade da TPA,também conhecido neste morro por Oásis, foi dominado (preenchido) por 4 makas, a saber: 1-Exoneração "on line" do Ministro do Interior;2- Libertação dos presos do processo SME; 3- Condenação de Mello Xavier; 4- Surgimento de uma suposta filha mais velha do Presidente JES. Conduzidos por Antunes Guange, os "makeiros" de serviço foram Ismael Mateus e Reginaldo Silva. [Mais pormenores nos próximos momentos. Fiquei sem luz. O abastecimento intermitente da preciosa energia que tem marcado a vida da capital angolana nas últimas semanas, bem poderia ter sido incluído no debate como a quinta maka. Não perde pelo adiamento, pois as coisas neste âmbito vão agravar-se, de acordo com os prognósticos do já falecido Engenheiro Murphi, o tal que inventou a teoria do nada está tão mal que não possa piorar ainda mais. Na altura, Luanda ainda não sido eleita a cidade mais cara e mais complicada do mundo.] PS1- Sem entrar no mérito da causa, sinceramente, já aqui o disse, e sem ter que rebentar foguetes, gostei da forma serena como o Presidente JES reagiu à notícia do F8, sem adjectivos e, sobretudo, sem criar novos fantasmas no âmbito das famosas teorias da conspiração. JES tentou assim fazer as pazes com os "pasquins", depois de ter usado esta expressão pejorativa e menos adequada em Washington, há já alguns anos, para manifestar a sua profunda antipatia em relação à imprensa privada. Não posso, por outro lado, estar de acordo com os que criticaram o Presidente por ter reagido publicamente a uma notícia de um jornal, pois da sua boca já ouvimos duras críticas em relação ao silêncio com que JES normalmente brinda os conteúdos politicamente mais incómodos da imprensa privada. O Presidente foi assim colocado na posição da pessoa que é presa por ter cão e por não ter. Uma posição dificil de sustentar pelos seus detractores de serviço em nome da coerência e da isenção. Esperamos agora que esta postura do Presidente venha a corresponder no futuro imediato, que já começou, a algo de mais profundo em matéria de mudança no seu relacionamento com a opinião pública e publicada. Neste terreno, de facto, o seu desempenho não tem sido muito famoso.

Morreu o autor do "Holocausto em Angola"

Chamava-se Américo Cardoso Botelho e tinha 92 anos. Morreu esta segunda-feira em Lisboa. Era engenheiro de profissão e viveu mais de 3 anos nos calabouços da DISA, entre 1977-1980. A sua maior proeza não foi sequer o livro que publicou 27 anos depois de ter sido libertado. (A fotografia do lado tem mais ou menos essa idade) A sua maior proeza foi ter conseguido pôr cá fora, durante o tempo que esteve preso, ludibriando completamente a vigilância dos carcereiros também conhecidos por "conduzes" (eles não gostavam de ser chamados pelo primeiro nome talvez por ter conotações com o colonialismo opressor), todos os "apontamentos de reportagem" que foi tirando e que lhe permitiram depois dar corpo ao seu monumental "Holocausto" com mais de 600 páginas. Muito mais do que os presos, os papéis escritos eram os maiores inimigos da secreta angolana. Como se veio a comprovar com este livro, a DISA estava coberta de razão. Com todas as imprecisões que possa ter, a versão angolana do "Holocausto", mais do que um livro para enfeitar estantes, é um precioso e muito útil manual de memória. De uma memória que todos os dias perdemos um bocado. Com o Holocausto nas nossas mãos este perigo deixou de ser tão dramático pelo menos em relação aos nossos anos de chumbo. (http://www.holocaustoemangola.com/) PS-1: O IV Encontro Internacional sobre a História de Angola que decorreu a semana passada em Luanda teve na abordagem do papel da memória, o seu tema dominante. O Holocausto é sobretudo memória, memória de um tempo que a história vai ter de contar mais tarde ou mais cedo com o rigôr e a abrangência que a disciplina exige de quem com ela trabalha. Nessa altura o "Holocausto em Angola" será sem dúvidas uma referência obrigatória e de primeira linha que os especialistas terão necessariamente de consultar, senão nos quiserem contar ou impingir histórias da carochinha, como algumas que andam por aí. No Holocausto há por exemplo subsídios muito interessantes para quem um dia destes estiver interessado em escrever sobre a história da tortura política na Angola do pós-independência.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Martelo demolidor de Isaac volta a atingir a imprensa

NOTA DE IMPRENSA O Sindicato dos Jornalistas Angolanos (SJA) tomou conhecimento com preocupação da acção de alguns agentes da Polícia Nacional, no Lubango, que apreenderam hoje os equipamentos de trabalho dos jornalistas dos Semanários O PAÍS e Angolense, que reportavam o caso das demolições naquela cidade. Essa acção impediu-os de concluir o seu trabalho, violando deste modo, direitos fundamentais consagrados na Constituição. O SJA recorda que a Lei de Imprensa no seu artigo quinto salvaguarda: 1. A liberdade de imprensa traduz-se no direito de informar, de se informar e ser informado através do livre exercício da actividade de imprensa e de empresa, sem impedimentos nem discriminações. 2. A liberdade de imprensa não deve estar sujeita a qualquer censura prévia, nomeadamente de natureza política, ideológica ou artística. Apesar dos jornalistas terem reavido já o seu equipamento, o SJA repudia o acto que põe em causa a liberdade de imprensa e apela uma vez mais a quem de direito a colaborar com os jornalistas no exercício da sua actividade, que mais não é do que a prestação de um serviço público. O SJA reitera as autoridades a para esclarecer tão rápido quanto possível casos referentes ao assassinato do jornalista da Rádio Despertar Alberto Chakussanga, os ferimentos causados por disparo de arma de fogo ao jornalista da TV Zimbo Abias Sateco bem como o assalto de que foi alvo o jornalista Ireneu Mujoc do Semanário O PAÍS. Luanda, aos 30 de Setembro de 2010 Atentamente, Secretária-Geral Luísa Rogério