quarta-feira, 11 de julho de 2012

Em perspectiva novas alianças eleitorais

O texto que se segue foi publicado sexta-feira (6/7/12) na última edição do semanário "O Sol"/Angola onde desde Abril deste ano assino uma coluna semanal.

Com alguns recursos ainda pendentes, o país já sabe com quem vai a votos no próximo dia 31 de Agosto, após os acórdãos de admissão e rejeição divulgados segunda-feira última pelo Tribunal Constitucional (TC).
Todos os partidos que têm assento parlamentar (MPLA, UNITA, PRS, FNLA e ND-Coligação Eleitoral) vão continuar a disputar as simpatias políticas angolanas, o que quer dizer que viram as suas candidaturas aprovadas pelo Tribunal Constitucional.
Entre os novos que surgem na corrida, o destaque vai, certamente, para a coligação CASA, liderada pelo dissidente da UNITA, Abel Chivukuvuku, que é coadjuvado por um Almirante das FAA que passou muito recentemente à reforma e que atende pelo nome de André Mendes de Carvalho, também conhecido por Miau e que é filho mais velho de um emblemático militante da velha guarda do MPLA.
Interessante nesta altura e diante da impossibilidade do Bloco Democrático (BD) de Justino Pinto de Andrade/Filomeno Vieira Lopes e do Partido Popular de David Mendes conseguirem passar pelo crivo do TC, depois do primeiro chumbo, é tentar saber a quem é que eles vão apoiar, caso se confirme em definitivo o seu afastamento da corrida, como tudo leva a crer.
Neste âmbito podemos incluir a FNLA do “proscrito” Ngola Kabangu, pois em definitivo ainda não se sabe qual será a sua última palavra, depois de o termos ouvido proclamar alto e em bom som a sua intenção de em circunstância desistir da luta como legítimo Presidente da organização fundada por Holden Roberto.
A CASA-CE perfila-se assim no horizonte, que é já dentro de um mês, como  uma potencial alternativa, para grande parte daqueles que viram as suas candidaturas chumbadas pelo Tribunal Constitucional, orientarem o voto dos seus apoiantes.
É pois com bastante expectativa que aguardamos pela próxima etapa do processo eleitoral angolano, quando começarem as negociações pré-eleitorais, caso elas venham a ter lugar conforme é nossa previsão no âmbito dos inevitáveis realinhamentos.
No que toca ao BD, que é a formação que eu tenho acompanhado mais de perto e conheço melhor, sinceramente não estou a ver para os seus líderes uma outra alternativa que não seja a CASA-CE, na hora de reorientarem o voto dos seus militantes, simpatizantes e amigos.
Apresenta-se assim como sendo bastante auspicioso para as ambições de Chivukuvuku e dos seus companheiros de coligação, o cenário da CASA-CE poder vir a aglutinar a maior parte dos apoios que estarão disponíveis, como resultado dos chumbos aplicados pelo Tribunal Constitucional.
Com esta aliança mais alargada, a CASA ganhará certamente outras possibilidades, embora se diga que a sua base eleitoral é fundamentalmente aquela que Chivukukvuku tem estado a “desviar” da UNITA e pouco mais.
Como a surpresa e a política são companheiras antigas, acho que ainda é cedo para, em termos de estimativas, se traçar um quadro mais definitivo em relação ao que será a nossa provável geografia eleitoral.
As próximas duas semanas serão certamente decisivas para este tipo de exercício futurista que todos já começaram a fazer.

Depois da sua primeira conferência imprensa, é caso para dizer que o Almirante Miau partiu uma boa parte da louça que se encontrava na cristaleira rubro-negra.
 Não houve, contudo, grandes novidades, isto é, Mendes de Carvalho não disse nada que já não fosse do domínio público. A novidade se quisermos tem a ver com a ruptura frontal, com o abraçar de uma nova causa.
Habituados que estamos no nosso "mercado político" a ver apenas pessoas a saírem de uma determinada família/sensibilidade para outra, isto é da UNITA para o MPLA, esta "transferência" do Almirante para além de outras leituras possíveis, transmite-nos alguma confiança no presente e no futuro do processo em curso, que continua a ter na plena democratização do país o seu grande objectivo, que ainda está muito longe de ser alcançado.
Sabemos que o medo político em Angola é estimulado no silêncio dos corredores/gabinetes e continua a condicionar em muito a intervenção individual e colectiva, com o receio da retaliação e de outras consequências menos simpáticas para as nossas vidas.
São pois de saudar vivamente todos os gestos e iniciativas que ajudem a quebrar e a rasgar a cortina do medo, do silêncio e da autocensura que ainda paira sobre a sociedade angolana.
Em democracia o primeiro compromisso das pessoas deve ser com a Constituição quando esta não viola a nossa consciência, por quando isto acontece, já são várias as constituições que consagram a clausula da objecção de consciência.
Estamos a verberar, nomeadamente, do medo do poder absoluto e sobretudo o medo de discordar em público com o discurso dos seus mais altos representantes, como se de entidades divinas se tratassem.
É neste sentido que, independentemente do seu conteúdo, gostaríamos de fazer uma leitura muito positiva do gesto do Almirante Miau, como sendo um grande contributo para a democratização do país, pois confere confiança aos cidadãos, tendo em conta a elevada patente que o cidadão Mendes de Carvalho ostentou durante a sua carreira militar.
O direito de oposição está consagrado na nossa Constituição para ser exercido a todo o tempo.
O Almirante Miau deu por finda a sua carreira militar e assumiu claramente um projecto politico-partidário que é oposição ao actual poder do MPLA e do seu Presidente.