Muito antes de ter rebentado a recente bronca entre os nossos sempre vigilantes “SMEs” e os jornalistas de alguns órgãos da comunicação social portuguesa, a quem foi recusado o visto de entrada em Angola para fazerem a cobertura das eleições, já tinha manifestado o meu apreço pela qualidade e o profissionalismo do Canal SIC-Notícias.
Definitivamente é o canal que mais vejo e do qual mais informação recebo do mundo com Angola incluída.
É claramente o meu canal favorito, opinião que saiu ainda mais reforçada agora com a cobertura que a SIC-Notícias fez das eleições angolanas, mesmo sem ter conseguido fazer deslocar a Luanda uma equipa de reportagem.
Se calhar, permitam-me aqui este parêntese, a minha estação preferida até deveria ser a RTP-África, canal com o qual o meu sócio e sósia, o Reginaldo Silva (RS), colaborou durante vários anos, findos os quais teve de abandonar por razões de força maior relacionadas com o (não) respeito de alguns valores, incluindo os monetários.
O que é facto é que volvidos cerca de cinco anos, o espaço que ele preenchia na grelha daquela estação portuguesa continua vazio, sendo Angola o único país africano lusófono que depois da sua saída deixou de apresentar o “Fórum-Africa”, um programa semanal de entrevistas que ele conduzia.
Como é evidente, os burocratas de Lisboa nem deram pela falta do programa depois de terem “engolido” uma explicação qualquer que lhes foi enviada a partir de Luanda sobre o abandono do RS.
Com este parêntese, que pode parecer algo forçado e extemporâneo, fica aqui uma explicação devida que nunca foi dada ao público da RTP-África, que de repente se viu privado daquele espaço de opinião sem qualquer justificação.
Em obediência ao princípio do mais vale tarde do que nunca, o RS achou por bem recordar os seus velhos e televisivos tempos pelo (periférico) audiovisual português, a propósito da recente bronca com a SIC (e não só), que ainda anda por aí a fazer alguns estragos no relacionamento bilateral.
Os jornalistas da SIC e da SIC-Notícias, onde se inclui a minha amiga Cândida Pinto, não estiveram entre nós como era seu ardente desejo, porque foram vítimas de outros “desejos” locais menos simpáticos em relação ao desempenho editorial da sua estação.
Estamos, certamente, todos recordados das ondas de choque provocadas pelo programa de opinião da SIC- Notícias, o “Eixo do Mal”, na sequência das declarações proferidas em Lisboa pelo mui british Sir Bob Geldolf.
Em abono da verdade o mundialmente famoso roqueiro britânico até acertou em cheio no elevado preço das moradias que se vendem e se alugam em Luanda, tendo, obviamente, falhado na adjectivação insultuosa que depois utilizou para enviar uns azedos “recados” à nossa nomenklatura.
Impedida de vir a Luanda, a SIC fez, entretanto, uma cobertura bastante aceitável das eleições angolanas quer no plano informativo, quer em termos de análise.
Com este desempenho a estação de Carnaxide demonstrou que é possível, em qualquer circunstância, manter o profissionalismo como sendo a principal referência da actividade jornalística que de facto tem padrões e normas a respeitar e uma ética a defender.
Pela SIC-Noticias tivemos o grato de prazer de acompanhar em directo interessantes debates televisivos sobre Angola, onde prevaleceu o princípio do contraditório, que, como sabemos, foi um dos grandes ausentes da cobertura jornalística feita entre nós pela comunicação social estatal. Uma ausência sentida mesmo ao nível dos chamados “opinion makers”, seleccionados a dedo, de acordo com as cores das respectivas camisolas, para evitar alguns conhecidos “problemas” relacionados com as consequências da liberdade de opinião e de crítica.
Não é possível nem é credível discutir seja o que for, utilizando, mesmo que de forma parcial, a famosa lei da rolha, que esteve bem presente no decorrer desta campanha eleitoral no desempenho dos médias estatais.
O programa "Opinião Pública" que a SIC-Notícias transmitiu (sempre em directo) na manhã de segunda-feira dia 8 de Setembro onde o tema foram as eleições angolanas, foi um verdadeiro e acalorado festival de abertura e de confronto de opiniões e ideias, sem papas na língua, por parte dos telespectadores que telefonaram para o canal, tendo alguns deles feito este exercício a partir de Angola.
Durante a cobertura à distancia efectuada pela SIC-Notícias, entre as várias vozes e rostos que tivemos a oportunidade de ouvir e ver desfilar pela SIC-Notícias falando de Angola e das eleições angolanas, uma delas foi a da minha amiga Nicole Guardiole.
Os que por aqui criticaram a SIC-Noticias, mas ao mesmo tempo elogiaram a postura da referida jornalista, “esqueceram-se” que foi no palco do tão mal querido canal, que a Nicole foi convidada a dar o seu “show de sapiência” sobre Angola.
E “esqueceram-se”, apenas porque só gostam de ouvir o que lhes agrada, são alérgicos à crítica e à liberdade de opinião, preferindo, obviamente, o regresso ao sistema das correias de transmissão, onde a imprensa é apenas mais um elo da engrenagem comandada pelo Big Brother.
A SIC-Notícias, mesmo sem ter vindo a Angola, acabou por fazer o seu trabalho sem ter necessidade de “puxar o saco” de ninguém, dando primazia aos factos com recurso às imagens da TPA-Internacional e ouvindo todas as opiniões possíveis dentro dos condicionalismos em que foi obrigada a trabalhar
Os que bateram palmas a Nicole Guardiole, não gostaram certamente de ouvir o Rafael Marques nem o José Eduardo Agualusa.
Eu gostei de ouvir todos, o que não quer dizer que tenha concordado com todos eles, incluindo o empresário português (não me consigo agora recordar do seu nome) que participou no programa "Expresso da Meia-Noite" (edição de 5 Setembro) e que fez uma das defesas mais bem conseguidas da imagem do regime angolano em Portugal.
É mesmo assim que as coisas são e se apresentam quando o tema é Angola e quando o espaço mediático tem a necessária autonomia, independência e liberdade para não ser engolido, nem manipulado pelo vizinho politico-partidário do lado, esteja ele situado à direita, ao centro ou à esquerda.
Seja ele neo-liberal, capitalista reciclado ou ex-comunista com saudades do passado.
Viva a eterna liberdade de imprensa, que todos os concorrentes ao pleito recém-terminado disseram respeitar e promover.
A ver vamos, pois agora promessa passa a ser dívida e tem apenas quatro anos para ser liquidada, antes de fazermos o próximo balanço sobre o real estado da comunicação social em Angola, depois do desastre eleitoral que quase ia retirando a oposição do mapa político local.