segunda-feira, 11 de outubro de 2010
Por uma rádio parceira!
Este fim-de-semana participei em dois debates informativos.
Para além da já habitual presença com o Ismael Mateus no “Semana em Actualidade” da TPA no domingo (19.30-20.00), a minha agenda começou sábado de manhã pelo “Tendências e Debates” da Rádio Nacional, para onde há muito tempo já não era convidado, embora seja neste momento a prata mais antiga daquela casa de rádio no activo, com um percurso feito de várias etapas, desde que em Outubro de 1975 com 19 anos de idade, falei pela primeira vez aos seus microfones. Se estiver errado agradeço que me corrijam.
O meu afastamento da grelha dos “fazedores de opinião” da RNA data da campanha eleitoral de Setembro 2008, por me ter recusado a gravar previamente os comentários sobre a política nacional que fazia quinzenalmente, às segundas-feiras, intercalando com o Ismael Mateus, outra prata antiga (um pouco mais nova) da casa que nos é comum.
Em meu entender tal exigência da Direcção da RNA tinha como objectivo censurar as opiniões que pudessem beliscar de algum modo a imagem política do MPLA.
Ao obrigar os comentaristas a gravarem a sua intervenção, que anteriormente era feita em directo, o DINF da RNA estava, claramente, a enviar-lhes uma mensagem de corte, “convidando-os” a praticarem voluntariamente a auto-censura, se não quisessem depois ser alvo das atenções cirúrgicas do “tesoureiro de serviço”.
Com um tal entendimento e em nome da minha dignidade e da noção que tenho da liberdade de expressão, não era possível submeter-me a um tal “martírio”, praticado por jovens samurais que eu vi crescer.
De lá para cá nunca mais fui convocado a integrar a grelha oficial dos “fazedores de opinião” da RNA, mantendo, contudo, a minha presença na vizinha TPA, num desenvolvimento aparentemente contraditório para quem conhece e acompanha o desempenho do “Big Brother” na área da média estatal.
Sinais dos novos tempos!
Este sábado o “Tendências e Debate” foi dedicado ao papel da rádio na reconstrução nacional, por ocasião da passagem do 5 de Outubro.
O tema permitiu-nos, uma vez mais, destacar a importância que a independência dos médias representa, tendo em vista a cabal assumpção das suas responsabilidades para com a sociedade no seu conjunto, de acordo com o interesse público.
Defendi nesta conformidade a existência de uma “rádio parceira” em oposição a uma “rádio subordinada” ou a uma “rádio bem comportada”, o que também não tem nada a ver com uma “rádio rebelde”.
Tal parceria só é possível estabelecer-se entre entidades que prezam a sua independência e demarcam o seu espaço próprio; entre entidades que se respeitam e aceitam colaborar para o bem comum.
Só assim a rádio pública em Angola estará em condições de colocar o seu imenso potencial ao serviço da reconstrução nacional, contribuindo com uma informação objectiva, que tem necessariamente de ser crítica, para que o actual esforço ao nível, sobretudo do investimento público, se venha a traduzir em obras sérias, com a qualidade que delas se exige, o que ainda não se verifica em muitos casos.
A rádio não pode servir a reconstrução nacional apenas com mensagens propagandísticas e com coberturas protocolares de inaugurações ou ainda com reportagens superficiais e cosméticas sobre o andamento dos projectos.
A rádio tem que ser capaz de informar e alertar o seu parceiro Governo, ouvindo outras opiniões abalizadas, sobre os problemas que qualquer projecto na área da construção civil normalmente enfrenta.
Em Angola estas dificuldades são a dobrar, por isso o papel crítico da informação radiofónica é ainda mais necessário e urgente.
Há muito dinheiro nesses projectos que está a ser mal utilizado, devido a ausência de uma fiscalização competente e acutilante.
A rádio pode estimular a fiscalização a desempenhar correctamente o seu papel, dando-lhe o necessário espaço na sua programação.
Claramente a reconstrução nacional está-nos a custar os olhos da cara.
Neste país ninguém faz contas sérias, quando o “Braga é o tesoureiro”!