Foi a 28 de Março de 1992 que no Anfiteatro da Faculdade de Arquitectura em Luanda, um alargado grupo de jornalistas nacionais de distintas proveniências e experiências se reuniu em assembleia para proclamar a constituição do Sindicato dos Jornalistas Angolanos (SJA).
Era
o corolário de uma aposta iniciada meses antes por um grupo mais restrito de
profissionais, que se podiam contar com os dedos das duas mãos e que na
penumbra de uma das salas da Liga Nacional Africana abraçou a ideia do
sindicato independente e decidiu ir para frente com ela.
Nascia
assim há 20 anos e 17 anos depois de Angola se ter tornado independente, bem no
inicio do processo de pacificação e de abertura política ao multipartidarismo,
a primeira organização sindical livre e independente do sistema que então
vigorava e que era enquadrado exclusivamente por uma única central sindical que
se subdividia em sindicatos nacionais repartidos por dez ramos de actividade.
O
Sindicato dos Jornalistas Angolanos entrou deste modo pela porta grande da
história e da trajectória da luta dos trabalhadores deste país, com o
estandarte da liberdade, da independência, da coragem e da determinação bem
levantado.
Só
quem viveu a época pode valorizar devidamente a iniciativa que foi a
constituição do SJA, tendo em conta o clima de grande hostilidade e
intolerância que então prevalecia e que se agravou com a eclosão do conflito
pós-eleitoral.
Nesses
20 anos de existência do SJA, não tem sido nada fácil a sua afirmação como uma
organização representativa e reivindicativa da classe, numa evolução
contraditória com os propósitos políticos que têm vindo a ser afirmados.
Mais
difícil foi sem dúvida a sua primeira década que transcorreu sob o signo da
ameaça velada, da intimidação permanente e do ostracismo a que foi votado.
A
própria liberdade da actividade sindical já, entretanto, consagrada
constitucionalmente foi negada aos membros do Sindicato dos Jornalistas
Angolanos, com todas as consequências drásticas daí resultantes para a
implantação das suas estruturas nos locais de trabalho.
Foi
uma década onde a luta pela liberdade sindical e pela liberdade de imprensa se
confundiram numa só, tendo neste contexto o Sindicato assumido e esgrimido de
forma quase solitária, a bandeira das duas batalhas, com todos os resultados
positivos que hoje se conhecem ao nível do processo democratização.
Vinte
anos depois, o Sindicato dos Jornalistas Angolanos é uma realidade viva e
actuante, com todos os constrangimentos que ainda se verificam e condicionam um
melhor desempenho da sua parte, sendo hoje a principal referência do
associativismo de uma classe, cujos profissionais, de uma forma geral, continua
a ser mal pagos ao mesmo tempo que são sujeitos a pressões políticas
inaceitáveis.
Em
função dessa remuneração inaceitável para o contexto social em que vivemos, o
SJA deve iniciar nos próximos meses a discussão em torno do acordo colectivo de
trabalho, que terá por sua vez duas vertentes: uma pública e outra privada.
Neste
ano em que possivelmente serão aprovados os primeiros diplomas complementares e
reguladores da Lei de Imprensa em vigor desde 2006, o Sindicato dos Jornalistas
Angolanos não pode deixar de se manifestar preocupado com algumas tendências
mais musculadas e repressivas por parte de certos sectores do poder
estabelecido, incluindo o judicial, que continuam a encarar de forma ambígua o
exercício da liberdade de imprensa.
O
SJA está convencido que a melhor defesa da classe contra todos os ataques e
pressões é a aposta séria no profissionalismo com o consequente respeito pelos
princípios éticos e estruturantes da actividade jornalística que em
circunstância deverão ser hipotecados em nome de outros interesses bem conhecidos
relacionados de uma forma geral com uma perspectiva mais sensacionalista do
jornalismo.
No
pacote já submetido à consulta pública, o SJA está particularmente expectante
em relação à aprovação e entrada em vigor do Estatuto do Jornalista, que criará
as condições para o surgimento da Comissão da Carteira e Ética, como a primeira
instituição da auto-regulação da classe.
O
SJA está igualmente preocupado com a progressiva concentração dos órgãos
privados de imprensa nas mãos de sociedades, cujos titulares são pessoas
afectas a uma só sensibilidade político-partidária, pelas consequências
restritivas óbvias, que tal tendência terá no exercício livre e independente da
actividade dos jornalistas.
Neste
âmbito, o SJA recorda que apesar da Lei de Imprensa possuir uma cláusula
anti-monopolista, não há depois no ordenamento jurídico nenhuma instituição com
a necessária capacidade e poder para verificar e salvaguardar o princípio da
livre concorrência.
O
SJA gostaria de recordar também a importância das quotas para o seu engrandecimento
como órgão de defesa dos interesses dos seus filiados.
Luanda, 28 de
Março de 2012
A Secretária Geral
Luísa Rogério