segunda-feira, 11 de outubro de 2010
BNA: Finalmente com o homem certo no lugar certo
Na edição deste domingo do Semana em Actualidade da TPA, o primeiro tema passado em revista foi a recente remodelação do Executivo, que, pelos vistos, vai prosseguir dentro de mais alguns dias com as atenções viradas agora para os governos provinciais
Nas nossas previsões, sustentadas pelo “mujimbu press”, está o mais do que provável afastamento de Isaac dos Anjos da Huíla e a sua substituição por Pedro Mutindi que será assim devolvido à "procedência".Isto depois de ter andado pela capital uns meses a tentar dirigir a hotelaria e o turismo, uma área que lhe foi entregue sem grande critério ao nível da especialidade, considerando a sua experiência anterior de mais de vinte anos à frente do governo provincial do Cunene, onde no inicio da década de 80 substituiu o Comissário Ary da Costa.
Onde é que andará este antigo capitão das gloriosas?
[A confirmar-se esta informação, a cidade do Lubango poderá viver alguns dias de intensa euforia, com manifestações públicas de júbilo por parte da população local que deste modo irá festejar a queda de Isaac dos Anjos na sequência de tudo quanto já é sobejamente conhecido ao nível das consequências dramáticas da sua política de gestão urbana.]
Nesta remodelação destaquei duas notas, sendo a primeira negativa e a segunda bastante positiva, que, entretanto, durante a emissão do programa acabou por não ser conhecida dos telespectadores devido a um lamentável erro de edição do debate que é gravado no sábado.
A nota negativa foi para a extinção do Ministério da Coordenação Económica na sequência da demissão do seu anterior titular, Manuel Nunes Junior, como se aquela estrutura tivesse sido desenhada apenas para ser “vestida” pelo Professor Doutor.
A criação do novo Ministério da Economia para “acomodar” Abraão Gourgel na “segunda divisão”, foi uma emenda pior que o soneto e não nos convenceu.
Demasiado experimentalismo para um governo que tem tantos e tão urgentes desafios pela frente.
A minha nota positiva foi para a nomeação de José Lima Massano para o cargo de Governador do Banco Nacional de Angola.
Primeiro sempre achei que a anterior nomeação de Abraão Gourgel (AG) para o cargo tinha sido resultado de mais um “erro de paralaxe”, que já são recorrentes neste país na indicação dos detentores de cargos públicos.
Em Angola os critérios de proximidade e lealdade acabam por ter sempre preponderância em relação aos outros, o que, note-se, acontece mesmo dentro da mesma família político-partidária.
De facto e também tendo em conta a sua experiência anterior, AG, apesar da sua formação académica, não reunia as condições mínimas para segurar num leme tão complexo e especializado, como é a direcção de um banco central.
Com José Lima Massano arriscamo-nos a dizer, com todas as limitações decorrentes da conjuntura política, que estamos muito próximos do perfil ideal, que estamos quase diante do homem certo, no lugar certo.
Estamos diante de um jovem bem formado e já com suficiente experiência ao nível da gestão do sector bancário, conforme atesta o seu CV.
Depois de Ricardo de Abreu, este novo recurso ao BAI para preencher os quadros superiores do BNA poderá, entretanto, ter contra si, a nível internacional, a imagem menos positiva que o Banco Africano de Investimentos está a viver.
Isto, depois das conclusões tornadas públicas, resultantes de uma recente investigação levada a cabo por uma comissão do Senado dos Estados Unidos relacionada com a presença da corrupção estrangeira no mercado norte-americano.
Do novo Governador esperamos agora que ele não se esqueça das posições críticas que assumiu quando, na pele de gestor da banca comercial, sentiu a mão pesada do Banco Central a ameaçar a sobrevivência do negócio.
Esperamos que ele seja capaz de fazer do BNA um instrumento de desenvolvimento harmonioso da economia nacional e de apoio ao crescimento do tecido empresarial.
O Banco Central não pode olhar apenas para os interesses do Estado. Tem de saber a cada momento da conjuntura fazer a melhor leitura da situação para agir em conformidade com o interesse nacional que nem sempre coincide com a estratégia do Governo (ou de alguns governantes?).
A acumulação da dívida pública interna e externa (estratégia do kilapi) está a ser devastadora para a manutenção do nível do emprego, que é uma variável macroeconómica que não pode ser descurada em nome da estabilidade social e muito particularmente num país que tem os alarmantes índices de pobreza como é o caso de Angola.
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BNA precisa de ser revolucionado
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comentários:
JCRC disse...
Caro WD,
Na minha humilde opinião, esta crise está a expôr a incapacidade governativa do nosso executivo e a falta de ideias do PR José Eduardo dos Santos.
1. O PR falhou redondamente quando simulou uma remodelação (a orginal) do governo, quando todos esperavam um emagrecimento inventou uns casamentos forçados e criou novas estruturas.
2. O Ministério da Coordenação Económica nunca fez sentido para mim, assim como não faz o novo Ministério da Economia. O lógico seria um Ministério da Economia que concentrasse uma série de pastas voltadas para o planeamento e desenvolvimento como (1) Ministério do Planeamento; (2) Ministério do Comérico; (3) Ministério da Hotelaria e Turismo e eventualemente o Ministério da Indústria.
3. Penso J.L. Massano ajusta-se melhor ao cargo do que A. Gourgel. Mas no que toca ao Banco Central, regista-se aqui uma das maiores borradas de Nunes Júnior, um académico formado em Inglaterra acabar com a independência do Banco Central é imperdoável, nem Keynes aceitaria isso.
O nosso BNA precisa de uma revolução para se tornar num verdadeiro Banco Central com independência e um departamento de estudos/investigação produtivo e de excelência, o Banco Central tem de ter um pendor mais acadêmico do que político/partidário.
4. O nosso PR ainda não percebeu que os governos provinciais só irão funcionar com eleições autárquicas (sem as limitações da actual constituição quanto a necessidade de filiação partidária dos candidatos) e com controlo efectivo de despesas e maior capacidade de angariação de fundos próprios.
5. Meu caro, todos sabemos que o país padece de falta de debate alargado mas se ao menos dentro do maior partido houvesse debate já seria um passo. Enquanto o MPLA não abandonar o princípio "vamos esperar a opinião do camarada presidente" o país vai continuar sem rumo. Nenhuma nação é construída com as ideias de uma única pessoa.
12 de Outubro de 2010 08:18