quinta-feira, 12 de março de 2009

De Padre para Papa: Os recados de Raul Tati

É urgente africanizar a igreja em África
"O problema fundamental que se coloca é que Roma não está disposta a admitir que no interior da Igreja haja experiências diferentes e legitimas sobre a maneira de celebrar o mistério da fé e de viver o evangelho em África".
(...)
"Enquanto os nossos Bispos não tiverem consciência da dimensão e do peso da sua responsabilidade como líderes desta igreja, enquanto não sacudirem as peias do tradicionalismo e do conservadorismo e se fizerem passar por meros “catequistas de Roma” (expressão de um Purpurado de quem me faço tributário!), constrangidos à obediência dócil e à dependência financeira, a África será sempre “terra de missão” e Roma ver-se-á obrigada, através da Propaganda Fide, a sustentar economicamente essa Igreja desprovida de auto-suficiência econômica e completamente dependente das colectas obrigatórias.
(...)
"Angola no contexto das Conferências Episcopais da África subsariana, pontifica como a Conferência Episcopal mais branca (cerca de 43%), apesar de ter um clero autóctone idôneo e bem preparado. Isto não preocupa?
(...)
"Gostava, antes de morrer, de ver algum africano à frente de uma Diocese italiana, francesa, portuguesa, espanhola ou germânica. Há centenas de padres africanos a trabalhar por lá e não são nem menos capazes menos menos santos que os seus colegas europeus".
Salvai-nos, que perecemos! (Mt. 8,25)
"Desde a nomeação do sucessor do primeiro Bispo de Cabinda, os nossos olhos viram e os nossos ouvidos ouviram coisas inéditas na história desta igreja. Vimos a infâmia dos militares armados dentro dos templos a espancar os fiéis que só pretendiam rezar; vimos indivíduos do SINFO infiltrados nas assembléias de culto para gravar homilias dos padres “reaccionários”; vimos o Arcebispo de Luanda e Administrador Apostólico da Diocese a ser vaiado em plena missa crismal;"
(...)
"Hoje a Diocese de Cabinda não passa de uma sombra de si própria. Calaram os profetas, dispersaram as ovelhas, esvaziaram os seminários (já não temos Seminário de filosofia em Cabinda e em Luanda nenhum seminarista teólogo) e enfraqueceram a coesão desta igreja. O ministério dos padres está reduzido à pastoral misseira, o resto do tempo é para os negócios"
(...)
"Um novo Pentecostes urge para a Igreja em Cabinda e quem sabe a visita do Romano Pontífice não venha a ser um grande refrigério espiritual para milhares de cristãos cabindeses sedentos da verdade, da justiça e de uma reconciliação profunda. Mas enquanto Jesus dorme ainda na barca, vamos gritando: Senhor, salvai-nos que perecemos!" [Extractos de um artigo de opinião assinado pelo antigo Vigário-Geral da Diocese de Cabinda, Padre Raul Tati, cuja primeira parte o Angolense já publicou na sua última edição com a promessa de concluir a apresentação do texto esta semana.]