terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Debate: Angola entre a democracia e a ditadura... (1)



Estive a ler os argumentos (poucos) que o Paulo de Carvalho manifestou ao NJ contra todos aqueles que acham que em Angola existe uma ditadura. 
Antes de mais, permitam-me a "piada séria", em Angola existe a chamada ditadura da maioria (82% é muito!), que o sistema político norte-americano, por exemplo, não aceita, daí a sua complexidade, tendo como motivação filosófica, a supremacia do direito do individuo/individualismo.
Não estou do lado das pessoas que sustentam que em Angola existe uma ditadura, mesmo disfarçada, embora não esconda os meus receios em relação ao futuro, caso se mantenham algumas tendências mais preocupantes.
Mas também não estou com aqueles que acham que já temos uma democracia, mesmo que seja só do ponto de vista formal. Ainda falta muito para lá chegarmos.
Contra uns e contra outros, a favor do Estado Democrático de Direito, sou daqueles que acham que o que existe de facto e de jure em Angola é uma "democratura".
O conceito "democratura" produzido pelo nosso laboratório de ideias parece-nos ser aquele que mais se aproxima da nossa dura e movediça realidade sócio-política. 
Estando este conceito ainda em aberto, todas as contribuições para o seu enriquecimento são bem-vindas.
 Estamos todos a contribuir para que a análise política em Angola, como disciplina, esteja mais de acordo com a realidade, o que pressupõe a introdução de novos conceitos, como é este da "democratura", que fui o primeiro a utilizar nestas andanças pelo ciberespaço. 
Gostaria que as pessoas não vissem nele mais um arma de arremesso político, mas tão somente uma tentativa de chamarmos a coisas pelo seu próprio nome. 
Para mim, a democratura, que estamos com ela, não se caracteriza só pelo excesso de força policial na gestão das liberdades fundamentais, como o direito de manifestação. 
Há muitas outras manifestações deste sistema híbrido. 
Por exemplo há uma democratura muito forte na gestão da média pública...
(cont)