terça-feira, 15 de novembro de 2011

A minha homenagem a Siona Casimiro (1)

Ponto Prévio: O texto que se segue e que decidi dividir em duas partes para efeitos de arrumação neste blog foi elaborado e apresentado por mim no passado dia 9 de Novembro na cerimónia de lançamento do livro "Maquis e Arredores- Memórias do jornalismo que acompanhou a luta de libertação nacional", da autoria do jornalista Siona Casimiro.
Pediu-me o Siona Casimiro para estar presente nesta cerimónia para falar não do seu livro, que ainda não li, para além de alguns extractos que ele fez questão de me enviar por email, mas da sua pessoa, sobretudo como jornalista que ele teimosamente continua a ser.
Se há algo que eu não podia recusar ao Siona era este pedido, pelo que aceitei de imediato o convite, com a convicção de que, mais do que elaborar uma nota biográfica ou juntar palavras elogiosas de circunstância, viria aqui prestar-lhe uma homenagem merecida numa altura em que a curva da idade já começa a pesar sobre alguns de nós, particularmente de todos aqueles que já dobraram o cabo do meio século de vida na frente dos quais se encontra a figura central deste encontro.
É de facto a altura de juntar papéis e olhar (reflectindo) para o tempo já percorrido num continente onde a média de vida (pouco mais de 40 anos) faz de nós actores e testemunhas privilegiados de uma época que se reparte por dois séculos e várias, muitas makas, dentro e fora do nosso rectângulo nacional.
Falar do Siona Casimiro nesta ocasião muito especial da sua já longa trajectória pelos caminhos da vida e do jornalismo, entre três países vizinhos de África, o seu triângulo de sangue, sentimentos, afectos e experiências, é efectivamente homenagear o decano (le doyen) do jornalismo angolano, o que faço com muito gosto.
Pelo que é do meu conhecimento não conheço em Angola no activo (realmente no activo, sublinho) alguém que nesta altura tenha mais anos de de picada e de estrada que o Kota Siona. Mais de picada, certamente que de estrada, de uma estrada que desejamos aberta pelos caminhos da liberdade de imprensa e do jornalismo independente sem mais os avanços, os recuos e as hesitações do presente que nos fazem às vezes olhar mais com receios para o passado do que para o futuro com confiança.
Daí que, caso esteja certo nesta minha contagem do tempo que já lá vai e que ainda está para vir, é ele que temos de colocar neste pedestal do decanato que acaba por ser um púlpito e uma tribuna, onde ele se encontra do alto das suas mais de seis décadas de vida.
É lá onde SC continua a exibir todo o vigor e lucidez de alguém que soube superar-se e renovar-se com o passar dos anos no calor de um permanente e nada pacífico debate contraditório de ideias e soluções sobre os melhores caminhos para o jornalismo angolano e para o seu relacionamento com o poder político, que continua a ser a questão mais importante quando se trata de discutir com a profundidade necessária este dossier.
Um pouco mais adiantado no calendário do tempo, como é evidente não tive a oportunidade de conhecer a primeira etapa da sua trajectória passada entre as duas margens do majestoso rio Congos/Zaire.
É desta navegação já longínqua que ele faz questão agora de nos dar notícias atrasadas neste seu “Maquis e arredores- Memórias do jornalismo que acompanhou a libertação nacional”.
Aqui sim, acho que faz todo o sentido, o mais vale tarde do que nunca, daí a novidade para muitos de nós, que desconhecemos quase por completo o jornalismo que se fazia na época.
Afinal de contas sempre pode haver um grande interesse por notícias velhas/atrasadas, que esperamos, este seu livro venha a satisfazer por inteiro, num abraço extensivo a todas as gerações.
O primeiro contacto profissional com Siona Casimiro que a minha débil memória conserva até aos dias de hoje, com um registo quase intacto, aconteceu bem no inicio de 1976 em Brazaville, na RPC de Marien Ngoubai na cobertura da primeira visita que Agostinho Neto realizou ao exterior do país, após se ter transformado no primeiro Presidente da RPA.
Foi igualmente nesta visita que Neto se avistou pela primeira vez com Mobutu Sesse Seko e onde ao que consta foi decidida a sorte de Holden Roberto e da FNLA, tendo como moeda de troca o acantonamento dos Catangueses do General Bumba.
Foi para mim, na altura um imberbe repórter da RNA, com pouco mais de 20 anos, o primeiro banho de jornalismo a sério que partilhei com o Pedro de Almeida, hoje um insigne ginecologista da nossa praça, realizado em condições particularmente difíceis para as facilidades de comunicações que hoje existem sobretudo depois da entrada em cena da extraordinária Internet.
Lembro-me do Siona e do Lólo Kiambata, então DG da Angop e chefe da comitiva imprensa angolana, com quem, aliás, tive um bate-boca pouco simpático depois de me ter recusado a acatar uma ordem sua para abandonarmos o local da recepção na Cité dês Seize, onde pela primeira vez, entusiasmado, tomava contacto visual com a beleza e a elegância das nossas irmãs congolesas. De facto estávamos no melhor da festa quando LK deu ordem de retirada a todos os jornalistas angolanos. Já não me lembro muito bem como é que a “maka terminou”.